tag:blogger.com,1999:blog-206178242024-03-13T19:48:22.810+09:00hanoin oin-oinUm blog em português - e de vez em quando em tétum e em tocodede - sobre os devaneios de um professor e tradutor ilhavense a morar em Timor.
Sobre temas timorenses e do Oriente em geral, e sobre outras coisas de vez em quando...João Paulo Esperançahttp://www.blogger.com/profile/18049296108350472569noreply@blogger.comBlogger230125tag:blogger.com,1999:blog-20617824.post-32006751304476710392017-02-14T12:37:00.000+09:002017-03-07T00:54:34.660+09:00Tradução literária e técnica em Timor, línguas, mercado e produtores de bens culturais<a href="https://drive.google.com/file/d/0BxM2DEcR1qKNM1NjTVNGVXNDZkE/view" target="_blank">LEIA AQUI</a>.<br />
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://4.bp.blogspot.com/-UjZD26N0ffc/WKJ5qu4LkiI/AAAAAAAADWs/v9At8-SZdb4yfVioX-r7EPQ-acYsoMyLwCLcB/s1600/00%2BtraducaolittecnicaTimor.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://4.bp.blogspot.com/-UjZD26N0ffc/WKJ5qu4LkiI/AAAAAAAADWs/v9At8-SZdb4yfVioX-r7EPQ-acYsoMyLwCLcB/s320/00%2BtraducaolittecnicaTimor.jpg" width="255" /></a></div>
<br />João Paulo Esperançahttp://www.blogger.com/profile/18049296108350472569noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-20617824.post-75903880537900471162015-09-25T14:06:00.000+09:002015-09-25T14:06:15.141+09:00Refugiados e emigrantes (ou imigrantes, dependendo do ponto de vista)<div style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px; margin-bottom: 6px;">
Na década de 70 os portugueses que fugiram, na maioria com pouco mais do que a roupa no corpo, das ex-colónias em África eram refugiados com medo da guerra civil ou de regimes ditatoriais marxistas de partido único em que não se sentiam seguros. Chamaram-lhes "retornados", mas havia muitos que eram africanos, tinham lá nascido, e não estavam a "retornar" coisa nenhuma.<br />Os portugueses que iam em massa para a França, para a Alemanha, e para outras paragens, já antes do 25 de A<span class="text_exposed_show" style="display: inline;">bril (hoje estão a ir outra vez!), eram na maioria emigrantes, muitos clandestinos. Juntavam algum dinheiro para a viagem e iam tentar a sorte, procurando ganhar a vida em lugares onde se vivesse melhor. Esses eram os que se ficassem em Portugal não corriam à partida grande risco de serem assassinados ou torturados (também havia os que fugiam à tropa e à guerra colonial, mas muitos partiam - clandestinos ou não - já depois de terem feito a tropa e andado na guerra).<br />Os timorenses que fugiram para Atambua em 1975, quando as forças políticas a que estavam ligados perderam a guerra civil, eram refugiados. Fugiam com medo de serem torturados ou mortos.<br />As famílias timorenses de que ao longo da década de 90 costumávamos ir despedir-nos ao aeroporto da Portela, quando arrancavam para a Austrália, eram emigrantes - não corriam qualquer perigo em Portugal, mas iam tentar a vida num país com um nível de vida melhor.<br />Os milhares de timorenses-portugueses, portadores de passaporte português, que continuam a ir para a Inglaterra e Irlanda do Norte também são emigrantes. Ninguém os persegue aqui, partem por razões económicas.<br />Os timorenses que, acossados pelos militares indonésios e pelas milícias, se abrigaram no recinto da UNAMET em 99, e foram depois evacuados para a Austrália, eram refugiados. Os milhares e milhares que os tentaras e as milícias levaram para Atambua à força após o resultado do referendo ser anunciado eram uma espécie de reféns - quase todos estavam aterrorizados, mas o terror deles era causado precisamente pelos que os levaram para lá.</span></div>
<div class="text_exposed_show" style="background-color: white; display: inline;">
<div style="color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px; margin-bottom: 6px;">
A distinção entre refugiados e emigrantes clandestinos é importante. Dizia-se há umas décadas que havia um milhão de portugueses na França, não se podia esperar que o Estado francês lhes desse a todos os apoios que se devem dar aos refugiados, mas podia-se fazer campanha pela concessão do estatuto de refugiado àqueles que fugiam para lá para não serem presos pelas suas atividades políticas contra a ditadura em Portugal.</div>
<div style="color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px; margin-bottom: 6px;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 6px;">
<span style="color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif;"><span style="font-size: 14px; line-height: 19.32px;"><a href="http://vestibular.uol.com.br/resumo-das-disciplinas/atualidades/fronteiras-recentes-tragedias-agravam-o-problema-da-imigracao-na-europa.htm">http://vestibular.uol.com.br/resumo-das-disciplinas/atualidades/fronteiras-recentes-tragedias-agravam-o-problema-da-imigracao-na-europa.htm</a></span></span></div>
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João Paulo Esperançahttp://www.blogger.com/profile/18049296108350472569noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-20617824.post-63149290853550306362015-08-05T03:37:00.001+09:002015-08-05T21:49:21.882+09:00A espera<!--[if gte mso 9]><xml>
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A data prevista está ultrapassada. Vamos à consulta já com a
tralha toda no carro, para o caso de ser necessário ficar já internada. É de
facto assim, e dirigimo-nos então para a maternidade, na outra ponta do
hospital. A Mana Di vai depois lá ter. De ambos os lados da sala de partos, a
todo o comprimento, há divisões, feitas com cortinas, onde acontecem os partos,
com duas parturientes por divisão. Eu fico fora da sala de partos, os homens não
podem permanecer, só podem entrar e sair, para verem o seu filho e mulher
depois do nascimento. As parturientes levam uma familiar ou amiga para as
acompanhar durante a sua provação. Cá fora famílias sentam-se no relvado, como
nos piqueniques do 1º de maio da minha infância, mas aqui não há risadas e animação.
As mulheres sentam-se juntas, falam em sussurros com o ar entendido de
veteranas, com o respeito solidário de quem já lutou muitas batalhas, algumas
terão talvez já perdido algumas. Os homens, de aspeto esgazeado, ficam na
maioria calados. Há um grupo de militares das FDTL, vários de camuflado, outros
à paisana, provavelmente um terá a mulher lá dentro e os restantes fazem
companhia ao camarada. Os homens, em geral, parecem perdidos ali, soldados de
retaguarda que da janela do seu escritório veem partir para uma incursão perigosa
atrás das linhas inimigas um pelotão de tropas especiais, admirando de longe com
apreensão um tipo de heroísmo que lhes está vedado. É só para mulheres, que são
o sexo forte. Há uma estátua da Nossa Senhora de Fátima no hall de entrada, de
vez em quando vai alguém lá que lhe toca e se persigna, em oração silenciosa. De
resto, independentemente das religiões ou falta delas, todos compreendem
intuitivamente que aqui é território sagrado, um espaço onde é mais fina a
linha que divide a vida da tragédia. Timor-Leste conseguiu progressos
importantes nos últimos anos nesta área, mas ainda é altíssima a taxa de
mortalidade de mães e bebés. Só as crianças que por ali brincam permanecem
alheadas do drama – a maravilhosa inocência da infância.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Há um telheiro cá fora, à porta da maternidade, com
bastantes cadeiras, é a sala de espera. Tento concentrar-me nos passarinhos que
cantam nas árvores que rodeiam o edifício e ignorar os lamentos de dor que
chegam lá de dentro e os gritos estridentes de um grupo de equivalentes
indonésios do João Paião na televisão da sala de espera. Vejo famílias que partem,
passam com um recém-nascido nos braços, as suas trouxas e um balde (que pode
ter roupas sujas, ou a placenta para enterrar ou pendurar numa árvore, conforme
os costumes). A mulher combalida, de sorriso cansado, anda devagar. Em muitos
casos, as suas provações não terminaram. A tradição manda que a mulher que deu
à luz seja escaldada frequentemente no corpo com água quentíssima e que não
lave a cabeça durante quarenta dias, sofrendo estoicamente a caspa e a gordura
e os piolhos. Para boa parte das famílias a tradição ainda é o que era. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
De vez em quando uma maca de rodas transportando uma mulher
sai da maternidade e entra pelos corredores resguardados com telheiros que, por
entre as zonas de relva, levam a outros edifícios. Creio que vão para as
cesarianas, realizadas noutro local. Um jardineiro desenrolou uma mangueira que
atravessa o primeiro destes corredores e todas as macas têm de dar um saltinho à
força de braços. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Minutos depois das duas da tarde, a Mana Di vem-me chamar. A
minha filha nasceu. Ela e a mãe estão bem. Correu tudo bem, parto normal como os dois mais velhos, por baixo do seu ar pequenino e meigo a minha mulher é uma Super-Mulher discreta. Agora já posso entrar. Vou pegar na
minha menina ao colo, falar com a minha mulher. O alívio e a felicidade
misturam-se, é como se me tirassem um peso de cima. Entretanto é preciso sair
dali, há outra senhora no mesmo cubículo à espera de dar à luz, fico a aguardar
no hall que elas sejam transferidas para um dos quartos de permanência
pós-parto. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Enquanto por ali espero, um segurança aparece a berrar lá
fora por um altifalante que a hora da visita já acabou. A sério! Com um
altifalante! Com apenas uma parede a separá-lo de umas duas dúzias de mulheres
em pleno trabalho de parto! Repetiu a sua cantilena sem parar durante uns dez
minutos: “a visita já acabou, as pessoas que vieram de visita têm que
desaparecer da sala de espera, há gente que anda aqui a fumar, até há mulheres
que andam aqui a fumar, a visita já acabou, etc, etc.”</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
No quarto do pós-parto o ambiente é muito mais descontraído.
Mães e parentes conversam comparando experiências, umas tiveram uma boa hora,
outras tiveram uma hora não tão boa, mas o pior já passou. A Fernanda e a
Cármina dormem lá a primeira noite, acompanhadas pela Mana Di. No dia seguinte
de manhã ainda tenho oportunidade de ouvir, da porta, parte do sermão da
profissional de saúde que prega – sabendo que em muitos casos é em vão – contra
os aspetos mais nefastos da tradição, dando bons conselhos às mães. A minha
mulher e filha têm alta pelas dez da manhã. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
É a nossa vez de partir, fazendo o cortejo feliz de
celebração da vida.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-_xMFefFx-jE/VcEGZUS3xbI/AAAAAAAADQU/syM5EMbqXAc/s1600/IMGP6315.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="http://4.bp.blogspot.com/-_xMFefFx-jE/VcEGZUS3xbI/AAAAAAAADQU/syM5EMbqXAc/s320/IMGP6315.JPG" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
João Paulo Esperançahttp://www.blogger.com/profile/18049296108350472569noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-20617824.post-72765745158954998692015-05-07T12:54:00.000+09:002015-05-08T11:33:56.753+09:00Um comentário sobre a variedade timorense da língua portuguesaAcabo de ler um texto que falava sobre as possibilidades de desenvolvimento de uma norma própria para a variedade timorense da língua de Luís Cardoso, Jorge Amado e Saramago. Acho que, mesmo nos PALOP, a afirmação de uma norma própria não é tão pacífica como às vezes se pensa... Parece-me que Moçambique é onde foram dados mais passos nessa direção. Há recetividade em relação à incorporação de itens lexicais específicos de cada um dos países, mas muito mais reticências em relação a outros aspetos. Aqui alguns dos traços da variedade timorense do português que eu observava quando cheguei, em 2001, mantém-se. Por exemplo, construções do tipo "Escreve ainda" (transferência do "<i>Hakerek lai</i>") são quase omnipresentes nas várias gerações de falantes, incluindo as crianças, e parece-me que estão cá para ficar. Uma frase como "Deixa ele comer ainda" já me parece menos estável, porque pode ser simplesmente uma realização própria de interlíngua substituída por "Deixa-o comer ainda" quando o falante tiver um domínio melhor da língua. No léxico, palavras como "liurai" estão perfeitamente incorporadas na variedade local do português, mas vejo que há vocábulos do português como "néli" que foram usados - em português - por muitas gerações de timorenses, e que parecem de utilização menos comum pela mocidade; creio que a razão é que os <i>inputs </i>são diversos, e muitos deles vêm de falantes de outras variedades do português (não a variedade timorense). Os bordões linguísticos são uma área particularmente gira. Se prestarem atenção às cachopas e garotos timorenses a falar português vão ouvir coisas como "Foi ele <i>sá</i>!" ou "É este <i>tó</i>!"João Paulo Esperançahttp://www.blogger.com/profile/18049296108350472569noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-20617824.post-13324826079304015102015-05-07T12:32:00.000+09:002015-05-07T12:32:08.149+09:00Como dizia o Bruce Lee: "“Absorb what is useful, discard what is not". A propósito do português língua do ensino em Timor...<div style="text-align: justify;">
Num congresso em Díli, há alguns anos, em que se falou sobre o uso das línguas maternas como línguas do ensino (=línguas de instrução), um dos oradores convidados foi um maori que falou sobre o sucesso das <a href="http://www.kiwifamilies.co.nz/articles/kohanga-reo/" target="_blank">Kōhanga Reo</a>. Parece-me um modelo que Timor poderia analisar para ver o que pode ser útil para cá: </div>
<div style="text-align: justify;">
- os maoris perceberam que menos de 20% dos maoris falavam bem maori, </div>
<div style="text-align: justify;">
- a sua liderança definiu um projeto político em que falar bem maori era um objetivo político e identitário claro, </div>
<div style="text-align: justify;">
- criaram uma rede de pré-escolas em que crianças cuja língua materna era o inglês (filhos de pais que falavam inglês e não maori em casa) aprendiam maori e <b>em </b>maori. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Por cá os líderes políticos timorenses eleitos pelo povo é que têm de decidir se a língua portuguesa faz realmente parte do seu projeto político e identitário ou não...</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<div id="articleTitle" style="font-family: Tahoma, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 11.1999998092651px; height: 60px; text-align: start;">
<h1 style="color: #333333; font-size: 14px; font-stretch: normal; margin: 0px; padding: 0px;">
Interação da língua portuguesa, do tétum e da fé criou nação timorense - Ex-PM Alkatiri</h1>
<div class="date" style="clear: left; left: auto; padding: 5px 0px 0px 5px; top: auto;">
07 de Maio de 2015, 10:10</div>
</div>
<div id="articleBody sapoArtBody" style="font-family: Tahoma, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 11.1999998092651px; text-align: start;">
<div style="font-size: 12px; line-height: 17px; margin-bottom: 10px; margin-right: 10px; margin-top: 10px; padding: 0px;">
</div>
<span style="font-size: x-small;"><span style="font-weight: bold;">A tripla interação entre a língua portuguesa, o tétum praça e a fé católica e animista levou ao nascimento da "grande casa sagrada" que é a nação timorense, afirmou ontem o ex-primeiro-ministro timorense Mari Alkatiri.</span></span><div style="text-align: center;">
<img align="middle" alt="" border="0" height="355" hspace="5" src="http://imgs.sapo.pt/gfx/24/17/586066.gif" style="border: 0px;" vspace="5" width="500" /></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: xx-small;"><span style="font-weight: bold;">Foto: Pedro Sá de Bandeira/EPA</span></span></div>
<span style="font-size: x-small;"><div style="font-size: 12px; line-height: 17px; margin-bottom: 10px; margin-right: 10px; margin-top: 10px; padding: 0px;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 18.3999996185303px;"></span></div>
"Para se compreender a importância da língua portuguesa, tem que se entender a mesma na sua interação com o tétum praça. E a interação entre as duas línguas e a fé dos timorenses e entre o monoteísmo católico e a prática animista", afirmou ontem em Díli.<br /><br />Trata-se, disse, de elementos que servem como "oxigénio" para a reafirmação da identidade timorense, "em todo o seu mosaico" socio cultural pelo que questionar qualquer desses elementos coloca em risco essa identidade.<br /><br />Mari Alkatiri falava num colóquio em Díli subordinado ao tema "Uma língua - Várias identidades", inserido nos eventos da Semana da Língua Portuguesa do Parlamento Nacional.<br /><br />Em resposta a perguntas da plateia, Mari Alkatiri criticou o que disse ser a má política adotada nos últimos anos no ensino da língua, com comunicações no setor público em inglês ou indonésio.<br /><br />Como exemplo do que diz serem erros políticos sobre esta matéria, recorda que quando a troika chegou a Portugal foi convidado pelos então chefe de Estado, José Ramos-Horta e primeiro-ministro, Xanana Gusmão, para os acompanhar a Portugal "comprar dívida pública portuguesa".<br /><br />"Tínhamos 6 mil milhões de dólares no fundo petrolífero e queriam comprar dívida pública. Isso nem dá para fazer cantar um cego. Eu disse que preferia ir lá, mas era para contratar professores portugueses", afirmou.<br /><br />Alkaiti insistiu que esta política é essencial para defender a soberania timorense no contexto regional e sub-regional, e para defender o tétum que só se reforçará com o português e que, se se tentar desenvolver com o inglês ou indonésio "simplesmente desaparece".<br /><br />"A política nacional tem que ser muito clara. Se não o for seremos mais um país no lago australiano ou um meio Estado na extensão da Indonésia. Essa é a realidade", afirmou.<br /><br />"Fomos tão determinados a fazer a luta pela independência e estamos a perder a determinação de defender esta independência, os elementos que garantem a defesa desta independência", disse, criticando os que defendem o uso das línguas maternas que contribuem para "balcanizar" o país.<br /><br />Numa intervenção em que recordou o papel da língua portuguesa em Timor-Leste, "da colonização à libertação", Alkatiri disse que o português começou como uma "língua política e sociocultural de dominação", algo que se foi diluindo ao longo dos séculos.<br /><br />Um processo que ocorreu sem que o português tenha, em qualquer momento, deixado de ter interação com a sociedade timorense que o procurava sempre como aliado", especialmente nas duas ocupações, a japonesa e a indonésia.<br /><br />"Os timorenses intuitivamente ou empiricamente sabiam que a melhor forma de afirmar a sua diferença era manter esse vínculo à identidade lusófona", algo que os ajudava a defender-se das presenças invasoras "mais perigosas e dominadores".<br /><br /><a href="http://noticias.sapo.tl/portugues/info/artigo/1440262.html" target="_blank">@Lusa</a></span></div>
</div>
João Paulo Esperançahttp://www.blogger.com/profile/18049296108350472569noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-20617824.post-14979194208901510002015-04-21T00:25:00.000+09:002015-05-13T11:30:52.952+09:00O tétum não é um crioulo de base lexical portuguesa<div class="MsoNormal">
Volta e meia surge um texto de algum estudante das coisas das
línguas em Timor a dizer que o tétum é um crioulo de base lexical portuguesa, o
que é tão correto como dizer que o inglês é, na verdade, um crioulo de base
lexical francesa. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-iaIg0XuGbnc/VTUZLPvswaI/AAAAAAAADPU/uJ57tKjnpMU/s1600/00000000000000000.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="180" src="http://2.bp.blogspot.com/-iaIg0XuGbnc/VTUZLPvswaI/AAAAAAAADPU/uJ57tKjnpMU/s1600/00000000000000000.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Este livro (“Ordered <i>Profusion
– Studies in Dictionaries and the English Lexicon</i>”), por exemplo, diz que no
“<i>Shorter Oxford English Dictionary</i>”
28,30% das palavras têm origem no francês antigo, incluindo o anglo-francês, ou
no francês; 28,24% são de proveniência latina; e apenas 25% do vocabulário é de
origem germânica (juntando aqui também o inglês antigo, o inglês médio, o nórdico
antigo e o holandês. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
O tétum não é um crioulo de base lexical portuguesa; podemos
considerar que o tétum-praça é um crioulo cuja base lexical é o tétum-téric, o
português surge só como um superestrato posterior. A zona de Díli era originalmente
de língua mambai. É possível que muitos dos cerca de 1200 indivíduos (dos quais
15 eram brancos) que para cá vieram aquando da transferência da capital de
Lifau para aqui falassem um crioulo de base lexical portuguesa semelhante ao
crioulo de Malaca (ainda conhecido por alguns habitantes do antigo bairro de Bidau
na década de 50 do séc. XX), mas não falavam tétum (língua pouco relevante na
parte ocidental da ilha). O afluxo de gentes de vários lugares à capital provavelmente
levou a que o tétum, que na parte oriental da ilha já funcionava como língua
franca entre os vários reinos, se tornasse a língua de Díli. As línguas francas
tornam-se muitas vezes o idioma da população do centro urbano mais importante da
sua região; veja-se os casos do malaio Betawi que se tornou a língua de Batávia
(atual Jacarta), o crioulo malaio em Cupão e o crioulo guineense em Bissau. O
uso do tétum como língua segunda por uma grande quantidade de falantes de outros
idiomas, com destaque para os mambais, levou a que passasse por um processo de
simplificação, a que podemos chamar crioulização, mas continuando a ser de
origem tétum boa parte do léxico básico deste tétum-praça. Numa primeira fase
absorveu também muitos termos do malaio, língua franca do comércio entre ilhas,
depois passou por um processo de relexificação parcial com vocabulário do
português (daí que o tétum-praça atual – e não obstante algumas propostas
puristas recentes – inclua grande percentagem de léxico de origem portuguesa,
não apenas para os registos mais elevados e os domínios mais técnicos, mas
também para coisas do dia a dia como a fauna e flora locais, as saudações entre
as pessoas e os termos de parentesco). Mas continua a ser suficiente comparar
uma lista de Swadesh para o tétum-praça e para um crioulo de base lexical
portuguesa para ver as diferenças…</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
Outra coisa que se lê de vez em quando é que o tétum-praça se
chamaria assim por ser a língua do mercado. Devem pensar que estão da praça do
peixe de alguma vila piscatória portuguesa… A praça de armas era onde residia o
governador e a sua guarnição, era o centro urbano. O tétum-praça era portanto o
tétum da cidade (por modesta que fosse a cidade).</div>
João Paulo Esperançahttp://www.blogger.com/profile/18049296108350472569noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-20617824.post-63046627046611591772015-04-13T12:43:00.000+09:002015-04-13T12:49:05.977+09:00Línguas de ensino<div class="MsoNormal">
Há dias participei num debate no Facebook com uns colegas da
área da linguística e ensino sobre o significado do Artigo 8.º da Lei de
Bases da Educação (“<i>Línguas do sistema educativo</i>”), que diz que: ”<i>As línguas de
ensino do sistema educativo timorense são o tétum e o português.</i>” Creio que é
óbvio para quem saiba ler português que a intenção do legislador era dizer que
as escolas do sistema de ensino timorense têm que ensinar os diversos conteúdos
(matemática, ciências, etc) nas línguas oficiais, até porque a LBE foi aprovada
em 2008 e na legislatura de 2007-2012 o Parlamento Nacional também aprovou a
<a href="http://www.jornal.gov.tl/public/docs/2011/serie_1/serie1_no33.pdf" target="_blank">Resolução nº 20/2011</a>. Mas, como houve uma colega que defendeu uma
interpretação diferente, a de que a referência a “<i>línguas de ensino</i>” no artigo
8º significa que “<i>no sistema educativo timorense o tétum e o português são disciplinas
ou componentes curriculares</i>“, fiz uma pesquisa rápida na Internet para ver com
que significado é que a expressão “<i>línguas de ensino</i>” é usada pelos especialistas
no ensino de língua segunda e língua estrangeira. </div>
<div class="MsoNormal">
Eis alguns excertos de documentos que encontrei:</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Da Professora Doutora Maria José Grosso: </div>
<div class="MsoNormal">
"Os que são oriundos de países africanos e que têm o
português como língua segunda, (acepção de <b>língua
de ensino com estatuto oficial, ensinada nas escolas e que participa também na
socialização da criança e no seu desenvolvimento cognitivo</b>); estudam
português por razões académicas ou profissionais (ou os que em idade escolar
estão inseridos no Sistema do Ensino em Portugal). <a href="http://mha.home.sapo.pt/imagens/t4.pdf?hc_location=ufi" target="_blank">http://mha.home.sapo.pt/imagens/t4.pdf</a></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Ainda segundo Maria José Grosso (<i>et al</i>) no QuaREPE: </div>
<div class="MsoNormal">
“Os conceitos de língua materna, língua estrangeira, língua
segunda são conceitos polissémicos que não correspondem a uma definição linear.
O conceito de Língua Materna apela ao de língua da socialização, que, por
definição, transmite à criança a mundividência de uma determinada sociedade,
cujo principal transmissor é geralmente a família. O conceito de Língua
Estrangeira facilmente se define como a língua que não faz parte dessa
socialização primária, estando subjacente uma série de princípios
metodológicos. <b>Na tradição da didáctica
das línguas, o conceito de Língua Segunda ocorre frequentemente como a língua
que, não sendo materna, é oficial (ou tem um estatuto especial) sendo também a
língua de ensino e da socialização secundária</b>. Há, no entanto, alguns
autores que consideram que é Língua Segunda desde que os aprendentes estejam em
imersão linguística, num contexto em contacto com os falantes nativos da língua
que aprendem. Cf. Grosso (2005: 608).”</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Diz-nos Marie Quinn num texto de 2008 (Choosing Languages for
Teaching in Primary School Classrooms): </div>
<div class="MsoNormal">
“<span lang="EN-US">In
relation to the Portuguese, this position has been further strengthened by the
recent educational directive from the MEC. In this, Portuguese is identified to
take precedence as <b>the language of
education</b>, while Tetum, seen predominantly as an oral language, will serve
as an auxiliary language together with mother tongues:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
… dado que o Tétum ainda está em processo de desenvolvimento
e sendo uma língua predominantemente oral, o Português terá preferência como<b> língua de instrução ou ensino</b>. O
Tétum, particularmente, e as demais línguas maternas serão usadas como línguas
auxiliares pedagógicas, quando necessário, particularmente nos primeiro anos.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
… <span lang="EN-US">given
that Tetum is still in the process of development and being a predominantly
oral language, Portuguese will have preference as a <b>language of instruction or teaching language</b>. Tetum, particularly,
and the other maternal languages will be used as auxiliary pedagogical
languages, when necessary, particularly in the first years.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US">MEC 2006“<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
Do Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas:
</div>
<div class="MsoNormal">
"No exemplo sumário que se apresenta de seguida, que
trata daquilo que pode ser pensado pelas opções ou variações de cenário, são
delineados dois tipos de organização e de decisões curriculares para um
determinado sistema escolar, de forma a incluir, como acima foi sugerido, duas
línguas modernas para além da <b>língua de
instrução (convencionalmente, mas de forma errada, referida abaixo como língua
nativa, uma vez que todos sabem que a língua do ensino, até na Europa, não é,
frequentemente, a língua materna dos alunos</b>): uma língua iniciada na escola
primária (língua estrangeira 1, daqui por diante LE1), outra no nível
secundário inferior (língua estrangeira 2, daqui por diante LE2) e ainda outra
(LE3) como disciplina opcional, no ensino secundário de nível mais
avançado." <span lang="EN-US"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US">De Isabel
Leiria:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US">“</span>Não
se pense, contudo, que a unanimidade tem sido absoluta entre os africanos (do
mesmo modo que não tem sido entre os portugueses), não quanto à opção do
português como língua oficial, mas como <b>primeira
e única língua de ensino e de alfabetização</b>. (...) Experiências de ensino
bilingue têm sido ensaiadas, mas sem grande sucesso. Na Guiné-Bissau, por
exemplo, no ano lectivo de 1977/78, com o apoio de Paulo Freire, foram criados
Centros de Educação Popular Integrada (CEPI). Foi decidido utilizar "a
língua comunitária, o crioulo, como língua de ensino para melhor facilitar a
aprendizagem dos conteúdos e a inserção das crianças na escola." Os
resultados não foram muito visíveis, porque nas zonas de implantação dos CEPI
(manjaca, balanta e bijago) o crioulo não era língua veicular para estas
populações, porque se continuava a fazer sentir a influência dos ensinamentos
de Amílcar Cabral (a língua oficial é o português) e porque "a população
tem uma atitude passiva e às vezes mesmo negativa quanto à introdução do
crioulo" (Barreto 2005).”</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
No documento “Diversidade Linguística na Escola Portuguesa”
do ILTEC: </div>
<div class="MsoNormal">
“Por enquanto, em Portugal, todas as aprendizagens (para
além das línguas estrangeiras) são feitas em língua portuguesa, mesmo que,
através das equivalências, os alunos originários de outros países se possam
integrar num qualquer ano do ensino básico sem dominarem, ou dominando mal, <b>a língua de ensino que para eles é língua
segunda</b>.”</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Portanto, está demonstrado que muitos importantes
especialistas usam os termos “<i>língua de ensino</i>” e “<i>língua de instrução</i>” como
sinónimos, com o significado de língua em que funciona o sistema educativo. E,
de resto, não é apropriado para estudantes destas coisas usar malabarismos
terminológicos para tentar convencer os outros das suas opiniões; a pedagogia e
a linguística não são como na matemática, em que 2+2 são sempre 4, e basta ler
autores como Skinner, Lado, Chomsky, Bley-Vroman, Krashen, Zobl, Schwartz, White,
etc, para perceber que há distintas formas de definir os conceitos e muitas
teorias diferentes sobre como funciona a aprendizagem da língua segunda (ou
aquisição da língua segunda – nem sobre isto os especialistas se entendem).</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
A política linguística de um país é definida pelos
representantes democraticamente eleitos do povo desse país, não por técnicos. O
papel dos técnicos é implementar a decisão política. </div>
João Paulo Esperançahttp://www.blogger.com/profile/18049296108350472569noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-20617824.post-80082528277450244452015-04-03T21:39:00.000+09:002015-04-03T21:39:25.285+09:00Saber ler é importante, e mais ainda quando se sabe ler numa língua em que há livros...<span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, 'lucida grande', sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px;">Quando parecia que as línguas oficiais consagradas na Constituição já não eram motivo de polémica, e que o aparelho do Estado estava mobilizado para a implementação de uma política linguística comum, o recente debate público sobre a introdução das línguas regionais como línguas de instrução no sistema educativo veio dar uma nova visibilidade a algumas vozes que rejeitam o português como língua oficial, com o argumento de que usar o português “é ser colonizado”. Um dos fóruns </span><span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, 'lucida grande', sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px;">onde defendem essa posição é o Facebook. Um alucinado qualquer partilhou um “post” meu [<a href="https://www.facebook.com/jpesperanca.timor/posts/1039876492706556" style="color: #3b5998; text-decoration: none;" target="_blank">https://www.facebook.com/<wbr></wbr>jpesperanca.timor/posts/<wbr></wbr>1039876492706556</a>] num grupo timorense do Facebook chamando-me “fascista” e “colonialista” por causa do que digo sobre a língua de alta cultura.<br />Respondi-lhe com links para os livros traduzidos para tétum registados no Index Translationum da UNESCO, que são 3:</span><br />
<span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, 'lucida grande', sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px;"><br /></span>
<span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, 'lucida grande', sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px;"><a href="http://www.unesco.org/xtrans/bsresult.aspx?a&stxt&sl" rel="nofollow" style="color: #3b5998; text-decoration: none;" target="_blank">http://www.unesco.org/<wbr></wbr>xtrans/bsresult.aspx?a=&stxt=&<wbr></wbr>sl=</a>... </span><br />
<span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, 'lucida grande', sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px;"><br />e os traduzidos para português registados na mesma lista, que são 80602:</span><br />
<span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, 'lucida grande', sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px;"><br /></span>
<span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, 'lucida grande', sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px;"><a href="http://www.unesco.org/xtrans/bsresult.aspx?a&stxt&sl" rel="nofollow" style="color: #3b5998; text-decoration: none;" target="_blank">http://www.unesco.org/<wbr></wbr>xtrans/bsresult.aspx?a=&stxt=&<wbr></wbr>sl=</a>... </span><br />
<span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, 'lucida grande', sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px;"><br />Sei que ambas as listas estão incompletas, mas já dá para ter uma ideia do que eu queria dizer. :-)</span>João Paulo Esperançahttp://www.blogger.com/profile/18049296108350472569noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-20617824.post-84356480396316679182015-04-03T21:32:00.000+09:002015-04-03T21:32:49.074+09:00"Pedagogos" pobres de espírito<span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, 'lucida grande', sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px;">Há um discurso preocupante em certos círculos pedagógicos que se movem por cá, o de que é “ser colonizado” poder ler como estas crianças* leem e que os alunos das escolas rurais só podem ler meia dúzia de livrinhos “sobre a realidade da sua aldeia”. Como na aldeia não há astronautas, nem comboios, nem girafas e leões, nem pinguins, nem mulheres arqueólogas ou cirurgiãs, nem tantas outras coisas, os miúdos não podem ler sobre essas coisas. Esses “pedagogos” parecem querer impedir as crianças de sonhar… Cria-se assim um fosso entre as crianças educadas em escolas que os preparam para ser futuros cidadãos do seu país e cidadãos do mundo (mesmo que morem na aldeia), e as que são preparadas para terem horizontes curtos que não vão além do seu knua… </span><br />
<span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, 'lucida grande', sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px;">Haver contextualização de materiais não significa fechar as janelas!</span><br />
<span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, 'lucida grande', sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px;"><br /></span>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-eGMlghgqiLA/VR6HXVQm-kI/AAAAAAAADPA/Ayd0O9Cg0MU/s1600/IMGP4132%2B(2).JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-eGMlghgqiLA/VR6HXVQm-kI/AAAAAAAADPA/Ayd0O9Cg0MU/s1600/IMGP4132%2B(2).JPG" height="240" width="320" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-ge0niWAGm-I/VR6HVnjp3jI/AAAAAAAADO4/9F1zd7K-nwc/s1600/IMGP4576.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-ge0niWAGm-I/VR6HVnjp3jI/AAAAAAAADO4/9F1zd7K-nwc/s1600/IMGP4576.JPG" height="240" width="320" /></a></div>
<span style="color: #141823; font-family: helvetica, arial, lucida grande, sans-serif;"><span style="background-color: white; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px;"><br /></span></span>
<span style="color: #141823; font-family: helvetica, arial, lucida grande, sans-serif;"><span style="background-color: white; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px;"><br /></span></span>
<span style="color: #141823; font-family: helvetica, arial, lucida grande, sans-serif;"><span style="background-color: white; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px;">* que são os meus meninos.</span></span>João Paulo Esperançahttp://www.blogger.com/profile/18049296108350472569noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-20617824.post-45796855629912395502015-03-21T02:01:00.000+09:002015-03-21T02:03:55.899+09:00Ainda a polémica das línguas maternas no sistema educativo timorense:<br /><br />(1) - Deve haver poucos educadores de infância ou professores primários em Timor que não falem tétum (e suponho que seja procedimento padrão no Ministério da Educação não contratar professores que não saibam tétum).<br /><br /><br />(2) – As crianças, mesmo aquelas que não têm o tétum como uma das suas línguas maternas, tornam-se na maior parte das comunidades rapidamente bilingues assim que entram na escola, de forma natural, ao brincar e conviver no recreio com crianças provenientes de famílias com línguas maternas diversas. O tétum tornou-se língua franca de Timor de forma natural, como uma maneira prática de as comunidades se entenderem, mesmo antes de o tétum ser língua oficial e uma das línguas da escola. Qualquer fataluco ou baiqueno que venha morar para Díli vê os seus filhos (antes monolingues na língua regional) a falar tétum com os vizinhos poucos meses depois de chegarem, de forma natural, sem ser sequer preciso ensiná-los.<br /><br /><br />(3) – O tétum é em Timor-Leste a língua de unidade nacional, a língua em que toda a gente se pode entender, em que o povo (mesmo as crianças da escola primária) pode ver as notícias na televisão nacional. O português é a língua oficial que dá acesso à alta cultura, ciência, etc (não porque o tétum não pudesse ser língua de ciência, mas porque as condições sócio-económicas e demográficas não o permitem: o mercado leitor timorense é reduzido, os produtores de conhecimento e bens culturais de alta cultura em tétum são muito poucos).<br /><br /><br />(4) – Uma criança leitora é um professor de si mesmo. Desde que tenha aprendido a ler numa língua em que há livros.<br /><br /><br />(5) – Uma criança aprende mais facilmente línguas quando é pequenina.<br /><br /><br />(6) – As pré-escolas e escolas primárias timorenses podem ser facilmente lugares de imersão em tétum, já que todos os professores, e muitos dos alunos, falam esta língua. A questão depois seria planificar o ensino do português, logo desde a chegada à pré-escola, e dar aos professores que ainda não dominam este idioma as aulas planificadas que os ajudem no seu trabalho. Será que se justifica trazer as línguas regionais para a equação?João Paulo Esperançahttp://www.blogger.com/profile/18049296108350472569noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-20617824.post-40266422353415928242014-01-05T05:54:00.000+09:002014-01-05T06:05:16.175+09:00Ainda o jogo do pau - Resposta a Frederico Martins<!--[if gte mso 9]><xml>
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<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;">O meu texto
partilhando algumas das minhas inquietações sobre os rumos atuais do jogo do
pau motivou uma resposta interessante de Frederico Martins, à qual vou tentar
responder aqui:</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<br />
<blockquote class="tr_bq">
<div class="MsoNormal" style="margin-left: .5in;">
<i><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;">Olá João,<br />
<br />
Não sou um erudito do jogo do pau nem da cultura portuguesa. Tenho feito um
esforço de investigação, dentro dos limites do meu conhecimento, e partilho do
desejo de ver o jogo do pau a ser estudado mais profundamente por alguém mais
capaz. Darei as minhas opiniões como o meu ponto de vista, que não pretende ser
uma verdade absoluta, mas sim a minha interpretação actual, que face à escassez
de fontes, nunca posso afirmar com grandes certezas.<br />
<br />
Não vejas isto como uma oposição aos teus argumentos, pois concordo pelo menos
com a grande parte destes, e até apresento mais alguns pontos a favor, no
entanto esta é a forma como vejo estas questões do ponto de vista de um
praticante de Esgrima Lusitana e amante do Jogo do Pau.</span></i></div>
</blockquote>
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;">Também não sou um
erudito do jogo do pau ou da cultura portuguesa e, como tu, tenho mais
perguntas do que respostas... E de resto uma abordagem científica não significa
apresentar-se como detentor da verdade, mas sim como alguém que tem opiniões
fundamentadas, que podem ser invalidadas por novos dados.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 1.0in;">
<span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;"><br />
</span></div>
<br />
<blockquote class="tr_bq">
<span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;">
<i>1- “Jogo” e “pau” //Acho o problema não só na palavra jogo mas também na
palavra “pau” não desgosto da expressão, de forma alguma, mas vejo na população
em geral o torcer do nariz à apresentação da mesma. E foi nesse sentido que se
tentou aplicar o nome de Esgrima Lusitana.</i></span><i><br /><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;">
</span><br /><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;">
Para suportar o nome de jogo do pau, poderia acrescentar que já vi em alguns
textos antigos portugueses a expressão “mestre no jogo das armas” ou “jogar às
armas” o que indica que na cultura portuguesa o “jogo” significava também
treino militar.</span><br /><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;">
</span><br /><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;">
Vários outros tratados de armas Italianos pelo menos também se referem a treino
militar como “jogo”, como Achille Marozzo (1484-1553), Antonio Manciolino Séc.
XVI, entre outros. Por exemplo, fazendo distinção entre “gioco stretto” e
“gioco largo” referindo-se a diferentes distâncias. Estes tratados falam
geralmente de vários tipos de armas e não de uma espada especifica.</span><br /><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;">
</span><br /><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;">
Nessa altura não creio que fizesse confusão a ninguém. No entanto a esgrima
olímpica não se chama jogo de espada, mas sim esgrima, e hoje em dia, na população
em geral, jogo já não tem nenhuma conotação marcial e como já referi
anteriormente, é mal interpretado por quem não conhece, por isso o mestre Nuno
Russo está a tentar aplicar o nome de Esgrima Lusitana.</span><br /><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;">
</span><br /><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;">
Este nome, não é no entanto uma invenção totalmente moderna. Já Zacharias d’Aça
em 1883 se referia ao jogo do pau como a Esgrima Nacional, assim como António
Caçador (1963) sub-titula o seu livro sobre jogo do pau. Creio que já dai advêm
a necessidade de demonstrar que se trata de uma esgrima ou de uma actividade
marcial(de combate) e não de um jogo, como tem sido vista a expressão mais
recentemente.</span><br /><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;">
</span><br /><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;">
Eu sinceramente preferia ver o nome Jogo do pau a ser utilizado, mas percebo e
suporto a utilização de Esgrima Lusitana, que faz sentido no mundo em que vivemos
e é mais rapidamente compreendido pelo publico em geral. Também podes ver o
nome Esgrima Lusitana, como sendo a escola do mestre Nuno Russo, que inclui o
varapau e o bastão e segue um programa técnico especifico.</span></i></blockquote>
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;">Para te dizer a
verdade até preferia que o problema dos “lusitanos esgrimistas” fosse com a
palavra “jogo” e não com a palavra “pau”. Não tenho nada contra os esforços de
utilização da técnica do jogo do pau nas modalidades de esgrima histórica
reconstituída levados a cabo pelo mestre Luís Preto, mas o jogo do pau têm uma
veneranda tradição e história por si mesmo, independente de hipotéticas origens
em esgrimas de armas de corte, e não deve envergonhar-se de ser uma arte
marcial de uso do pau para combate. Neste texto podem encontrar-se alguns dados
interessantes sobre essa tradição: <a href="http://www.freewebs.com/pontuada/O_jogo_do_pau_em_Portugal.pdf">http://www.freewebs.com/pontuada/O_jogo_do_pau_em_Portugal.pdf</a>.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;">Além das
referências que mencionas também esta enciclopédia<span style="mso-spacerun: yes;"> <a href="http://www.freewebs.com/pontuada/Enciclopedia_1949-imprimir.pdf" target="_blank">http://www.freewebs.com/pontuada/Enciclopedia_1949-imprimir.pdf </a></span>(</span>não sei qual, tirei as fotocópias
de uma que havia na biblioteca da minha escola quando era puto – mas no texto
diz-se que <b>1949 </b>é a “actualidade”)<span style="mso-ansi-language: PT;"> <span lang="PT"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>define o jogo do pau como “esgrima
característica portuguesa”. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Parece-me
que a designação de “esgrima portuguesa” ou “esgrima nacional” foi sendo
associada ao jogo do pau em diversas fontes eruditas, normalmente escritas, mas
o povo e os praticantes continuaram a usar normalmente a designação tradicional
de “jogo do pau”. Dizes tu que “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">no
entanto a esgrima olímpica não se chama jogo de espada, mas sim esgrima, e hoje
em dia, na população em geral, jogo já não tem nenhuma conotação marcial</i>”.
Penso que os praticantes de jogo do pau não deviam ter a atitude de uma marca
de refrigerantes que se preocupa com a escolha de um nome que permita uma maior
penetração no mercado, se os mestres que nos ensinaram uma arte marcial, que
receberam por sua vez de outros mestres, sempre lhe chamaram jogo do pau,
porque é que temos de lhe mudar agora o nome? E se o problema é marketing
porque é que não lhe chamam algo como “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">PSJ
- Portuguese Staff Jitsu</i>” ou “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">MMA com
um Grande Cacete</i>” – provavelmente iam atrair imensos malucos pagantes... E
já agora, para ilustrar como a “população em geral” pode estar errada a
propósito de conotações marciais, eis o que John Clements diz a propósito da
esgrima olímpica: “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Yet some say modern
sport fencing (particularly foil fencing) is so far removed from its martial
origins as to barely qualify as swormanship</i>“ (em “Renaissance Swordmanship –
The Illustrated Use of Rapiers and Cut-and-Thrust Swords”, p. 14)</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: .5in;">
<span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;"><br /></span></div>
<br />
<blockquote class="tr_bq">
<span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;">
<i>2- Nunca vi preconceito em relação aos nomes das pancadas. A única pessoa que
vi utilizar nomes diferentes foi o Luis Preto quanto ensina estrangeiros. Mas
isso advêm da ideia dele de que ao ensinar-se qualquer actividade, se deve
utilizar palavras que as pessoas compreendam. Assim, em inglês faz sentido
utilizar nomes ingleses para as pancadas, apesar das outras artes marciais
todas fazerem o contrário. Não discordo que isso seja mais eficaz na
aprendizagem, no entanto gosto bastante da ideia de utilizar os nomes em
Português por uma questão de manter uma ligação cultural à arte praticada.
Quanto à utilização desses nomes “arcaicos” em português, em em vez de nomes
mais compreensíveis, como “Obliqua” ou “ascendente”, não creio que seja
necessário, pois não custa assim tanto a um português aprender um termo da
própria língua, e em todas as aulas que tive sempre foram os termos utilizados.</i></span></blockquote>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin-left: .5in;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;">Acho que isso tem
a ver com a atitude de quem ensina e quem aprende, em relação ao que é
ensinado. Nas escolas de MMA (artes marciais misturadas?) ensinam-se técnicas,
competências motoras, formas de movimentar o corpo com objetivos ofensivos ou
defensivos. Se um determinado pontapé veio da Tailândia ou um estrangulamento
chegou do Brasil, depois de ter tido origem no Japão, isso pouco interessa aos
envolvidos, a não ser como curiosidade. Porém na maior parte das artes
marciais, sejam antigas ou reformulações mais recentes, os mestres são
portadores de uma cultura que transmitem junto com as técnicas, e os alunos
querem normalmente sentir algum tipo de comunhão com essa cultura. No dojo de
judo temos a etiqueta japonesa e as ideias de Jigoro Kano sobre pedagogia, nos
de aikido ou shorinji kempo temos um pacote cultural que inclui até muito de
religião, nas rodas de capoeira do mundo inteiro gringos e malais de todas as
cores e línguas cantam em português sobre o Senhor do Bonfim e Besouro Mangagá.
Não sei o suficiente sobre os alunos de esgrima histórica aí pelas europas,
posso acreditar que um grupo que se especialize em estudar, por exemplo, “<i>La
Verdadera Destreza</i>” tenha algum apreço pela cultura espanhola (e pela história
de Espanha da época), mas suponho que em geral os entusiastas da esgrima
marcial antiga europeia não estejam interessados em aprender jogo do pau
enquanto arte marcial portuguesa de combate com vara, nem lhes interesse a cultura
portuguesa, e que só queiram do jogo do pau as técnicas que possam ser aplicáveis
ao seu passatempo. Se este for o caso, a posição do mestre Luís Preto será
semelhante à de um mestre de Muay Thai num ginásio de MMA, onde as pessoas só
querem aprender os pontapés que ele traz e não teriam paciência para o “<i>Wai
khru ram muay</i>”, por exemplo. Nesse contexto, faz todo o sentido que ele dê
nomes ingleses às técnicas.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<br />
<blockquote class="tr_bq">
<i><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;">3- Se o caso a favor da ligação do jogo do pau com a esgrima de armas
antigas fosse apenas os nomes dos ataques, como referidos no livro do rei D.
Duarte I (1391-1438), eu veria isso como uma mera curiosidade, e não como um
argumento histórico de referência. Quase como um mito.</span><br /><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;">
</span><br /><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;">
E foi assim que vi essa ligação durante muito tempo. No entanto, para uma
análise mais séria da ligação creio que é essencial a análise de dois
documentos “descobertos” mais recentemente. Falo do “Memorial Da Prattica do
Montante” de D. Diogo Gomes de Figueiredo (1651) e “Do Arte de Esgrima” de
Domingos Luis Godinho (1599). Quem é conhecedor de jogo do pau, sabe que no norte
sempre se praticou o combate contra vários adversários, ainda hoje há grupos
muito tradicionais a praticarem o jogo contra dois e o jogo do meio. Está
prática bem documentada em vídeo e presente também no programa técnico do
mestre Nuno Russo, está também descrita no mais antigo manual de jogo do pau
que conheço, “A arte do Jogo do Pau” Joaquim António Ferreira (1886).</span><br /><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;">
</span><br /><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;">
Estes textos podem ser analisados mais profundamente para uma melhor
compreensão dos mesmos, no entanto deixo aqui a primeira linha de algumas das
chamadas “regras” ou situações que estes 3 autores descrevem.</span><br /><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;">
</span><br /><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;">
<b>"Memorial Da Prattica do Montante" Mestre de Campo Diogo Gomes de
Figueyredo (1651):</b></span><br /><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;">
</span><br /><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;">
-“Regra para brigar com gente por detraz e por diante”</span><br /><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;">
</span><br /><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;">
-"Serve esta regra para brigar em hũa rua larga com gente por detras o por
diante”</span><br /><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;">
</span><br /><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;">
<b>"Do Arte de Esgrima" - Domingo Luis Godinho (1599)</b></span><br /><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;">
Autor portugues mas o texto está em espanhol, traduzi aqui para simplificar.</span><br /><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;">
</span><br /><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;">
- "sercado em plasa campo o calhe”</span><br /><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;">
</span><br /><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;">
- ”sercado en calhe mea angosta de atras e adelante”</span><br /><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;">
</span><br /><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;">
<b>“A arte do Jogo do Pau” Joaquim António Ferreira (1886)</b></span><br /><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;">
</span><br /><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;">
-“Quando eu seguir por uma estrada e me apareça um inimigo pela frente e outro
pela retaguarda”</span><br /><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;">
</span><br /><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;">
-"Quando me encontrar cercado de inimigos devo (…)"</span><br /><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;">
</span><br /><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;">
São apenas dois exemplos de cada autor, mas cada um tem muitos mais exemplos,
sendo que a grande parte das regras que ensinam são mesmo contra vários
adversários em várias situações.</span><br /><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;">
</span><br /><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;">
Cada manual, de diferentes mestres e de séculos diferente, apresenta soluções
ligeiramente diferentes, o que creio ser natural. Pode-se até dizer que isto é
o comum em todas as artes marciais e que não evidencia nenhuma ligação especial
ao jogo do pau. No entanto, há que reparar, dos vários autores europeus de
tratados de esgrima antiga com as mais variadas armas, e de várias
nacionalidades, Alemães, Italianos, Ingleses, e de vários séculos, apesar de um
ou outro mencionarem ocasionalmente o combate contra vários adversários, nenhum
deles trata tão profundamente do assunto, como o Figueiredo, Godinho ou
Ferreira tratam nos seus manuais. E isto é quase único na tradição portuguesa.
Autores como George Silver (ca. 1560s–1620s) e Giacomo di Grassi(Séc. XVI)
dedicam um ou outro paragrafo a combate contra vários adversários, enquanto que
dos 3 autores portugueses, cada um tem pelo menos 10 regras especificas contra
vários adversários. Dos autores antigos não só com o montante mas Godinho
refere o mesmo com qualquer tipo de espada. Isto, sendo que não há muitos mais
manuais de esgrima de autores portugueses deste tempo, é grande parto do que
conhecemos da nossa esgrima.</span><br /><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;">
</span><br /><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;">
Para quem conhecer o jogo do pau, deixo aqui uma regra de Godinho:
<a href="http://jogodopau.tumblr.com/post/43481457974/cercado-numa-praca-campo-ou-rua">http://jogodopau.tumblr.com/post/43481457974/cercado-numa-praca-campo-ou-rua</a></span><br /><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;">
</span><br /><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;">
Esta descrição quase que se podia pôr lado a lado, e adaptar passo a passo ao
jogo do pau, ainda hoje praticado por muitos grupos de jogo do pau e presente
no programa técnico de Esgrima Lusitana. como diria o Carlos do Carmo, se isto
não é jogo do pau, eu sou chinês(com a devida ressalva de que com certeza,
gostava que existisse um estudo mais profundo do tema, do que aquele que eu
consigo fazer).</span></i><br />
<span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;"></span></blockquote>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin-left: .5in;">
<span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;">
<br style="mso-special-character: line-break;" />
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;">Não conhecia
estes autores portugueses, obrigado pelas referências. Entretanto encontrei a
página da AGEA Editora (<a href="http://www.ageaeditora.com/">http://www.ageaeditora.com/</a>), vou tentar adquirir algum
do material publicado por eles.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;">Como eu disse no
meu outro texto, acho que é possível uma ligação. Duvido é que seja uma ligação
direta, como aquela em que o mestre Luís Preto acredita: “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Jogo do Pau is Historical Fencing and Historical Fencing is Jogo do Pau</i>”
e <<<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Regarding Jogo do Pau as “Portuguese
staff fencing” is not correct, since it actually is a medieval fencing skill,
with either long sword or staffs, depending on the social conditioning factors
that determine which weapons are at hand.</i>>> (in “Combat in
Outnumbered scenarios – The origin of historical fencing”). Eu acho que é
errado declarar que “o jogo do pau não é esgrima de pau portuguesa porque é uma
técnica medieval de esgrima com espadas ou paus”, o que estiver mais a jeito.
Basta ir reler o texto que mencionei, ou perguntar ao mestre Nuno Russo (que
foi o mestre de Luís Preto) o que lhe ensinaram os seus próprios mestres, para
ver que o que o jogo do pau é. O jogo do pau <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>é</u></b> um sistema de combate tradicional (“arte marcial”)
português com pau longo, contra um ou vários adversários; o jogo do pau <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>pode ter sido</u></b> influenciado na
sua génese pela esgrima do montante adaptada pelos instrutores militares medievais
para ensinar aos membros da plebe arrebanhados para servir como peões na infantaria
dos senhores feudais uma forma mais eficaz de usarem os seus chuços. As tuas
citações sobre o combate contra vários adversários, ou o facto de a vara ser normalmente
agarrada numa das extremidades, podem ser argumentos que apoiam esta hipotética
influência. Parece-me correta esta análise do mestre Luís Preto no seu blog:<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>“<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Defensively,
it is an art in which, regardless of the weapon being handled, the parries are
executed with the part of the weapon that corresponds to the edge of a bladed
weapon. As can be seen in the images below, the nuckles are always directed
outwards and, thus, the parry being shown is intercepting the incoming strike
with the same area of the defender's weapon, regardless of it being bladed or
round.</i>” (in <a href="http://jogodopau.blogspot.pt/2013/12/jogo-do-pau-stick-or-sword-art.html">http://jogodopau.blogspot.pt/2013/12/jogo-do-pau-stick-or-sword-art.html</a>).
Mas parece-me que cria confusão desnecessária a colocação de fotografias do uso
da bengala neste texto, uma vez que, como dizes, o “bastão português” ou “bengala
portuguesa” é uma modalidade desenvolvida pelo mestre Nuno Russo. Portanto não
pode ser “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">a</i> <i style="mso-bidi-font-style: normal;">medieval fencing skill, with either long sword or staffs”. </i>Aliás, o
tamanho é mais próximo do da <a href="http://www.ffil.uam.es/equus/warmas/index.htm" target="_blank">falcata lusitana</a> do que do montante medieval...
Por outro lado, poderia ser interessante ver a <a href="http://www.jogodopau.com.pt/jogo-do-pau.html" target="_blank">execução dos sarilhos do jogo do pau</a> com uma espada longa, como um montante. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;">Parece-me também que
uma coisa importante a ter em conta nestas análises é que a motricidade humana
não é apenas biológica, mas também culturalmente marcada. As pessoas andam,
dançam, sentam-se, gesticulam... e usam sistemas complexos de combate desarmado,
ou com armas tradicionais, de formas diferentes em diferentes culturas e
sociedades. Há muito em comum se compararmos os deslocamentos de um japonês com
uma katana ou com um jo, como há muito em comum se observarmos os movimentos de
um praticante de kalaripayattu com um pau ou com uma espada, é apenas natural
que haja coisas semelhantes em artes marciais desenvolvidas no extremo
ocidental da Europa, em que uma pode ter influenciado a outra, e que tenham
ataques de uma “<a href="http://jogodopau.blogspot.pt/2013/12/jogo-do-pau-stick-or-sword-art.html" target="_blank"><i>wide-motion, bashing, power-oriented striking art</i></a>“ como
acontece no jogo do pau e acontecia na esgrima de montante.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<br />
<blockquote class="tr_bq">
<i><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;">4- Lusitana refere-se neste caso de uma forma geral ao povo português, tal
como “Os Lusiadas”, não se tenta limitar a um grupo de portugueses de um local
especifico, mas de forma generalizada. Tal como Luso-Americano, refere-se a um
Portugal e América e não a Entre Douro e Tejo e América.</span></i><br />
<span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;"></span></blockquote>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin-left: .5in;">
<span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;">
<br style="mso-special-character: line-break;" />
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;">Prefiro “portuguesa”
ou “lusa”, como em “equipa lusa”, por exemplo. Não gosto da designação de “lusitanos”
para os portugueses por várias razões. Uma é que é uma designação errada, na
época das invasões romanas os lusitanos coexistiam com outros povos nativos na
Península Ibérica e a sua área incluía uma parte do que agora é Portugal mais
ou menos entre o Douro e o Tejo e uma parte do que agora é a Espanha. Outra
razão é que me faz lembrar idiotices do tempo da historiografia salazarista,
como dias da raça e coisas assim. Carlos Consiglieri em “<i>Os lusitanos e a
historiografia</i>” fala das “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">ideias
ultra-românticas de historiadores que tentaram construir uma identidade
nacional a partir dos Lusitanos</i>”, mas Portugal é um país de mestiçagens
várias, e a hipervalorização dos lusitanos faz-se à custa de desvalorizar as contribuições de outros povos que para cá vieram, incluindo os próprios
romanos. Diz-nos também a “História de Portugal” coordenada por Rui Ramos: “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Como os estudos genéticos revelaram
recentemente, esta História deixou marcas na composição da população. Na
Península Ibérica, os portugueses são aqueles em cujos genes mais vestígios se
encontram de duas das mais importantes migrações para a Península desde o
século I: os judeus sefarditas, chegados do Médio Oriente no início da era
cristã, e os berberes muçulmanos, vindos do Norte de África no século VIII.</i>”
E esta miscigenação é ainda mais acentuada no sul do país. Uma terceira razão é
que os espanhóis também têm invocado ao longo dos séculos o título de
descendentes dos lusitanos. Mauricio Pastor Muñoz, no seu livro “Viriato”
conta-nos sobre como a partir do século XVII se publicaram em Espanha livros
com Viriato como protagonista. P.ex.: “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Assim,
A. González Bustos publica a sua comédia intitulada </i>O Espanhol Viriato<i style="mso-bidi-font-style: normal;">, onde enaltece a figura de Viriato.</i>”
Depois, já no séc. XX: “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Pouco depois,
Viriato, a quem o padre Mariana chama “libertador quase de Espanha”, passou a
denominar-se “caudilho Viriato” e é comparado a Francisco Franco. Em todos os
trabalhos que fazem referência a Viriato, principalmente nos manuais de
História de Espanha, insiste-se na imagem de Viriato como “caudilho” de Espanha”</i>
(p. 263). E etc, etc. Mais recentemente a série de televisão espanhola “<a href="http://www.amazon.es/Pack-Hispania-Leyenda-Dvd-Complet/dp/B0086R0KHC/ref=sr_1_1?s=dvd&ie=UTF8&qid=1388864430&sr=1-1&keywords=hispania+la+leyenda" target="_blank">Hispania– La Leyenda</a>” também faz equivaler as designações “lusitanos” e “espanhóis”. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: .5in;">
<span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;"><br /></span></div>
<br />
<blockquote class="tr_bq">
<span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;">
<i>5- Quase todas a técnicas de varapau europeias, Sejam italianas, francesas etc,
utilizam o varapau de forma semelhante, isto é, em rotação completa, segurando
numa das pontas. No entanto, práticamente só em Portugal se vê ainda a pratica
de jogo do pau contra vários adversários. Não digo que seja tudo a mesma coisa,
e creio que em Portugal, por alguma razão esta prática se preservou em
excelente forma, mas não me surpreende existirem formas bastante similares por
toda a Europa. O Garrote canário que vi e já experimentei com um mestre que nos
visitou é substancialmente diferente do jogo do pau português.</i></span></blockquote>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin-left: .5in;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;">O quarterstaff
inglês não é propriamente segurado pela ponta. Nem o maide ceathrún irlandês, a
acreditar em John W. Hurley (“<i>Shillelagh – The Irish Fighting Stick</i>”). Tenho o “<a href="https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10201338663849941&set=a.10201208929406661.1073741840.1273674765&type=1&theater" target="_blank">TheMartial Arts of Renaissance Europe”, de Sydney Anglo</a>, e logo na capa vê-se uma
imagem antiga de lutadores europeus a agarrarem o pau pelo meio. Nem a vara do
jogo do pau açoriano, de acordo com Luís Preto: “<i>consists exclusively of single
combat, using the stick primarily at short distance by holding the stick in the
middle</i>” (“<i>Jogo do Pau – The Ancient Art and Modern Science of Portuguese Stick
Fighting</i>”, p. 17). Mas concordo que haja uma tendência europeia para pegar no
pau pela ponta e bater em rotação.<br />
</span></div>
<br />
<blockquote class="tr_bq">
<span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;">
<i>6- O bastão português é de facto uma adaptação recente, e como é praticado
hoje, é um aperfeiçoamento tomado a cabo pelo mestre Nuno Russo, o qual tem
todo e quase exclusivo mérito por isso. As menções de utilização de bengala
tradicionalmente são realmente muito esporádicas e não creio que nunca tenha
sido uma pratica corrente. No entanto creio que a adaptação da técnica do
varapau a bastões de um certo peso, é excelente e extremamente eficaz,
refletindo todos os conceitos e princípios do varapau, inclusive o tal combate
contra vários adversários, que é para mim, a melhor aplicação de armas para
defesa pessoal que alguma vez vi.</i></span></blockquote>
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;">Nada a dizer. O
mérito deve ser reconhecido, e a modalidade de bastão criada pelo mestre Nuno
Russo parece-me muito interessante como complemento ao jogo do pau tradicional.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;"><br /></span></div>
<br />
<blockquote class="tr_bq">
<span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;">
<i>Alonguei-me tanto que tive que dividir isto. São questões que requerem de facto
discussão e agradeço o teu post por isso. Abraço.</i></span></blockquote>
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;">Já agora, sabes
se há alguns livros sobre esgrima histórica em Portugal? Não as reedições dos
escritos na época em que ela ainda não era “histórica”, que mencionaste, mas
alguma coisa escrita nos últimos anos?</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;">Um abraço,</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
João Paulo Esperançahttp://www.blogger.com/profile/18049296108350472569noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-20617824.post-87344891329979699822013-12-01T16:38:00.001+09:002013-12-06T09:39:48.064+09:00Algumas questões de semântica em torno do jogo do pau<!--[if gte mso 9]><xml>
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<br /></div>
Nos últimos tempos um pequeno grupo de pessoas tem-se
distinguido pelo seu trabalho notável de divulgação do jogo do pau. Por isso
devem ser elogiados. Mas há algumas premissas nas suas campanhas que para mim
devem ser debatidas, e não tomadas como verdade absoluta.<br />
<br />
<br />
<div class="MsoListParagraphCxSpFirst" style="margin-left: 0cm; mso-add-space: auto;">
1.</div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin-left: 0cm; mso-add-space: auto;">
Uma
é a embirração que têm com o nome da modalidade que praticam. Gostam do jogo do
pau, mas não gostam do nome por que tem sido designado de geração em geração.
Por isso chamam-lhe “esgrima lusitana”. Parece que o problema deles é com a
palavra “<b><u>jogo</u></b>”, talvez tenham receio de serem confundidos com jogadores
de micado ou de <i>ai-manulin</i> (1). O Dicionário da Língua Portuguesa <u>Contemporânea</u>,
da Academia das Ciências de Lisboa, publicado em 2001, tem entre as acepções da
palavra “<b><u>jogo</u></b>”:<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>«manejo de uma arma.<i style="mso-bidi-font-style: normal;"> + de espada, de florete, de pau</i>». E de
resto “<b><u>jogar</u></b>”, ou os seus equivalentes, tem uma longa tradição em diversas
artes marciais, quer do Ocidente quer do Oriente. A capoeira, antes de tornar
nesta modalidade de alegria e harmonia, de paz e amor, que se espalhou por
todos os cantos do mundo, foi um sistema de combate urbano usado em lutas que
frequentemente acabavam em mortes, no qual se usavam também paus, catanas e
navalhas (2), mas já nessa época os praticantes diziam que <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>jogavam</u></b> capoeira (3). Uma das regiões historicamente mais
importantes no desenvolvimento de muitos estilos de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">pencak silat</i> (4) foi a parte ocidental da ilha de Java, de cultura
e língua sundanesa. Pois na região de Cianjur eles chamam, em sundanês, “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">maenpo</i>” ao <i style="mso-bidi-font-style: normal;">pencak silat</i>, em que “maen” significa “<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>jogar</u></b>” (5). E, já agora, na Roma antiga as escolas de
gladiadores, onde eram treinados alguns dos lutadores com mais destreza técnica
para o combate até à morte do mundo antigo, eram chamados “<i>ludus</i>” (“<i>ludi</i>”, no
plural) (6), palavra que também está na origem da palavra portuguesa “lúdico”…</div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin-left: 0cm; mso-add-space: auto;">
<br /></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin-left: 0cm; mso-add-space: auto;">
2.</div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin-left: 0cm; mso-add-space: auto;">
Li
também que alguns consideram “enviesada” e “arrepiada” como palavras arcaicas.
Isso faz-me lembrar as conversas que tinha com alguns lisboetas, quando estava
na Faculdade, sobre os livros do Aquilino Ribeiro. A maioria só tinha lido, ou
tentado ler, “O Malhadinhas”, e dizia que o escritor usava muitas palavras
arcaicas. Eu por outro lado, moço de origens rurais, compreendia sem precisar
de ir ao dicionário uma percentagem muito maior do léxico do autor. Voltando
novamente ao Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia: “<i>ao
arrepio</i> –<i> em direcção oposta à normal</i>”<i>;</i> “<i>enviesado/a</i> – <i>que se deslocou
obliquamente, na diagonal; que se moveu de esguelha, de viés</i>”. No lugar de onde
venho estes são vocábulos normais do português actual.</div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin-left: 0cm; mso-add-space: auto;">
<br /></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin-left: 0cm; mso-add-space: auto;">
3.</div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin-left: 0cm; mso-add-space: auto;">
Dizem
alguns que o jogo do pau vem directamente da técnica medieval de esgrima do montante.
Que essa possa ser a sua origem remota é plausível. Quem habitualmente
desenvolvia sistemas tecnicamente complexos de combate eram as classes
guerreiras, o que no caso português seria a nobreza dos cavaleiros. Noutros
contextos culturais e históricos algo similar terá ocorrido com o arnis ou eskrima
(uma arte marcial filipina, rebaptizada “<i>kali</i>” por alguns estadunidenses de
origem filipina nos EUA), desenvolvido a partir do treino militar dado pelos padres
guerreiros jesuítas espanhóis às milícias do povo nas Visaias para se
defenderem das incursões dos piratas muçulmanos vindos de Mindanao (7). <b>Mas em
Portugal o povo não tinha montantes</b>. O povo alimentava a família com o que
cultivava nas terras em que vivia, mas que pertenciam aos senhores feudais ou
ao clero, e os homens do povo tinham que aceitar ser incorporados na infantaria
dos exércitos dos seus senhores em alturas de guerra. Na guerra medieval os
peões constituíam a maior parte dos efectivos dos exércitos, mas eram
pobremente armados. Usavam armas rudimentares, como chuços e alabardas de
diversos tipos, que em muitos casos não diferiam provavelmente muito de um pau
com choupa ou com uma foicinha na ponta. Portanto, se houver uma ligação antiga
entre o jogo do pau e a técnica de armas das guerras medievais, o mais provável
é que o seu antepassado não fosse a esgrima de montante propriamente dita, mas sim
uma adaptação feita pelos instrutores para as armas da peonagem, uma espécie de
“artes marciais para os pobres”. Eu nunca empunhei um montante real, mas
suponho que tenha um peso bastante diferente do de um chuço ou um pau, o que
imediatamente exige soluções técnicas distintas. No caso do pau, a adaptação da
técnica teria que ir muito mais longe, já que a vara (sem choupa) é uma arma de
impacto e o montante é uma arma de corte (apesar de o jogo do pau preservar
como característica importante o facto de não se agarrar o pau do adversário ou
o seu corpo – coisa perigosa com lâminas – ao contrário do que acontece
actualmente com muitos estilos de eskrima/arnis, ou com o sistema reconstruído
do “<i>garrote</i>” canário, e ter o cuidado de manter as mãos bem longe do alcance da
arma do adversário, ao contrário de muitas das artes marciais com pau deste
mundo).</div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin-left: 0cm; mso-add-space: auto;">
<br /></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin-left: 0cm; mso-add-space: auto;">
Não
chega dizer que há documentos antigos que provam que o jogo do pau tem a mesma
técnica da esgrima do montante. Há que explicar de que forma é que o provam. E
não será porque os cavaleiros também chamavam às técnicas “arrepiadas” e “enviesadas”…
Em <i>bojutsu </i>também deve haver técnicas arrepiadas e enviesadas (com estas
denominações em japonês, claro), mas evidentemente não se pode invocar nem a
designação, nem a mera existência destes ângulos de ataque, para dizer que é
essa a origem do jogo do pau. E a referência ao <i>bojutsu </i>faz-me recordar um
vídeo a que assisti há muitos anos, mostrado pelo Mestre Nuno Russo no Ginásio
Clube Português, em que ele trocava umas pauladas amigáveis com um
nãoseiquantagésimo Dan de <i>bojutsu</i>, que se fartava de apanhar, coitado…</div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin-left: 0cm; mso-add-space: auto;">
<br /></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin-left: 0cm; mso-add-space: auto;">
4.
</div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin-left: 0cm; mso-add-space: auto;">
E
“lusitana” porquê? A região dos lusitanos era uma zona entre os rios Douro e o
Tejo, e um pedaço da Espanha actual na mesma latitude, o que deixa de fora as
regiões do Minho e Trás-os-Montes, tradicionalmente consideradas os mais
importantes centros de irradiação do jogo do pau. Para além disso, ainda que
provavelmente andassem também à paulada de vez em quando, não poderiam fazer
jogo do pau se este vier da técnica da esgrima do montante medieval… A
verdadeira “<i>esgrima lusitana</i>” seria provavelmente o manejo da falcata!</div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin-left: 0cm; mso-add-space: auto;">
<br /></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin-left: 0cm; mso-add-space: auto;">
5.
</div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin-left: 0cm; mso-add-space: auto;">
Não
sei o suficiente sobre o “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">jeux de baton”</i>
francês para poder ter uma opinião sobre se é igual, ou semelhante,
tecnicamente ao jogo do pau português. Os estilos de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">juego del palo</i> tradicionais das Canárias parecem-me ter diferenças
técnicas importantes, pelo menos na forma que chegou aos nossos dias como
resultado de uma prática contínua de geração em geração (não estou a incluir o “<i>garrote</i>”,
que várias fontes dizem ser o que se chama uma prática reconstituída, como a
esgrima histórica que se faz actualmente em vários países). Parecer-me-ia
difícil argumentar que as técnicas do <i style="mso-bidi-font-style: normal;">juego
del palo</i> canário sejam semelhantes às do manejo do montante de guerra.</div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin-left: 0cm; mso-add-space: auto;">
Conheço
referências ao jogo do pau nas zonas da raia galega, o que faz todo o sentido
dada a porosidade da fronteira para os membros das comunidades rurais da zona e
a continuidade linguística e cultural entre galegos e portugueses do Norte.
Seria interessante saber se há descrições de sistemas tecnicamente semelhantes
ao jogo do pau que tenham existido noutras regiões de Espanha. E, já agora, se
tiverem existido, porque é que se extinguiram, ao contrário dos sistemas
português continental, açoriano, e canário… Suponho que noutras zonas de
Espanha há também populações rurais, conservadoras, que andavam de cajado na
mão… e que tinham antepassados incorporados nos exércitos dos seus senhores na
Idade Média.</div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin-left: 0cm; mso-add-space: auto;">
<br /></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin-left: 0cm; mso-add-space: auto;">
6.</div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin-left: 0cm; mso-add-space: auto;">
Nalguns
textos invoca-se uma origem histórica para a modalidade de “bastão português”
praticada nas escolas ligadas ao Mestre Nuno Russo. Diz-se que os varredores de
feiras iam lutar de bengala para as feiras após a proibição das varas nos
recintos das mesmas <b>(?)</b>, ou que as populações urbanas andavam de bengala e
teria havido uma adaptação do jogo do pau tradicional para o uso da bengala.
Mais uma vez, uma destas ideias – a segunda – é plausível, mas ainda não a vi
provada. A <i style="mso-bidi-font-style: normal;">canne</i> francesa está bem
documentada historicamente (8), mas ainda não tive conhecimento de documentação,
ou de uma tradição, que mostre que tenha havido um desenvolvimento semelhante
em Portugal, ou uma continuidade de evolução técnica no passado entre o jogo do
pau e a “bengala ou bastão português”. A História não se escreve com base em
argumentação do tipo “<i>não temos provas, mas achamos que devia ter existido e
devia ter sido assim</i>”. Dito isto, parece-me um desenvolvimento interessante
esta técnica de “bastão português” que temos visto aparecer nas últimas duas
décadas, que pode inclusivamente atrair pessoas pela sua mais fácil aplicação
na autodefesa (hoje em dia já pouca gente anda de cajado…). Mas se é um
desenvolvimento recente porque não assumi-lo e dar o devido crédito ao(s)
Mestre(s) que o desenvolveu(veram)? Claro que os praticantes ficam sempre com a
opção de procurar uma escola onde se faça apenas jogo do pau tradicional, com
vara longa, mas quem gostar pode ir aprender este novo “bastão português”
sabendo ao que vai…</div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin-left: 0cm; mso-add-space: auto;">
<br /></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin-left: 0cm; mso-add-space: auto;">
Enfim,
alguns pensarão que nada disto é importante, mas eu pessoalmente gostaria de
ver aparecer mais investigação séria sobre o desenvolvimento do jogo do pau.
Para quem se interessa por este assunto, termino recomendando a leitura regular
do excelente blog de pesquisa sobre referências à arte marcial portuguesa ao
longo dos tempos que se pode encontrar neste link<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"></span><a href="http://jogodopau.tumblr.com/">http://jogodopau.tumblr.com/</a> .</div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin-left: 0cm; mso-add-space: auto;">
<br /></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin-left: 0cm; mso-add-space: auto;">
<br /></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="mso-list: l0 level1 lfo1; text-indent: -18.0pt;">
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-list: Ignore;">(1)<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";">
</span></span></span><i>Ai-manulin</i> - jogo infantil timorense em que
envolve o lançamento de um pauzinho.</div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="mso-list: l0 level1 lfo1; text-indent: -18.0pt;">
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-list: Ignore;">(2)<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";">
</span></span></span>A introdução da navalha como uma arma que se
tornaria tradicional na capoeira deve-se aos fadistas e outros imigrantes
portugueses no Brasil.</div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="mso-list: l0 level1 lfo1; text-indent: -18.0pt;">
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-list: Ignore;">(3)<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";">
</span></span></span>Ver, entre outros, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Capoeira – The History of an Afro-Brazilian Martial Art</i>, de Mathias
R<span style="font-family: "Franklin Gothic Medium","sans-serif";">ö</span>hrig Assunção,
um excelente livro sobre a história da capoeira, que deveria servir de
inspiração a qualquer historiador de uma arte marcial.</div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="mso-list: l0 level1 lfo1; text-indent: -18.0pt;">
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-list: Ignore;">(4)<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";">
</span></span></span><i>Pencak silat </i>(lê-se [pêntchak sílat]) – um nome
genérico para artes marciais oriundas da Indonésia, Malásia, Brunei,
Timor-Leste e partes do Sul das Filipinas.</div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="mso-list: l0 level1 lfo1; text-indent: -18.0pt;">
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-list: Ignore;">(5)<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";">
</span></span></span>Ver “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Pencak
Silat merentang waktu</i>”, de O’ong Maryono, na pág. 196. </div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="mso-list: l0 level1 lfo1; text-indent: -18.0pt;">
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-list: Ignore;">(6)<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";">
</span></span></span>Ver p.ex. “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">The
Gladiators</i>”, de Fix Meijer, pág. 39.</div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="mso-list: l0 level1 lfo1; text-indent: -18.0pt;">
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-list: Ignore;">(7)<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";">
</span></span></span>Ver o interessante ensaio de Ned R. Nepangue e
Celestino C. Macachor intitulado “<i>Cebuano Eskrima – Beyond the Myth</i>”.</div>
<div class="MsoListParagraphCxSpLast" style="mso-list: l0 level1 lfo1; text-indent: -18.0pt;">
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-list: Ignore;">(8)<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";">
</span></span></span>Consultar, por exemplo, “<i>Histoire de la savate,
du chausson et de la boxe française (1797-1978)</i>", de Jean-Grançois Loudcher, um
livro sobre a história das artes marciais francesas metodologicamente sério na
sua investigação.</div>
João Paulo Esperançahttp://www.blogger.com/profile/18049296108350472569noreply@blogger.com15tag:blogger.com,1999:blog-20617824.post-19247073342149128442013-05-02T15:29:00.000+09:002013-05-02T15:29:12.074+09:00Pequenas histórias muito simples para crianças muito pequenas<!--[if gte mso 9]><xml>
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<br />
<div class="MsoNormal">
Nos últimos anos tem aparecido em Timor-Leste uma profusão
de materiais básicos escritos em tétum e em várias outras línguas locais, sob a
forma de cartilhas ou pequenas histórias muito simples para crianças muito
pequenas. A escassez de materiais para crianças maiores deve-se provavelmente
ao facto de estes serem mais difíceis de criar. Sejamos sinceros, qualquer
pessoa pode tirar meia dúzia de fotografias, ou fazer alguns desenhos, e colocar-lhe
umas legendas por baixo, em tétum ou noutra língua, e fica uma cartilha feita.
Claro que há uma grande diferença entre uma dessas cartilhas e um manual
escolar para a fase de alfabetização concebido com critérios pedagogicamente
adequados. Da mesma forma têm aparecido vários livrinhos com histórias simples,
normalmente algumas frases acompanhadas por desenhos, que podem ser lidos a
crianças até aos 4-5 anos pelos pais ou irmãos mais velhos, e podem ser lidos
pelas próprias crianças por volta dos seis anos de idade. São úteis e estão a
preencher uma lacuna que existe em Timor-Leste, mas deveriam ser acompanhados
de materiais mais ambiciosos para outras faixas etárias. </div>
<div class="MsoNormal">
Um exemplo deste tipo de histórias é o livrinho *“<span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;"><i>Avoo Leto - Tau foer ba foer fatin</i>”,
em que u</span>m avô ensina ao neto a importância de não atirar lixo para o
chão (o que é um hábito extremamente generalizado em Timor-Leste). Um livro de
intenção pedagógica, que cumpre o que se propõe, com uns desenhos bonitos, mas
que<a href="http://matadalanbatetun.blogs.sapo.tl/1619.html" target="_blank"> infelizmente não pode ser distribuído nas escolas devido à quantidade de erros ortográficos que tem</a>.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-00duYzw8waI/UYIHjR8iYCI/AAAAAAAACNg/Ta7jPBrEgZE/s1600/Av%C3%B3+Leto+001.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="231" src="http://1.bp.blogspot.com/-00duYzw8waI/UYIHjR8iYCI/AAAAAAAACNg/Ta7jPBrEgZE/s320/Av%C3%B3+Leto+001.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
João Paulo Esperançahttp://www.blogger.com/profile/18049296108350472569noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-20617824.post-24283931137627446842013-04-13T01:55:00.001+09:002015-04-09T11:28:58.631+09:00A nova literatura de Timor-Leste começa a desabrochar<!--[if gte mso 9]><xml>
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<br />
<div class="MsoNormal">
Durante muitos anos a literatura (não a oratura) de
Timor-Leste era essencialmente em português. Desde há alguns anos têm começado
a aparecer novas obras e autores que se exprimem em tétum. Quando eu era uma criança,
uma professora de português que tive – provavelmente satisfeita pelo facto de
já então eu ser um leitor voraz – escreveu num caderno meu a frase “Um país
faz-se com homens e com livros.”, de Monteiro Lobato (mas que eu durante anos pensei que fosse de <a href="http://www.prof2000.pt/users/avcultur/aveirilustres/MarioSacramento.htm" target="_blank">Mário Sacramento</a>, um
democrata ilhavense durante a longa noite do fascismo em Portugal). Foi uma
frase que me impressionou muito, e que considero ainda hoje um dos meus motes.
Timor-Leste é para mim a minha terra adoptiva e creio que ninguém pode negar
que o século XX viu nascer neste país homens e mulheres de uma grandeza
excepcional, mas em grande medida ainda faltam os livros. Há alguns, com
destaque para as obras do Takas (Luís Cardoso), mas sendo escritos em
português, que é uma das línguas dos timorenses mas que muitos ainda não
dominam, têm uma penetração reduzida na sociedade. O aparecimento recente de
uma literatura tetumófona permite-nos ter esperança de que as coisas mudem e
que apareça em breve uma geração que lê. E ler em tétum não é nunca um
obstáculo a que se venha a ler em português. Ler em tétum na infância pode
despertar nos miúdos o bichinho dos livros, e quem fica assim cativado nunca
mais vai deixar de querer ler, e quando acabarem de ler os livros em tétum
(qualquer leitor pode ler num espaço de tempo relativamente curto TODOS os
livros em tétum que existem, infelizmente), e continuarem com ânsia de
conhecimento e de emoções, vão ler noutras línguas, começando evidentemente
pela portuguesa. </div>
<div class="MsoNormal">
Irei começar a falar aqui de livros com mais frequência, de
livros de Timor, livros sobre Timor, e de livros em tétum – originais ou em
tradução. Hoje vou começar com uma pequena novela publicada pela ONG Timor Aid
em Novembro de 2012 intitulada “<i><b>Inan ne’ebé iha bosok ualu</b></i>” [A mãe que disse
oito mentiras] do escritor timorense de 17 anos de idade Ariel Mota Alves. A
obra obteve um terceiro lugar no concurso literário em tétum organizado
anualmente pela Timor Aid e pela Fundação Alola, de que também já cheguei a ser
membro do júri. Trata-se de um livrinho com uma história mais ou menos linear,
de pendor moralista, mas bastante eficaz na transmissão da sua mensagem. As
personagens principais são Bisoi e o seu filho Atoi, e a história gira em torno
dos desafios que enfrentam ao longo das respectivas vidas. Mãe e filho são
extremamente pobres, mas o sacrifício abnegado da mãe vai criando oportunidades
onde elas não existiam para dar uma vida melhor ao seu menino. Este por seu
lado vai aceitando e beneficiando com isso, e acrescentando o seu esforço ao da
sua progenitora, mas terá que enfrentar também os seus próprios dilemas. </div>
<div class="MsoNormal">
Um livro que, não obstante o enredo pueril, devia ser
amplamente lido pelas crianças e jovens timorenses, como uma chamada de atenção
para os fazer pensar no que os seus pais muitas vezes fazem por eles, e também
como uma homenagem às mulheres deste país. Conheci muitas timorenses com a
fibra desta Bisoi ao longo de mais de uma década em Timor. A literatura não tem
que tentar mudar o mundo, mas pode tentar mudar o mundo. Esta obra, de um
escritor tão jovem, tenta fazer o seu quinhão.<br />
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-ugJrdKtLy0w/UWg8xxqyBOI/AAAAAAAACMY/C4SJu6Vruw8/s1600/Inan01.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-ugJrdKtLy0w/UWg8xxqyBOI/AAAAAAAACMY/C4SJu6Vruw8/s320/Inan01.jpg" height="320" width="205" /></a></div>
<br /></div>
João Paulo Esperançahttp://www.blogger.com/profile/18049296108350472569noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-20617824.post-56966296495397723302012-05-27T23:59:00.000+09:002012-06-21T11:29:07.293+09:00Uma “cantiga tradicional timorense” vinda da Nova Zelândia<br />
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
<span lang="PT">Nestes tempos de
invenções de tradições (até já vemos grupos musicais de Kore Metan – um género
musical mestiço e urbano, luso-timorense – a actuar vestidos com tais e com
belaks pendurados ao pescoço...[1]), é sempre bom recordar que as coisas nem
sempre são como se diz...<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
<span lang="PT">A tal </span>“can<span lang="PT">tiga tradicional timorense” a que me
refiro no título é uma das minhas canções em tétum preferidas, e chama-se “<i>Ha’u
hakerek surat ida</i>”. Foi-me dito há bastante tempo, por timorenses que sabem
destas coisas, que a melodia é neozelandesa, e que a letra em tétum seria da
autoria do já falecido Sr. Momô dos Mártires. Nunca calhou eu ter tido a
oportunidade de verificar isto, mas hei-de tentar confirmar.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 115%;"><a href="http://folksong.org.nz/pokarekare/index.html" target="_blank">Entretanto deixo-vos com a versão com a letra original,da Nova Zelândia, em maori. Chama-se “Pokarekare Ana”</a>.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<span lang="PT" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 115%;"><br /></span>
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="http://www.youtube.com/embed/9GXua6gD4Hc" width="420"></iframe><br />
<br />
P.S. - [1] Para os portugueses que não entendem, isto é mais ou menos o equivalente a pôr o Alfredo Marceneiro a cantar o fado vestido de pauliteiro de Miranda...João Paulo Esperançahttp://www.blogger.com/profile/18049296108350472569noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-20617824.post-38182681959475228302012-05-21T01:41:00.000+09:002012-05-21T01:42:43.235+09:00Timor-Leste - um país, uma década<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="http://www.youtube.com/embed/SbY5WNYYlCE" width="420"></iframe>João Paulo Esperançahttp://www.blogger.com/profile/18049296108350472569noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-20617824.post-19133222880588797012012-05-20T23:24:00.001+09:002012-05-20T23:27:05.310+09:00Timor - 10 anos de independência<a href="http://www.rtp.pt/multimediahtml/video/especial-informacao#.T7j9bmuC1k4.blogger">Especial Informação - Informação - Especializada RTP 1 - Multimédia RTP</a>João Paulo Esperançahttp://www.blogger.com/profile/18049296108350472569noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-20617824.post-19091163343535475712011-11-06T21:04:00.000+09:002011-11-06T21:04:30.052+09:00ÍLHAVO HEROICO POEMA....<iframe width="459" height="344" src="http://www.youtube.com/embed/MFJ-NL-fuiw?fs=1" frameborder="0" allowFullScreen=""></iframe>João Paulo Esperançahttp://www.blogger.com/profile/18049296108350472569noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-20617824.post-76728558437558790222011-10-26T15:46:00.002+09:002011-10-26T15:55:11.167+09:00O Sport Díli e Benfica é aqui<iframe width="425" height="350" frameborder="0" scrolling="no" marginheight="0" marginwidth="0" src="http://maps.google.com/maps?t=h&key=ABQIAAAAXfXCLw_d8oIfV0OI1UbquhQmeWDgeVLvtUzCmRD1Crf6aQMmhhSed1vkD6u4hIR55_rvIILhu4xmqw&mapclient=jsapi&ie=UTF8&hq=&hnear=Dili,+Dili+District,+Timor-Leste&ll=-8.555424,125.577668&spn=0.001899,0.003422&z=19&vpsrc=6&output=embed"></iframe><br /><small><a href="http://maps.google.com/maps?t=h&key=ABQIAAAAXfXCLw_d8oIfV0OI1UbquhQmeWDgeVLvtUzCmRD1Crf6aQMmhhSed1vkD6u4hIR55_rvIILhu4xmqw&mapclient=jsapi&ie=UTF8&hq=&hnear=Dili,+Dili+District,+Timor-Leste&ll=-8.555424,125.577668&spn=0.001899,0.003422&z=19&vpsrc=6&source=embed" style="color:#0000FF;text-align:left">View Larger Map</a></small>João Paulo Esperançahttp://www.blogger.com/profile/18049296108350472569noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-20617824.post-54884424320356209642011-10-24T19:07:00.003+09:002011-10-24T19:21:33.198+09:00Em que século queremos que esteja a mentalidade dos nossos filhos?<div align="justify">Têm estado na moda nos últimos anos uns programas de televisão em que gente do ocidente vai morar com os nativos de um lugar exótico qualquer, ainda pouco afectado pela civilização moderna, e aí se submete à vida quotidiana da tribo, comendo raras iguarias e mixórdias intragáveis, participando em competições de sistemas de combate tradicionais, fazendo trabalho manual no duro, indo buscar água suja para beber a um buraco distante qualquer cheio de micróbios… Programas como <a href="http://www.guardian.co.uk/culture/tvandradioblog/2008/jun/26/lastnightstvtribalwives">Tribal Wives</a>, <em>Last Man Standing</em>, <a href="http://www.bbc.co.uk/programmes/b00qr4sw">Last Woman Standing</a>, e <em>Tribe</em>. </div><br /><div align="justify"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; DISPLAY: block; HEIGHT: 192px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5666999943718931826" border="0" alt="" src="http://2.bp.blogspot.com/-Y_n_bnhy5QA/TqU6bHuGjXI/AAAAAAAAAqU/mtEtZDMLKSs/s320/Tribal%2BWives.bmp" /> <br /><div align="justify"></div><br /><div align="justify">Comprei a série completa deste último em DVDs e temos assistido aos episódios em casa. <img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 225px; DISPLAY: block; HEIGHT: 320px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5666999939435396770" border="0" alt="" src="http://3.bp.blogspot.com/-8bvvZWKGc0g/TqU6a3w0_qI/AAAAAAAAAqI/CiCCW34CqHI/s320/Bruce_Parry_Tribe_DVD.png" />A minha mulher acha muita graça às coisas em que o simpático apresentador britânico Bruce Parry se mete, e o tipo tem de facto talento para aquilo, quer pelo esforço que faz para imitar a vida dos anfitriões, quer pelo sentido de humor que mostra quando acaba por ser o bobo da festa pela sua evidente falta de jeito… <img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; DISPLAY: block; HEIGHT: 180px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5666999947562403266" border="0" alt="" src="http://2.bp.blogspot.com/-n44YuhoAwis/TqU6bWCdRcI/AAAAAAAAAqc/iPSPrlDOwr0/s320/10853738648942.jpg" />Mas há dias estávamos a conversar sobre um aspecto que perturba um bocado: é que cá em Timor, apesar dos engarrafamentos de trânsito em Díli e de todo o esforço para desenvolver o país, quando a questão são os cuidados de saúde e a forma de lidar com doenças, as crenças e as atitudes da maior parte das pessoas não diferem muito das daquelas tribos nos cus de Judas da África ou da Amazónia. Muitos timorenses, mesmo citadinos com cursos superiores, rejeitam quase totalmente a medicina moderna, vacinas, ou hospitais, e recorrem antes a curandeiros tradicionais e feiticeiros. A minha mulher teve recentemente um acidente de motorizada e a radiografia revelou uma fissura num osso do pé, pelo que os médicos lhe colocaram gesso para imobilizar a área. Pois a maior parte dos seus conhecidos revela a maior surpresa por ela ter posto o gesso e passam o tempo a tentar convencê-la a ir a endireitas e milagreiros vários que, segundo dizem, resolveriam o problema em dois ou três dias. Até lhe falaram num que, quando lhe aparece um paciente com uma fractura num osso, começa por partir tudo o que resta do mesmo osso, para depois fazer um milagre qualquer e “curar” o pobre desgraçado…<br />Como será a educação das crianças em escolas onde os próprios professores acreditam piamente nestas coisas? </div></div>João Paulo Esperançahttp://www.blogger.com/profile/18049296108350472569noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-20617824.post-19701698459616119402011-06-24T17:58:00.001+09:002011-06-24T18:02:16.046+09:00Treinos de pencak silat (PSHT) em Timor, no SapoTL<a title="Arte Marsiais-SH" href="http://fotos.sapo.pt/saponoticiastl/albuns/?aid=151" target="_blank"><img border="0" alt="Arte Marsiais-SH" src="http://c7.quickcachr.fotos.sapo.pt/i/B1206bbdb/8586547_Ic3ve.jpeg" /></a>João Paulo Esperançahttp://www.blogger.com/profile/18049296108350472569noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-20617824.post-17372122758082907282011-01-01T19:39:00.006+09:002011-01-01T20:16:44.370+09:00Milagrário Pessoal<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://4.bp.blogspot.com/_00GhznT7QJ8/TR8Kci98VAI/AAAAAAAAApU/OhQ9BfgMX3c/s1600/Milagr%25C3%25A1rio%2BPessoal.jpg"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer; width: 213px; height: 320px;" src="http://4.bp.blogspot.com/_00GhznT7QJ8/TR8Kci98VAI/AAAAAAAAApU/OhQ9BfgMX3c/s320/Milagr%25C3%25A1rio%2BPessoal.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5557171950737708034" border="0" /></a><div style="text-align: justify;">Esta noite li o "<span style="font-style: italic;">Milagrário Pessoal</span>" de José Eduardo Agualusa. Foi durante as primeiras horas do ano, a família já adormecida, tendo como banda sonora a respiração tranquila da minha mulher e dos meus filhos, um presente a mim mesmo em tempos de muitos afazeres em que a leitura de um livro de uma ponta à outra sem parar - prazer antigo da adolescência - se tornou um luxo para ocasiões especiais.<br />Há livros que leio como se voltasse a casa vindo da escola na minha bicicleta à chuva num dia de Inverno ilhavense e encontrasse a família reunida, o lume aceso no borralho, e uma malga de sopas de broa em café de trote coado e bem quentinho à minha espera. Há livros que falam de coisas de que gostamos e de que apetece dizer "é cá dos nossos". Há livros em que podíamos morar, este para mim é um deles.<br /><br /><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://4.bp.blogspot.com/_00GhznT7QJ8/TR8MZjt030I/AAAAAAAAApc/FZqKmPx7sfE/s1600/edicao%2Bbrasileira.jpg"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer; width: 226px; height: 320px;" src="http://4.bp.blogspot.com/_00GhznT7QJ8/TR8MZjt030I/AAAAAAAAApc/FZqKmPx7sfE/s320/edicao%2Bbrasileira.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5557174098422193986" border="0" /></a><br /></div>João Paulo Esperançahttp://www.blogger.com/profile/18049296108350472569noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-20617824.post-55355663097204544182010-08-09T12:45:00.004+09:002010-08-09T12:56:25.045+09:00Que horror!!? Uma estátua de uma mulher nua?<div align="justify">A imprensa local deu a notícia de que uma deputada timorense anunciou que está muito preocupada com o trabalho da comissão organizadora da participação nacional na Exposição Mundial de Xangai. Isto - conta um jornal - por o pavilhão timorense ter exibido uma estátua de uma mulher timorense nua, o que a deputada considera como algo que estraga a dignidade das mulheres timorenses internacionalmente.<br />Curioso, fiz uma busca nas imagens do Google, pelas palavras: <a href="http://www.google.pt/images?um=1&hl=pt-BR&safe=off&biw=1004&bih=611&tbs=isch%3A1&sa=1&q=Shanghai+World+Expo+Timor+Leste&btnG=Pesquisar&aq=f&aqi=&aql=&oq=&gs_rfai=">Shanghai World Expo Timor Leste</a>. A única imagem que encontrei com mulheres (e homens) timorenses em pelote foi esta:<br /></div><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; DISPLAY: block; HEIGHT: 149px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5503252804034931298" border="0" alt="" src="http://2.bp.blogspot.com/_00GhznT7QJ8/TF97RI2sqmI/AAAAAAAAApA/ubWQ31Drqj4/s320/timor+cultura.jpg" /> <div align="justify">Muitas casas tradicionais timorenses continuam a ter portas esculpidas com homens e mulheres nus. O que também acontece em estátuas sagradas na religião tradicional.<br />Fiz depois uma busca no Flickr, e encontrei esta fotografia:<br /><a href="http://www.flickr.com/photos/olivia1208/4674496151/">東帝汶館 Timor-Leste Pavilion<br /></a><br />Talvez a tal estátua polémica seja outra, mas porque é que a nudez faria as pessoas indignas? Seriam desprovidas de dignidade <a href="http://www.slide.com/r/UeC95Mc55D-o1yKK4i1vwcBqZytkH0_Q?map=2&cy=bb">as mulheres timorenses que usavam os seios nus de acordo com a tradição</a>, até há algumas décadas? </div>João Paulo Esperançahttp://www.blogger.com/profile/18049296108350472569noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-20617824.post-34335040616078601792010-08-07T10:15:00.005+09:002010-08-07T11:15:25.152+09:00Livros à vontade do freguês<a href="http://2.bp.blogspot.com/_00GhznT7QJ8/TFy19oJJ7sI/AAAAAAAAAow/hxXPf4gukdQ/s1600/Celso+Oliveira.jpg"><img style="MARGIN: 0px 10px 10px 0px; WIDTH: 133px; FLOAT: left; HEIGHT: 190px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5502472915092369090" border="0" alt="" src="http://2.bp.blogspot.com/_00GhznT7QJ8/TFy19oJJ7sI/AAAAAAAAAow/hxXPf4gukdQ/s400/Celso+Oliveira.jpg" /></a><br /><div align="justify">A primeira vez que entrei no Blurb foi para comprar um <a href="http://www.blurb.com/bookstore/detail/674701">livro do Celso Oliveira</a>. Gostei do conceito. Há várias empresas semelhantes na Internet, mas a Blurb é das que fornece um serviço mais simples, prático e barato. Eles disponibilizam software, a pessoa prepara o livro que quer, como quer, no seu próprio computador, e depois carrega o produto final no sítio deles. O livro ficará disponível para quem o quiser comprar, e cada vez que há uma encomenda eles imprimem um exemplar (ou mais, dependendo do que o comprador quer). Cada cópia sai mais cara do que o preço por unidade de um livro impresso numa gráfica, mas é muito útil para quem pretende publicar por exemplo uma monografia sobre marcadores incoativos no <a href="http://www.ramelau.com/tetum/facts.html">macu’a ou macuva (lovaia epulo)</a>, ou uma tradução d”Os Maias” para esta língua timorense. Como o número de falantes que resta não chega a meia dúzia, será muito mais adequado imprimir algumas cópias no Blurb do que procurar uma editora que publique uma edição com grande tiragem. A Blurb exige apenas que seja comprada pelo menos uma cópia de cada livro publicado através deles. A pessoa que publica o livro pode escolher deixar o livro à venda pelo preço cobrado pela Blurb ou acrescentar uma margem de lucro para si. <a href="http://www.blurb.com/bookstore/detail/1264519">Eis a minha primeira experiência</a>, para testar a qualidade do serviço, com dois textos que tinha publicado na Internet há algum tempo sobre o ensino de português em Timor:</div><div align="justify"></div><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 261px; DISPLAY: block; HEIGHT: 400px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5502474311213120786" border="0" alt="" src="http://3.bp.blogspot.com/_00GhznT7QJ8/TFy3O5GR_RI/AAAAAAAAAo4/ko28wdByzhA/s400/pportugues_em_Timor.jpg" /> <div align="justify"></div>João Paulo Esperançahttp://www.blogger.com/profile/18049296108350472569noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-20617824.post-9587859167069447772010-07-22T20:22:00.005+09:002010-08-21T16:54:25.087+09:00A tradução d”O Principezinho” para tétum – andando devagarinho em direcção a uma fonte?<div style="MARGIN-BOTTOM: 10px; FLOAT: right; MARGIN-LEFT: 10px"><a title="photo sharing" href="http://www.flickr.com/photos/jp-esperanca/4817437071/"><img style="BORDER-BOTTOM: #000000 2px solid; BORDER-LEFT: #000000 2px solid; BORDER-TOP: #000000 2px solid; BORDER-RIGHT: #000000 2px solid" alt="" src="http://farm5.static.flickr.com/4120/4817437071_67377033f7_m.jpg" /></a><br /><span style="MARGIN-TOP: 0px;font-size:0;" ><a href="http://www.flickr.com/photos/jp-esperanca/4817437071/">A minha sobrinha a ler o Liurai-Oan Ki'ik</a><br />Originally uploaded by <a href="http://www.flickr.com/people/jp-esperanca/">J.P. Esperança</a></span></div><p align="justify">«<em>Moi, (…), si j’avais cinquante-trois minutes à dépenser, je marcherais tout doucement vers une fontaine…</em>» - diz-nos <em>O Principezinho</em>. Todos temos de vez em quando a sorte de fazer viagens em que a caminhada é tão interessante como o destino. Para mim, a tradução de “<em>Le Petit Prince</em>” para tétum foi uma dessas viagens. Tive a ideia de traduzir este livro logo à chegada a Timor, em 2001. Parecia-me uma tragédia mais na vida dos timorenses que não houvesse livros para ler nas suas línguas, e que melhor maneira de começar a resolver esse problema do que com a bela história de Saint-Exupéry? Comecei então a tradução com a Triana Corte-Real de Oliveira, uma jovem timorense que tinha interrompido os estudos de medicina na Indonésia devido aos acontecimentos de 1999. Entretanto falei com o Rui Correia, Presidente de uma ONGD de que eu era membro há anos, a SUL-Associação de Cooperação para o Desenvolvimento, sobre a possibilidade desta ONGD publicar a tradução em tétum. A reacção dele foi de entusiasmo imediato, “<em>O Principezinho</em>” também tinha tocado a sua vida, como a de tantos nós, e começou imediatamente a procurar apoios. Conseguiu resposta positiva de algumas câmaras municipais em Portugal e da Fundação Mário Soares. Entretanto eu lembrei-me da possibilidade de a SUL procurar estabelecer uma parceria para uma edição conjunta com a Timor Aid, uma ONG timorense que era pioneira na publicação de livros em tétum e que já tinha sua própria rede de distribuição, e, feitos os contactos, a Timor Aid concordou. O Rui Correia contactou a Gallimard, que detém os direitos de autor, e conseguiu obter a autorização para a publicação. O processo sofreu um contratempo com a partida para Yogyakarta, para continuar os estudos para médica, da minha co-tradutora. Os trabalhos ficaram parados durante um tempo, e foram depois retomados com uma nova colega de trabalho, a Emília Almeida de Araújo, que está actualmente a terminar um bacharelato em Informática na Universidade Nacional de Timor Lorosa’e. Foi com ela que consegui terminar a tradução. Durante o labor de tradutores, quer na primeira fase quer na segunda, usámos constantemente o texto original em francês, mas sempre comparando com as soluções de tradução de três versões diferentes publicadas por editoras portuguesas, e às vezes com uma tradução em inglês também. No entanto, mesmo após concluída a tradução, contratempos diversos levaram a que o processo tenha demorado ainda algum tempo a chegar ao seu termo. Devo agradecer também os esforços e perseverança durante anos da Rosália Madeira Soares da Timor Aid. Foi uma caminhada longa, mas valeu a pena. O <em>Liurai-Oan Ki’ik</em> chegou finalmente a Timor-Leste e agora anda por aí. Pode ser que um dia destes o seu caminho se cruze com o do amável leitor…<br clear="all"></p>João Paulo Esperançahttp://www.blogger.com/profile/18049296108350472569noreply@blogger.com6