quarta-feira, janeiro 31, 2007

Qual e a arte marcial mais simpatica?

Qual e a organizacao (ou estilo) de artes marciais mais simpatica de Timor?
Aikido
Hafeto
Jogo livre
Karate
Kera Sakti
KORK-Kmanek Oan Rai Klaran
Kung Fu Master
Merpati Putih
Pajajaran
PD-Perisai Diri
PSHT-Persaudaraan Setia Hati Terate
Sete-Sete
Taekwondo
THS-THM-Tunggal Hati Seminari atau Maria
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sábado, janeiro 27, 2007

ESTAMOS GRAVIDOS

Familia e amigos, estamos gravidos de dois meses. E estamos muito felizes.

Fotos do Natal com atraso




Cães com um olho de cada cor

Na casa dos meus sogros em Liquiçá nasceu uma ninhada de cães muito giros em que alguns têm um olho de cada cor:







quarta-feira, janeiro 17, 2007

Tradição

As autoridades locais decidiram mandar pintar passadeiras em várias ruas do centro de Díli. O problema é que se esqueceram de fazer uma campanha de educação rodoviária na televisão e nos jornais para ensinar às pessoas para que servem as ditas. Se os peões descobrirem antes dos condutores a utilidade das passadeiras vai ser uma tragédia. E parece-me que a hecatombe vai começar pelos peões estrangeiros, que - pelo menos na maioria - já sabem qual é o objectivo de uma passadeira. Já estou a imaginar as próximas primeiras páginas do STL: “Durante o dia de hoje morreram mais cinco malais enquanto estavam a atravessar a estrada por cima daquelas riscas brancas que o Governo mandou pintar”.

As regras de trânsito aqui são calmamente ignoradas pela maior parte dos timorenses. No cruzamento de Colmera quem vem do supermercado Fitun Maubara encontra um sinal de STOP. São muito poucos os condutores que aí param, sendo habitual que parem antes os que vêm na estrada de sentido único que vem dos lados do BNU. Também no cruzamento do banco australiano ANZ é normal que os condutores que chegam vindos da rua da Escola Paulo VI prossigam a sua marcha na maior das despreocupações, desrespeitando o sinal de “aproximação de estrada com prioridade” que encontram no caminho. Aí param os que vem da direcção do “galódromo”, apesar de a lei dizer que têm prioridade. Num caso e noutro os sinais são completamente ignorados e o que funciona é a tradição.

Ainda a propósito de tradição, tenho falado com vários timorenses manifestando o meu horror pelo crime hediondo de há alguns dias em Maubara, onde três mulheres da mesma família foram queimadas, assassinadas por serem consideradas bruxas (buan). A maior parte das pessoas reage como se fosse uma coisa natural: “então, mas elas eram buan”. Houve uma pessoa que me disse com toda a calma que alguns populares já tinham tentado queimá-las antes, nos tempos da UNTAET, mas a CIVPOL tinha interferido, impedindo o normal desenrolar da acção do povo. Na ocasião alguém tinha chegado a decepar uma orelha a uma das bruxas mas quando os polícias da ONU iam levá-la para o hospital viram que a orelha já tinha nascido novamente, o que teria causado grande surpresa a esses malais. Depois de várias conversas deste género, encontrei alguém que se solidarizou com o meu horror. “Não era preciso tê-las queimado”, explicou, “bastava ter-lhes pregado um prego na testa”!

quarta-feira, janeiro 10, 2007

Quando a ignorancia e a tradicao matam

EM MAUBARA
Vizinhos mataram três feiticeiras
Três mulheres foram mortas sábado em Maubara, 40 quilómetros a oeste de Díli, acusadas de feitiçaria pelos vizinhos, crime que está a ser investigado pela Polícia da ONU (UNPOL).Segundo a porta-voz da UNPOL, comissária Mónica Rodrigues, o crime está a ser averiguado por uma equipa de investigação criminal da ONU, não havendo ainda informações disponíveis sobre o móbil do crime.As autoridades policiais timorenses locais disseram que as três mulheres eram da mesma família, tinham 70, 50 e 25 anos, e que foram mortas e queimadas por populares que as acusaram de serem bruxas.A comissária Mónica Rodrigues acrescentou que também no fim-de-semana, na zona de Delta 4, no bairro de Comoro, na parte ocidental da capital timorense, um morador encontrou uma granada, tendo efectivos da GNR sido enviados para o local, confirmando tratar-se de um engenho explosivo de fragmentação, para uso militar, ainda intacto. A UNPOL está também a investigar a morte de um homem, cujo corpo apresentava várias marcas de ferimentos. O crime registou-se sábado na aldeia de Naigidal, distrito de Covalima, sudoeste de Díli.Segundo a UNPOL, na capital timorense continua a registar -se uma situação "relativamente calma, com alguns incidentes esporádicos, mas sem a intensidade das últimas semanas".
Jornal de Noticias
Terça-feira, 9 de Janeiro de 2007
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E triste o quao cruel pode ser a ignorancia! Choremos!...

sexta-feira, janeiro 05, 2007

Malais

Em Timor sou um malai. Já era malai muito antes de vir para Timor, porque o convívio com a comunidade timorense tinha-me granjeado aí muitos amigos que me chamavam, naturalmente, malai, enquanto iam dizendo que eu já era meio timorense. É que se pode ser as duas coisas ao mesmo tempo. Conheço aqui um ancião português que veio para cá fazer a tropa como um moço na flor da idade e nunca mais de cá saiu, passou muito mais anos em Timor do que na terra natal, mas, como é natural, toda a gente lhe chama aqui o Malai Cruz. Tenho um amigo chamado Abílio Bessa que também veio para aqui jovem como militar e gostou tanto disto que acabou por casar com uma moça de Maubara e estabelecer-se por lá. Em 1975 foi um dos refugiados em Atambua evacuado para Portugal com a família, e foi morar no Porto. Durante muitos anos, antes de Timor se tornar moda e as pessoas fazerem cordões humanos vestidas de branco, havia pouca gente a mexer-se para que a situação mudasse, mas entre esses contava-se a CDPM, A Paz é Possível em Timor-Leste, o Prof. Barbedo de Magalhães e... a família Bessa. Quando a liberdade chegou a Timor, ele também veio para cá, tal como uma das filhas, e ambos construíram as suas casas no mesmo bairro de Díli. Questões de saúde e de família têm-no levado a dividir o tempo entre Timor e Portugal, e eu e a minha mulher acabámos por alugar a casa dele. No meu bairro toda a gente me conhece como o malai que alugou a casa do Avô Malai. “Avô” é aqui a forma de tratamento dos mais velhos, mesmo que não sejam da família. Se eu quiser perguntar o preço dos tomates no mercado a uma vendedora velhinha perguntarei “Avó, tomate ne’e folin hira?” (Avó, qual é o preço dos tomates?). A minha esposa é timorense, se tivermos filhos aqui eles serão “malae-oan”, filhos do malai.

Os malais, que são na generalidade umas criaturas muito cheias de manias estranhas, têm a obsessão do politicamente correcto (por exemplo, no mundo lá de onde vêm já não há “velhos”, agora há uns espectros trancafiados em lares e casas de repouso a que se chama “cidadãos da terceira idade”). Isso aplica-se inclusivamente a certos malais que chegam cheios de boas intenções a transbordar do peito e que se caracterizam pela atitude com que encaram os nativos “tão amorosos”: «Regozijai porque nós chegámos para vos salvar e trazemos a língua portuguesa, que é a panaceia universal que vai resolver todos os vossos problemas!» Alguns vem equipados para dar aulas sobre as obras de Gil Vicente e sobre “Os Lusíadas” e outras coisas que tais de que os timorenses precisam como de uma ida ao dentista sem anestesia. Há então uns malais que ficam muito escandalizados por serem chamados de malais, e que acham que isso é racismo e discriminação, e passam então a “ensinar” os nativos a não os chamarem assim. Os timorenses, inicialmente surpreendidos por os malais ficarem aborrecidos por serem chamados de malais, reagem com a benevolência que se deve ter com as crianças que ainda não sabem as regras de comportamento social (Sim, filho, o teu urso de peluche pode engolir o elefante do Mogli) e fazem-lhes a vontade, quando à sua frente. Alguns malais na terra deles já não chamam ciganos aos ciganos, mas mudaram-lhes o nome para “cidadãos de etnia cigana”; os timorenses acham que a língua serve para comunicar e não para complicar, por isso os chineses daqui não são chamados “cidadãos timorenses de etnia chinesa” mas sim “China-Timor” (Xina-Timór em tétum), o que permite distingui-los dos chineses recém-chegados, que não são de cá, e por isso são denominados de “China-Mandarim” ou “China” apenas. E já que falei em ciganos, lembremo-nos de que a palavra portuguesa “gajo” tem origem na língua antigamente falada por eles (o rom, ou romani, que ainda usam noutros países que não Portugal ou Espanha) e significava originalmente “alguém que não é cigano” (lembram-se do filme “Gadjo Dilo” – em tétum “malae bulak”?).

Também há uns malais burros que insistem em ouvir “malaio” em vez de “malai” (são normalmente os mesmos que pensam que o tecido tradicional “tais” tem um singular sem “s” e dizem preciosidades como “Olhe, sei lá, comprei hoje um tai divinal!”). Pelo menos actualmente, em Timor “malai” e “malaio” são duas palavras distintas com significados bem diferentes.

Mas afinal de onde vem esta palavra, “malai” na variedade de português que se fala em Timor e “malae” em tétum?

A. Mendes Corrêa no seu “Timor Português” (1944) diz que “por malai entendem os indígenas de Timor os estranhos, os Malaios de outras ilhas, os Chinas, os negros de África, os Árabes, os Portugueses metropolitanos, os Holandeses, os Europeus em geral. Eles próprios não se consideram Malaios, muito pelo contrário.»

Luís Thomaz num artigo de 1974, “Timor – Notas histórico-linguísticas”, pág. 231, defende que: “Por sua vez o nome que os malaios dão a si mesmos – melayu – tornou-se em Timor, sob a forma malae sinónimo de «estrangeiro, pessoa de fora de Timor» - recordação do tempo em que os malaios eram os únicos estrangeiros que apareciam nas costas da ilha. Osório de Castro nota que em Maluco o termo melayu é usado com o mesmo sentido.

Mas há quem considere que a etimologia da palavra “malai” em Timor não tem nada a ver com “melayu”.

No seu artigo “East Timor and the Southwest Moluccas: Language, Time and Connections” (2000), Aone van Engelenhoven e John Hajek dizem-nos (pág. 121):

«A importante distinção entre os chamados ‘donos da terra’ e ‘donos dos barcos’ nas ilhas do Sudoeste das Molucas é não apenas crítica para as estruturas sociais na região, mas também um importante indicador histórico das relações com Timor no passado. Os ornusa ou clãs ‘donos da terra’ eram os verdadeiros senhores da terra, que já viviam nas ilhas antes da chegada dos ‘donos dos barcos’. Há textos históricos que revelam que a chegada dos donos dos barcos foi despoletada pela destruição da sua ‘Ilha Mãe’. Esta destruição é tradicionalmente explicada como o castigo supremo por uma luta fratricida que era proibida. Os nomes usados nestas histórias fornecem pistas importantes sobre ligações com Timor. Qualquer coisa que inclua malai como elemento reverte para Timor – o que se vê por exemplo em Sairmalai, o nome timorense do herói letinense Slerleti. ((32 A palavra malai, apesar das aparências, não tem nada a ver com Malay (ing.) [ou malaio (port.)], uma malformação europeia de melayu.)) O resultado é que todos os heróis, e consequentemente também os clãs que deles descendem, são considerados como sendo de origem timorense. O segmento Malai (lit. ‘Timor’) em muitos apelidos de família é altamente reverenciado devido à sua referência óbvia. Os exemplos incluem os apelidos Pelmalai ‘aliado timorense’ na ilha de Nila, e Maranmalai na ilha de Léti.

Reuniões recentes entre famílias keienses e do Sudoeste das Molucas na Holanda revelaram como ambos os lados tinham em comum narrativas semelhantes sobre a destruição de uma terra ou continente no ocidente (centrado na área de Timor-Luang). As histórias dos clãs falam sobre barcos que navegavam para o oriente a partir de
Lun-Let, o nome keiense para o continente que era Luang. Os mitos letinenses contam-nos sobre pessoas que navegavam para e de Timor, e sobre o estabelecimento de povoações de ‘donos de barcos’ na costa de Malakitna-Malaliawna, o irmão mais novo (com malai ‘Timor’ bastante evidente).

As ligações entre comunidades em Timor-Leste e no Sudoeste das Molucas mantiveram-se mais directamente até tempos relativamente recentes. Alianças formais tradicionais, por exemplo, foram mantidas entre os governantes tradicionais de Kísar e Baucau até perto de meados deste século, mas acabaram por ser quebradas pelos portugueses. Também é verdade que laços de comércio tradicional foram mantidos até mais recentemente ainda, particularmente com comerciantes que falavam tétum de Leti e de Luang que se sabia visitarem Timor-Leste.
» (A tradução do inglês é minha.)

Lendas na língua de Léti que mencionam esta ligação a Timor (Malai), e a sua análise antropológica e linguística, podem ser consultadas no livro de Aone van Engelenhoven “Leti, a language of Southwest Maluku” (2004), por exemplo nas págs 328, 329, 398.

Os dados destes autores relativos à antroponímia parecem ocorrer também entre os fatalucos da Ponta Leste de Timor, conheço uma moça de lá, de uma família “ratu“ (da nobreza), cujo nome tradicional (o do knua, não o dos documentos nem o “nome de estima” de casa) é Jar Malai. Na segunda parte do “Léxico Fataluco-Português” do Padre Alfonso Nacher, publicado na revista do Instituto Nacional de Linguística (2004), na pág. 122 pode ver-se que nesta língua a palavra “malai” pode significar “estrangeiro” mas também “liurai” (rei).

Enfim, na falta de mais dados, a origem da palavra é uma questão ainda em aberto. O que é certo é que o termo não é visto pelos timorenses como pejorativo ou insultuoso, antes pelo contrário. E quando um timorense quer insultar um malai salientando essa sua condição de não-filho-da-terra, não lhe chama “malae!”, recorre antes a epítetos como “kolonialista!”, ou, de forma mais poética, pode optar por formas como “fahi-mutin” (porco branco).