Ler aqui
http://timor2006.blogspot.com/2006/06/o-que-h-aqui-uma-grande-falta-de.html
Um blog em português - e de vez em quando em tétum e em tocodede - sobre os devaneios de um professor e tradutor ilhavense a morar em Timor. Sobre temas timorenses e do Oriente em geral, e sobre outras coisas de vez em quando...
quarta-feira, junho 28, 2006
terça-feira, junho 13, 2006
terça-feira, junho 06, 2006
segunda-feira, junho 05, 2006
Sinál balu rekuperasaun nian
Ha'u foin haree iha telejornál RTTL nian reportajen ida ne'ebé sira filma ohin ke hatudu sala balu nakonu ho labarik iha Eskola S. José iha Balide. Responsavel ida husi eskola ne'e esplika katak nia ta'uk, hanesan estudante sira no ema hotu-hotu, maibé nia hanoin katak di'ak liu pasa tempu iha atividade pozitiva duké iha de'it atitude negativa. Nia hatutan katak objetivu ida husi eskola maka hanorin labarik sira ne'ebé atu sai na'i-ulun nasaun nian aban-bainrua no katak na'i-ulun sira labele ta'uk-teen.
Sinál ida katak iha-ne'e mós “maski iha kalan triste liu/ iha tempu atan nian/ sempre iha ema ruma ne’ebé reziste/ sempre iha ema ruma ne’ebé dehan lae” (hanesan uluk poeta portugés Manuel Alegre hakerek no Adriano Correia de Oliveira hananu). Timoroan barak lakohi pasa fulan hirak oinmai tuur hela iha estrada ninin de'it hodi haree karreta-blindadu australianu sira-nian liu bá-mai.
Sinál ida katak iha-ne'e mós “maski iha kalan triste liu/ iha tempu atan nian/ sempre iha ema ruma ne’ebé reziste/ sempre iha ema ruma ne’ebé dehan lae” (hanesan uluk poeta portugés Manuel Alegre hakerek no Adriano Correia de Oliveira hananu). Timoroan barak lakohi pasa fulan hirak oinmai tuur hela iha estrada ninin de'it hodi haree karreta-blindadu australianu sira-nian liu bá-mai.
Chegou a GNR
A GNR ja esta em Timor, o comercio comeca a ter confianca para voltar a funcionar (o City Cafe ja voltou a actividade, p.ex.), passei ha bocadinho nos correios de motorizada e tinham ja a porta aberta, os colegas que trabalham como consultores no Parlamento ja voltaram ao trabalho... Os alunos perguntam-nos quando recomecam as aulas... Isto esta a voltar a funcionar...
Etiquetas:
City Café,
cooperantes,
GNR,
Timor-Leste,
violência de rua
sexta-feira, junho 02, 2006
Ainda ha policia timorense em Dili afinal
Timor-Leste: Multidão pilha armazéns do governo em Díli
Díli, 02 Jun (Lusa) - Cerca de mil pessoas pilharam hoje armazéns do go verno na capital timorense, roubando computadores, cadeiras, partes de automóvei s e até instrumentos musicais, que carregaram em camiões.
Perante a ausência de tropas da força multinacional, a multidão começou o saque na manhã de hoje, quando esperava a distribuição de arroz e descobriu q ue o armazém onde estava guardado fora esvaziado durante a noite.
Esta manha quando vinha do supermercado Landmark com colegas (eu fui comprar mantimentos para levar para casa da minha noiva e o grupo foi comprar caixas de agua para entregarmos aos refugiados), na estrada que vem de Comoro, entre o heliporto e as bombas de gasolina, vi uns tres carros da policia timorense que estavam a interceptar uma carrinha de caixa aberta carregada de material de escritorio aparentemente roubado.
Um sinal de que ha quem trabalhe para repor a lei e a ordem nas ruas de Dili... Parabens aos policias timorenses envolvidos na operacao, pelo espirito patriotico e por permanecerem fieis aos compromisso que assumiram de proteger as pessoas e os seus bens. Sinais de esperanca em tempos conturbados...
Díli, 02 Jun (Lusa) - Cerca de mil pessoas pilharam hoje armazéns do go verno na capital timorense, roubando computadores, cadeiras, partes de automóvei s e até instrumentos musicais, que carregaram em camiões.
Perante a ausência de tropas da força multinacional, a multidão começou o saque na manhã de hoje, quando esperava a distribuição de arroz e descobriu q ue o armazém onde estava guardado fora esvaziado durante a noite.
Esta manha quando vinha do supermercado Landmark com colegas (eu fui comprar mantimentos para levar para casa da minha noiva e o grupo foi comprar caixas de agua para entregarmos aos refugiados), na estrada que vem de Comoro, entre o heliporto e as bombas de gasolina, vi uns tres carros da policia timorense que estavam a interceptar uma carrinha de caixa aberta carregada de material de escritorio aparentemente roubado.
Um sinal de que ha quem trabalhe para repor a lei e a ordem nas ruas de Dili... Parabens aos policias timorenses envolvidos na operacao, pelo espirito patriotico e por permanecerem fieis aos compromisso que assumiram de proteger as pessoas e os seus bens. Sinais de esperanca em tempos conturbados...
Etiquetas:
motim,
PNTL,
Timor-Leste,
violência de rua
quinta-feira, junho 01, 2006
A ajudar a medica da Cooperacao Portuguesa - hoje
Professores portugueses da FUP e do ME a ajudar a medica da Cooperacao Portuguesa a dar desparasitantes de administracao oral a criancas refugiadas:









Etiquetas:
cooperantes,
deslocados,
FUP
Professores portugueses em Dili hoje
Em varios lugares onde a populacao se tem concentrado procurando refugio a tendencia agora esta a ser passar la a noite (onde se sentem seguros) e durante o dia voltar para as suas casas, ir levantar sacos de arroz onde estes estao a ser distribuidos, ou fazer pela vida pescando e vendendo o peixe na rua, fazendo venda ambulante de tangerinas, etc...
Assim durante o dia o numero de refugiados diminui, mas ha quem fique mesmo assim, alguns porque ja nao tem casa, nem nada...
As fotografias abaixo mostram professores portugueses da Fundacao das Universidades Portuguesas e do Ministerio da Educacao a distribuirem comida, agua e chupa-chupas a criancas refugiadas (na Igreja Evangelica, na Igreja de Motael, no jardim do Banco Mundial) e a fazerem actividades recreativas com esses meninos e meninas:


Assim durante o dia o numero de refugiados diminui, mas ha quem fique mesmo assim, alguns porque ja nao tem casa, nem nada...
As fotografias abaixo mostram professores portugueses da Fundacao das Universidades Portuguesas e do Ministerio da Educacao a distribuirem comida, agua e chupa-chupas a criancas refugiadas (na Igreja Evangelica, na Igreja de Motael, no jardim do Banco Mundial) e a fazerem actividades recreativas com esses meninos e meninas:



Etiquetas:
cooperantes,
deslocados,
Díli,
FUP,
Ministério da Educação português
A assistencia humanitaria da ONU esta de ferias em Darwin?
Hoje de manha o Nuno Matias, da FUP, tres colegas do ME, a Marta, a Ana e a Susana, e eu, andamos a distribuir pao, agua e chupa-chupas as criancas em lugares onde ha populacao refugiada aqui em Dili. Ha outros grupos de cooperantes portugueses a fazer o mesmo, e outros que com grande profissionalismo mantem o funcionamento de instituicoes cruciais neste momento, como a Alfandega (para entrada de produtos tao necessarios).
Enquanto isto, nao se percebe muito bem onde estao os aparelhos de assistencia humanitaria do Programa Alimentar Mundial, do ACNUR, da UNICEF... Estao todos de ferias em Darwin?
Enquanto isto, nao se percebe muito bem onde estao os aparelhos de assistencia humanitaria do Programa Alimentar Mundial, do ACNUR, da UNICEF... Estao todos de ferias em Darwin?
Etiquetas:
cooperantes,
deslocados,
Díli,
FUP,
Ministério da Educação português
quarta-feira, maio 31, 2006
SNESup errou
Lisboa, 30 Mai (Lusa) - O Sindicato Nacional do Ensino Superior (SNESup) pediu hoje ao Governo que alerte os professores portugueses em Timor-Leste para o "perigo que correm", defendendo que os docentes "não têm a percepção exacta do risco" de permanecer no país.
Sou professor do Ensino Superior em Dili e nao passei procuracao ao Sindicato Nacional do Ensino Superior para - la em Lisboa! - decidir se eu tenho ou nao percepcao exacta do risco que corro. Estou consciente de que ha riscos em pernanecer, mas nao me lembro de o SNESup fazer comunicados destes aquando dos motins recentes na Franca ou durante as decadas que durou a guerra civil angolana, por exemplo, em que havia uma situacao de guerra real - coisa bem diferente do que esta a acontecer em Dili neste momento. A Cooperacao Portuguesa tem ajudado os docentes que partiram nos ultimos dias (por os seus contratos terem terminado ou por terem decidido partir por vontade propria) fornecendo transporte seguro ate ao aeroporto e tratando de questoes relativas a antecipacao de datas dos bilhetes. Ninguem esta ca contra a sua vontade, mas por opcao propria, porque acreditamos no que estamos a fazer.
Sou professor do Ensino Superior em Dili e nao passei procuracao ao Sindicato Nacional do Ensino Superior para - la em Lisboa! - decidir se eu tenho ou nao percepcao exacta do risco que corro. Estou consciente de que ha riscos em pernanecer, mas nao me lembro de o SNESup fazer comunicados destes aquando dos motins recentes na Franca ou durante as decadas que durou a guerra civil angolana, por exemplo, em que havia uma situacao de guerra real - coisa bem diferente do que esta a acontecer em Dili neste momento. A Cooperacao Portuguesa tem ajudado os docentes que partiram nos ultimos dias (por os seus contratos terem terminado ou por terem decidido partir por vontade propria) fornecendo transporte seguro ate ao aeroporto e tratando de questoes relativas a antecipacao de datas dos bilhetes. Ninguem esta ca contra a sua vontade, mas por opcao propria, porque acreditamos no que estamos a fazer.
Etiquetas:
Bairro da Cooperação,
cooperantes,
motim,
Timor-Leste,
violência de rua
segunda-feira, maio 29, 2006
Dias de orgulho
Critiquei algumas vezes no passado a atitude de muitos portugueses em Timor, nomeadamente por nao se esforcarem minimamente por aprender tetum. Pois hoje posso dizer com sinceridade que sinto um grande orgulho por ser portugues em Timor e testemunhar aqui a serenidade com que a comunidade portuguesa tem encarado a situacao tensa dos ultimos dias, e a forma como tem manifestado a sua solidariedade com o povo timorense recusando-se a abandonar o pais, para poder retomar o trabalho o mais brevemente possivel.
Um obrigado especial ao Victor e ao Joao, coordenadores do projecto no qual trabalho, porque tem gerido a situacao com grande profissionalismo.
Um obrigado especial para o meu pai tambem, por me terem acordado a telefonar la de Portugal quando aqui eram seis da manha a perguntar: Entao esses medrosos vao fugir? Tu nao vais fugir, pois nao?!?
Um obrigado mais especial ainda para a minha noiva, que comigo decidiu ontem a noite (quando se perspectivava uma evacuacao) que ficariamos, porque ha um amanha. E vai ser um dia de sol.
Um obrigado especial ao Victor e ao Joao, coordenadores do projecto no qual trabalho, porque tem gerido a situacao com grande profissionalismo.
Um obrigado especial para o meu pai tambem, por me terem acordado a telefonar la de Portugal quando aqui eram seis da manha a perguntar: Entao esses medrosos vao fugir? Tu nao vais fugir, pois nao?!?
Um obrigado mais especial ainda para a minha noiva, que comigo decidiu ontem a noite (quando se perspectivava uma evacuacao) que ficariamos, porque ha um amanha. E vai ser um dia de sol.
Etiquetas:
cooperantes,
FUP,
João Mota,
Timor-Leste,
violência de rua,
Vitor Ambrósio
Ainda ha esperanca
Encontrei agora mesmo isto no blog Timor-online:
Lisboa, 28 Mai (Lusa) - O Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) negou hoje ter ordenado o regresso a Portugal dos professores portugueses colocados em Timor-Leste, ao abrigo da cooperação bilateral."Não há qualquer decisão conjunta do MNE e do Ministério da Educação sobre o regresso dos professores portugueses que se encontram em Timor-Leste", assegurou o porta-voz do ministro, António Carneiro Jacinto, em declarações à Lusa.Vários docentes colocados em Timor-Leste revelaram hoje à Agência Lusa, em Díli, que havia uma decisão conjunta dos dois ministérios naquele sentido e que lhes foi transmitido hoje que deveriam regressar terça ou quarta-feira a Lisboa, devido à impossibilidade de se concluir formalmente o ano lectivo em curso.Esta informação foi também transmitida hoje a professores que se encontram colocados fora de Díli, nomeadamente na zona leste do país, que receberam a indicação de que deviam regressar à capital timorense já na segunda-feira para embarcarem terça ou quarta-feira para Darwin (Austrália), de onde seguiriam depois para Portugal.Contudo, o porta-voz do MNE garantiu que "a evacuação, designadamente dos professores portugueses, só se verificará se, e quando o Governo português o entender"."Se alguém quiser abandonar Timor-Leste poderá fazê-lo pelos seus próprios meios, através, nomeadamente, dos voos regulares australianos", adiantou Carneiro Jacinto.O porta-voz do MNE disse ainda que as aulas em Timor-Leste "estão suspensas temporariamente por razões de segurança", desde que começaram os confrontos.Portugal mantém cerca de 150 portugueses em Timor-Leste, no quadro da cooperação bilateral para a formação de professores e no âmbito do projecto de reintrodução da língua portuguesa, e do projecto de cooperação da Fundação das Universidades Portuguesas com a Universidade Nacional Timor LoroSa'e.Em relação ao projecto de reintrodução da língua portuguesa, em que os professores estavam a formar docentes timorenses, os exames estavam marcados para Julho.EL/AG.
Lisboa, 28 Mai (Lusa) - O Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) negou hoje ter ordenado o regresso a Portugal dos professores portugueses colocados em Timor-Leste, ao abrigo da cooperação bilateral."Não há qualquer decisão conjunta do MNE e do Ministério da Educação sobre o regresso dos professores portugueses que se encontram em Timor-Leste", assegurou o porta-voz do ministro, António Carneiro Jacinto, em declarações à Lusa.Vários docentes colocados em Timor-Leste revelaram hoje à Agência Lusa, em Díli, que havia uma decisão conjunta dos dois ministérios naquele sentido e que lhes foi transmitido hoje que deveriam regressar terça ou quarta-feira a Lisboa, devido à impossibilidade de se concluir formalmente o ano lectivo em curso.Esta informação foi também transmitida hoje a professores que se encontram colocados fora de Díli, nomeadamente na zona leste do país, que receberam a indicação de que deviam regressar à capital timorense já na segunda-feira para embarcarem terça ou quarta-feira para Darwin (Austrália), de onde seguiriam depois para Portugal.Contudo, o porta-voz do MNE garantiu que "a evacuação, designadamente dos professores portugueses, só se verificará se, e quando o Governo português o entender"."Se alguém quiser abandonar Timor-Leste poderá fazê-lo pelos seus próprios meios, através, nomeadamente, dos voos regulares australianos", adiantou Carneiro Jacinto.O porta-voz do MNE disse ainda que as aulas em Timor-Leste "estão suspensas temporariamente por razões de segurança", desde que começaram os confrontos.Portugal mantém cerca de 150 portugueses em Timor-Leste, no quadro da cooperação bilateral para a formação de professores e no âmbito do projecto de reintrodução da língua portuguesa, e do projecto de cooperação da Fundação das Universidades Portuguesas com a Universidade Nacional Timor LoroSa'e.Em relação ao projecto de reintrodução da língua portuguesa, em que os professores estavam a formar docentes timorenses, os exames estavam marcados para Julho.EL/AG.
FUGA
Em 1975 os portugueses fugiram e abandonaram os timorenses a sua sorte...
Em 1999 a Unamet fugiu e abandonou os timorenses a sua sorte...
Em 2006 os portugueses vao fugir na proxima terca-feira...
Eu fico.
Em 1999 a Unamet fugiu e abandonou os timorenses a sua sorte...
Em 2006 os portugueses vao fugir na proxima terca-feira...
Eu fico.
Etiquetas:
cooperantes,
Timor-Leste
domingo, maio 28, 2006
Tivemos a bocado uma reuniao no Bairro da Cooperacao. Da reuniao destacam-se duas coisas:
1 - ha quem fique especialmente antipatico em situacoes de tensao (e nao devia...)
2 - Os portugueses presentes sao quase unanimes (a julgar pelas conversas pelo jardim apos a reuniao) em nao querer abandonar os timorenses com quem trabalham, a quem dao aulas... O pessoal esta confiante em que as coisas melhorem em breve, para que haja um futuro para Timor e para os timorenses.
Os alunos com quem vou contactando telefonicamente repetem a mesma pergunta: quando chegam os GNRs? Os timorenses ja viveram situacoes de instabilidade, com bandidos impunes a solta pelas ruas, em que a actuacao dos agentes anti-motim da GNR foi decisiva para parar a actuacao dos gatunos e arruaceiros e para restaurar a confianca perdida das pessoas. Repetem-se os relatos de situacoes em que tropas australianas assistiram a accao de incendiarios e saqueadores de lojas ou casas sem os deterem. As pessoas perguntam-nos: quando chegam os GNR? So podemos responder-lhes que "em breve".
Tambem nos perguntam se os portugueses vao embora com a ansiedade de quem pensa que quando isso acontecer tal sera o sinal de que vai tudo rebentar definitavente no pais e nas suas vidas. Temos-lhes dito que os portugueses nao vao embora, que estamos so a espera que as coisas fiquem um pouco mais calmas para retomarmos as aulas, tenho esperanca de poder continuar a dizer o mesmo. Espero que nao haja evacuacao dos cidadaos portugueses, como gostariam os australianos se calhar, a nossa presenca faz uma diferenca para os timorenses.
1 - ha quem fique especialmente antipatico em situacoes de tensao (e nao devia...)
2 - Os portugueses presentes sao quase unanimes (a julgar pelas conversas pelo jardim apos a reuniao) em nao querer abandonar os timorenses com quem trabalham, a quem dao aulas... O pessoal esta confiante em que as coisas melhorem em breve, para que haja um futuro para Timor e para os timorenses.
Os alunos com quem vou contactando telefonicamente repetem a mesma pergunta: quando chegam os GNRs? Os timorenses ja viveram situacoes de instabilidade, com bandidos impunes a solta pelas ruas, em que a actuacao dos agentes anti-motim da GNR foi decisiva para parar a actuacao dos gatunos e arruaceiros e para restaurar a confianca perdida das pessoas. Repetem-se os relatos de situacoes em que tropas australianas assistiram a accao de incendiarios e saqueadores de lojas ou casas sem os deterem. As pessoas perguntam-nos: quando chegam os GNR? So podemos responder-lhes que "em breve".
Tambem nos perguntam se os portugueses vao embora com a ansiedade de quem pensa que quando isso acontecer tal sera o sinal de que vai tudo rebentar definitavente no pais e nas suas vidas. Temos-lhes dito que os portugueses nao vao embora, que estamos so a espera que as coisas fiquem um pouco mais calmas para retomarmos as aulas, tenho esperanca de poder continuar a dizer o mesmo. Espero que nao haja evacuacao dos cidadaos portugueses, como gostariam os australianos se calhar, a nossa presenca faz uma diferenca para os timorenses.
Etiquetas:
Bairro da Cooperação,
GNR,
violência de rua
Se deixássemos de conseguir rir deixaríamos de ser humanos
Uma vez li um livro sobre o campo de Extermínio de Treblinka, escrito por um judeu. O campo de Treblinka era um campo construído pelos nazis na II Guerra Mundial, que funcionava como fábrica cujo objectivo era exterminar judeus. Faziam-no metodicamente, friamente, com eficiência (na II Guerra Mundial os nazis mataram cerca de seis milhões de judeus). No campo funcionava uma brigada de prisioneiros judeus cuja tarefa era transportar diariamente pilhas de cadáveres das câmaras de gás para os fornos crematórios, esses prisioneiros viviam em condições sub-humanas e sabiam que só estariam vivos enquanto tivessem forças para desempenhar a sua tarefa macabra. Fiquei impressionado por ler que nessas condições de vida terríveis eles contavam anedotas e brincavam sobre coisas como o peso dos cadáveres que transportavam. Depois compreendi, eles riam para continuarem humanos. Despojados de quase tudo, restavam-lhes como últimos resquícios de humanidade a esperança e o riso.
Vem isto a propósito de um incidente que me aconteceu hoje. Fui beber um café no Hotel Timor, ao lado do Bairro da Cooperação, e quando cheguei estava prestes a começar uma conferência de imprensa do Primeiro Ministro. Aproximei-me de uma amiga que comentou que o início da conferência de imprensa estava com algum atraso e eu respondi casualmente algo do género “O Primeiro Ministro ainda se deve estar a pôr bonito”. Foi um comentário completamente inocente, sem quaiquer segundas intenções, sem qualquer tom malicioso, mas uma senhora timorense que estava ali ao lado – sem dúvida perturbada pela tensão dos últimos dias – respondeu com um ar muito indignado qualquer coisa como “Não lhe admito que fale assim do Primeiro Ministro do meu país, eu também não falo assim do Primeiro Ministro do deu país”. É sabido o cuidado que o Primeiro Ministro português José Sócrates tem com a imagem (pagando até a assessores que aconselham sobre isso), pelo que um comentário desse género até lhe serviria como uma luva. Acabei por conseguir explicar à senhora que não tinha qualquer intenção de desrespeitá-la, nem desrespeitar Timor, nem desrespeitar os líderes do país, e ela aceitou as minhas desculpas por tê-la ofendido sem intenção.
Mas desse incidente sem importância pode compreender-se algo da situação actual do país, de como toda a gente anda uma pilha de nervos, da intolerância que grassa no ar, e também de como qualquer pequena faiscazinha pode despoletar situações graves. Há bandos de jovens armados com catanas, fisgas e paus, que andam de um lado para o outro, uns a deambular em busca de casas para roubar ou pessoas nascidas numa área geográfica diferente a quem bater, outros a patrulhar os seus bairros para se protegerem dos assaltantes. Não é preciso muito para que haja situações de violência. Os bandidos da cidade aproveitam para roubar o que podem. As tropas australianas já se vêem pela cidade, usando também blindados e helicópteros, mas não se fazem ainda patrulhas suficientes para sossegar completamente a população. Aguarda-se com ansiedade a chegada dos GNR, mais vocacionados para dispensar e deter bandos de malfeitores e ladrões como os que actuam pela cidade neste momento. Muita da população está refugiada em sítios como o aeroporto, recintos junto de Embaixadas, o porto, lugares da Igreja...Eu vou-me casar dentro de dias com uma moça timorense, aguardo o evoluir da situação para saber se vou fazer uma festa que dure toda a noite como é tradição em Timor ou se vou casar semi-clandestinamente com disparos como música de fundo. Já aluguei uma casa para morar com a minha mulher depois do casamento, e já me mudei para lá e levei para lá quase todos os meus pertences há umas duas semanas, mas nas últimas duas noites voltei a vir dormir ao meu quarto no Bairro da Cooperação por causa da insegurança em Díli. Agora a rotina diária inclui comprar cartões de telemóvel para telefonar a perguntar se ainda não me queimaram a casa, e para saber se os muitos amigos espalhados pela cidade, nas suas casas ou refugiados em diversos sítios (protegidos pelos australianos ou pertencentes à Igreja), estão todos bem.
Na quinta-feira antes de rebentar o tiroteio entre as FDTL e a PNTL no centro da cidade, estive na Faculdade às oito da manhã porque tinha uma aula combinada com os meus alunos. Estava lá uma dúzia deles, moços e moças. Não dei matéria, estivemos a conversar sobre a situação. Alguns tinham dormido na montanha devido aos ataques aos seus bairros e tinham vindo de longe, a pé, para as aulas, porque ter aulas ajudava a ter uma sensação de normalidade, de que ainda não estava tudo perdido. Conversámos amenamente em tétum, alguns contavam anedotas sobre as aventuras e desventuras que lhes tinham acontecido a fugir das milícias em 1999, outros gozavam com o seu próprio medo em situações perigosas que lhes tinham acontecido nos últimos dias. Mostravam um sentido de humor saudável, ao contrário da senhora do hotel. Ríamos e havia nisso um efeito de catarse, e tínhamos esperança.
Hoje de manhã, às 8 horas, tinha um exame marcado com eles. A Faculdade é aqui perto, fui lá para pôr um papel afixado na porta a dizer que o exame fica adiado para quando a situação estiver mais calma, escrevi no papel que talvez na próxima semana. Temia que houvesse alunos a aparecer para o exame e não me sentia bem por lhes gorar as expectativas sem sequer uma palavra. Havia de facto um estudante à minha espera. Enquanto conversávamos apareceu um grupo de uns vinte rapazes, todos com catanas (um trazia duas!), fisgas e paus, falando macassai entre si, alguns não teriam mais de 15 ou 16 anos. Tinham o ar de procurar casas para roubar ou incendiar, ou gente a quem bater. Não nos incomodaram, mas o moço ficou assustado. Ele é de uma região do ocidente. Acabou por me pedir que o levasse a casa, em Bebono, na minha motorizada. Fi-lo, era por causa do meu exame que ele ali estava, tinha-se arriscado corajosamente para vir fazer a prova, se lhe acontecesse alguma coisa no regresso eu ficaria com isso na consciência. No percurso pela marginal vi mesmo à minha frente dois rufias com facas a derrubarem um indivíduo de uma motorizada e a roubá-la.
Tenho ficado aqui pelo Bairro da Cooperação e Hotel Timor depois disso, se cada um de nós decidisse andar a passear por aí pela cidade isso daria um monte de trabalho extra aos senhores que andam a zelar pela nossa segurança, que têm coisas mais importantes para fazer do que servir de babysitters a “Indiana Jones de fim-de-semana” como nós. E isto leva-me de volta ao tema do humor. Todos nós fazemos figuras ridículas de vez em quando, nos últimos dias talvez com maior frequência do que o habitual. Não ter informação credível que nos permita compreender correctamente quem são “os maus” e quem são “os bons”, ou o porquê de haver timorenses activamente empenhados em destruir o país e a liberdade que foi conquistada com tanto sofrimento, leva-nos a procurar avidamente cada nova informaçãozinha e por vezes a ser inadvertidamente porta-vozes dos boatos mais mirabolantes, ou de uma das quinhentas teorias da conspiração que tentam encontrar algum sentido em tudo isto.
Independentemente de todas estas considerações parece-me que há duas coisas em que este país deveria investir: educação para a tolerância e sentido de humor. E ambas estão ligadas. Não é que não exista sentido de humor, os meus alunos que gozavam com o seu próprio medo têm-no bem apurado, mas faz falta aqui um programa televisivo como o “Contra Informação” da televisão portuguesa, no qual se usam bonecos que são caricaturas dos líderes de Portugal e onde estes são gozados pelas suas atitudes, decisões e tiques. Um líder político democrático, de qualquer país, tem muito a ganhar se o seu povo compreender que um dirigente político não tem natureza divina e portanto “pode invocar-se o nome dele em vão”. Este é um dos tijolos base da democracia. Isto promove a tolerância também. E Timor-Leste é ainda um país muito intolerante. Vivo aqui há cinco anos, e há cinco anos que ouço diariamente nos táxis, nas ruas, nas lojas, timorenses que criticam o facto de um país católico ter um Primeiro Ministro muçulmano. Aproveito sempre para dar um sermão sobre a tolerância (os meus alunos já ouviram esse sermão milhentas vezes), religiosa e não-religiosa, digo-lhes que os cidadãos devem esforçar-se por avaliar o desempenho dos seus líderes políticos pelas decisões que estes tomam, pelas políticas que seguem, e nunca pela religião que têm ou não têm. Muitos timorenses ficavam espantadíssimos por me ouvirem dizer que Presidentes da República portugueses como Mário Soares e Jorge Sampaio não eram católicos.
Mas os meus alunos sabem rir de si mesmos e isso deixa-me feliz. Amo esta terra e caminho de olhos postos no futuro, procurando também saber rir de mim mesmo, e rir da vida, que às vezes “é madrasta”. E mantenho a esperança.
Díli, 27 de Maio de 2006, 20.00h
Vem isto a propósito de um incidente que me aconteceu hoje. Fui beber um café no Hotel Timor, ao lado do Bairro da Cooperação, e quando cheguei estava prestes a começar uma conferência de imprensa do Primeiro Ministro. Aproximei-me de uma amiga que comentou que o início da conferência de imprensa estava com algum atraso e eu respondi casualmente algo do género “O Primeiro Ministro ainda se deve estar a pôr bonito”. Foi um comentário completamente inocente, sem quaiquer segundas intenções, sem qualquer tom malicioso, mas uma senhora timorense que estava ali ao lado – sem dúvida perturbada pela tensão dos últimos dias – respondeu com um ar muito indignado qualquer coisa como “Não lhe admito que fale assim do Primeiro Ministro do meu país, eu também não falo assim do Primeiro Ministro do deu país”. É sabido o cuidado que o Primeiro Ministro português José Sócrates tem com a imagem (pagando até a assessores que aconselham sobre isso), pelo que um comentário desse género até lhe serviria como uma luva. Acabei por conseguir explicar à senhora que não tinha qualquer intenção de desrespeitá-la, nem desrespeitar Timor, nem desrespeitar os líderes do país, e ela aceitou as minhas desculpas por tê-la ofendido sem intenção.
Mas desse incidente sem importância pode compreender-se algo da situação actual do país, de como toda a gente anda uma pilha de nervos, da intolerância que grassa no ar, e também de como qualquer pequena faiscazinha pode despoletar situações graves. Há bandos de jovens armados com catanas, fisgas e paus, que andam de um lado para o outro, uns a deambular em busca de casas para roubar ou pessoas nascidas numa área geográfica diferente a quem bater, outros a patrulhar os seus bairros para se protegerem dos assaltantes. Não é preciso muito para que haja situações de violência. Os bandidos da cidade aproveitam para roubar o que podem. As tropas australianas já se vêem pela cidade, usando também blindados e helicópteros, mas não se fazem ainda patrulhas suficientes para sossegar completamente a população. Aguarda-se com ansiedade a chegada dos GNR, mais vocacionados para dispensar e deter bandos de malfeitores e ladrões como os que actuam pela cidade neste momento. Muita da população está refugiada em sítios como o aeroporto, recintos junto de Embaixadas, o porto, lugares da Igreja...Eu vou-me casar dentro de dias com uma moça timorense, aguardo o evoluir da situação para saber se vou fazer uma festa que dure toda a noite como é tradição em Timor ou se vou casar semi-clandestinamente com disparos como música de fundo. Já aluguei uma casa para morar com a minha mulher depois do casamento, e já me mudei para lá e levei para lá quase todos os meus pertences há umas duas semanas, mas nas últimas duas noites voltei a vir dormir ao meu quarto no Bairro da Cooperação por causa da insegurança em Díli. Agora a rotina diária inclui comprar cartões de telemóvel para telefonar a perguntar se ainda não me queimaram a casa, e para saber se os muitos amigos espalhados pela cidade, nas suas casas ou refugiados em diversos sítios (protegidos pelos australianos ou pertencentes à Igreja), estão todos bem.
Na quinta-feira antes de rebentar o tiroteio entre as FDTL e a PNTL no centro da cidade, estive na Faculdade às oito da manhã porque tinha uma aula combinada com os meus alunos. Estava lá uma dúzia deles, moços e moças. Não dei matéria, estivemos a conversar sobre a situação. Alguns tinham dormido na montanha devido aos ataques aos seus bairros e tinham vindo de longe, a pé, para as aulas, porque ter aulas ajudava a ter uma sensação de normalidade, de que ainda não estava tudo perdido. Conversámos amenamente em tétum, alguns contavam anedotas sobre as aventuras e desventuras que lhes tinham acontecido a fugir das milícias em 1999, outros gozavam com o seu próprio medo em situações perigosas que lhes tinham acontecido nos últimos dias. Mostravam um sentido de humor saudável, ao contrário da senhora do hotel. Ríamos e havia nisso um efeito de catarse, e tínhamos esperança.
Hoje de manhã, às 8 horas, tinha um exame marcado com eles. A Faculdade é aqui perto, fui lá para pôr um papel afixado na porta a dizer que o exame fica adiado para quando a situação estiver mais calma, escrevi no papel que talvez na próxima semana. Temia que houvesse alunos a aparecer para o exame e não me sentia bem por lhes gorar as expectativas sem sequer uma palavra. Havia de facto um estudante à minha espera. Enquanto conversávamos apareceu um grupo de uns vinte rapazes, todos com catanas (um trazia duas!), fisgas e paus, falando macassai entre si, alguns não teriam mais de 15 ou 16 anos. Tinham o ar de procurar casas para roubar ou incendiar, ou gente a quem bater. Não nos incomodaram, mas o moço ficou assustado. Ele é de uma região do ocidente. Acabou por me pedir que o levasse a casa, em Bebono, na minha motorizada. Fi-lo, era por causa do meu exame que ele ali estava, tinha-se arriscado corajosamente para vir fazer a prova, se lhe acontecesse alguma coisa no regresso eu ficaria com isso na consciência. No percurso pela marginal vi mesmo à minha frente dois rufias com facas a derrubarem um indivíduo de uma motorizada e a roubá-la.
Tenho ficado aqui pelo Bairro da Cooperação e Hotel Timor depois disso, se cada um de nós decidisse andar a passear por aí pela cidade isso daria um monte de trabalho extra aos senhores que andam a zelar pela nossa segurança, que têm coisas mais importantes para fazer do que servir de babysitters a “Indiana Jones de fim-de-semana” como nós. E isto leva-me de volta ao tema do humor. Todos nós fazemos figuras ridículas de vez em quando, nos últimos dias talvez com maior frequência do que o habitual. Não ter informação credível que nos permita compreender correctamente quem são “os maus” e quem são “os bons”, ou o porquê de haver timorenses activamente empenhados em destruir o país e a liberdade que foi conquistada com tanto sofrimento, leva-nos a procurar avidamente cada nova informaçãozinha e por vezes a ser inadvertidamente porta-vozes dos boatos mais mirabolantes, ou de uma das quinhentas teorias da conspiração que tentam encontrar algum sentido em tudo isto.
Independentemente de todas estas considerações parece-me que há duas coisas em que este país deveria investir: educação para a tolerância e sentido de humor. E ambas estão ligadas. Não é que não exista sentido de humor, os meus alunos que gozavam com o seu próprio medo têm-no bem apurado, mas faz falta aqui um programa televisivo como o “Contra Informação” da televisão portuguesa, no qual se usam bonecos que são caricaturas dos líderes de Portugal e onde estes são gozados pelas suas atitudes, decisões e tiques. Um líder político democrático, de qualquer país, tem muito a ganhar se o seu povo compreender que um dirigente político não tem natureza divina e portanto “pode invocar-se o nome dele em vão”. Este é um dos tijolos base da democracia. Isto promove a tolerância também. E Timor-Leste é ainda um país muito intolerante. Vivo aqui há cinco anos, e há cinco anos que ouço diariamente nos táxis, nas ruas, nas lojas, timorenses que criticam o facto de um país católico ter um Primeiro Ministro muçulmano. Aproveito sempre para dar um sermão sobre a tolerância (os meus alunos já ouviram esse sermão milhentas vezes), religiosa e não-religiosa, digo-lhes que os cidadãos devem esforçar-se por avaliar o desempenho dos seus líderes políticos pelas decisões que estes tomam, pelas políticas que seguem, e nunca pela religião que têm ou não têm. Muitos timorenses ficavam espantadíssimos por me ouvirem dizer que Presidentes da República portugueses como Mário Soares e Jorge Sampaio não eram católicos.
Mas os meus alunos sabem rir de si mesmos e isso deixa-me feliz. Amo esta terra e caminho de olhos postos no futuro, procurando também saber rir de mim mesmo, e rir da vida, que às vezes “é madrasta”. E mantenho a esperança.
Díli, 27 de Maio de 2006, 20.00h
sexta-feira, maio 26, 2006
quarta-feira, maio 24, 2006
A primeira vez
Acabo de dar um teste à meia-dúzia de alunos que apareceram, enquanto numa colina ali próxima o ruído do tiroteio em rajadas soava como milho quando se fazem falocas.
Há sempre uma primeira vez para tudo…
Ha’u foin fó teste ida ba alunu balu de’it ne’ebé mosu, enkuantu iha laletek ida ne’ebé besik tiru-rajada tarutu hanesan batar sona.
Sempre iha dala uluk ba buat hotu-hotu…
Há sempre uma primeira vez para tudo…
Ha’u foin fó teste ida ba alunu balu de’it ne’ebé mosu, enkuantu iha laletek ida ne’ebé besik tiru-rajada tarutu hanesan batar sona.
Sempre iha dala uluk ba buat hotu-hotu…
Etiquetas:
ensino,
FDTL,
PNTL,
UNTL,
violência de rua
terça-feira, maio 09, 2006
sábado, fevereiro 25, 2006
domingo, fevereiro 05, 2006
Peneer meselo laa Literatura kidia-laa Timór

Este texto em tocodede foi publicado no “Várzea de Letras”, edição de Dezembro de 2005.
Este é possivelmente o primeiro texto publicado em tocodede na história desta língua, que se fala em Liquiçá e Maubara, e a ortografia usada é, naturamente, ainda provisória. Num pequeno manual sobre este idioma, a publicar no futuro próximo, pensamos poder desenvolver mais a nossa reflexão sobre esta questão. A tradução que agora publicamos baseia-se no dialecto desta língua falado na vila de Liquiçá.
Iso-kede’e kal testu iso-muno mane publika los bo’ahuu tokodede pesa-muno rata agora. Atu bo’a tokodede her Likisá los Maubara, maibé her tradusaun mane kami publika tilu kami dara dialetu vila Likisá ni’i pe bo’ahuu kede’e. Ortografia mane kami uza heki provizóriu, i kami nurat ke kami heki lebo dezenvolve pita kami-ni’i reflesaun kidia-laa asuntu iso-kede’e her manuál bruma mane kami heki publika daramai.
Peneer meselo laa Literatura kidia-laa Timór
Testu pe João Paulo T. Esperança, tradusaun laa bo’a-huu tokodede pe João Paulo T. Esperança, Fernanda Alves Correia i Cesaltina Campos
Versaun orijinál los bo’ahuu-portugés publika bali sé los parte ru her
Várzea de Letras, Suplemento Literário mensal do jornal Semanário, nº 3 [4] e nº 4 [5], Junho e Julho de 2004
tradusaun laa tetun pe João Paulo T. Esperança, Clara Viegas da Silva, Icha Bossa i Irta Araújo; Publika bali sé her Várzea de Letras, Suplemento Literário mensal do jornal Semanário, nº 8, Setembro de 2004
Versaun orijinál publika mós her Portugál her:
Esperança, João Paulo T. - Um brevíssimo olhar sobre a Literatura de Timor, in: «Mealibra – Revista de Cultura», Viana do Castelo (Portugal), Centro Cultural do Alto Minho, série 3 (16), Verão 2005, p. 131-134
Versaun ru (portugés i tetun) inklui mós her koletánea:
O que é a lusofonia/ Saida maka luzofonia / J. P. Esperança et al . – Díli: Instituto Camões, 2005 . – VIII+163 p. [koletánea bilinge – portugés i tetun – los testu oeoe]
Texto de João Paulo T. Esperança, traduzido para tocodede por João Paulo T. Esperança, Fernanda Alves Correia e Cesaltina Campos
O texto original em português foi publicado em duas partes no
Várzea de Letras, Suplemento Literário mensal do jornal Semanário, nº 3 [4] e nº 4 [5], Junho e Julho de 2004
A versão em tétum foi publicada no Várzea de Letras, Suplemento Literário mensal do jornal Semanário, nº 8, Setembro de 2004
A versão original foi também publicada em Portugal em:
Esperança, João Paulo T. - Um brevíssimo olhar sobre a Literatura de Timor, in: «Mealibra – Revista de Cultura», Viana do Castelo (Portugal), Centro Cultural do Alto Minho, série 3 (16), Verão 2005, p. 131-134
Ambas as versões (port. e tétum) foram incluídas na colectânea:
O que é a lusofonia/ Saida maka luzofonia / J. P. Esperança et al . – Díli: Instituto Camões, 2005 . – VIII+163 p. [colectânea bilingue – português e tétum – de textos vários]
Molok lapar selo, kami heki esplika pita-heta ke kami dima literatura “kidia-laa Timór” i teloos literatura “Timór ni’i”? Kede’e pita kami teloos bo’a mesa kidia-laa kerodór timorana, maibé heki inklui informasaun seri pe lapar seri-mane ke dia leti lee pe malae ro’o mane bua Timór megees asuntu literáriu. Kami heki tet estuda her-kede’e kidia-laa rekolla literatura orál los tradisionál, asuntu iso-kede’e kami heki lui laa oportunidade selo. Maski megees kede’e, kami manara dima ke rekolla tetdún nour pe ro’o-mane atu punu bali sé ke merese klasifikasaun iso-kede’e. Rekolla mane punu dara kritériu siénsia ni’i dia prinsípiu báziku dale “testu” iso sempre dia versaun nour, i versaun iso-iso heki eto rejistu mane loba i dara riko heta ke informante ro’o dale. Dara lobaloba tenke dia rejistu los ni’i bo’a-huu orijinál. Daramai ke lebo punu análize mane loba. Livru iso mane kuaze dara métodu iso-kede’e ke Textos em Teto da Literatura Oral Timorense, mane publika her 1961 pe Amu-Luli Artur Basílio de Sá (1), maski mestre-eskola Paulo Quintão los Marçal Andrade kero i punu testu sonotor los tetun-terik luhuir ro’o-ni’i. Kami mós heki dima kompilasaun (tet dia aparatu krítiku) The book of the Story Teller (2), mane sai her Austrália her 1995, i só ni’i títulu los prefásiu mesa ke kero los inglés, i istória ro’o kero nahati los tetun i tet tuli bo’a-huu los espresaun oeoe mane ibo-lama ro’o uza aipíl ro’o konta istória. Nourdesi pe “koletánea” ro’o selo pe arte verbál timorana ro’o-si’i afinál likis laa testu maizomenus literáriu mane, maski ni’i ramut her tradisaun, sai sé lapar heu iso, rekriasaun her tuku-huu selo.
Molok portugés ro’o rata mai Timór, aipíl sékulu XVI komesa, povu ro’o selo mai sé vizita kiti-ni’i tasi-ibo odi ala kai-kameli, desidesi atu-Xina, atu-malaiu los atu-Java. Pita povu ro’o Timór ni’i her tempu kono’o tet pana’a kero heki, malae ro’o-kede’e ke komesa kero apontamentu seri kidia-laa raesoro kede’e los atu rai-ubo. Maibé portugés ro’o ke komesa peni dinia her-kede’e, desidesi amu-luli katóliku ro’o, sékulu seri molok okupasaun koloniál lobaloba tama her rae iso-kede’e. Helehele tere monografia, livru-memórias, disionáriu, livru los orasaun her bo’a-huu oeoe Timór ni’i, pe kerodór megees amu-luli, militár, administradór, atu sole-rae i deportadu ro’o. Iso mane famozu desi ke A ilha Verde e Vermelha de Timor, pe Alberto Osório de Castro, mane publika primeira vés her revista Seara Nova, her hula-Juñu 1928 los hula-Juñu 1929, i depois, megees livru, pe Agência Geral das Colónias, her 1943. Heni tilutilu publika hali pe Livros Cotovia (3). Kede’e livru kidia-laa viajen, tet megees baibain, kero los proza poétika, benu los informasaun nour kidia-laa raesoro kede’e, ni’i hoho-los-rae los ni’i atu ro’o. Livru bruma pe Paulo Braga, A Ilha dos Homens Nus (4), peri kiti-ni’i atensaun pita kerodór matani Ataúru peneer (rekria?) pe u-ni’i mat idealista: sosiedade tradisionál libertária iso, tet dia esplorasaun pe atu laa atu, mane atu punu mesa “domin-livre”. Tempu kolonializmu ni’i punu tere mós fiksaun oe iso mane agora kede’e tilu kiti posi gala “literatura koloniál”, mane dara definisaun klásika pe Pires Laranjeira ke iso-mane “kero i publika, kuaze ma’omege, pe portugés ro’o mane glelu hali laa Portugál, uza pontudevista pe ezotizmu, evazionizmu, luiduu rasa ro’o selo (megees atu-meta), ne-apoiu laa ideia los prátika kolonialista, mane peneer laa mundu i laa situasaun oeoe darapé malae-buti ro’o-si mat, los personajen importante desi mós malae-buti ma’o, seri kolonu seri atu sole-rae, los, aipíl atu-meta tama her istória, narradór peneer meselo laa ro’o, matani ro’o megees lapar iso estrañu, folklóriku, hui, i tet konsidera ro’o megees atu los kultura riko, los ro’o-si psikolojia, sentimentus i gunutar” (5). Her Timór, reprezentante bloi iso pe jéneru iso-kede’e ke Caiúru, pe Grácio Ribeiro (6). Novela los estilu autobiográfiku, konta aventura oeoe pe joven komunista iso mane eto deportasaun mai Timór pita punu atividade polítika saka rejime faxista her Portugál, mane her-kede’e punsole istória-domin iso los u-ni’i nona gala Caiúru. Maski u matani simpatia laa atu mane eto kondenasaun laa serbisu rihu i laa revoltozu ro’o pe Manufahi, i u sente orgullu pita u tet bonu u-ni’i ausiliár ro’o, tet megees u-ni’i kamarada ro’o mane sep bonu kriadu, maibé u-ni’i situasaun bloi desi megees atu-buti punu u bligu u-ni’i ideolojia polítika, i u mós komesa punu megees atu-a’e iso mane lebo deside kidia-laa atu bruma rai-ubu ro’o-si vida. Livru iso-kede’e dokumentu sosiolójiku interesante loba, mane matani aspetu oeoe pe sosiedade her tempu kono’o, porezemplu pelheta ke u ala nona iso – mane u-ni’i tunugu baratu desi duké kuda iso mane u mós ala. Nona ro’o sai megees asuntu mane tere molumolu her literatura kero pe atu-metrópole ro’o, kal pita nona ro’o megees parte pe sosiedade her-kede’e mane ro’o segi desi, i hine-losa seri-kede’e sai megees janela laa mundu Timór ni’i laa ro’o-si “meki-mane” malae. Grácio Ribeiro heki kero pita kidia-laa deportadu ro’o-si mori her romanse iso mane u heki publika depois (7).
Tama sé laa korrente literatura pós-koloniál, los krítika huru laa kolonializmu ni punhuu kalao, kami dima Corpo colonial (8), “romanse femininu loba, mane konta daa Alitia ni’i, alferes milisianu ni’i hee mane dara u-ni’i mekei-mane mai Timór, kolónia mane kroo rata atu nour bligu bali, hati mane hunu koloniál tet rata i militár ro’o-si’i inimigu a’e ke tédiu mesa (signifika ro’o somoli pita ro’o tet dia lapar iso odi punu i ro’o-ni’i mori aer-aer ni’i tet rame). Kiti lebo dale kede’e livru iso susar par lee, mane interrompe molumolu ni istória los monólogu filozófiku manaru ka diálogu mane tet megees realidade kidia-laa kestaun ezistensiál oeoe, maibé matani mós quadru interesante iso kidia-laa tropa ro’o-si’i hee mane peni her raesoro kede’e her Ázia los Oseania ni’i talaa i mós kidia-laa kondisaun hine ni’i. Kede’e mós romanse iso kidia-laa tuli esperansa, traisaun los mori mane tet kontente i tet kompletu.”(9) U-ni’i istória bo’a kidia-laa pel-heta ke protagonista sai segi laa Manucodiata, hine-losa prostituta timorana mane Alitia ni’i mekei-mane laa molumolu los u, i livru kede’e mós matani situasaun heu iso her relasaun pe metropolitanu ro’o los hine seri her-kede’e: “Muno, malae-buti ro’o nee barlake odi ala nona ro’o. Depoizde tropa ro’o mai ro’o nee mesa osa odi suri lapeta” (Ruas, 1981:16). Livru iso mane kontráriu loba laa literatura koloniál ke Uma deusa no “inferno” de Timor, pe Francisco A. Gomes (10). Livru iso-kede’e tama laa estilu iso mane kiti lebo posi gala “literatura arrependimentu ni’i”, leti mesa odi punduu lapar ma’omege mane Portugál ni’i i dia mós personajen timorana nour (desidesi hine) revolusionáriu los atu nour ke dara ro’o, maibé anakróniku (signifika tet dara realidade loba tempu kono’o ni’i), u naa inventa i tet peneer laa situasaun istórika i sosiál lobaloba her tempu mane u-ni’i asaun sole. Hali glelu hali laa asuntu muno, kiti eto A nona do Pinto Brás (Novela Timorense) (11). Kede’e novela bruma iso mane punsole ni’i istória her too seri lemori molok administrasaun koloniál portugés ma’o, mane ni’i kerodór matani koñesimentu lobaloba kidia-laa kultura los Istória Timór ni’i, maski her istória kede’e kiti kuaze eto mesa pontudevista pe tropa ro’o kidia-laa heta ke akontese – kiti tet dun biban odi pana’a lapar iso kidia-laa Joaquina Mêtan seni-loba, pelmane ke u peneer laa mundu kede’e, u-ni’i sentimentus ka relasaun sosiál ro’o; kiti koñese mesa u-ni’i mori megees malae ni nona iso. Filipe Ferreira ke asina livru kede’e, maibé estilu kero ni’i punu kami nee-sai ipóteze dale kede’e gala-literáriu mane Istoriadór Luís Filipe F. R. Thomaz loi. Istoriadór kede’e famozu i atu-pana’a kidia-laa Istória Timór ni’i los prezensa portugés ro’o-si’i her Ázia.
Daramai kiti kitiku tama laa mundu poezia ni’i, agora pe kerodór timorana ro’o. Pe ro’o-kede’e iso mane lebo importante desi ke Fernando Sylvan. Kede’e gala literáriu pe Abílio Leopoldo Motta-Ferreira. Maski u laa peni dinia her Portugál aipíl heki anrana, u-ni’i lara nunka sai kroo pe u-ni’i rae-ina, mane sai molumolu asuntu laa u-ni’i poezia, putu los tema universál desi megees bua-sa’e domin ka hine iso-mane u hadomi. Intelektuál tunuu, durante too nour u sai Prezidente Sociedade da Língua Portuguesa ni’i. U-ni’i knaar poétiku kuaze ma’o-mege posi putu her livru A Voz Fagueira de Oan Tímor (12). U mate her aer-Natál her too 1993. Daramai dia testu bruma iso, mane Luís Cardoso (“Takas”) publika her momentu kono’o her Kaibauk – Boletim de Informação Timorense (13):
“Fernando Sylvan
ka Bo’a-huu Monok ro’o
Lema’o
(maibé só lema’o)
manu-am ro’o
heki luta tet los lapar-hati
Kede’e poema mane u dedika laa Xanana Gusmão. Fernando Sylvan poeta iso mane sente dale u tenke nee-sai riko bo’a-huu, maibé só bo’a-huu ro’o mane presiza. Pita silénsiu tet signifika tet dia bo’a-huu ka bo’a-huu ma’o. Maibé, her aer-25 hula-Dezembru, aipíl atu ma’o-mege leti bo’a-huu oeoe odi mese’e Anana ni’i Mori, Fernando Sylvan tenega bali. I u-ni’i isi-lolo bruma huku los silénsiu rihu mane, dala iso-kede’e, rihu megees bo’a-huu ro’o ma’o-mege putu.
Peni her keha, dezde tempu u heki anrana i depoizde dékada nour mane u kroo pe u-ni’i raesoro doben, punu u riko punu-bri los bo’a-huu raesoro seri mane pnitir tasi-a’e tenega los terus ni’i. U estuda tuku-huu portugés i uza u-ni’i kero megees “ai-suak (14)” odi keke manaru rata bo’a-huu ni’i nuba odi leti heta-iso ke punu-putu tuku-huu ma’o-mege, inklui mós tuku-huu pe u-ni’i tempu u heki kamasi.
Leemori, her aer laa mori ma’o-mege, Fernando Sylvan posi u-ni’i an blasi laa limu pe tuku-huu ro’o ma’o ni’i ina: tenega ka bo’a-huu monok.”
Sylvan inklui mós her koletánea pe poeta timorana ro’o Enterrem meu coração no Ramelau (15), mane publika her Luanda pe União de Escritores Angolanos, putu los José Alexandre Gusmão, Jorge Lautén, los ro’o seri pita mane kero tet dun sonotor, i tempu punu kiti bligu ro’o-si’i gala. Kazu ru her poezia Timór ni’i mane reprezenta loba literatura mane tama laa ideolojia polítika seri ni’i lara ke Borja da Costa (inklui mós her koletánea UEA ni’i), her “toki” revolusionária, i mós Jorge Barros Duarte (16), her “kmoo” reasionária. Kami dima bali sé José Alexandre Gusmão, mane atu koñese desi los gala Xanana, agora kede’e tilutilu Prezidente Repúblika ni’i, publika her 1998 Mar Meu – Poemas e pinturas (17), mane kero aipíl u dadur. Kerodór pe Mosambike Mia Couto dale her prefásiu: I her página seri-kede’e a konfirma: darapé mane iso u-ni’i limu ke kero Timór. Livru iso Xanana Gusmão ni’i tet megees livru baibain. Darapé u-ni’i letra kiti sente dale povu iso ketemo, nasaun iso, ke bo’a. Her-kono’o tetloos poezia mesa maibé di’a mós epopeia povu iso ni’i, eroízmu mane kiti manara ala hati, utopia mane kiti manara leti sai kiti-ni’i. (18) Edisaun iso-muno kede’e publika los bo’a-huu ru, los tradusaun laa bo’a-huu inglés pe Kirsty Sword i Ana Luísa Amaral; depois tere edisaun heu iso, mós los bo’a-huu ru, los tulun pe Instituto Camões, mane Luís Costa ke tradús laa tetun. João Aparício mós gala iso mane kiti tet lebo bligu, los livru-poezia ru mane publika bali sé pe Editorial Caminho, À janela de Timor (19) i Uma casa e duas vacas. Iso pita, los pseudónimu Kay Shaly Rakmabean, publika pe Real Associação de Braga, los títulu Versos do Oprimido (20). Lema’o masakre her Santa Krús, Abé Barreto aproveita u-ni’i prezensa her Kanadá los programa troka-ro’o laa estudante universitáriu ro’o, i u tugu azilu polítiku, depois u sai kantór-intervensaun putu los ativista kanadianu Aloz MacDonald. Abé publika her Olanda her 1995 Menari Mengelilingi Planet Bumi (Dansa legur Planeta Terra), poezia loa bo’ahuu-indonézia, i her 1996, her Austrália, Come with me singing in a choir (Mai los a kanta her koru iso). Dia mós kerodór losa timorana selo pita mane nee-sai ro’o-si’i sentimentus darapé poezia, seri publika bali sé livru, seri los poema bakabiar her jornál los boletin oeoe. Kami dima atu ru: Crisódio Araújo i Celso Oliveira. Poeta iso mane, lebo u atu-Portugál, maibé u segi loba laa Timór i laa timorana ro’o, u-ni’i kero sonotor loba, ke Ruy Cinatti. Poeta, agrónomu, antropólogu, botániku, u-ni’i knaar bluar i atu nour koñese bali sé, inklui livru seri-kede’e: Não Somos Deste Mundo (1941), Poemas Escolhidos (1951), O Livro do Nómada Meu Amigo (1966), Sete Septetos (1967), Borda d’Água (1970), Uma Sequência Timorense (1970), Cravo Singular (1974), Timor – Amor (1974), O A Fazer, Faz-se (1976), Poemas (1981), Manhã Imensa (1982), i Um Cancioneiro para Timor (1996).
Kerodór timorana tet nour punu knaar kero romanse. Ponte Pedrinha, pseudónimu literáriu Henrique Borges ni’i, kero Andanças de um Timorense, mane publika her 1998 pe Edições Colibri (21). Poeta mosambikanu José Craveirinha kero her prefásiu: “Tristeza a’e ke hananu sonotor megees kede’e puntere testu poku iso-kede’e. Poku i umilde maibé sinseru loba. Sinseru i A’e!” (22). Epizódiu importante her estrutura daledara kede’e aipíl kazál joven Kotená los Kêti-Kia tet respeita lisa antigu atu-ataúru ro’o-si’i, dara lisa iso-kede’e noiva her buta-kaben ni’i tet putu los u-ni’i noivu maibé ena hali los u-ni’i noivu ni’i tiu. Padre Jorge Barros Duarte mós daledara kidia-laa kostume iso-kede’e: “Meselo aer ru ka telu pe faze muno, noivu ni’i ina laa hia noiva her u-ni’i ina-ama ni’i soa i odi u laa noivu ni’i soa. Her faze iso-kede’e ke noivu ni’i am’mori roi tada noiva («koko» intimamente, n.k. “getu u-ni’i kai-hetu”).” (23). Her pozisaun klau desi, kiti eto Luís Cardoso, autór timorana mane kero sonotor desi ma’o-mege, publika bali sé romanse telu, selopé kolabora her jornál i revista oeoe. Crónica de uma travessia – A época do ai-dik-funam (24) daledara u-ni’i mori riko i akompaña mós Istória lemori Timór ni’i i bo’a kidia-laa daa oeoe mane autór los u-ni’i ama sole, her kiti-ni’i rae, her rae selo i mós daa her ro’o-si’i mori riko. Lapar seri-kede’e ma’o akontese her mundu luli mane her Timór mós uku Istória, ka atu ro’o-si’i nurat kidia-laa Istória. Olhos de Coruja, Olhos de Gato Bravo (25) tama desi pita laa mundu luli iso-kede’e, i u laa leti mitu fundamentál povu Timór ni’i, megees ro’o-si’i mane bo’a kidia-laa revolta Manufahi ni’i. Her A última morte do Coronel Santiago (26) u uza punbloi téknika daledara ni’i enkuantu u konta tilu punhuu pe personajen oeoe mane inklui mós kerodór iso alter ego pe autór, mane u-ni’i lara balasi laa personajen hine prinsipál pe autór ni’i romanse mori. Majia los luli pe fiar sobrenaturál Timór ni’i glabur los ironia típika pe Luís Cardoso, mane mós dima molumolu ambiente, livru los referénsias pe intelektuál seri pe toki moderna Europa ni’i.
Hehe koi iso pita pe área livru timorana ro’o-si’i, her livru ru mane kiti heki dima her-kede’e, i kiti lebo posi gala megees “literatura-denúnsia”. Saksi Mata (27) (Atu ke eto los mat), istória-bruma nour mane akontese her tempu mane Indonézia heki kedesi kiti-ni’i rae, kero pe Seno Gumira Ajidarma, kerodór importante lobaloba her jerasaun lemori literatura Indonézia ni’i. Ajidarma publika muno istória-bruma seri-kede’e her jornál oeoe her rae kono’o, lema’o atu-a’e ro’o punu u sai pe u-ni’i serbisu her revista Jakarta Jakarta pita u nee-sai notísia kidia-laa masakre her 12 Novembru 91. Editora bruma, Bentang Budaya, ke publika edisaun iso-muno megees livru her too 1994 ni’i lara. Timor Aid heki publika livru iso-kede’e her bo’ahuu-tetun, los tradusaun pe Triana Oliveira. João Paulo Esperança mós tradús tilutilu livru kede’e laa portugés, maibé tet heki dia editora. Livru iso pita mane peri kiti-ni’i atensaun ke A redundância da coragem (28) pe Timothy Mo, mane publika orijinalmente her bo’ahuu-inglés her 1991. Autór kede’e ni’i ina atu-Inglaterra los u-ni’i ama atu-Kantaun her Xina. U konsege konta lobaloba kidia-laa sociedade Timór ni’i her tempu mori her administrasaun portugeza, depois peleheta ke durante too seri populasaun nour peni her hoho-lau i hunu her kai-lara saka invazór, i daramai kidia-laa mori laa ro’o mane rende ka bapa ro’o kaptura. Lapar seri kede’e ma’o daledara pe narradór Adoph Ng ni’i bo’ahuu mane uza molumolu tia-tukuhuu; u atu-Xina timorana, omoseksuál los mane pe mundu a’e her keha mane sente nahati megees tetloos atu rae-ubu iso her u-ni’i rae pita u-ni’i ama kusuu u laa estuda her universidade her Toronto, her Kanadá.
Literatura mane kero pe timorana ro’o baibain uza mesa bo’ahuu-portugés, seni’it mesa ke tai. Ro’o peneer ke rezisténsia, identidade los nasionalidade mós darapé bo’ahuu-portugés. Kami fiar ke jerasaun agora kede’e tilu, mane komesa bali odi go’e a pe presaun kulturál mane eto durante too nour aipíl tenke dekór mesa Pancasila los bo’ahuu-indonézia, heki punteri tet agi mós literatura heu iso tibu her bo’ahuu-tetun. Kiti heki lee i peneer...
[1] Sá, Artur Basílio de [ed. krítiku] – Textos em Teto da Literatura Oral Timorense, vol.1, Lisboa, Junta de Investigação do Ultramar/ Centro de Estudos Políticos e Sociais, 1961
2 Pereira, Agio [kompiladór] – Timor: The book of the Story-Teller. Cabramatta (Austrália), Timorese Australian Council, 1995
3 Castro, Alberto Osório de – A ilha verde e vermelha de Timor. Lisboa, Livros Cotovia, 1996
4 Braga, Paulo – A ilha dos homens nus. Lisboa, Editorial Cosmos, 1936
5 Laranjeira, Pires – Literaturas Africanas de Expressão Portuguesa. Lisboa, Universidade Aberta, 1995, p. 26. (Tradusaun pe testu bruma kede’e laa bo’ahuu- tokodede kami ke punu).
6 Ribeiro, Grácio – Caiúru. Lisboa, Colecção «Amanhã», 1939
7 Ribeiro, Grácio – Deportados. s.l., edisaun autór ni’i (?), 1972
8 Ruas, Joana – Corpo colonial. Coimbra, Centelha, 1981
9 Esperança, J.P. – Uma leitura lilás de Corpo colonial de Joana Ruas, in: «Revista Lilás», Amadora, (29), Dez. 2000, p. 15-29
10 Gomes, Francisco A. – Uma deusa no “inferno” de Timor. Braga, Ed. autór ni’i, 1980
11 Ferreira, Filipe – A nona do Pinto Brás (Novela Timorense). Lisboa, ERL-Editora de Revistas e Livros, 1992
12 Sylvan, Fernando – A voz fagueira de Oan Tímor. Lisboa, Colibri, 1993
13 “Takas”, Luís – Fernando Sylvan ou O Silêncio das Palavras. «Kaibauk – Boletim de Informação Timorense», Linda-a-Velha, 1(7), Jan-Fev 1994, p. 14 (Tradusaun pe testu bruma kede’e laa bo’ahuu- tokodede kami ke punu).
14 Kero los tetun her testu orijinál
15 União dos Escritores Angolanos – Enterrem meu coração no Ramelau – Poesia de Timor-Leste. Luanda, 1982
16 Duarte, Jorge Barros – Jeremíada. Odivelas, Pentaedro, 1988
17 Gusmão, Xanana – Mar Meu – Poemas e Pinturas / My Sea of Timor – Poems and Paintings. Porto, Granito, 1998
Gusmão, Xanana – Mar Meu – Poemas e Pinturas / Tasi Ha’un – Dadolin no Taturik. Porto, Granito/Instituto Camões, 2003
18 Tradusaun pe testu bruma kede’e laa bo’ahuu- tokodede kami ke punu.
19 Aparício, João – À janela de Timor. Lisboa, Caminho, 1999
20 Rakmabean, Kay Shaly – Versos do Oprimido. Braga, Real Associação de Braga, 1995
21 Pedrinha, Ponte – Andanças de um timorense. Lisboa, Colibri, 1998
22 Tradusaun pe fraze seri-kede’e laa bo’ahuu- tokodede kami ke punu.
23 Duarte, Jorge Barros – Timor – Ritos e Mitos Ataúros. Lisboa, ICALP, 1984, p. 49 (Tradusaun pe testu bruma kede’e laa bo’ahuu-tokodede kami ke punu).
24 Cardoso, Luís – Crónica de uma travessia – A época do ai-dik-funam. Lisboa, Publicações Dom Quixote, 1997
25 Cardoso, Luís – Olhos de Coruja, Olhos de Gato Bravo. Lisboa, Publicações Dom Quixote, 2001
26 Cardoso, Luís – A última morte do Coronel Santiago. Lisboa, Publicações Dom Quixote, 2003
27 Ajidarma, Seno Gumira – Saksi Mata, cetakan keempat. Yogyakarta, Yayasan Bentang Budaya, 2002
28 Mo, Thimothy – A redundância da coragem. Lisboa, Puma Editora, 1992
Este é possivelmente o primeiro texto publicado em tocodede na história desta língua, que se fala em Liquiçá e Maubara, e a ortografia usada é, naturamente, ainda provisória. Num pequeno manual sobre este idioma, a publicar no futuro próximo, pensamos poder desenvolver mais a nossa reflexão sobre esta questão. A tradução que agora publicamos baseia-se no dialecto desta língua falado na vila de Liquiçá.
Iso-kede’e kal testu iso-muno mane publika los bo’ahuu tokodede pesa-muno rata agora. Atu bo’a tokodede her Likisá los Maubara, maibé her tradusaun mane kami publika tilu kami dara dialetu vila Likisá ni’i pe bo’ahuu kede’e. Ortografia mane kami uza heki provizóriu, i kami nurat ke kami heki lebo dezenvolve pita kami-ni’i reflesaun kidia-laa asuntu iso-kede’e her manuál bruma mane kami heki publika daramai.
Peneer meselo laa Literatura kidia-laa Timór
Testu pe João Paulo T. Esperança, tradusaun laa bo’a-huu tokodede pe João Paulo T. Esperança, Fernanda Alves Correia i Cesaltina Campos
Versaun orijinál los bo’ahuu-portugés publika bali sé los parte ru her
Várzea de Letras, Suplemento Literário mensal do jornal Semanário, nº 3 [4] e nº 4 [5], Junho e Julho de 2004
tradusaun laa tetun pe João Paulo T. Esperança, Clara Viegas da Silva, Icha Bossa i Irta Araújo; Publika bali sé her Várzea de Letras, Suplemento Literário mensal do jornal Semanário, nº 8, Setembro de 2004
Versaun orijinál publika mós her Portugál her:
Esperança, João Paulo T. - Um brevíssimo olhar sobre a Literatura de Timor, in: «Mealibra – Revista de Cultura», Viana do Castelo (Portugal), Centro Cultural do Alto Minho, série 3 (16), Verão 2005, p. 131-134
Versaun ru (portugés i tetun) inklui mós her koletánea:
O que é a lusofonia/ Saida maka luzofonia / J. P. Esperança et al . – Díli: Instituto Camões, 2005 . – VIII+163 p. [koletánea bilinge – portugés i tetun – los testu oeoe]
Texto de João Paulo T. Esperança, traduzido para tocodede por João Paulo T. Esperança, Fernanda Alves Correia e Cesaltina Campos
O texto original em português foi publicado em duas partes no
Várzea de Letras, Suplemento Literário mensal do jornal Semanário, nº 3 [4] e nº 4 [5], Junho e Julho de 2004
A versão em tétum foi publicada no Várzea de Letras, Suplemento Literário mensal do jornal Semanário, nº 8, Setembro de 2004
A versão original foi também publicada em Portugal em:
Esperança, João Paulo T. - Um brevíssimo olhar sobre a Literatura de Timor, in: «Mealibra – Revista de Cultura», Viana do Castelo (Portugal), Centro Cultural do Alto Minho, série 3 (16), Verão 2005, p. 131-134
Ambas as versões (port. e tétum) foram incluídas na colectânea:
O que é a lusofonia/ Saida maka luzofonia / J. P. Esperança et al . – Díli: Instituto Camões, 2005 . – VIII+163 p. [colectânea bilingue – português e tétum – de textos vários]
Molok lapar selo, kami heki esplika pita-heta ke kami dima literatura “kidia-laa Timór” i teloos literatura “Timór ni’i”? Kede’e pita kami teloos bo’a mesa kidia-laa kerodór timorana, maibé heki inklui informasaun seri pe lapar seri-mane ke dia leti lee pe malae ro’o mane bua Timór megees asuntu literáriu. Kami heki tet estuda her-kede’e kidia-laa rekolla literatura orál los tradisionál, asuntu iso-kede’e kami heki lui laa oportunidade selo. Maski megees kede’e, kami manara dima ke rekolla tetdún nour pe ro’o-mane atu punu bali sé ke merese klasifikasaun iso-kede’e. Rekolla mane punu dara kritériu siénsia ni’i dia prinsípiu báziku dale “testu” iso sempre dia versaun nour, i versaun iso-iso heki eto rejistu mane loba i dara riko heta ke informante ro’o dale. Dara lobaloba tenke dia rejistu los ni’i bo’a-huu orijinál. Daramai ke lebo punu análize mane loba. Livru iso mane kuaze dara métodu iso-kede’e ke Textos em Teto da Literatura Oral Timorense, mane publika her 1961 pe Amu-Luli Artur Basílio de Sá (1), maski mestre-eskola Paulo Quintão los Marçal Andrade kero i punu testu sonotor los tetun-terik luhuir ro’o-ni’i. Kami mós heki dima kompilasaun (tet dia aparatu krítiku) The book of the Story Teller (2), mane sai her Austrália her 1995, i só ni’i títulu los prefásiu mesa ke kero los inglés, i istória ro’o kero nahati los tetun i tet tuli bo’a-huu los espresaun oeoe mane ibo-lama ro’o uza aipíl ro’o konta istória. Nourdesi pe “koletánea” ro’o selo pe arte verbál timorana ro’o-si’i afinál likis laa testu maizomenus literáriu mane, maski ni’i ramut her tradisaun, sai sé lapar heu iso, rekriasaun her tuku-huu selo.
Molok portugés ro’o rata mai Timór, aipíl sékulu XVI komesa, povu ro’o selo mai sé vizita kiti-ni’i tasi-ibo odi ala kai-kameli, desidesi atu-Xina, atu-malaiu los atu-Java. Pita povu ro’o Timór ni’i her tempu kono’o tet pana’a kero heki, malae ro’o-kede’e ke komesa kero apontamentu seri kidia-laa raesoro kede’e los atu rai-ubo. Maibé portugés ro’o ke komesa peni dinia her-kede’e, desidesi amu-luli katóliku ro’o, sékulu seri molok okupasaun koloniál lobaloba tama her rae iso-kede’e. Helehele tere monografia, livru-memórias, disionáriu, livru los orasaun her bo’a-huu oeoe Timór ni’i, pe kerodór megees amu-luli, militár, administradór, atu sole-rae i deportadu ro’o. Iso mane famozu desi ke A ilha Verde e Vermelha de Timor, pe Alberto Osório de Castro, mane publika primeira vés her revista Seara Nova, her hula-Juñu 1928 los hula-Juñu 1929, i depois, megees livru, pe Agência Geral das Colónias, her 1943. Heni tilutilu publika hali pe Livros Cotovia (3). Kede’e livru kidia-laa viajen, tet megees baibain, kero los proza poétika, benu los informasaun nour kidia-laa raesoro kede’e, ni’i hoho-los-rae los ni’i atu ro’o. Livru bruma pe Paulo Braga, A Ilha dos Homens Nus (4), peri kiti-ni’i atensaun pita kerodór matani Ataúru peneer (rekria?) pe u-ni’i mat idealista: sosiedade tradisionál libertária iso, tet dia esplorasaun pe atu laa atu, mane atu punu mesa “domin-livre”. Tempu kolonializmu ni’i punu tere mós fiksaun oe iso mane agora kede’e tilu kiti posi gala “literatura koloniál”, mane dara definisaun klásika pe Pires Laranjeira ke iso-mane “kero i publika, kuaze ma’omege, pe portugés ro’o mane glelu hali laa Portugál, uza pontudevista pe ezotizmu, evazionizmu, luiduu rasa ro’o selo (megees atu-meta), ne-apoiu laa ideia los prátika kolonialista, mane peneer laa mundu i laa situasaun oeoe darapé malae-buti ro’o-si mat, los personajen importante desi mós malae-buti ma’o, seri kolonu seri atu sole-rae, los, aipíl atu-meta tama her istória, narradór peneer meselo laa ro’o, matani ro’o megees lapar iso estrañu, folklóriku, hui, i tet konsidera ro’o megees atu los kultura riko, los ro’o-si psikolojia, sentimentus i gunutar” (5). Her Timór, reprezentante bloi iso pe jéneru iso-kede’e ke Caiúru, pe Grácio Ribeiro (6). Novela los estilu autobiográfiku, konta aventura oeoe pe joven komunista iso mane eto deportasaun mai Timór pita punu atividade polítika saka rejime faxista her Portugál, mane her-kede’e punsole istória-domin iso los u-ni’i nona gala Caiúru. Maski u matani simpatia laa atu mane eto kondenasaun laa serbisu rihu i laa revoltozu ro’o pe Manufahi, i u sente orgullu pita u tet bonu u-ni’i ausiliár ro’o, tet megees u-ni’i kamarada ro’o mane sep bonu kriadu, maibé u-ni’i situasaun bloi desi megees atu-buti punu u bligu u-ni’i ideolojia polítika, i u mós komesa punu megees atu-a’e iso mane lebo deside kidia-laa atu bruma rai-ubu ro’o-si vida. Livru iso-kede’e dokumentu sosiolójiku interesante loba, mane matani aspetu oeoe pe sosiedade her tempu kono’o, porezemplu pelheta ke u ala nona iso – mane u-ni’i tunugu baratu desi duké kuda iso mane u mós ala. Nona ro’o sai megees asuntu mane tere molumolu her literatura kero pe atu-metrópole ro’o, kal pita nona ro’o megees parte pe sosiedade her-kede’e mane ro’o segi desi, i hine-losa seri-kede’e sai megees janela laa mundu Timór ni’i laa ro’o-si “meki-mane” malae. Grácio Ribeiro heki kero pita kidia-laa deportadu ro’o-si mori her romanse iso mane u heki publika depois (7).
Tama sé laa korrente literatura pós-koloniál, los krítika huru laa kolonializmu ni punhuu kalao, kami dima Corpo colonial (8), “romanse femininu loba, mane konta daa Alitia ni’i, alferes milisianu ni’i hee mane dara u-ni’i mekei-mane mai Timór, kolónia mane kroo rata atu nour bligu bali, hati mane hunu koloniál tet rata i militár ro’o-si’i inimigu a’e ke tédiu mesa (signifika ro’o somoli pita ro’o tet dia lapar iso odi punu i ro’o-ni’i mori aer-aer ni’i tet rame). Kiti lebo dale kede’e livru iso susar par lee, mane interrompe molumolu ni istória los monólogu filozófiku manaru ka diálogu mane tet megees realidade kidia-laa kestaun ezistensiál oeoe, maibé matani mós quadru interesante iso kidia-laa tropa ro’o-si’i hee mane peni her raesoro kede’e her Ázia los Oseania ni’i talaa i mós kidia-laa kondisaun hine ni’i. Kede’e mós romanse iso kidia-laa tuli esperansa, traisaun los mori mane tet kontente i tet kompletu.”(9) U-ni’i istória bo’a kidia-laa pel-heta ke protagonista sai segi laa Manucodiata, hine-losa prostituta timorana mane Alitia ni’i mekei-mane laa molumolu los u, i livru kede’e mós matani situasaun heu iso her relasaun pe metropolitanu ro’o los hine seri her-kede’e: “Muno, malae-buti ro’o nee barlake odi ala nona ro’o. Depoizde tropa ro’o mai ro’o nee mesa osa odi suri lapeta” (Ruas, 1981:16). Livru iso mane kontráriu loba laa literatura koloniál ke Uma deusa no “inferno” de Timor, pe Francisco A. Gomes (10). Livru iso-kede’e tama laa estilu iso mane kiti lebo posi gala “literatura arrependimentu ni’i”, leti mesa odi punduu lapar ma’omege mane Portugál ni’i i dia mós personajen timorana nour (desidesi hine) revolusionáriu los atu nour ke dara ro’o, maibé anakróniku (signifika tet dara realidade loba tempu kono’o ni’i), u naa inventa i tet peneer laa situasaun istórika i sosiál lobaloba her tempu mane u-ni’i asaun sole. Hali glelu hali laa asuntu muno, kiti eto A nona do Pinto Brás (Novela Timorense) (11). Kede’e novela bruma iso mane punsole ni’i istória her too seri lemori molok administrasaun koloniál portugés ma’o, mane ni’i kerodór matani koñesimentu lobaloba kidia-laa kultura los Istória Timór ni’i, maski her istória kede’e kiti kuaze eto mesa pontudevista pe tropa ro’o kidia-laa heta ke akontese – kiti tet dun biban odi pana’a lapar iso kidia-laa Joaquina Mêtan seni-loba, pelmane ke u peneer laa mundu kede’e, u-ni’i sentimentus ka relasaun sosiál ro’o; kiti koñese mesa u-ni’i mori megees malae ni nona iso. Filipe Ferreira ke asina livru kede’e, maibé estilu kero ni’i punu kami nee-sai ipóteze dale kede’e gala-literáriu mane Istoriadór Luís Filipe F. R. Thomaz loi. Istoriadór kede’e famozu i atu-pana’a kidia-laa Istória Timór ni’i los prezensa portugés ro’o-si’i her Ázia.
Daramai kiti kitiku tama laa mundu poezia ni’i, agora pe kerodór timorana ro’o. Pe ro’o-kede’e iso mane lebo importante desi ke Fernando Sylvan. Kede’e gala literáriu pe Abílio Leopoldo Motta-Ferreira. Maski u laa peni dinia her Portugál aipíl heki anrana, u-ni’i lara nunka sai kroo pe u-ni’i rae-ina, mane sai molumolu asuntu laa u-ni’i poezia, putu los tema universál desi megees bua-sa’e domin ka hine iso-mane u hadomi. Intelektuál tunuu, durante too nour u sai Prezidente Sociedade da Língua Portuguesa ni’i. U-ni’i knaar poétiku kuaze ma’o-mege posi putu her livru A Voz Fagueira de Oan Tímor (12). U mate her aer-Natál her too 1993. Daramai dia testu bruma iso, mane Luís Cardoso (“Takas”) publika her momentu kono’o her Kaibauk – Boletim de Informação Timorense (13):
“Fernando Sylvan
ka Bo’a-huu Monok ro’o
Lema’o
(maibé só lema’o)
manu-am ro’o
heki luta tet los lapar-hati
Kede’e poema mane u dedika laa Xanana Gusmão. Fernando Sylvan poeta iso mane sente dale u tenke nee-sai riko bo’a-huu, maibé só bo’a-huu ro’o mane presiza. Pita silénsiu tet signifika tet dia bo’a-huu ka bo’a-huu ma’o. Maibé, her aer-25 hula-Dezembru, aipíl atu ma’o-mege leti bo’a-huu oeoe odi mese’e Anana ni’i Mori, Fernando Sylvan tenega bali. I u-ni’i isi-lolo bruma huku los silénsiu rihu mane, dala iso-kede’e, rihu megees bo’a-huu ro’o ma’o-mege putu.
Peni her keha, dezde tempu u heki anrana i depoizde dékada nour mane u kroo pe u-ni’i raesoro doben, punu u riko punu-bri los bo’a-huu raesoro seri mane pnitir tasi-a’e tenega los terus ni’i. U estuda tuku-huu portugés i uza u-ni’i kero megees “ai-suak (14)” odi keke manaru rata bo’a-huu ni’i nuba odi leti heta-iso ke punu-putu tuku-huu ma’o-mege, inklui mós tuku-huu pe u-ni’i tempu u heki kamasi.
Leemori, her aer laa mori ma’o-mege, Fernando Sylvan posi u-ni’i an blasi laa limu pe tuku-huu ro’o ma’o ni’i ina: tenega ka bo’a-huu monok.”
Sylvan inklui mós her koletánea pe poeta timorana ro’o Enterrem meu coração no Ramelau (15), mane publika her Luanda pe União de Escritores Angolanos, putu los José Alexandre Gusmão, Jorge Lautén, los ro’o seri pita mane kero tet dun sonotor, i tempu punu kiti bligu ro’o-si’i gala. Kazu ru her poezia Timór ni’i mane reprezenta loba literatura mane tama laa ideolojia polítika seri ni’i lara ke Borja da Costa (inklui mós her koletánea UEA ni’i), her “toki” revolusionária, i mós Jorge Barros Duarte (16), her “kmoo” reasionária. Kami dima bali sé José Alexandre Gusmão, mane atu koñese desi los gala Xanana, agora kede’e tilutilu Prezidente Repúblika ni’i, publika her 1998 Mar Meu – Poemas e pinturas (17), mane kero aipíl u dadur. Kerodór pe Mosambike Mia Couto dale her prefásiu: I her página seri-kede’e a konfirma: darapé mane iso u-ni’i limu ke kero Timór. Livru iso Xanana Gusmão ni’i tet megees livru baibain. Darapé u-ni’i letra kiti sente dale povu iso ketemo, nasaun iso, ke bo’a. Her-kono’o tetloos poezia mesa maibé di’a mós epopeia povu iso ni’i, eroízmu mane kiti manara ala hati, utopia mane kiti manara leti sai kiti-ni’i. (18) Edisaun iso-muno kede’e publika los bo’a-huu ru, los tradusaun laa bo’a-huu inglés pe Kirsty Sword i Ana Luísa Amaral; depois tere edisaun heu iso, mós los bo’a-huu ru, los tulun pe Instituto Camões, mane Luís Costa ke tradús laa tetun. João Aparício mós gala iso mane kiti tet lebo bligu, los livru-poezia ru mane publika bali sé pe Editorial Caminho, À janela de Timor (19) i Uma casa e duas vacas. Iso pita, los pseudónimu Kay Shaly Rakmabean, publika pe Real Associação de Braga, los títulu Versos do Oprimido (20). Lema’o masakre her Santa Krús, Abé Barreto aproveita u-ni’i prezensa her Kanadá los programa troka-ro’o laa estudante universitáriu ro’o, i u tugu azilu polítiku, depois u sai kantór-intervensaun putu los ativista kanadianu Aloz MacDonald. Abé publika her Olanda her 1995 Menari Mengelilingi Planet Bumi (Dansa legur Planeta Terra), poezia loa bo’ahuu-indonézia, i her 1996, her Austrália, Come with me singing in a choir (Mai los a kanta her koru iso). Dia mós kerodór losa timorana selo pita mane nee-sai ro’o-si’i sentimentus darapé poezia, seri publika bali sé livru, seri los poema bakabiar her jornál los boletin oeoe. Kami dima atu ru: Crisódio Araújo i Celso Oliveira. Poeta iso mane, lebo u atu-Portugál, maibé u segi loba laa Timór i laa timorana ro’o, u-ni’i kero sonotor loba, ke Ruy Cinatti. Poeta, agrónomu, antropólogu, botániku, u-ni’i knaar bluar i atu nour koñese bali sé, inklui livru seri-kede’e: Não Somos Deste Mundo (1941), Poemas Escolhidos (1951), O Livro do Nómada Meu Amigo (1966), Sete Septetos (1967), Borda d’Água (1970), Uma Sequência Timorense (1970), Cravo Singular (1974), Timor – Amor (1974), O A Fazer, Faz-se (1976), Poemas (1981), Manhã Imensa (1982), i Um Cancioneiro para Timor (1996).
Kerodór timorana tet nour punu knaar kero romanse. Ponte Pedrinha, pseudónimu literáriu Henrique Borges ni’i, kero Andanças de um Timorense, mane publika her 1998 pe Edições Colibri (21). Poeta mosambikanu José Craveirinha kero her prefásiu: “Tristeza a’e ke hananu sonotor megees kede’e puntere testu poku iso-kede’e. Poku i umilde maibé sinseru loba. Sinseru i A’e!” (22). Epizódiu importante her estrutura daledara kede’e aipíl kazál joven Kotená los Kêti-Kia tet respeita lisa antigu atu-ataúru ro’o-si’i, dara lisa iso-kede’e noiva her buta-kaben ni’i tet putu los u-ni’i noivu maibé ena hali los u-ni’i noivu ni’i tiu. Padre Jorge Barros Duarte mós daledara kidia-laa kostume iso-kede’e: “Meselo aer ru ka telu pe faze muno, noivu ni’i ina laa hia noiva her u-ni’i ina-ama ni’i soa i odi u laa noivu ni’i soa. Her faze iso-kede’e ke noivu ni’i am’mori roi tada noiva («koko» intimamente, n.k. “getu u-ni’i kai-hetu”).” (23). Her pozisaun klau desi, kiti eto Luís Cardoso, autór timorana mane kero sonotor desi ma’o-mege, publika bali sé romanse telu, selopé kolabora her jornál i revista oeoe. Crónica de uma travessia – A época do ai-dik-funam (24) daledara u-ni’i mori riko i akompaña mós Istória lemori Timór ni’i i bo’a kidia-laa daa oeoe mane autór los u-ni’i ama sole, her kiti-ni’i rae, her rae selo i mós daa her ro’o-si’i mori riko. Lapar seri-kede’e ma’o akontese her mundu luli mane her Timór mós uku Istória, ka atu ro’o-si’i nurat kidia-laa Istória. Olhos de Coruja, Olhos de Gato Bravo (25) tama desi pita laa mundu luli iso-kede’e, i u laa leti mitu fundamentál povu Timór ni’i, megees ro’o-si’i mane bo’a kidia-laa revolta Manufahi ni’i. Her A última morte do Coronel Santiago (26) u uza punbloi téknika daledara ni’i enkuantu u konta tilu punhuu pe personajen oeoe mane inklui mós kerodór iso alter ego pe autór, mane u-ni’i lara balasi laa personajen hine prinsipál pe autór ni’i romanse mori. Majia los luli pe fiar sobrenaturál Timór ni’i glabur los ironia típika pe Luís Cardoso, mane mós dima molumolu ambiente, livru los referénsias pe intelektuál seri pe toki moderna Europa ni’i.
Hehe koi iso pita pe área livru timorana ro’o-si’i, her livru ru mane kiti heki dima her-kede’e, i kiti lebo posi gala megees “literatura-denúnsia”. Saksi Mata (27) (Atu ke eto los mat), istória-bruma nour mane akontese her tempu mane Indonézia heki kedesi kiti-ni’i rae, kero pe Seno Gumira Ajidarma, kerodór importante lobaloba her jerasaun lemori literatura Indonézia ni’i. Ajidarma publika muno istória-bruma seri-kede’e her jornál oeoe her rae kono’o, lema’o atu-a’e ro’o punu u sai pe u-ni’i serbisu her revista Jakarta Jakarta pita u nee-sai notísia kidia-laa masakre her 12 Novembru 91. Editora bruma, Bentang Budaya, ke publika edisaun iso-muno megees livru her too 1994 ni’i lara. Timor Aid heki publika livru iso-kede’e her bo’ahuu-tetun, los tradusaun pe Triana Oliveira. João Paulo Esperança mós tradús tilutilu livru kede’e laa portugés, maibé tet heki dia editora. Livru iso pita mane peri kiti-ni’i atensaun ke A redundância da coragem (28) pe Timothy Mo, mane publika orijinalmente her bo’ahuu-inglés her 1991. Autór kede’e ni’i ina atu-Inglaterra los u-ni’i ama atu-Kantaun her Xina. U konsege konta lobaloba kidia-laa sociedade Timór ni’i her tempu mori her administrasaun portugeza, depois peleheta ke durante too seri populasaun nour peni her hoho-lau i hunu her kai-lara saka invazór, i daramai kidia-laa mori laa ro’o mane rende ka bapa ro’o kaptura. Lapar seri kede’e ma’o daledara pe narradór Adoph Ng ni’i bo’ahuu mane uza molumolu tia-tukuhuu; u atu-Xina timorana, omoseksuál los mane pe mundu a’e her keha mane sente nahati megees tetloos atu rae-ubu iso her u-ni’i rae pita u-ni’i ama kusuu u laa estuda her universidade her Toronto, her Kanadá.
Literatura mane kero pe timorana ro’o baibain uza mesa bo’ahuu-portugés, seni’it mesa ke tai. Ro’o peneer ke rezisténsia, identidade los nasionalidade mós darapé bo’ahuu-portugés. Kami fiar ke jerasaun agora kede’e tilu, mane komesa bali odi go’e a pe presaun kulturál mane eto durante too nour aipíl tenke dekór mesa Pancasila los bo’ahuu-indonézia, heki punteri tet agi mós literatura heu iso tibu her bo’ahuu-tetun. Kiti heki lee i peneer...
[1] Sá, Artur Basílio de [ed. krítiku] – Textos em Teto da Literatura Oral Timorense, vol.1, Lisboa, Junta de Investigação do Ultramar/ Centro de Estudos Políticos e Sociais, 1961
2 Pereira, Agio [kompiladór] – Timor: The book of the Story-Teller. Cabramatta (Austrália), Timorese Australian Council, 1995
3 Castro, Alberto Osório de – A ilha verde e vermelha de Timor. Lisboa, Livros Cotovia, 1996
4 Braga, Paulo – A ilha dos homens nus. Lisboa, Editorial Cosmos, 1936
5 Laranjeira, Pires – Literaturas Africanas de Expressão Portuguesa. Lisboa, Universidade Aberta, 1995, p. 26. (Tradusaun pe testu bruma kede’e laa bo’ahuu- tokodede kami ke punu).
6 Ribeiro, Grácio – Caiúru. Lisboa, Colecção «Amanhã», 1939
7 Ribeiro, Grácio – Deportados. s.l., edisaun autór ni’i (?), 1972
8 Ruas, Joana – Corpo colonial. Coimbra, Centelha, 1981
9 Esperança, J.P. – Uma leitura lilás de Corpo colonial de Joana Ruas, in: «Revista Lilás», Amadora, (29), Dez. 2000, p. 15-29
10 Gomes, Francisco A. – Uma deusa no “inferno” de Timor. Braga, Ed. autór ni’i, 1980
11 Ferreira, Filipe – A nona do Pinto Brás (Novela Timorense). Lisboa, ERL-Editora de Revistas e Livros, 1992
12 Sylvan, Fernando – A voz fagueira de Oan Tímor. Lisboa, Colibri, 1993
13 “Takas”, Luís – Fernando Sylvan ou O Silêncio das Palavras. «Kaibauk – Boletim de Informação Timorense», Linda-a-Velha, 1(7), Jan-Fev 1994, p. 14 (Tradusaun pe testu bruma kede’e laa bo’ahuu- tokodede kami ke punu).
14 Kero los tetun her testu orijinál
15 União dos Escritores Angolanos – Enterrem meu coração no Ramelau – Poesia de Timor-Leste. Luanda, 1982
16 Duarte, Jorge Barros – Jeremíada. Odivelas, Pentaedro, 1988
17 Gusmão, Xanana – Mar Meu – Poemas e Pinturas / My Sea of Timor – Poems and Paintings. Porto, Granito, 1998
Gusmão, Xanana – Mar Meu – Poemas e Pinturas / Tasi Ha’un – Dadolin no Taturik. Porto, Granito/Instituto Camões, 2003
18 Tradusaun pe testu bruma kede’e laa bo’ahuu- tokodede kami ke punu.
19 Aparício, João – À janela de Timor. Lisboa, Caminho, 1999
20 Rakmabean, Kay Shaly – Versos do Oprimido. Braga, Real Associação de Braga, 1995
21 Pedrinha, Ponte – Andanças de um timorense. Lisboa, Colibri, 1998
22 Tradusaun pe fraze seri-kede’e laa bo’ahuu- tokodede kami ke punu.
23 Duarte, Jorge Barros – Timor – Ritos e Mitos Ataúros. Lisboa, ICALP, 1984, p. 49 (Tradusaun pe testu bruma kede’e laa bo’ahuu-tokodede kami ke punu).
24 Cardoso, Luís – Crónica de uma travessia – A época do ai-dik-funam. Lisboa, Publicações Dom Quixote, 1997
25 Cardoso, Luís – Olhos de Coruja, Olhos de Gato Bravo. Lisboa, Publicações Dom Quixote, 2001
26 Cardoso, Luís – A última morte do Coronel Santiago. Lisboa, Publicações Dom Quixote, 2003
27 Ajidarma, Seno Gumira – Saksi Mata, cetakan keempat. Yogyakarta, Yayasan Bentang Budaya, 2002
28 Mo, Thimothy – A redundância da coragem. Lisboa, Puma Editora, 1992
Etiquetas:
literatura kidia-la Timór,
literatura timorense,
tocodede,
tokodede
domingo, janeiro 15, 2006
Uma história de meter medo
Díli, sexta-feira, 13 de Janeiro de 2006
Era uma vez, há muito, muito tempo, num reino não tão distante, um rapazinho bem intencionado. Um dia, num dia 25 de Abril (que é a data em que no reino, esse sim distante, de onde o rapazinho da nossa história tinha vindo as pessoas boas celebram a liberdade e as pessoas más se entretêm a tramar a vida ao próximo), ele recebeu a notícia de que ia ser saneado. Ficou triste, muito, muito triste, porque o moço tinha verdadeira paixão pelo trabalho que fazia. Era professor.
Uns tempos mais tarde, andava o moço preocupado a tentar arranjar forma de continuar a trabalhar no reino que tinha adoptado como seu, encontrou na escada do sítio onde trabalhava uma senhora sua colega de instituição. Essa senhora logo fez um ar pesaroso e declarou que tinha acabado de saber – o moço não acreditou – que ele ia ser posto na rua, e, com malícia na voz, inquiriu se ele planeava ficar por aqui, talvez a trabalhar no jornal onde ele escrevia umas coisas. O moço explicou as razões pessoais pelas quais não poderia viver só com um salário timorense. A senhora retorquiu então «Mas se vieres aqui dar uma cadeira» - ela era a Chefe “ali” - «já podes ganhar mais uns tostões!...». O rapazinho, que era ingénuo mas não era parvo, percebeu que a senhora estava a gozar com ele. Isso aborreceu-o mais ainda porque, como todos os colegas, já tinha ouvido milhentas vezes a senhora gabar-se de como era uma herdeira rica e como oferecia o dinheiro que ganhava ali a uma instituição de caridade timorense. O moço não achava muita piada que ela, não precisando de dinheiro, se divertisse a gozar com os pobres. Principalmente sendo ele o pobre em questão no presente caso. O moço decidiu naquele momento que se alguma vez escrevesse um romance ela apareceria com um papel semelhante ao do Homem do Sobretudo nos quadros do Professor nos “Capitães da Areia”. E já tinha nome para ela, dado por outrem, mas que se enquadrava no espírito da coisa: Vestidu Boot.
A senhora Vestidu Boot tinha nessa época como companheira de folguedos uma senhora que lá no reino natal se divertia a manejar cordelinhos, qual titereiro, de uma vasta rede de professores, professorzinhos e professorzões espalhados pelo mundo. Tinha também por função decidir sobre as notícias que eram autorizadas na gazeta que era proclamada aos quatro ventos pelo arauto do reino. Ora por essa altura andavam os escribas da tal gazeta a recolher depoimentos dos colegas do rapazinho da nossa história e dele próprio sobre o que é que eles afinal andavam por ali a fazer. Na manhã de um dia triste – eram todos tristes os dias desta outra senhora – ela decidiu cortar da tal gazeta todas as referências ao trabalho do nosso rapazinho bem intencionado. Tinha visto na véspera a versão em desenhos animados do “Animal Farm” de George Orwell e ficara encantada com as técnicas estalinistas de reescrita da História. Era afinal uma excelente ideia apagar da fotografia os membros do Comité Central caídos em desgraça aos olhos do(a) Grande Líder Todo(a) Poderoso(a). Quando o rapazinho leu a gazeta, onde o seu nome não aparecia, não ficou surpreendido – ele tinha lido Orwell. Essa outra senhora ficaria para a posteridade com o nome de Senhora Dona Do Lápis Azul Da Censura.
O rapazinho da nossa história andava a ler o Diário de Miguel Torga e numa entrada datada de Coimbra, 13 de Novembro de 1940, encontrou: “Tenho a impressão de que certas pessoas, se soubessem exactamente o que são e o que valem na verdade, endoideciam./ De que, se no intervalo da embófia e da importância, pudessem descer ao fundo do poço e ver a pobreza franciscana que lá vai, pediam a Deus que as metesse pela terra dentro.”
ADVERTÊNCIA: Esta é evidentemente uma história de ficção; citando Paco Ignacio Taibo II na Nota do Autor do belíssimo livro “Cuatro Manos” (1990): «Qualquer semelhança com a realidade é culpa da realidade que, por certo, como dizia Paco Urondo, cada vez se está a pôr mais esquisita.» *
Qualquer leitor moderadamente cínico sabe que “de boas intenções está o Inferno cheio” e qualquer leitor razoavelmente atento aos discursos dos governantes do reino natal do rapazinho da história deveria saber que as instituições de tal reino não colocam em posições de chefia pessoas como a Senhora Dona Do Lápis Azul Da Censura e a Senhora Vestidu Boot.
*Tradução de Viale Moutinho (Difel, 1994). O texto original em língua espanhola diz: “Cualquier parecido con la realidad es culpa de la realidad; que por cierto, como decía Paco Urondo, cada vez se está poniendo más rara.”
Dili, sesta-feira, dia 13 fulan-Janeiru 2006
Hori uluk, hori wa'in, iha reinu ida ne'ebé ladún dook, iha labarik-mane ida ho laran-di'ak no intensaun di'ak. Loron ida, iha loron-25 fulan-Abríl (iha data ne'e maka iha reinu seluk, ida-ne'e dook loos, ne'ebé labarik-mane husi ita-nia istória mai husi ne'ebá, ema laran-di'ak selebra liberdade no ema laran-aat pasa sira-nia tempu buka de'it jeitu atu halo aat ba ema sira seluk), nia simu notísia katak ema sei duni-sai nia husi ninia serbisu. Ne'e halo nia sai laran-kraik, laran-kraik tebetebes, tanba mane foin-sa'e ne'e hadomi loos serbisu ne'ebé nia halo. Nia profesór ida.
Tempu balu tan ba oin, mane foin-sa'e ne'e hala'o hela ninia moris ho fuan-taridu buka hela jeitu atu bele kontinua serbisu iha reinu ne'ebé nia konsidera ona hanesan mós ninian, nia hetan iha eskada iha ninia serbisu-fatin señora ida ne'ebé mós serbisu iha ninia instituisaun. Señora ne'e halo kedas jeitu hanesan ema ne'ebé laran-todan no hatete katak nia foin hatene – mane foin-sa'e la fiar – katak mane ne'e sei lakon serbisu, no, ho jeitu hanesan lia-soen no laran-makerek, señora husu se nia iha planu atu kontinua nafatin iha-ne'e, kala hodi serbisu iha jornál ne'ebé nia toman hakerek testu balu. Mane foin-sa'e ne'e esplika razaun privadu familiár ninian tanbasá maka nia sei la bele hala'o nia moris ho saláriu hanesan timoroan sira baibain manán fulafulan. Señora entaun hatán «Maibé se ó mai hanorin dixiplina ida iha-ne'e» - señora ne'e maka Xefe “iha-ne'ebá” - «ó sei bele manán doit balu tan!...». Labarik-mane, ne'ebé ema ho laran-simples maibé la'ós ema beik, komprende katak señora ne'e goza hela nia. Ne'e halo nia raan-nakali liu tan, tanba hanesan mós kolega sira hotu, mane foin-sa'e ne'e rona tiha ona dala rihun ba rihun señora ne'e gaba an tanba nia erdeira rikasu no nia oferese osan ne'ebé nia manán iha-ne'ebá ba instituisaun-karidade timoroan sira-nian. Mane foin-sa'e ne'e ladún sente kómiku katak feto ne'e, tanba la presiza osan, gosta buka kontente liuhosi goza ema kiak. Liuliu tanba iha kazu ida-ne'e nia rasik maka mane-kiak. Mane foin-sa'e deside iha momentu ne'ebá kedas katak se loron ida nia sei hakerek romanse ida señora ne'e sei mosu iha istória ho papél hanesan “Homem do Sobretudo” [Mane ho Kazaku Naruk] nian iha pintura husi “Professor” iha livru “Capitães da Areia”. No nia iha ona naran ba feto ne'e, ke ema seluk maka tau tiha, maibé iha relasaun loos ho situasaun ne'e: Vestidu Boot.
Señora Vestidu Boot iha otas ne'ebá iha nu'udar maluk ba ninia halimar señora ida ne'ebé iha reinu ne'ebé sira moris bá pasa nia tempu hodi buka kontente kaer talin, hanesan fali boneku-na'in, ba rede luan ho profesór, profesór-ki'ik no profesór-boot barak namkari iha mundu. Nia knaar mós atu deside kona-ba notísia ne'ebé sei simu autorizasaun atu mosu iha jornál ne'ebé manu-ain reinu nian fó-sai kari iha anin. Ne'ebe iha tempu ne'ebá hakerek-na'in jornál ne'e nian buka hela lia-menon no informasaun husi labarik-mane iha ita-nia istória nia kolega sira no husi labarik-mane ne'e rasik kona-ba saida maka afinál sira halo hela iha-ne'ebá. Iha dadeer husi loron triste ida – señora seluk ne'e nia loron hotu-hotu triste – señora ne'e deside atu riska-sai husi jornál ne'e fraze hotu-hotu ne'ebé temi serbisu halo husi ita-nia labarik-mane ho laran-di'ak no intensaun di'ak. Iha loron antes señora seluk ne'e foin haree versaun ho dezeñu-animadu husi “Animal Farm” husi George Orwell no nia sai kontente loos ho téknika estalinista hodi hakerek filafali Istória. Nia hanoin katak ne'e ideia di'ak tebes atu hamoos husi fotografia membru sira Komité Sentrál nian ne'ebé la kona ona Ukun-Na'in Boboot nia laran. Bainhira labarik-mane lee jornál, ne'ebé ninia naran la mosu, nia la hakfodak – uluk nia lee tiha ona Orwell. Señora seluk ne'e sei sai koñesida iha futuru ho naran Señora Sensura-Na'in.
Iha tempu ne'ebá labarik-mane husi ita-nia istória lee hela “Diário” husi Miguel Torga no iha testu ho data husi Koimbra, dia-13 fulan-Novembru 1940, nia hetan: “Ha'u sente katak ema balu, se sira hatene loloos sira an oinsá no sira vale saida-loos, sira sei sai bulak./ Katak, se iha intervalu husi sira-nia foti an no halo an, sira bele tun ba posu nia kidun no haree loloos oinsá maka sira iha-ne'ebá la vale buat ida, sira sei husu ba Maromak atu hatama-hasubar sira iha rai okos.” [Tradusaun ha'u-nian]
AVIZU: Konserteza, ne'e istória-fiksaun ida; ha'u temi Paco Ignacio Taibo II nia Nota husi Autór iha livru furak tebes “Cuatro Manos” (1990): «Se iha buat ruma ne'ebé hanesan realidade karik, entaun ne'e tanba realidade mak sala; ne'e duni, hanesan Paco Urondo dehan, realidade sai eskizita liu tan ba beibeik.» *
Naran leitór ida ne'ebé síniku uitoan hatene katak “de boas intenções está o Inferno cheio” [Infernu nakonu ho ema ho intensaun di'ak] no naran leitór ida ne'ebé fó atensaun uitoan ba diskursu husi ukun-na'in sira iha reinu ne'ebé labarik-mane iha ita-nia istória moris iha-ne'ebá iha obrigasaun hodi hatene katak instituisaun sira iha reinu ne'ebá la hili atu sai xefe ema hanesan Señora Sensura-Na'in no Señora Vestidu Boot.
*Tradusaun ami-nian. Testu orijinál iha lian españól dehan: “Cualquier parecido con la realidad es culpa de la realidad; que por cierto, como decía Paco Urondo, cada vez se está poniendo más rara.”
Era uma vez, há muito, muito tempo, num reino não tão distante, um rapazinho bem intencionado. Um dia, num dia 25 de Abril (que é a data em que no reino, esse sim distante, de onde o rapazinho da nossa história tinha vindo as pessoas boas celebram a liberdade e as pessoas más se entretêm a tramar a vida ao próximo), ele recebeu a notícia de que ia ser saneado. Ficou triste, muito, muito triste, porque o moço tinha verdadeira paixão pelo trabalho que fazia. Era professor.
Uns tempos mais tarde, andava o moço preocupado a tentar arranjar forma de continuar a trabalhar no reino que tinha adoptado como seu, encontrou na escada do sítio onde trabalhava uma senhora sua colega de instituição. Essa senhora logo fez um ar pesaroso e declarou que tinha acabado de saber – o moço não acreditou – que ele ia ser posto na rua, e, com malícia na voz, inquiriu se ele planeava ficar por aqui, talvez a trabalhar no jornal onde ele escrevia umas coisas. O moço explicou as razões pessoais pelas quais não poderia viver só com um salário timorense. A senhora retorquiu então «Mas se vieres aqui dar uma cadeira» - ela era a Chefe “ali” - «já podes ganhar mais uns tostões!...». O rapazinho, que era ingénuo mas não era parvo, percebeu que a senhora estava a gozar com ele. Isso aborreceu-o mais ainda porque, como todos os colegas, já tinha ouvido milhentas vezes a senhora gabar-se de como era uma herdeira rica e como oferecia o dinheiro que ganhava ali a uma instituição de caridade timorense. O moço não achava muita piada que ela, não precisando de dinheiro, se divertisse a gozar com os pobres. Principalmente sendo ele o pobre em questão no presente caso. O moço decidiu naquele momento que se alguma vez escrevesse um romance ela apareceria com um papel semelhante ao do Homem do Sobretudo nos quadros do Professor nos “Capitães da Areia”. E já tinha nome para ela, dado por outrem, mas que se enquadrava no espírito da coisa: Vestidu Boot.
A senhora Vestidu Boot tinha nessa época como companheira de folguedos uma senhora que lá no reino natal se divertia a manejar cordelinhos, qual titereiro, de uma vasta rede de professores, professorzinhos e professorzões espalhados pelo mundo. Tinha também por função decidir sobre as notícias que eram autorizadas na gazeta que era proclamada aos quatro ventos pelo arauto do reino. Ora por essa altura andavam os escribas da tal gazeta a recolher depoimentos dos colegas do rapazinho da nossa história e dele próprio sobre o que é que eles afinal andavam por ali a fazer. Na manhã de um dia triste – eram todos tristes os dias desta outra senhora – ela decidiu cortar da tal gazeta todas as referências ao trabalho do nosso rapazinho bem intencionado. Tinha visto na véspera a versão em desenhos animados do “Animal Farm” de George Orwell e ficara encantada com as técnicas estalinistas de reescrita da História. Era afinal uma excelente ideia apagar da fotografia os membros do Comité Central caídos em desgraça aos olhos do(a) Grande Líder Todo(a) Poderoso(a). Quando o rapazinho leu a gazeta, onde o seu nome não aparecia, não ficou surpreendido – ele tinha lido Orwell. Essa outra senhora ficaria para a posteridade com o nome de Senhora Dona Do Lápis Azul Da Censura.
O rapazinho da nossa história andava a ler o Diário de Miguel Torga e numa entrada datada de Coimbra, 13 de Novembro de 1940, encontrou: “Tenho a impressão de que certas pessoas, se soubessem exactamente o que são e o que valem na verdade, endoideciam./ De que, se no intervalo da embófia e da importância, pudessem descer ao fundo do poço e ver a pobreza franciscana que lá vai, pediam a Deus que as metesse pela terra dentro.”
ADVERTÊNCIA: Esta é evidentemente uma história de ficção; citando Paco Ignacio Taibo II na Nota do Autor do belíssimo livro “Cuatro Manos” (1990): «Qualquer semelhança com a realidade é culpa da realidade que, por certo, como dizia Paco Urondo, cada vez se está a pôr mais esquisita.» *
Qualquer leitor moderadamente cínico sabe que “de boas intenções está o Inferno cheio” e qualquer leitor razoavelmente atento aos discursos dos governantes do reino natal do rapazinho da história deveria saber que as instituições de tal reino não colocam em posições de chefia pessoas como a Senhora Dona Do Lápis Azul Da Censura e a Senhora Vestidu Boot.
*Tradução de Viale Moutinho (Difel, 1994). O texto original em língua espanhola diz: “Cualquier parecido con la realidad es culpa de la realidad; que por cierto, como decía Paco Urondo, cada vez se está poniendo más rara.”
Dili, sesta-feira, dia 13 fulan-Janeiru 2006
Hori uluk, hori wa'in, iha reinu ida ne'ebé ladún dook, iha labarik-mane ida ho laran-di'ak no intensaun di'ak. Loron ida, iha loron-25 fulan-Abríl (iha data ne'e maka iha reinu seluk, ida-ne'e dook loos, ne'ebé labarik-mane husi ita-nia istória mai husi ne'ebá, ema laran-di'ak selebra liberdade no ema laran-aat pasa sira-nia tempu buka de'it jeitu atu halo aat ba ema sira seluk), nia simu notísia katak ema sei duni-sai nia husi ninia serbisu. Ne'e halo nia sai laran-kraik, laran-kraik tebetebes, tanba mane foin-sa'e ne'e hadomi loos serbisu ne'ebé nia halo. Nia profesór ida.
Tempu balu tan ba oin, mane foin-sa'e ne'e hala'o hela ninia moris ho fuan-taridu buka hela jeitu atu bele kontinua serbisu iha reinu ne'ebé nia konsidera ona hanesan mós ninian, nia hetan iha eskada iha ninia serbisu-fatin señora ida ne'ebé mós serbisu iha ninia instituisaun. Señora ne'e halo kedas jeitu hanesan ema ne'ebé laran-todan no hatete katak nia foin hatene – mane foin-sa'e la fiar – katak mane ne'e sei lakon serbisu, no, ho jeitu hanesan lia-soen no laran-makerek, señora husu se nia iha planu atu kontinua nafatin iha-ne'e, kala hodi serbisu iha jornál ne'ebé nia toman hakerek testu balu. Mane foin-sa'e ne'e esplika razaun privadu familiár ninian tanbasá maka nia sei la bele hala'o nia moris ho saláriu hanesan timoroan sira baibain manán fulafulan. Señora entaun hatán «Maibé se ó mai hanorin dixiplina ida iha-ne'e» - señora ne'e maka Xefe “iha-ne'ebá” - «ó sei bele manán doit balu tan!...». Labarik-mane, ne'ebé ema ho laran-simples maibé la'ós ema beik, komprende katak señora ne'e goza hela nia. Ne'e halo nia raan-nakali liu tan, tanba hanesan mós kolega sira hotu, mane foin-sa'e ne'e rona tiha ona dala rihun ba rihun señora ne'e gaba an tanba nia erdeira rikasu no nia oferese osan ne'ebé nia manán iha-ne'ebá ba instituisaun-karidade timoroan sira-nian. Mane foin-sa'e ne'e ladún sente kómiku katak feto ne'e, tanba la presiza osan, gosta buka kontente liuhosi goza ema kiak. Liuliu tanba iha kazu ida-ne'e nia rasik maka mane-kiak. Mane foin-sa'e deside iha momentu ne'ebá kedas katak se loron ida nia sei hakerek romanse ida señora ne'e sei mosu iha istória ho papél hanesan “Homem do Sobretudo” [Mane ho Kazaku Naruk] nian iha pintura husi “Professor” iha livru “Capitães da Areia”. No nia iha ona naran ba feto ne'e, ke ema seluk maka tau tiha, maibé iha relasaun loos ho situasaun ne'e: Vestidu Boot.
Señora Vestidu Boot iha otas ne'ebá iha nu'udar maluk ba ninia halimar señora ida ne'ebé iha reinu ne'ebé sira moris bá pasa nia tempu hodi buka kontente kaer talin, hanesan fali boneku-na'in, ba rede luan ho profesór, profesór-ki'ik no profesór-boot barak namkari iha mundu. Nia knaar mós atu deside kona-ba notísia ne'ebé sei simu autorizasaun atu mosu iha jornál ne'ebé manu-ain reinu nian fó-sai kari iha anin. Ne'ebe iha tempu ne'ebá hakerek-na'in jornál ne'e nian buka hela lia-menon no informasaun husi labarik-mane iha ita-nia istória nia kolega sira no husi labarik-mane ne'e rasik kona-ba saida maka afinál sira halo hela iha-ne'ebá. Iha dadeer husi loron triste ida – señora seluk ne'e nia loron hotu-hotu triste – señora ne'e deside atu riska-sai husi jornál ne'e fraze hotu-hotu ne'ebé temi serbisu halo husi ita-nia labarik-mane ho laran-di'ak no intensaun di'ak. Iha loron antes señora seluk ne'e foin haree versaun ho dezeñu-animadu husi “Animal Farm” husi George Orwell no nia sai kontente loos ho téknika estalinista hodi hakerek filafali Istória. Nia hanoin katak ne'e ideia di'ak tebes atu hamoos husi fotografia membru sira Komité Sentrál nian ne'ebé la kona ona Ukun-Na'in Boboot nia laran. Bainhira labarik-mane lee jornál, ne'ebé ninia naran la mosu, nia la hakfodak – uluk nia lee tiha ona Orwell. Señora seluk ne'e sei sai koñesida iha futuru ho naran Señora Sensura-Na'in.
Iha tempu ne'ebá labarik-mane husi ita-nia istória lee hela “Diário” husi Miguel Torga no iha testu ho data husi Koimbra, dia-13 fulan-Novembru 1940, nia hetan: “Ha'u sente katak ema balu, se sira hatene loloos sira an oinsá no sira vale saida-loos, sira sei sai bulak./ Katak, se iha intervalu husi sira-nia foti an no halo an, sira bele tun ba posu nia kidun no haree loloos oinsá maka sira iha-ne'ebá la vale buat ida, sira sei husu ba Maromak atu hatama-hasubar sira iha rai okos.” [Tradusaun ha'u-nian]
AVIZU: Konserteza, ne'e istória-fiksaun ida; ha'u temi Paco Ignacio Taibo II nia Nota husi Autór iha livru furak tebes “Cuatro Manos” (1990): «Se iha buat ruma ne'ebé hanesan realidade karik, entaun ne'e tanba realidade mak sala; ne'e duni, hanesan Paco Urondo dehan, realidade sai eskizita liu tan ba beibeik.» *
Naran leitór ida ne'ebé síniku uitoan hatene katak “de boas intenções está o Inferno cheio” [Infernu nakonu ho ema ho intensaun di'ak] no naran leitór ida ne'ebé fó atensaun uitoan ba diskursu husi ukun-na'in sira iha reinu ne'ebé labarik-mane iha ita-nia istória moris iha-ne'ebá iha obrigasaun hodi hatene katak instituisaun sira iha reinu ne'ebá la hili atu sai xefe ema hanesan Señora Sensura-Na'in no Señora Vestidu Boot.
*Tradusaun ami-nian. Testu orijinál iha lian españól dehan: “Cualquier parecido con la realidad es culpa de la realidad; que por cierto, como decía Paco Urondo, cada vez se está poniendo más rara.”
quinta-feira, janeiro 12, 2006
wikipedia em tétum
A wikipedia é uma enciclopédia gratuita em linha, mantida na Internet por wikipedistas (enciclopedistas da wikipedia) voluntários de todo o mundo. É um espaço de colaboração e de partilha e difusão do conhecimento, em muitas línguas. É um projecto bonito...
Agora há algumas pessoas empenhadas em fazer surgir uma versão da wikipedia em tétum, e eu quero participar nesse esforço... Creio que todos os apoios serão benvindos, por isso vem e "traz um amigo também"...
Wikipedia katak ensiklopédia "iha liña" (on line) ne'ebé la selu, ita bele konsulta iha Internet no voluntáriu wikipedista (ema ne'ebé halo ensiklopédia wikipedia ne'e) husi mundu tomak maka halo. Ne'e hanesan fatin ba serbisu lisuk hodi halekar no fó-biban ba ema seluk atu hetan matenek, iha dalen (lian) barak. Ne'e projetu furak ida...
Agora iha ema balu ne'ebé haka'as an daudaun atu hamosu versaun wikipedia iha lia-tetun, no ha'u hakarak hola parte iha esforsu ne'e... Ha'u hanoin katak ema sei simu ho laran-kmanek tulun hotu-hotu ne'ebé mosu, tanba ne'e ó mai hotu no [hanesan kantadór-intervensaun portugés José Afonso uluk kanta:] "lori mós ó nia belun ida mai"...
quarta-feira, janeiro 11, 2006
Resistência e identidade
Texto de Daniel Tércio, publicado no jornal português "Expresso" (Caderno "Actual"), Edição 1732, de 07.01.2006
A CULTURA DA INDEPENDÊNCIA
Língua e identidade cultural em Timor-Leste
O viajante que se detiver na frente da baía de Díli pode disfrutar de uma paisagem magnífica: na direcção do mar, Ataúro, a ilha que interrrompe o horizonte; na direcção oposta, o Palácio do Governo, branco e regular, com o seu jardim fechado ao público, onde existe um pequeno monumento de homenagem ao Infante Dom Henrique (uma espécie de réplica tímida do Padrão dos Descobrimentos em Lisboa).
Hoje, se se sentar alguns minutos sobre o murete da baía, o viajante terá certamente a companhia de um timorense que se aproximará com um sorriso, ensaiando algumas palavras em português. A maior parte das vezes, o timorense esperará que seja o estrangeiro (o “malai”) a falar. Para o “malai”, habituado a evitar os silêncios e os vazios, isto nem sempre será confortável.
Aqui, em Timor Lorosa’e, a língua flui de uma outra maneira, porventura com uma outra lógica, mesmo entre os mais velhos, entre aqueles que a aprenderam antes de 1974 no banco das escolas do regime colonial português. Com efeito, ainda que adoptada como uma das línguas oficiais do novo Estado (o mais jovem país do século XXI), a língua portuguesa continua a ser uma língua estrangeira. Sendo a língua do “outro”, o português é a fala de um outro especial, não do australiano ou do javanês, mas sim de alguém que veio do lado de lá do mundo e a quem muitos timorenses responsabilizam por um certo abandono precipitado em 75. Mas esta língua do “outro”, que é a nossa, tem surpreendentes semelhanças lexicais com o tétum, a primeira língua oficial, falada por 80% da população da jovem República Democrática de Timor-Leste.
O ambiente linguístico - indispensável para traçar o quadro da cultura timorense - afigura-se pois complexo. A respectiva complexidade aumenta quando se sabe que neste território, com cerca de 15000 km2, coexistem pelo menos dezasseis línguas diferentes. O tétum é uma delas, dividindo-se esta em tétum praça (que funciona como língua franca) e tétum téric (mais falado na montanha); além do tétum, fala-se também, por exemplo, o macassai (em Baucau), o mambai (na região montanhosa do centro), o fataluco (na ponta leste da ilha) e o baiqueno (no enclave de Oecussi). Quanto à língua indonésia, imposta brutalmente durante um quarto de século, ela perdura coloquialmente entre uma boa parte da juventude, atraída por uma cultura pop de origem javaneza, e contaminando lexicalmente o tétum praça. Ao mesmo tempo, as empresas com origem australiana aqui instaladas exigem o domínio do inglês ao timorense em busca de trabalho. Resta dizer que a noção de emprego (e por extensão, a noção económica de taxa de desemprego) não se aplica facilmente à situação de Timor. É possível que o trabalho, enquanto processo sistemático de transformação do mundo e de organização social, indispensável para obter regularmente um salário individual, seja um conceito ainda relativamente estranho na cultura timorense; mais de metade da população deste jovem país tem menos de 15 anos de idade, o que certamente ajuda a compreender a relação do timorense com o trabalho sistemático. Um outro aspecto importante para estabelecer o quadro cultural tem a ver com a omnipresença da natureza, uma natureza longe do estado domesticado dos países ocidentais, base de um fundo animista muito forte, que a Igreja Católica não conseguiu anular, não obstante o papel fundamental que tem tido na organização e na fixação dos valores morais da sociedade.
Para a jovem República de Timor-Leste, a escolha do português e do tétum como línguas oficiais constitui certamente uma opção política, um manifesto de independência face aos dois gigantescos Estados vizinhos – opção oficialmente consignada, mas porventura ainda sem um desfecho claro a médio e a longo prazo. Para Portugal e para o conjunto de países de língua oficial portuguesa, a opção é honrosa, porventura interessante no teatro da geopolítica – na medida em que fixa a presença do português no sudeste asiático - mas também inevitavelmente dispendiosa.
O esforço, tanto dos países da CPLP, incluindo Portugal, quanto do jovem Estado timorense, passa por fazer deslocar a língua portuguesa de uma língua do “outro”, do “malai”, para uma língua nossa. Como fazê-lo?
Os governantes que discursaram em frente ao Palácio do Governo, por ocasião da comemoração da Independência nacional, no dia 28 de Novembro, falaram em português para uma população mais interessada nos desfiles das forças militares e das “majoretes” do que propriamente no conteúdo dos discursos.
Ao mesmo tempo, um acontecimento como a Feira do Livro português, organizado pela Embaixada Portuguesa e pelo Centro Cultural Camões, com o apoio logístico de estudantes voluntários da Universidade Nacional de Timor Lorosa’e, constituiu um verdadeiro êxito. Se a colaboração das editoras portuguesas poderia e deveria ter sido mais ampliada, se os autores timorenses como Luís Cardoso e Fernando Sylvan deveriam ter as respectivas obras presentes (o que inexplicavelmente não aconteceu), os preços acessíveis das obras e a preferência concedida aos autóctones na compra dos livros possibilitaram uma interessante proximidade; proximidade que de algum modo se desenrolou também com o programa de visitas a escolas e de conferências proferidas pelos autores lusófonos convidados.
Um dos momentos altos da Feira do Livro aconteceu com o lançamento da obra do historiador José Mattoso (residente em Timor desde o ano 2000), “A Dignidade. Konis Santana e a Resistência timorense”. A obra, publicada pelo Círculo de Leitores em colaboração com a Fundação Mário Soares, constitui, a par com a abertura do Museu da Resistência, uma contribuição decisiva para a História recente do jovem país. Uma das questões mais interessantes, de resto colocada na sessão de lançamento do livro, tanto pelo autor, quanto pelo Presidente Xanana Gusmão, diz respeito à consciência da identidade nacional e ao modo como esta ganhou corpo durante a ocupação indonésia. Com efeito, é possível que a ocupação indonésia tenha jogado a favor da unificação dos antigos reinos (que passaram de uma rivalidade agressiva para a unidade contra o inimigo comum javanês); em consequência, as diferenças linguísticas tornaram-se secundárias e uma nova consciência de pátria emergiu, uma consciência apoiada num forte sentido de civilidade e de dignidade.
A questão linguística continua, porém, uma questão em aberto, que está longe de se resolver com eventos como a Feira do Livro português. Nesta matéria, pelas rotinas que proporcionam, é fundamental o papel que as Bibliotecas e as salas de leitura podem ter no mapa cultural de Timor e no processo de disseminação do português. A Biblioteca do Centro Cultural português, a Biblioteca do Instituto Camões, ou a Sala de Leitura Xanana Gusmão, instaladas em Díli, são diariamente frequentadas por dezenas de jovens que lêem sobretudo a imprensa portuguesa, por vezes com um mês de atraso; fora de Díli, surgem iniciativas verdadeiramente heróicas, como a pequena biblioteca de Manatuto, criada pelo professor Carlos Reis com o apoio das autoridades locais. Para além das bibliotecas, existem em Díli associações culturais e desportivas, que funcionam também como veículo do português. Assim acontece com o Centro Juvenil Padre António Vieira, sediado no bairro Taibesse, actualmente dirigido pela timorense Rosalina Dias.
Além disto está em curso uma importante investigação linguística sobre o tétum e sobre as respectivas relações com o português; 27000 termos constam do prontuário de língua tétum, sendo uma parte substancial de base lexical portuguesa. O Instituto Nacional de Linguística, dirigido pelo Reitor da UNTL, Benjamim de Araújo e Corte-Real, desenvolve a sua acção neste domínio. A instituição, que conta com o apoio oficial do Governo timorense, tem, entre outras, a vantagem de promover o trabalho de equipa, congregando esforços de investigadores como o australiano Geofrey Hull, uma autoridade internacionalmente reconhecida na padronização e fixação escrita da língua autóctone. Neste momento, prepara-se a edição de um dicionário monolingue e acaba de sair uma gramática de tétum escrita em tétum.
Uma outra organização, com o estatuto de ONG, a “Timor Aid”, dirigida por Maria do Céu Lopes, tem tido o papel pioneiro de editar obras em tétum, que faz distribuir pelas escolas dos Distritos. Na verdade, um dos problemas mais complexos passa pela circulação dos bens culturais; com efeito, além da escassez de materiais escritos, avolumam-se dificuldades efectivas e físicas nos indispensáveis meios de comunicação. A produção de conteúdos, em português e em tétum, deverá ser adaptada às condições efectivas no terreno: rede telefónica parcelar, internet incipiente e genericamente com uma baixa largura de banda e más (ou péssimas) estradas. Obras bilingues como “O que é a Lusofonia. Gente, culturas, terras”, preparada por um conjunto de jovens portugueses e timorenses e recentemente editada pelo Instituto Camões, constituem iniciativas meritórias que podem e devem estimular o aparecimento de outras publicações. Neste âmbito, é fundamental por exemplo que a presença da cooperação portuguesa amplie o seu conhecimento das línguas autóctones. João Paulo Esperança, docente no Departamento de Língua Portuguesa da UNTL, especialista em linguística do tétum, colaborador na imprensa local, ou Selma Silva, professora na Escola portuguesa e autora do programa “ondas Lusófonas” na Rádio e Televisão de Timor-Leste, são bons exemplos de um domínio partilhado de ambas as línguas. Já a edição de um periódico como o “Semanário”, publicado em Díli, necessita urgentemente de uma revisão cuidadosa de textos.
Sem dúvida que a identidade cultural de Timor-Leste passa em grande medida por uma independência linguística na região do sudeste asiático, o que explica a opção do português e do tétum como línguas oficiais deste jovem país. Ao mesmo tempo, a cultura da independência, forjada durante os anos da resistência, terá finalmente que respeitar as singularidades de um território surpreendentemente diverso. A cultura timorense é pois, de forma mais nítida do que em outros lugares, um processo, uma missão, um esforço que decorre entre o estado de “Babel” do território e a consciência de identidade nacional.
Daniel Tércio
Língua e identidade cultural em Timor-Leste
O viajante que se detiver na frente da baía de Díli pode disfrutar de uma paisagem magnífica: na direcção do mar, Ataúro, a ilha que interrrompe o horizonte; na direcção oposta, o Palácio do Governo, branco e regular, com o seu jardim fechado ao público, onde existe um pequeno monumento de homenagem ao Infante Dom Henrique (uma espécie de réplica tímida do Padrão dos Descobrimentos em Lisboa).
Hoje, se se sentar alguns minutos sobre o murete da baía, o viajante terá certamente a companhia de um timorense que se aproximará com um sorriso, ensaiando algumas palavras em português. A maior parte das vezes, o timorense esperará que seja o estrangeiro (o “malai”) a falar. Para o “malai”, habituado a evitar os silêncios e os vazios, isto nem sempre será confortável.
Aqui, em Timor Lorosa’e, a língua flui de uma outra maneira, porventura com uma outra lógica, mesmo entre os mais velhos, entre aqueles que a aprenderam antes de 1974 no banco das escolas do regime colonial português. Com efeito, ainda que adoptada como uma das línguas oficiais do novo Estado (o mais jovem país do século XXI), a língua portuguesa continua a ser uma língua estrangeira. Sendo a língua do “outro”, o português é a fala de um outro especial, não do australiano ou do javanês, mas sim de alguém que veio do lado de lá do mundo e a quem muitos timorenses responsabilizam por um certo abandono precipitado em 75. Mas esta língua do “outro”, que é a nossa, tem surpreendentes semelhanças lexicais com o tétum, a primeira língua oficial, falada por 80% da população da jovem República Democrática de Timor-Leste.
O ambiente linguístico - indispensável para traçar o quadro da cultura timorense - afigura-se pois complexo. A respectiva complexidade aumenta quando se sabe que neste território, com cerca de 15000 km2, coexistem pelo menos dezasseis línguas diferentes. O tétum é uma delas, dividindo-se esta em tétum praça (que funciona como língua franca) e tétum téric (mais falado na montanha); além do tétum, fala-se também, por exemplo, o macassai (em Baucau), o mambai (na região montanhosa do centro), o fataluco (na ponta leste da ilha) e o baiqueno (no enclave de Oecussi). Quanto à língua indonésia, imposta brutalmente durante um quarto de século, ela perdura coloquialmente entre uma boa parte da juventude, atraída por uma cultura pop de origem javaneza, e contaminando lexicalmente o tétum praça. Ao mesmo tempo, as empresas com origem australiana aqui instaladas exigem o domínio do inglês ao timorense em busca de trabalho. Resta dizer que a noção de emprego (e por extensão, a noção económica de taxa de desemprego) não se aplica facilmente à situação de Timor. É possível que o trabalho, enquanto processo sistemático de transformação do mundo e de organização social, indispensável para obter regularmente um salário individual, seja um conceito ainda relativamente estranho na cultura timorense; mais de metade da população deste jovem país tem menos de 15 anos de idade, o que certamente ajuda a compreender a relação do timorense com o trabalho sistemático. Um outro aspecto importante para estabelecer o quadro cultural tem a ver com a omnipresença da natureza, uma natureza longe do estado domesticado dos países ocidentais, base de um fundo animista muito forte, que a Igreja Católica não conseguiu anular, não obstante o papel fundamental que tem tido na organização e na fixação dos valores morais da sociedade.
Para a jovem República de Timor-Leste, a escolha do português e do tétum como línguas oficiais constitui certamente uma opção política, um manifesto de independência face aos dois gigantescos Estados vizinhos – opção oficialmente consignada, mas porventura ainda sem um desfecho claro a médio e a longo prazo. Para Portugal e para o conjunto de países de língua oficial portuguesa, a opção é honrosa, porventura interessante no teatro da geopolítica – na medida em que fixa a presença do português no sudeste asiático - mas também inevitavelmente dispendiosa.
O esforço, tanto dos países da CPLP, incluindo Portugal, quanto do jovem Estado timorense, passa por fazer deslocar a língua portuguesa de uma língua do “outro”, do “malai”, para uma língua nossa. Como fazê-lo?
Os governantes que discursaram em frente ao Palácio do Governo, por ocasião da comemoração da Independência nacional, no dia 28 de Novembro, falaram em português para uma população mais interessada nos desfiles das forças militares e das “majoretes” do que propriamente no conteúdo dos discursos.
Ao mesmo tempo, um acontecimento como a Feira do Livro português, organizado pela Embaixada Portuguesa e pelo Centro Cultural Camões, com o apoio logístico de estudantes voluntários da Universidade Nacional de Timor Lorosa’e, constituiu um verdadeiro êxito. Se a colaboração das editoras portuguesas poderia e deveria ter sido mais ampliada, se os autores timorenses como Luís Cardoso e Fernando Sylvan deveriam ter as respectivas obras presentes (o que inexplicavelmente não aconteceu), os preços acessíveis das obras e a preferência concedida aos autóctones na compra dos livros possibilitaram uma interessante proximidade; proximidade que de algum modo se desenrolou também com o programa de visitas a escolas e de conferências proferidas pelos autores lusófonos convidados.
Um dos momentos altos da Feira do Livro aconteceu com o lançamento da obra do historiador José Mattoso (residente em Timor desde o ano 2000), “A Dignidade. Konis Santana e a Resistência timorense”. A obra, publicada pelo Círculo de Leitores em colaboração com a Fundação Mário Soares, constitui, a par com a abertura do Museu da Resistência, uma contribuição decisiva para a História recente do jovem país. Uma das questões mais interessantes, de resto colocada na sessão de lançamento do livro, tanto pelo autor, quanto pelo Presidente Xanana Gusmão, diz respeito à consciência da identidade nacional e ao modo como esta ganhou corpo durante a ocupação indonésia. Com efeito, é possível que a ocupação indonésia tenha jogado a favor da unificação dos antigos reinos (que passaram de uma rivalidade agressiva para a unidade contra o inimigo comum javanês); em consequência, as diferenças linguísticas tornaram-se secundárias e uma nova consciência de pátria emergiu, uma consciência apoiada num forte sentido de civilidade e de dignidade.
A questão linguística continua, porém, uma questão em aberto, que está longe de se resolver com eventos como a Feira do Livro português. Nesta matéria, pelas rotinas que proporcionam, é fundamental o papel que as Bibliotecas e as salas de leitura podem ter no mapa cultural de Timor e no processo de disseminação do português. A Biblioteca do Centro Cultural português, a Biblioteca do Instituto Camões, ou a Sala de Leitura Xanana Gusmão, instaladas em Díli, são diariamente frequentadas por dezenas de jovens que lêem sobretudo a imprensa portuguesa, por vezes com um mês de atraso; fora de Díli, surgem iniciativas verdadeiramente heróicas, como a pequena biblioteca de Manatuto, criada pelo professor Carlos Reis com o apoio das autoridades locais. Para além das bibliotecas, existem em Díli associações culturais e desportivas, que funcionam também como veículo do português. Assim acontece com o Centro Juvenil Padre António Vieira, sediado no bairro Taibesse, actualmente dirigido pela timorense Rosalina Dias.
Além disto está em curso uma importante investigação linguística sobre o tétum e sobre as respectivas relações com o português; 27000 termos constam do prontuário de língua tétum, sendo uma parte substancial de base lexical portuguesa. O Instituto Nacional de Linguística, dirigido pelo Reitor da UNTL, Benjamim de Araújo e Corte-Real, desenvolve a sua acção neste domínio. A instituição, que conta com o apoio oficial do Governo timorense, tem, entre outras, a vantagem de promover o trabalho de equipa, congregando esforços de investigadores como o australiano Geofrey Hull, uma autoridade internacionalmente reconhecida na padronização e fixação escrita da língua autóctone. Neste momento, prepara-se a edição de um dicionário monolingue e acaba de sair uma gramática de tétum escrita em tétum.
Uma outra organização, com o estatuto de ONG, a “Timor Aid”, dirigida por Maria do Céu Lopes, tem tido o papel pioneiro de editar obras em tétum, que faz distribuir pelas escolas dos Distritos. Na verdade, um dos problemas mais complexos passa pela circulação dos bens culturais; com efeito, além da escassez de materiais escritos, avolumam-se dificuldades efectivas e físicas nos indispensáveis meios de comunicação. A produção de conteúdos, em português e em tétum, deverá ser adaptada às condições efectivas no terreno: rede telefónica parcelar, internet incipiente e genericamente com uma baixa largura de banda e más (ou péssimas) estradas. Obras bilingues como “O que é a Lusofonia. Gente, culturas, terras”, preparada por um conjunto de jovens portugueses e timorenses e recentemente editada pelo Instituto Camões, constituem iniciativas meritórias que podem e devem estimular o aparecimento de outras publicações. Neste âmbito, é fundamental por exemplo que a presença da cooperação portuguesa amplie o seu conhecimento das línguas autóctones. João Paulo Esperança, docente no Departamento de Língua Portuguesa da UNTL, especialista em linguística do tétum, colaborador na imprensa local, ou Selma Silva, professora na Escola portuguesa e autora do programa “ondas Lusófonas” na Rádio e Televisão de Timor-Leste, são bons exemplos de um domínio partilhado de ambas as línguas. Já a edição de um periódico como o “Semanário”, publicado em Díli, necessita urgentemente de uma revisão cuidadosa de textos.
Sem dúvida que a identidade cultural de Timor-Leste passa em grande medida por uma independência linguística na região do sudeste asiático, o que explica a opção do português e do tétum como línguas oficiais deste jovem país. Ao mesmo tempo, a cultura da independência, forjada durante os anos da resistência, terá finalmente que respeitar as singularidades de um território surpreendentemente diverso. A cultura timorense é pois, de forma mais nítida do que em outros lugares, um processo, uma missão, um esforço que decorre entre o estado de “Babel” do território e a consciência de identidade nacional.
Daniel Tércio
segunda-feira, janeiro 09, 2006
sábado, janeiro 07, 2006
chuva
Díli, 7 de Janeiro de 2006
Chove na casa onde eu moro. Isto pode parecer pouco significativo, há outras casas em Timor nas quais chove, porém essas casas não custaram o balúrdio que esta custou à Cooperação Portuguesa. E não vale a pena procurar justificações sem pés nem cabeça, invocando a falta de profissionalismo dos trabalhadores timorenses. É verdade que os padrões de qualidade da mão-de-obra local ainda deixam muito a desejar, mas na casa onde vivi antes durante três anos e meio nunca choveu, e também foi (re)construída por uma instituição portuguesa. Muitos amigos meus timorenses moram em casas onde não chove, apesar de algumas serem construções muito modestas.
É triste quando os responsáveis se acomodam e se limitam a procurar desculpas para a mediocridade em vez de procurarem soluções...
Chove na casa onde eu moro. Isto pode parecer pouco significativo, há outras casas em Timor nas quais chove, porém essas casas não custaram o balúrdio que esta custou à Cooperação Portuguesa. E não vale a pena procurar justificações sem pés nem cabeça, invocando a falta de profissionalismo dos trabalhadores timorenses. É verdade que os padrões de qualidade da mão-de-obra local ainda deixam muito a desejar, mas na casa onde vivi antes durante três anos e meio nunca choveu, e também foi (re)construída por uma instituição portuguesa. Muitos amigos meus timorenses moram em casas onde não chove, apesar de algumas serem construções muito modestas.
É triste quando os responsáveis se acomodam e se limitam a procurar desculpas para a mediocridade em vez de procurarem soluções...


Ontem o meu computador portátil esteve quase a dar o berro. Sobreaquecimento. Os quartos destas casas são cubículos quentes mais apropriados para pôr prisioneiros em regime de isolamento do que para albergar professores de quem se espera produtividade no trabalho, e os aparelhos de ar condicionado estão quase todos avariados. Comprei uma ventoinha grande e ontem estive com ela nas mãos apontada para o computador para o arrefecer.
Tirando este tipo de pormenores de logística, continuo muito feliz com o meu trabalho. E não me esqueço que a instituição ao serviço da qual me encontro me contratou quando as forças das trevas lideradas pela Dona Do Lápis Azul Da Censura se erguiam para me tramar. Alguns poderosos não gostam dos pequenos que dizem a verdade...
Enfim, como cantava o cantor de intervenção português Zeca Afonso:
Quando a corja topa da janela
Quando o pão que comes sabe a merda
O que faz falta
O que faz falta é avisar a malta
O que faz falta
O que faz falta é avisar a malta
O que faz falta
Quando nunca a noite foi dormida
O que faz falta
Quando a raiva nunca foi vencida
O que faz falta
O que faz falta é animar a malta
O que faz falta
O que faz falta é acordar a malta
O que faz falta
Quando nunca a infância teve infância
O que faz falta
Quando sabes que vai haver dança
O que faz falta
O que faz falta é animar a malta
O que faz falta
O que faz falta é empurrar a malta
O que faz falta
Quando um cão te morde a canela
O que faz falta
Quando a esquina há sempre uma cabeça
O que faz falta
O que faz falta é animar a malta
O que faz falta
O que faz falta é empurrar a malta
O que faz falta
Quando um homem dorme na valeta
O que faz falta
Quando dizem que isto é tudo treta
O que faz falta
O que faz falta é agitar a malta
O que faz falta
O que faz falta é libertar a malta
O que faz falta
Se o patrão não vai com duas loas
O que faz falta
Se o fascista conspira na sombra
O que faz falta
O que faz falta é avisar a malta
O que faz falta
O que faz falta é dar poder a malta
O que faz falta
Dili, 7 Janeiru 2006
Udan tama iha uma-laran iha uma ne'ebé ha'u hela bá. Ne'e bele haree hanesan buat ida ladún importante, iha uma seluk tan iha Timór ne'ebé udan tama iha laran, maibé uma hirak-ne'e la kusta folin karun paramate hanesan folin ne'ebé Kooperasaun Portugeza selu ba uma ne'e. No lalika buka esplikasaun la hun la dikin, hodi temi serbisu-na'in timoroan sira-nia profisionalizmu ne'ebé la iha. Tebes katak kualidade maun-de-obra iha-ne'e seidauk di'ak, maibé iha uma ne'ebé uluk ha'u hela bá durante tinan tolu ho balun nunka udan iha uma-laran, no uma ne'e mós instituisaun portugeza ida maka harii (fila fali). Ha'u-nia belun timoroan barak hela iha uma ne'ebé udan la tama iha laran, maski uma sira-ne'e balu kiak de'it.
Ne'e buat triste bainhira makaer sira tuur iha sira-nia kadeira no la hanoin problema sira-ne'e no buka de'it justifikasaun ba hahalok ladi'ak ka beik envezde buka solusaun...
Dili, 7 Janeiru 2006
Udan tama iha uma-laran iha uma ne'ebé ha'u hela bá. Ne'e bele haree hanesan buat ida ladún importante, iha uma seluk tan iha Timór ne'ebé udan tama iha laran, maibé uma hirak-ne'e la kusta folin karun paramate hanesan folin ne'ebé Kooperasaun Portugeza selu ba uma ne'e. No lalika buka esplikasaun la hun la dikin, hodi temi serbisu-na'in timoroan sira-nia profisionalizmu ne'ebé la iha. Tebes katak kualidade maun-de-obra iha-ne'e seidauk di'ak, maibé iha uma ne'ebé uluk ha'u hela bá durante tinan tolu ho balun nunka udan iha uma-laran, no uma ne'e mós instituisaun portugeza ida maka harii (fila fali). Ha'u-nia belun timoroan barak hela iha uma ne'ebé udan la tama iha laran, maski uma sira-ne'e balu kiak de'it.
Ne'e buat triste bainhira makaer sira tuur iha sira-nia kadeira no la hanoin problema sira-ne'e no buka de'it justifikasaun ba hahalok ladi'ak ka beik envezde buka solusaun...



Selae ba pormenór lojístika nian hanesan ne'e, ha'u kontinua haksolok tebes ho ha'u-nia serbisu. No ha'u la haluha katak instituisaun ne'ebé ha'u serbisu daudaun ba sira kontrata ha'u bainhira kbiit nakukun nian, ne'ebé Señora Sensura-Na'in maka ukun, hamriik hodi halo aat mai ha'u. Ema-Boot balu la gosta ema-ki'ik ne'ebé ko'alia lia-loos...
Enfín, hanesan kantadór-intervensaun portugés Zeca Afonso uluk hananu:
[kantiga ne'e kanta ho lia-portugés – ha'u só tradús nia liafuan ne'e ba tetun ba timoroan sira hotu atu bele komprende]
Bainhira ema aat sira haree husi janela
Bainhira ema aat sira haree husi janela
Saida maka presiza
Bainhira paun ne'ebé ó han nia gostu hanesan teen
Saida maka presiza
Saida maka presiza maka aviza ema sira
Saida maka presiza
Saida maka presiza maka aviza ema sira
Saida maka presiza
Bainhira nunka bele toba-dukur iha rai-kalan
Saida maka presiza
Bainhira nunka bele halakon sentimentu hirus
Saida maka presiza
Saida maka presiza maka fó-neon ba ema sira
Saida maka presiza
Saida maka presiza maka hadeer ema sira
Saida maka presiza
Bainhira labarik nunka bele moris hanesan labarik
Saida maka presiza
Bainhira ó hatene katak buat ruma atu akontese
Saida maka presiza
Saida maka presiza maka fó-neon ba ema sira
Saida maka presiza
Saida maka presiza maka dudu ema sira
Saida maka presiza
Bainhira asu ida tata ó-nia ain
Saida maka presiza
Bainhira iha dalan-sikun sempre iha ulun-fatuk ida hafuhu
Saida maka presiza
Saida maka presiza maka fó-neon ba ema sira
Saida maka presiza
Saida maka presiza maka dudu ema sira
Saida maka presiza
Bainhira mane ida toba iha valeta-kuak
Saida maka presiza
Bainhira sira dehan katak buat sira-ne'e hotu ko'alia leet de'it
Saida maka presiza
Saida maka presiza maka book ema sira-nia hanoin
Saida maka presiza
Saida maka presiza maka liberta ema sira
Saida maka presiza
Se patraun la muda an ho liafuan-hahi'i ida ka rua
Saida maka presiza
Se faxista halo konspirasaun subar iha mahon
Saida maka presiza
Saida maka presiza maka aviza ema sira
Saida maka presiza
Saida maka presiza maka fó kbiit ba ema sira
Saida maka presiza
sexta-feira, janeiro 06, 2006
tocodede
Díli, 6 de Janeiro de 2006
Saiu ontem – com bastante atraso – o último “Semanário”, que traz como suplemento o “Várzea de Letras” no qual aparece a tradução para tocodede do meu artigo sobre literatura de Timor. Eu e a Anoi é que traduzimos o texto, com ajuda da Cesaltina. Que eu saiba é o primeiro texto publicado em tocodede na história desta língua.
Alguns malais, normalmente portugueses, dizem que eu sou maluco por gastar tempo e energia para procurar dominar uma língua como o tocodede. Dizem eles que nem o tétum vale a pena aprender, porque não serve para nada no mundo lá fora. Alguns desses estão por aqui – supostamente para trabalhar em cooperação com os timorenses – há muitos anos.
Muitos desses malais vão sair de Timor um dia sem nunca terem tido um amigo timorense. Deve ser triste ser assim.
Muitos desses malais só falam com os timorenses que lhes limpam a casa, com as empregadas de mesa nos restaurantes, com os formandos a quem dão aulas... Por isso passam a maior parte do tempo a falar sozinhos, ou ouvem timorenses em conversas da treta que lhes dizem aquilo que eles querem ouvir, que é como os portugueses são boas pessoas e como estão ansiosos por aprender a língua portuguesa. Na verdade a opinião generalizada entre os timorenses é que os portugueses que por cá andam são uns pedantes. É com tristeza que eu constato a surpresa dos taxistas e das pessoas comuns na rua ou no mercado quando, depois de um bocado de conversa (em tétum), eu digo que venho de Portugal – como falo fluentemente tétum pensavam que eu era australiano, ou quando muito brasileiro!
A postura desses portugueses é apoiada pela existência de malais importantes sentados em gabinetes em Lisboa que tomam decisões como a de usar o “Auto da Barca do Inferno” de Gil Vicente como um texto de estudo num curso de português L2/LE, cujos aprendentes têm grande dificuldade em compreender e interpretar textos em língua portuguesa contemporânea.
E adiante... Eu cá vou andando “com a cabeça entre as orelhas”, e estou a aprender tocodede. Digamos que é mais um passo adiante, agora em direcção ao mundo das montanhas.
JP Esperança

Dili, 6 Janeiru 2006
Horisehik foin sai – tarde liu ona – “Semanário” ikus, ne'ebé inklui “Várzea de Letras” nu'udar suplementu no iha tradusaun ba tokodede husi ha'u-nia artigu kona-ba literatura kona-ba Timór. Ha'u ho Anoi maka tradús testu ne'e, ho ajuda husi Cesaltina. Tuir buat ne'ebé ha'u hatene ne'e testu dahuluk ne'ebé publika iha dalen tokodede iha Istória lian ida-ne'e nian.
Malai balu, baibain portugés sira, dehan katak ha'u bulak tanba ha'u gasta tempu ho enerjia hodi buka ko'alia moos lian ida hanesan tokodede. Sira hateten katak tetun rasik mós la di'ak atu aprende, tanba la serve ba buat ida iha mundu iha li'ur. Balu husi malai sira-ne'e hela iha-ne'e – parese katak sira-nia knaar atu serbisu lisuk ho timoroan sira – tinan barak tiha ona.
Barak husi malai sira-ne'e sei sai husi Timór loron ida no sira nunka iha belun timoroan ida. Ha'u hanoin katak ne'e buat triste bainhira ema hanesan ne'e.
Barak husi malai sira-ne'e só ko'alia ho timoroan ne'ebé hamoos sira-nia uma-laran, ho empregada-meza iha restaurante, ho alunu sira ne'ebé sira hanorin... Tanba ne'e sira pasa sira-nia tempu barakliu ko'alia mesamesak, ka rona timoroan dehan leet de'it buat ne'ebé malai sira hakarak rona, katak ema-portugés sira laran-di'ak no katak sira ansi loos atu aprende dalen portugés. Tebes maka timoroan sira barakliu hanoin katak malai portugés sira ne'ebé hela iha-ne'e halo an de'it. Ha'u sente laran-kraik bainhira ha'u haree taksista ka ema baibain iha lurón ka iha basar hakfodak loos bainhira, liutiha ami ko'alia uitoan (ho lian tetun), ha'u hateten katak ha'u mai husi Portugál – tanba ha'u ko'alia tetun moos sira hanoin katak ha'u ema-Austrália, ka pelumenus ema-Brazíl!
Buat ida ne'ebé haberan malai portugés sira-nia jeitu ne'e maka iha malai boot sira ne'ebé tuur iha gabinete iha Lizboa no foti desizaun hanesan uza “Auto da Barca do Inferno” [pesa-teatru hakerek ho lia-portugés tinan atus barak liubá nian] husi Gil Vicente nu'udar testu atu estuda iha kursu lia-portugés nu'udar lian daruak ka lian rai-li'ur nian, ne'ebé alunu sira iha kursu ne'e susar tebetebes atu komprende no interpreta testu ne'ebé uza lian portugés agora daudaun nian.
Maibé mai ita la'o ba oin... Ha'u ne'e kontinua la'o daudaun ho “ha'u-nia kakutak iha tilun sira-nia klaran”, no ha'u aprende hela tokodede. Ita bele dehan katak ne'e hakat ida tan ba oin, agora iha diresaun ba mundu foho nian.
JP Esperança
Saiu ontem – com bastante atraso – o último “Semanário”, que traz como suplemento o “Várzea de Letras” no qual aparece a tradução para tocodede do meu artigo sobre literatura de Timor. Eu e a Anoi é que traduzimos o texto, com ajuda da Cesaltina. Que eu saiba é o primeiro texto publicado em tocodede na história desta língua.
Alguns malais, normalmente portugueses, dizem que eu sou maluco por gastar tempo e energia para procurar dominar uma língua como o tocodede. Dizem eles que nem o tétum vale a pena aprender, porque não serve para nada no mundo lá fora. Alguns desses estão por aqui – supostamente para trabalhar em cooperação com os timorenses – há muitos anos.
Muitos desses malais vão sair de Timor um dia sem nunca terem tido um amigo timorense. Deve ser triste ser assim.
Muitos desses malais só falam com os timorenses que lhes limpam a casa, com as empregadas de mesa nos restaurantes, com os formandos a quem dão aulas... Por isso passam a maior parte do tempo a falar sozinhos, ou ouvem timorenses em conversas da treta que lhes dizem aquilo que eles querem ouvir, que é como os portugueses são boas pessoas e como estão ansiosos por aprender a língua portuguesa. Na verdade a opinião generalizada entre os timorenses é que os portugueses que por cá andam são uns pedantes. É com tristeza que eu constato a surpresa dos taxistas e das pessoas comuns na rua ou no mercado quando, depois de um bocado de conversa (em tétum), eu digo que venho de Portugal – como falo fluentemente tétum pensavam que eu era australiano, ou quando muito brasileiro!
A postura desses portugueses é apoiada pela existência de malais importantes sentados em gabinetes em Lisboa que tomam decisões como a de usar o “Auto da Barca do Inferno” de Gil Vicente como um texto de estudo num curso de português L2/LE, cujos aprendentes têm grande dificuldade em compreender e interpretar textos em língua portuguesa contemporânea.
E adiante... Eu cá vou andando “com a cabeça entre as orelhas”, e estou a aprender tocodede. Digamos que é mais um passo adiante, agora em direcção ao mundo das montanhas.
JP Esperança

Dili, 6 Janeiru 2006
Horisehik foin sai – tarde liu ona – “Semanário” ikus, ne'ebé inklui “Várzea de Letras” nu'udar suplementu no iha tradusaun ba tokodede husi ha'u-nia artigu kona-ba literatura kona-ba Timór. Ha'u ho Anoi maka tradús testu ne'e, ho ajuda husi Cesaltina. Tuir buat ne'ebé ha'u hatene ne'e testu dahuluk ne'ebé publika iha dalen tokodede iha Istória lian ida-ne'e nian.
Malai balu, baibain portugés sira, dehan katak ha'u bulak tanba ha'u gasta tempu ho enerjia hodi buka ko'alia moos lian ida hanesan tokodede. Sira hateten katak tetun rasik mós la di'ak atu aprende, tanba la serve ba buat ida iha mundu iha li'ur. Balu husi malai sira-ne'e hela iha-ne'e – parese katak sira-nia knaar atu serbisu lisuk ho timoroan sira – tinan barak tiha ona.
Barak husi malai sira-ne'e sei sai husi Timór loron ida no sira nunka iha belun timoroan ida. Ha'u hanoin katak ne'e buat triste bainhira ema hanesan ne'e.
Barak husi malai sira-ne'e só ko'alia ho timoroan ne'ebé hamoos sira-nia uma-laran, ho empregada-meza iha restaurante, ho alunu sira ne'ebé sira hanorin... Tanba ne'e sira pasa sira-nia tempu barakliu ko'alia mesamesak, ka rona timoroan dehan leet de'it buat ne'ebé malai sira hakarak rona, katak ema-portugés sira laran-di'ak no katak sira ansi loos atu aprende dalen portugés. Tebes maka timoroan sira barakliu hanoin katak malai portugés sira ne'ebé hela iha-ne'e halo an de'it. Ha'u sente laran-kraik bainhira ha'u haree taksista ka ema baibain iha lurón ka iha basar hakfodak loos bainhira, liutiha ami ko'alia uitoan (ho lian tetun), ha'u hateten katak ha'u mai husi Portugál – tanba ha'u ko'alia tetun moos sira hanoin katak ha'u ema-Austrália, ka pelumenus ema-Brazíl!
Buat ida ne'ebé haberan malai portugés sira-nia jeitu ne'e maka iha malai boot sira ne'ebé tuur iha gabinete iha Lizboa no foti desizaun hanesan uza “Auto da Barca do Inferno” [pesa-teatru hakerek ho lia-portugés tinan atus barak liubá nian] husi Gil Vicente nu'udar testu atu estuda iha kursu lia-portugés nu'udar lian daruak ka lian rai-li'ur nian, ne'ebé alunu sira iha kursu ne'e susar tebetebes atu komprende no interpreta testu ne'ebé uza lian portugés agora daudaun nian.
Maibé mai ita la'o ba oin... Ha'u ne'e kontinua la'o daudaun ho “ha'u-nia kakutak iha tilun sira-nia klaran”, no ha'u aprende hela tokodede. Ita bele dehan katak ne'e hakat ida tan ba oin, agora iha diresaun ba mundu foho nian.
JP Esperança
Etiquetas:
cooperantes,
Gil Vicente,
malai,
português L2/LE,
tétum,
tocodede
Subscrever:
Mensagens (Atom)