sexta-feira, março 07, 2008

Café pelo mundo

Sendo um viciado em café, lembrei-me de vir à Internet à procura de outros como eu. Encontrei um blog inteiramente dedicado ao Nescafé nos diferentes países do mundo. Alguém pode ajudá-lo com informação sobre Portugal?

Entretanto, fiquem com dois reclames. Um do Nescafé nas Filipinas:



E outro do Nescafé na Indonésia:


quinta-feira, março 06, 2008

Cursos de língua para objectivos específicos

Quando estava em Timor havia colegas malais que de vez em quando iam de férias para a Tailândia. Reapareciam magrinhos, cheios de olheiras, com um ar exausto e um sorriso de orelha a orelha. Inquiridos, abriam ainda mais o sorriso e diziam qualquer coisa sobre terem passado o tempo a ver monumentos.

Em Timor também há quem veja monumentos. Quando cheguei a Díli, em 28 de Abril de 2001, o Instituto Camões pôs-me com a colega que me acompanhava, e os que chegaram depois, a morar no Hotel Starlight, acabadinho de inaugurar. Mais tarde mudaram-nos para outro hotel, o que foi acertado porque uns tempos depois o Starlight mudou de ramo e passou a ser um bordel de prostitutas tailandesas. Uma noite estava a beber um copo num bar e acabei na conversa com o tipo que estava sentado no banco ao lado do meu, um malasiano de origem indiana que se riu quando declarei a minha nacionalidade e me perguntou porque não estava no Starlight com os meus compatriotas todos. Circulavam então por Díli entre a comunidade de expatriados anedotas sobre os magalas lusos que arranjavam namoradas entre as trabalhadoras do estabelecimento e armavam zaragata quando calhava terem licença das suas unidades no mesmo dia dois namorados da mesma moça.

Uma tarde, vinha eu de dar o meu passeiozinho de motorizada ao longo da praia até ao Cristo-Rei, deparei-me com um amigo meu, que tinha sido militar em Portugal antes de ter emigrado para a Austrália. Parei e ficámos na conversa. Ele também tinha encontrado ali na Areia Branca alguns camaradas da mesma tropa que estavam a fazer uma comissão nas Forças de Manutenção da Paz lá em Timor e juntei-me ao grupo. Cada um dos colegas dele estava acompanhado de uma rapariga tailandesa. Elas só tinham expediente à noite e portanto estavam de folga. Eram simpáticas as cachopas, e falavam pelos cotovelos num inglês meio estropiado que no início custava a perceber. Quando expliquei que era professor de português uma delas resolveu impressionar-me com os conhecimentos que tinha da língua, e desatou a dizer, numa sucessão muito rápida, uma enorme lista de termos e expressões que davam conta, no calão mais vernáculo que se possa imaginar, de todas as variantes possíveis de actos sexuais. Suponho que Camões, que tinha fama de entendido em lupanares e era um experimentado viajante dessas ásias por onde os portugueses ergueram o padrão pátrio, teria ficado orgulhoso das acções daqueles militares em prol da difusão da língua portuguesa. E ao ler as referências no Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas a cursos para desenvolvimento da competência parcial num dado idioma no que se refere a um domínio determinado e a tarefas específicas, não posso deixar de pensar que era exactamente disso que se tratava também ali.

domingo, março 02, 2008

Um brinde aos amigos

A vida tem altos e baixos. A felicidade às vezes surge em instantes fugazes, um bater de asas de borboleta e desaparece. Mas de vez em quando damos por nós a ficar surpreendidos por vê-la durar. Eu tive dois períodos na vida em que fui intensamente e consistentemente feliz. Um desde que em Timor comecei a namorar com a Fernanda, a minha esposa, e que ainda continua, renovando-se em cada amanhecer. Outro, na época em que morava na Residência Universitária Ribeiro Santos. Foram tempos de pobreza (ainda ontem ao folhear o Diccionario Teto-Português, de 1907, de Raphael das Dores, me lembrei do que me custou – não me recordo do preço em dinheiro, mas sim que, tendo-o encontrado num alfarrabista lisboeta, andei quase duas semanas a comer só uma refeição por dia para poder comprá-lo), mas também houve muito amor, amizade, solidariedade, e descoberta das coisas importantes da vida.
Os anos foram passando, eu morava do outro lado do mundo, e perdi o contacto com os amigos dessa época. Mas de vez em quando alguma coisa aparece que me faz recordar algum colega desse tempo. O vídeo que se segue, que encontrei no YouTube, fez-me lembrar da Clara. :-)




Se o de cima não funcionar tente este:



OS LÍRICOS

OS LÍRICOS
Sobre amos em Timor e outras construções do imaginário


Quando eu era miúdo era comum entre o meu círculo de amigos chamar a quem tivesse ideias fantasiosas, desligadas da realidade, um “lírico” ou, com mais frequência, um “p… lírico” (em que “p…” era um palavrão sinónimo de “c…”). Eu, que até era um puto bem comportado, evitava o uso do calão (o que fazia de mim uma ave rara entre a miudagem da minha terra), no entanto agora vem-me sempre essa expressão à cabeça quando leio certos textos sobre Timor que pintam uma imagem idílica muito distante da realidade dos factos. Muitos activistas ou simpatizantes da causa da autodeterminação nos anos da ocupação habituaram-se a imaginar um povo de santos mártires e heróicos guerrilheiros imaculados e sentem-se traídos nas suas expectativas quando os timorenses se revelam apenas… humanos. Recentemente encontrei num blogue sobre actualidade timorense muito frequentado trocas de acusações entre leitores que denunciavam ou defendiam a Fretilin com base em factos revelados pelo Relatório da Comissão de Acolhimento, Verdade e Reconciliação sobre violações de direitos humanos perpetradas por aquele partido durante a guerra civil e os primeiros anos da ocupação. Neste tipo de debates é frequente os participantes de ambos os lados assumirem posições radicais de defesa fanática dos seus correligionários e tentarem mostrar os opositores políticos como a encarnação do Mal absoluto. E a verdade é a primeira baixa nessas guerras de palavras. Tem-se visto isso muito na blogosfera e nos artigos de opinião que abundam sobre política timorense recente.
Porém, os textos um pouco mais antigos também sofrem muitas vezes do mesmo mal. Um exemplo que costumo citar é o artigo de Elaine Brière intitulado “East Timor: History and Society”, incluído na colectânea “East Timor: Occupation and Resistance” organizada por Torben Retbløl e publicada em 1998. A autora diz que “antes da chegada dos portugueses os timorenses estavam organizados politicamente em cerca de 46 pequenos reinos independentes, todos livres e independentes uns dos outros(1), ignorando a verdade histórica de que esses reinos se guerreavam frequentemente entre si, e que estabeleciam em muitos casos relações de vassalagem uns com os outros. Mais à frente Elaine Brière declara que em 1974 “crimes como o incesto e a violência contra crianças ou contra a esposa eram virtualmente desconhecidos(2), contribuindo para reforçar uma imagem idealizada de “bom selvagem” que só viria a conhecer o crime e a perfídia com a invasão indonésia.
No mesmo tom temos um excerto de um texto de Maria José Albarran publicado em 2004, de que me lembrei ao ler uma certa passagem numa tradução inglesa do Noli Me Tangere, e que motivou o subtítulo desta breve reflexão. O tal excerto diz respeito à palavra “Amo”, usada pelos timorenses para se dirigirem aos padres:
“Item arcaizante, figura nos dicionários etimológicos e modernos como sinónimo de senhor, dono de criação, patrão de trabalhadores, antigo senhor de escravos, forma de tratamento do soberano pelos cortesãos, mas como masculino de ama, ou seja, sem evolução autónoma de étimo latino. Isto acrescenta-lhe o sentido carinhoso de hospedeiro, educador, pedagogo, já que a ama era tanto a criada que amamenta, como a dona de casa, a governante, sempre uma educadora. Julgo ter sido nesta última especialização semântica que o termo se difundiu, valorizando a vertente pedagoga do clero em Timor.” (3)
Ora, se nas conversas em tétum os timorenses usam habitualmente “amu”, nos textos aparece com mais frequência o composto “amu-lulik” ou a sua forma abreviada “amlulik” (em que “lulik” significa “sagrado”), e “amu-lulik” é sinónimo de “na’i-lulik”. “Na’i” é a forma de tratamento usada para um liurai (rei) ou um dato (nobre), e foi também adoptada para os fiéis se dirigirem a Deus, traduzindo a palavra portuguesa “Senhor”. Diz-nos o Disionáriu Nasionál ba Tetun Ofisiál, monumental obra lexicográfica de referência para a língua tétum com 872 páginas, publicada pelo Instituto Nacional de Linguística em 2005:
amu
substantivu 1. Ema ida ne’ebé ema seluk nia patraun ka xefe. SIN. na’in, patraun
2. Títulu haraik-an ne’ebé ita fó ba patraun, xefe ka amlulik.

amlulik mós amu-lulik
substantivu Mane ida ne’ebé hala’o kultu relijiozu no hanorin kona-ba Maromak. SIN. na’i-lulik, padre

na’i mós na’i-mane
substantivu 1. Mane ida ne’ebé iha fatin aas iha sosiedade, hanesan liurai, dato, emboot ka patraun.
2. Ema-mane ida ne’ebé ita respeita tanba matenek, barani ka oin-na’in. SIN. señór, usi. ‘Na’i Maromak’ ne’e títulu ne’ebé ita ema baibain fó ba Maromak.

na’i-lulik
substantivu Mane ida ne’ebé hala’o kultu relijiozu no hanorin kona-ba Maromak. SIN. amlulik, padre
(4)
Ainda sobre a entrada da palavra portuguesa “amo” para línguas de Timor, encontramos na Revista Missões, publicada em Lisboa pelos Jesuítas, Ano XIII, número de Maio/Junho de 1960, um texto intitulado “Deus em Timor”, no qual podemos ler uma lista de termos para designar Deus em diversos idiomas timorenses que inclui “Amo Deus” em galole, midique e uaima’a. O autor do texto comenta: “Para evitar confusões, introduziram então termos ocidentais, mais ou menos infelizes, como esse do Amo Deus. Mas a língua não teria sequer possibilidades de traduzir o antiquado «amo», patrão ou Senhor? Ou de... o suprimir até?”. Em tétum não houve necessidade de usar neste contexto empréstimos lexicais uma vez que já existia uma palavra para uma entidade de natureza divina “Maromak” que passou a ser usada para o Deus dos católicos, às vezes associada a “Na’i”:
Glória ba Maromak leten aas bá. (5)

Pás iha raiklaran
ba ema sira be Na’i hadomi.
Na’i Maromak,
Liurai Lalehan nian.
Aman Maromak bele halo hotu-hotu
ami hahi’i Ita-Boot
(…)”

Não passa pela cabeça de ninguém negar a importância da vertente pedagoga da Igreja em Timor, mas parece-me fantasioso querer demonstrar que a palavra “amo” não tivesse entrado para as línguas locais com o seu significado de “figura de autoridade”.
Já tenho dito e escrito em diversos locais que a Igreja Católica foi talvez a mais importante instituição na criação e amadurecimento da cultura moderna timorense e de uma identidade nacional diferenciada. Esse papel não cessou ainda.
Benedict Anderson, o celebrado autor de Imagined Communities: Reflections on the Origins of Nationalism e um velho amigo de Timor, publicou em 1993 um texto, baseado numa conferência do ano anterior, de que a revista galega Çopyright publicaria depois em 1999 uma tradução sob o título “Imaginar Timor Leste”. Aí o autor dizia:
A minha percepção é de que em 1974-75 o verdadeiro nacionalismo timorense tinha ainda uma ténue base de apoio; talvez apenas uma pequena percentagem da população pudesse então imaginar realmente o futuro Estado-Nação de Timor Leste. Desde 1975 a situação mudou dramaticamente. (…) Um dos principais projectos do estado de Suharto foi o de "desenvolver" a Indonésia. Isto envolve necessariamente um certo tipo de definição do que significa ser um verdadeiro indonésio. Parte dessa definição decorreu dos massacres anti-comunistas de 1965-66, que foram em parte entendidos como uma luta contra o ateísmo. Em consequência, hoje todo o indonésio tem de seguir uma religião do Livro. Neste ponto, o estado indonésio acaba enredado numa estranha ratoeira. Em 1975 a maioria dos timorenses era ainda animista. Fazer deles "indonésios" significou "erguê-los" do animismo a uma religião decente, o que, dadas as realidades existentes, significou Catolicismo. Ao mesmo tempo, o Estado estava perfeitamente consciente dos perigos da implantação do catolicismo, sobretudo devido ao facto de Roma insistir em tratar directamente com Timor Leste, ultrapassando a conformista hierarquia católica indonésia. Assim, o regime indonésio a um tempo desejou e receou o alargamento da influência do catolicismo. Nos últimos dezassete anos, a população católica do território mais que duplicou de tamanho. Em Timor Leste todos sabem que se se é membro da Igreja católica, beneficia-se de protecção de acordo com a própria lógica do estado; ao mesmo tempo desenvolveu-se um catolicismo popular como expressão de um sofrimento comum, tal como sucedeu na Irlanda do século XIX. Este elemento comum católico num certo sentido substituíu aquele tipo de nacionalismo de que falei noutros lugares, o qual deriva da articulação entre imprensa e capitalismo. Além do mais, a decisão da hierarquia católica em Timor Leste de usar Tetum, e não indonésio, como a língua da Igreja, teve efeitos profundamente nacionalizadores. Transformou o Tetum, de uma língua local ou língua franca em certas partes de Timor Leste, na língua da religião e da identidade de Timor Leste.” [o sublinhado é meu]
Mas, sem deixar de reconhecer o importante papel desempenhado pela Igreja em Timor, não podemos criar uma imagem idealizada e distante da realidade na qual o clero apareça transfigurado em meiga ama-de-leite que exerce o seu labor pedagógico na mais mansa das atitudes. Os timorenses contam muitas histórias sobre venerandos padres famosos por distribuírem chapadas no meio das missas, e nas escolas da Igreja também se continuam a usar ainda hoje (como nas do Estado) castigos corporais. Ao longo da história a Igreja esteve muitas vezes na posição de autoridade mesmo no mundo secular, e a evangelização de Timor não foi isenta de querelas. No livro “Timor Loro Sae - 500 Anos”, o historiador Geoffrey C. Gunn conta-nos sobre disputas no séc. XVII entre os dominicanos já instalados e os jesuítas que pretendiam instalar-se e cita documentos desta última ordem que “sugerem uma actuação criminosa por parte dos dominicanos invejosos, que, tendo vivido ali durante 100 anos, «se recusam a aprender a língua nativa para grande detrimento da salvação do povo. Não impedem os pregadores muçulmanos de islamizar os gentios, mas gostariam de expulsar os outros missionários. Ocupam-se activamente a construir barcos para o seu comércio e a obter lucros, deixando as almas ao abandono».” (pág. 83)
A palavra “amo” como forma de tratamento dos sacerdotes não é de resto exclusiva de Timor. Também existe nas Filipinas, que tal como Timor são uma sociedade católica conservadora culturalmente mestiça ibero-asiática. Vejamos então um trecho de “Noli Me Tangere”, grande romance de José Rizal, nacionalista filipino do séc. XIX fuzilado pelas autoridades coloniais espanholas, no original em espanhol e em traduções para inglês e para tagalog:

«Entretanto el entusiasmo del predicador subía por grados. Hablaba de los antiguos tiempos en que todo filipino, al encontrar un sacerdote, se descubría, doblaba una rodilla en tierra, y le besaba la mano. “¡Pero ahora – añadía- sólo os quitáis el salakot o el sombrero de castorcillo, que colocáis medio ladeado sobre vuestra cabeza para no desarreglar el peinado!. Os contestáis con decir: ¡buenos días, among!9 [Nota 9: Del español 'amo,' señor, usado en tagalog como adjetivo y por lo tanto con la desinencia 'ng.' La frase completa sería 'ámong pare' o 'ámong cura.'], y hay orgullosos estudiantillos de poco latín, que por haber estudiado en Manila o en Europa se creen con derecho de estrecharnos la mano en lugar de besarla... ¡Ah!, el día del juicio pronto viene, el mundo se acaba, muchos santos lo han profetizado, ¡va a llover fuego, piedra y ceniza para castigar vuestra soberbia!”.
Y exhortaba al pueblo a que no imitase a esos salvajes, sino que los huyese y aborreciese, porque estaban excomulgados.
- ¡Oíd lo que dicen los santos concilios! - decía-. Cuando un indio encontrare en la calle a un cura, doblará la cabeza y ofrecerá el cuello para que el among se apoye en él; si el cura y el indio van a caballo ambos, entonces el indio se parará, se sacará el salakot o sombrero reverentemente; en fin, si el indio va a caballo y el cura a pie, el indio bajará del caballo y no volverá a montar hasta que el cura le diga ¡sulung!,10 o esté ya muy lejos. Esto dicen los santos concilios y el que no obedezca estará excomulgado”. » (6)

«In the meantime the preacher’s enthusiasm was growing by leaps and bounds. He referred to the old times when every Filipino on meeting a priest, uncovered himself, bent one knee to the ground and kissed the hand of the religious. “But today,” he added, “he removes only his sakalot or his felt hat, which is tilted one way so as not to disarrange the hair! You are content with saying: Good morning among, master; and there are arrogant estudiantillos who know little Latin who, because of having studied in Manila or in Europe, believe it their right to shake our hand instead of kissing it. Ah! the world is coming to an end; many saints have prophesied it. It is going to rain fire and brimstone to punish your pride!”
And he exhorted the people not to imitate those savages; to flee from them, abhor them, because they are excommunicated. “Pay attention to what the holy councils proclaim,” he said. “When an Indio meets a priest on the street, he must bend his head and offer his neck for the among to lean on. If the priest and the Indio are both on horseback, then the Indio should stop, reverently remove his sakalot or hat; and finally, when the Indio is on horseback and the priest on foot, the Indio should get down from his horse and not mount it again until the priest tells him sulong! begone! Or is already far away. That is what the holy councils say and he who does not obey will be excommunicated.” » (7)

«Samantala nama’y lalong nag-uulol ang sigabo ng kalooban ng nagsesermon. Tinutukoy ang matatandang kapanahunan, noong pag nakasalubong ng isang pari ang sinumang Pilipino ay nag-aalis ng sumbrero, iniluluhod sa lupa ang isang paa at humahalik ng kamay. “Datapwa’t ngayon,” ang dugtong niya, “ay nag-aalis na lamang kayo ng salakot o ng sumbrerong kastorilyo, na inilalagay ninyong pakiling sa ulo, upang huwag magusot ang buhok! Nasisiyahan na kayo sa pagsasabi ng: magandang araw po among! At may mga mapalalong estudiantillos de poco latin, na sa dahilang nakapag-aral sa Maynila o sa Europa ay nag-aakalang nararapat nang kami’y kanilang kamayan at huwag halikan ng kamay…”“Ah…ang araw ng paghuhukom ay nalalapit na, ang mundo’y natatapos na; maraming banal ang humula ng gayon, uulan ng apoy, bato at abo upang parusahan ang inyong kapalaluan!”
At pinangaralan ang bayan upang huwag gumaya sa mga salbaheng iyon, kundi bagkus pa ngang sila’y layuan at kamuhian sapagka’t silay mga excomulgado.“Pakinggan ninyo ang sinasabi ng mga santong concilio!” anya, “kapag natagpuan ng isang Indio sa lansangan ang isang kura ay iyuyuko ang ulo at ihahain ang leeg upang ang among ay makapangalalay; kung ang kura at ang Indio ay kapwa nangangabayo, ang Indio ay titigil, magalang na mag-aalis ng salakot o sumbrero; sa kahuli-hulihan, kung ang Indio ay nangangabayo at ang kura ay naglalakad, ang Indio ay lulunsad sa kabayo at hindi sasakay na muli hanggang hindi siya pinagsasabihan ng: sulong ng kura, o kaya’y malayung-malayo na ito. Ito ang sinasabi ng mga banal na konsilyo at ang hindi sumunod ay eskomulgado.” » (8)


(1) - “Before the arrival of the Portuguese the Timorese were politically organized into some 46 small independent kingdoms, all free and independent of one another.
(2)Crimes such as incest and child and wife abuse were virtually unknown.”
(3) O artigo chama-se “Aprendizagem do Léxico Português e Empréstimos – Timor, restante Sudeste Asiático e Japão” e foi publicado em 2004 na revista do Instituto Nacional de Linguística “Estudos de Línguas e Culturas de Timor-Leste”.
(4) amu
substantivu 1. Pessoa que é patrão ou chefe de outrem. SIN. na’in, patraun
2. Título de respeito que se usa para o patrão, o chefe ou um sacerdote.

amlulik também amu-lulik
substantivu Homem que preside ao culto religioso e que ensina sobre Deus. SIN. na’i-lulik, padre

na’i também na’i-mane
substantivu 1. Homem com uma posição alta na sociedade, como um liurai, um nobre, um governante ou um patrão.
2. Homem respeitado pela sua inteligência, coragem ou hospitalidade. SIN. señór, usi. ‘Na’i Maromak’ ne’e títulu ne’ebé ita ema baibain fó ba Maromak.

na’i-lulik
substantivu Homem que preside ao culto religioso e que ensina sobre Deus. SIN. amlulik, padre

[As traduções são minhas]


(5) Gloria in Excelsis Deo
“Glória a Deus nas alturas,
e paz na terra
aos homens por Ele amados.
Senhor Deus, Rei dos céus,
Deus Pai todo-poderoso:
nós Vos louvamos
(…)”
(6) Da versão em linha http://de.geocities.com/hispanofilipino/Noli/nolitocframe.html acedido em 14 Fev 2007
(7) In “Noli Me Tangere – a novel”, from José Rizal, translated by Soledad Lacson-Locsin, page 211, 212, in Chapter 32 - “The Sermon” [© 1996 Bookmark, © 1997 School of Hawaiian, Asian & Pacific Studies]
(8) Noli Me Tangere ni Jose Rizal, by Teresita P. Capili-Sayo and Cresenciano C. Marquez, Jr., page 161-162, Kabanata 32 – Ang Sermon [© 2000 Phoenix Publishing House, Inc. Quezon Avenue, Quezon City, Philippines] – Agradeço à Jan o envio desta versão em tagalog do texto.

domingo, fevereiro 03, 2008

As palavras mais frequentes do tétum

A tradução do Novo Testamento em tétum que está em linha não segue a ortografia oficial desta língua, mas ainda assim permite encontrar dados muito interessantes.
Sabe qual é a palavra mais frequente em tétum?
"nia", com 11791 ocorrências nesta versão do Novo Testamento (contando as ocorrências do pronome pessoal 3p sg e as do genitivo).
Seguem-se os seguintes vocábulos:
"sira", com 7695 ocorrências
"ba", com 6689 ocorrências (na ortografia do INL haveria que dividir entre "" - 'ir' e "ba" - 'para'
e ainda
4752 iha
4482 nebe [na ortografia oficial "ne'ebé"]
4006 e [isto não é a palavra do tétum téric para "ou" (que é grafada eh com 148 ocorrências), mas sim uma parte do termo "ne'e" - um dos defeitos do sistema é que não reconhece o apóstrofo que marca a oclusiva glotal, pelo que "ha'u" é dividido em "ha" e "u" como nos dois casos que se seguem]
3930 u
3845 ha
3791 no
3708 imi
3615 ema
3317 la
3244 ne [ver nota junto de "e"]
2715 ida
2393 sei
2341 o
2172 atu

domingo, janeiro 27, 2008

Novo Testamento em tétum em linha

O Novo Testamento em tétum está disponível em linha neste endereço http://www.intratext.com/IXT/TET0001/_INDEX.HTM#fonte . E tem um extra muito útil para linguistas: permite consultas sobre estatística, como ocorrências de palavras (apresenta o número de vezes que ocorre e o contexto nas frases).
Por exemplo a palavra "prasa":
Livro Capítulo: Verso
1 Mat 11:16 labarik sira nebe tur iha prasa, koalia ba malu,

quinta-feira, janeiro 24, 2008

Timor-Leste: Interesses Internacionais e Actores Locais

Vídeos sobre a apresentação do livro “Timor-Leste: Interesses Internacionais e Actores Locais” pelo seu autor
Ainda não li a obra, mas pretendo fazê-lo logo que possa. Vale a pena ver e ouvir estes vídeos. O Prof. Barbedo em plena forma a mostrar que continua a ser uma das (poucas) pessoas em Portugal que sabem o que dizem quando falam de Timor...

quarta-feira, janeiro 16, 2008

Algumas bocas e muitas línguas

Só falo português com o meu filho de quatro meses. Canto-lhe desde o primeiro dia a Canção de Embalar do José Afonso para o adormecer (que ele reconhece perfeitamente) e ando-lhe a ler o Romance da Raposa, de Aquilino Ribeiro. Ele gosta muito, provavelmente do som da voz acompanhado de sorrisos e contacto visual, já que as aventuras da raposa matreira, fagueira e lambisqueira ainda estão, por enquanto, para além da sua compreensão. A minha esposa, por outro lado, só fala tétum com ele. Eu e ela conversamos sempre em tétum um com o outro, mas usamos português com os meus pais que moram aqui ao lado. O nosso filho será bilingue. Aqui é uma coisa rara, em Timor é o que acontece com quase toda a gente. A minha mulher falava habitualmente tétum em casa, tocodede com parte dos tios e vizinhos em Liquiçá, e indonésio em todo o percurso escolar até ao fim da escola secundária. Quando foi para Díli para a Universidade passou a estudar em português e morou durante três anos em casa de tios de etnia chinesa, do lado materno, falantes de hakka. Ela sabe apenas algumas frases básicas nesta língua, mas temos esperança de voltar brevemente para Timor e dar oportunidade ao nosso bebé de contactar diariamente com as primas chinesas, acrescentando assim mais um idioma aos que ele dominará desde tenra idade.

Há aldeias timorenses que ficam em zonas de fronteira entre várias línguas diferentes e onde é comum toda a gente ser plurilingue. Porém, não é a mesma coisa ser multilingue em tétum, búnac e quêmac, ou em português, alemão e francês. Não há Aquilinos nem Goethes nem Zolas em línguas timorenses. Por enquanto. Isto significa que ao encetar a aprendizagem de um novo idioma com uma grande tradição literária e científica o aprendente inicia uma caminhada que o pode levar muito longe no conhecimento das realizações do espírito humano, mas quando se propõe aprender uma língua quase ágrafa o seu percurso será necessariamente diferente e serão outras as tradições que poderá ter esperança de vislumbrar. Os plurilingues timorenses falam maioritariamente idiomas que abrem portas internas dentro da sua ilha, mas que não constituem janelas para o mundo, nem sequer para a sua própria história. Daí que o português seja tão importante.

Na imaginação popular os bilingues são umas criaturas esquisitas, uma espécie de bicéfalos, com dois cérebros monolingues perfeitos independentes no mesmo corpo. Os textos clássicos falam sobre estratégias para conseguir isto, a mais famosa das quais é ter pessoas distintas a falar sistematicamente línguas diferentes para a criancinha na fase de aquisição da linguagem, como acontece com o meu filho – chama-se a isto o princípio de Grammont. Na verdade, a investigação mais recente sobre bilinguismo já se apercebeu de algo que as pessoas das comunidades bilingues sabem há muito tempo: os indivíduos bilingues não são uma fusão de dois monolingues num só, e misturam línguas, saltam de um idioma para outro no meio de uma conversa, e fazem tudo isto de acordo com regras definidas de forma bem rigorosa. Contudo, apesar de não corresponderem às expectativas irrealistas do povo, os bilingues precoces têm vantagens significativas na sua condição de co-proprietários de várias línguas: conseguem falar com mais gente e com grupos diversos; experimentam naturalmente a sensação de pertença a diferentes culturas; têm pronúncias nativas em mais do que uma língua, e, tendo à partida maiores probabilidades de ter uma soma mais abrangente de sons no conjunto dos seus sistemas fonológicos, terão maior facilidade em aprender a pronunciar correctamente novos idiomas; têm acesso à literatura ou outras realizações culturais associadas a cada uma das línguas que conhecem.

Na Europa cada vez mais se valoriza o conhecimento de muitas línguas, há quem defenda que todos os cidadãos europeus deveriam conhecer pelo menos mais duas, além da materna. Mas saber línguas também já não é o que era, hoje em dia é valorizado o conhecimento em função das necessidades. Já passou o tempo em que se esperava que todos os alunos de uma língua estrangeira aprendessem a ler os grandes escritores. Agora fala-se cada vez mais em ensino-aprendizagem centrado no aprendente e por objectivos específicos. E também há muito que deixou de haver a insistência nas supostas grandes virtudes pedagógicas da aprendizagem de línguas mortas como o latim e o grego antigo (mortas porque já não há quem as aprenda num processo normal de imersão na família na fase de aquisição da linguagem, apesar de o latim continuar a ser cultivado no Vaticano, onde até se criam neologismos).

E de vez em quando usam-se línguas vivas para falar com os mortos. Na casa dos meus sogros toda a gente sabe tocodede, mas a língua habitual quotidiana é o tétum, e é neste idioma que falam comigo. Mas quando fui levado à uma-lulik da família para ser apresentado como mane-foun aos espíritos dos antepassados, foi em tocodede que o meu sogro se lhes dirigiu. Às vezes a tradição ainda é o que era.

quarta-feira, janeiro 02, 2008

Siti Nurhaliza e capoeira

Aqui temos o teledisco da mesma canção, "Dialah Di Hati", com a letra para karaoke e com capoeiristas, e com a própria Siti Nurhaliza a tentar gingar...



segunda-feira, dezembro 31, 2007

Uma actuação de Siti Nurhaliza, belíssima diva da canção malaia

Os nativistas

Senghor dizia que a emoção é negra como a razão é grega. Senghor às vezes tinha ideias parvas. Um negro africano que é educado num ambiente intelectualmente estimulante onde se promove o espírito científico, que tem acesso a uma boa escola, pode tornar-se um especialista em física quântica ou nanotecnologia, e um grego ou americano ou sueco educado numa aldeia onde o único intelectual é o feiticeiro local pode vir a ser um brilhante dançarino e um excelente declamador de poesia tradicional. Há uns anos atrás (antes do acelerado processo de modernização de Portugal nas últimas três décadas), a vida de um camponês português era o trabalho duro não-mecanizado no campo, com intervalos para dançar o vira e rezar aos santinhos para que a colheita das batatas fosse boa. Era esperado que a vida do filho dele fosse semelhante.

Os movimentos nativistas como a negritude, de que Senghor foi um expoente, tinham subjacente a ideia de que o contacto com a cultura dos colonizadores corrompia e que o verdadeiro nacionalista tinha que ir procurar uma suposta “pureza” cultural nativa, intocada e magnífica, vinda directamente das raízes da mãe-terra, ligada aos rituais ancestrais. Em Timor o nativismo revelou-se no mauberismo, que exaltava aqueles que, ao contrário dos “assimilados”, tinham supostamente conseguido não ser conspurcados pelo colonialismo. O mauberismo produziu pouco em termos literários, alguma coisa ao nível da chamada “poesia de combate” (má, na maior parte) e algumas cantigas políticas. Mostrou-se contudo muito produtivo como forma de propaganda política e mobilização, e nalguns sectores a sua influência continua até hoje.

Porém, nesta época de marketing new age, em que muita gente anda à procura de “autenticidade” e de “culturas e práticas medicinais milenares”, e outras coisas que tais, Portugal também exporta malais nativistas para Timor. São uma espécie engraçada, querem tudo típico, pitoresco, e “realmente tradicional”: as roupas, o artesanato, a música, a comida... (Indignam-se se alguém lhes sugere que comam nasi goreng, por ser indonésio, e exigem katupa, que crêem “verdadeiramente timorense” – sem saberem que a palavra katupa é ela própria um antigo empréstimo lexical do malaio). Os nativistas acham que o bom nativo é o nativo “genuíno”, gostam que os indígenas sejam autênticos e ficam chateados quando os autóctones não colaboram.

Se em Portugal as suas filhas adolescentes vão à missa com roupas mais casuais eles aplaudem os sinais de abertura e modernização da Igreja Católica portuguesa que já deixou de impôr códigos de vestuário arcaicos e criticam jocosamente os comentários reaccionários da avó que lá na aldeia natal protesta contra a “pouca-vergonha” das netas, mas se as moças timorenses fazem o mesmo, os nativistas imediatamente barafustam em coro com as velhas locais que falam da degradação e da falta de dignidade das novas gerações. E, claro, denunciam os efeitos nefastos da globalização contra as culturas nacionais e locais. Como eles é que sabem o que é melhor para o futuro de Timor, nem se lembram de perguntar às jovens quais são as impressões delas sobre o assunto. Também não querem ouvir falar de guitarras eléctricas e afins na terra do crocodilo. No entanto, estes nativistas cá em Portugal não obrigam os seus rebentos a restringir o seu gosto musical às recolhas de cantigas tradicionais feitas por Michel Giacometti, e não pensam que os seus filhos fiquem menos portugueses por ouvirem Pedro Abrunhosa, ou Silence 4, ou Sex Pistols, ou death metal.

Os nativistas quando estão cá são gente bem-pensante, cosmopolita q.b., e riem-se do país atrasado e parolo dos “tempos da outra senhora”. Por exemplo, durante a ditadura salazarista a Coca-Cola era proibida em Portugal. Uma das razões era a protecção da viticultura (“Beber vinho é dar de comer a um milhão de portugueses”, dizia-se então), mas no livrinho de Maria Filomena Mónica “Os Costumes em Portugal” (um dos “Cadernos do Público”) cita-se uma carta de Salazar a A. Makinsky, responsável da empresa para a Europa, que mostra uma outra razão: «Sei perfeitamente que o senhor nada tem a ver com vinhos, nem com sumos de fruta e é bem por outra razão que – apesar das excelentes relações que mantemos, o senhor e eu, e que datam da época em que representava a Fundação Rockefeller e não sonhava sequer em fazer parte da Coca-Cola – sempre me opus à sua aparição no mercado português. Trata-se daquilo a que eu poderia chamar a ‘nossa paisagem moral’. Portugal é um país conservador, paternalista e – Deus seja louvado – ‘atrasado’, termo que eu considero mais lisonjeiro do que pejorativo. O senhor arrisca-se a introduzir em Portugal aquilo que eu detesto acima de tudo, ou seja, o modernismo e a famosa ‘efficiency’. Estremeço perante a ideia dos vossos camiões a percorrer, a toda a velocidade, as ruas das nossas velhas cidades, acelerando, à medida que passam o ritmo dos nossos hábitos seculares.» Os nativistas, que não hesitam em rejeitar as opções de Salazar que mantiveram o país como uma espécie de terceiro mundo dentro da Europa, também não hesitam em imitar o raciocínio do velho ditador quando falam da terra dos outros.

quinta-feira, dezembro 27, 2007

Anggun, uma cantora indonésia com sucesso internacional

Anggun é uma cantora indonésia que mora em França e conseguiu sucesso internacional, tendo já cantado em parceria com artistas de renome como Peter Gabriel. O seu sítio oficial na internet pode ser consultado aqui: http://www.anggun.com/indexFr.html


terça-feira, dezembro 25, 2007

segunda-feira, dezembro 24, 2007

Texto antigo para copiar para outros blogues

Este é um texto originalmente publicado por duas amigas minhas - e ex-alunas - no jornal literário do Departamento de Língua Portuguesa da UNTL. Foi depois incluído por nós no nosso livro colectivo “O que é a lusofonia – Saida maka luzofonia”.


Lisensiatura kona-ba Lia-Portugés no Kultura Luzófona sira

Ita hotu hatene katak ita-nia nasaun iha lian ofisiál rua, tetun no portugés. Ne’e desizaun matenek husi ita-nia na’i-ulun sira, tanba hanesan ne’e timoroan sira ne’ebé seidauk hatene portugés mós bele komunika ho Estadu. Porezemplu, tia ida iha foho ne’ebé laeskola bele hakerek surat – ka husu ba ema ruma atu hakerek – uza de’it tetun no haruka ba Ministériu ida ka ba Tribunál kona-ba problema ruma ne’ebé nia hetan. Maibé ita mós hatene katak tetun sei tuir hela prosesu atu dezenvolve an, no lia-portugés maka nia belun istóriku no lia-portugés maka lian nasaun Timór Lorosa’e nian ne’ebé ita uza hodi hatene kultura aas. Ita seidauk bele lee ho tetun Mahabarata ka Odisseia ka testu sira husi Stephen Hawking ka António Damásio, Santu Agostiñu ka Karl Marx, Shakespeare ka Camões, José Saramago ka George Orwell. Ita seidauk bele uza tetun hodi koñese Literatura Boot husi mundu ne’e, ka hatene kona-ba siénsia foun oioin, no importante tebetebes ba intelektuál sira atu lee kona-ba buat hirak-ne’e hotu. Selae ita sei sai nasaun ida ke la iha matenek-na’in. No matenek-na’in sira de’it maka bele hatene porezemplu oinsá atu prodús eletrisidade, halo operasaun ba ema moras, ke’e mina-rai iha tasi-kidun, ka dezenvolve ita-nia ekonomia... Ita timoroan sei bele uza lia-portugés atu estuda kona-ba asuntu hirak-ne’e.
Tebes duni, ema barak seidauk hatene portugés moos. Tia husi foho ne’ebé ita temi tiha ona bele komprende fraze ida hanesan ne’e “Maria konta ke Domingu-Domingu, depoizde misa, avó bá merkadu halo kompras. Nia presiza kafé, repollu, pepinu, alfase, mostarda, agriaun, tomate, kouve, salsa, ervilla i senoura.” Maibé tia ida-ne’e la bele lee A última morte do Coronel Santiago, husi hakerek-na’in timoroan Luís Cardoso. Hanesan de’it tia mós bele ko’alia “bahasa pasaran” maibé nia la hatene lee Bumi Manusia, husi autór indonéziu Pramoedya Ananta Toer. Ema ne’ebé hakarak estuda atu hatene portugés moos iha oportunidade oioin. Labarik sira hotu oras-ne’e estuda ona iha eskola primária, profesór sira iha Dili no iha distritu tuir daudaun Baxarelatu atu aprende lian ida-ne’e, no foin-sa’e sira ne’ebé remata eskola sekundária no iha intensaun atu buka matenek bele mai estuda iha ami-nia Lisensiatura kona-ba Lia-Portugés no Kultura Luzófona sira.
Universidade Nacional de Timor Lorosa’e maka hala’o Lisensiatura ida-ne’e, iha Faculdade de Ciências da Educação, hahú tiha ona iha tinan akadémiku 2001/2002. Iha kursu ne’e ami estuda buat oioin interesante tebetebes: lia-portugés, literatura husi Portugál, Brazíl, rain oioin iha Áfrika no Timór Lorosa’e, kultura Timór nian no rain seluk nian, gramátika, linguístika, Istória Timór Lorosa’e nian no seluseluk tan. Ami-nia kursu mós fó atensaun maka’as ba lia-tetun, no ami tuir kadeira (ho lia-indonézia katak mata kuliah) hanesan Padronizasaun no Ortografia Tetun nian, no Gramátika Tetun nian. Bainhira ami-nia Lisensiatura hotu ami sei bele buka serbisu nu’udar profesór, durubasa, tradutór, sekretária, jornalista, ka funsionáriu iha fatin sira ne’ebé ezije ema atu hatene momoos lian ofisiál rua ita-nia nasaun nian. Ami-nia profesór barak mai husi Portugál no rain sira seluk ne’ebé mós iha lia-portugés nu’udar lian ofisiál, liuliu husi Instituto Camões. Ami mós hala’o atividade oioin hanesan jornál kona-ba literatura “Várzea de Letras”, teatru, tradusaun, nsst...
Joven timoroan, mai estuda ho ami!

Testu husi Icha Bossa ho Irta Araújo,
publika tiha iha
Várzea de Letras, Suplemento Literário mensal do jornal Semanário, nº 4 [5], Julho 2004



Licenciatura em Língua Portuguesa e Culturas Lusófonas

Todos sabemos que a nossa nação tem duas línguas oficiais, o tétum e o português. Isto foi uma decisão inteligente dos nossos líderes, porque desta forma os timorenses que ainda não sabem português também podem comunicar com o Estado. Por exemplo, uma tia não-escolarizada na montanha pode escrever uma carta – ou pedir a alguém que lha escreva – usando apenas o tétum e enviá-la para um Ministério ou para o Tribunal sobre um problema qualquer que ela tenha. Mas nós também sabemos que o tétum ainda está num processo de desenvolvimento, e que o português é que é o seu aliado histórico e a língua portuguesa é que é a língua da nação leste-timorense que usamos para ter acesso à alta cultura. Ainda não podemos ler em tétum o Mahabarata ou a Odisseia ou os textos de Stephen Hawking ou António Damásio, Santo Agostinho ou Karl Marx, Shakespeare ou Camões, José Saramago ou George Orwell. Ainda não podemos usar o tétum para conhecer a Grande Literatura mundial, ou para saber sobre as ciências modernas, e é muito importante que os intelectuais leiam sobre tudo isto. Se não seremos uma nação sem intelectuais e sem especialistas. E só estes é que podem saber por exemplo como se produz electricidade, se fazem operações cirúrgicas, se extrai petróleo do fundo do mar, ou se desenvolve a nossa economia... Nós timorenses poderemos através da língua portuguesa estudar sobre estes assuntos.
Claro que é verdade que muita gente ainda não domina o português. A tia da montanha que já mencionámos pode compreender uma frase como esta “Maria konta ke Domingu-Domingu, depoizde misa, avó bá merkadu halo kompras. Nia presiza kafé, repollu, pepinu, alfase, mostarda, agriaun, tomate, kouve, salsa, ervilla i senoura” (A Maria conta que aos Domingos, depois da missa, a avó vai ao mercado fazer compras. Ela precisa de café, repolho, pepino, alface, mostarda, agrião, tomate, couve, salsa, ervilha e cenoura). Mas esta tia não pode ler A última morte do Coronel Santiago, do escritor timorense Luís Cardoso. Da mesma forma, a tia também pode falar “bahasa pasaran” (língua malaia “do mercado”), porém não é capaz de ler Bumi Manusia, do autor indonésio Pramoedya Ananta Toer. Quem quer estudar para saber português correctamente tem muitas oportunidades. Todas as crianças actualmente o aprendem na escola primária, os professores em Díli e nos distritos seguem actualmente um Bacharelato para aprenderem este idioma, e os jovens que terminaram a escola secundária e têm intenção de aprofundar os seus conhecimentos podem vir estudar connosco na nossa Licenciatura em Língua Portuguesa e Culturas Lusófonas.
Esta Licenciatura foi criada na Universidade Nacional de Timor Lorosa’e, na Faculdade de Ciências da Educação, no ano académico de 2001/2002. Neste curso estudamos muitas coisas interessantes: língua portuguesa, literatura de Portugal, Brasil, países africanos lusófonos e Timor-Leste, cultura timorense e de outras nações da lusofonia, gramática, linguística e história de Timor-Leste, entre outras coisas. O nosso curso também dá uma grande atenção ao tétum, e temos cadeiras como Padronização e Ortografia do Tétum, e Gramática do Tétum. No final da Licenciatura poderemos procurar trabalho como professores, intérpretes, tradutores, secretárias, jornalistas, ou funcionários em locais que exijam o domínio das duas línguas oficiais da nossa nação. Muitos dos nossos professores vêm de Portugal ou de outros países lusófonos, principalmente do Instituto Camões. Levamos também a cabo diversas actividades como o jornal literário “Várzea de Letras”, teatro, traduções, etc...
Jovem timorense, vem estudar connosco!

A versão original em tétum, de Icha Bossa e Irta Araújo, foi publicada no
Várzea de Letras, Suplemento Literário mensal do jornal Semanário, nº 4 [5], Julho 2004

quinta-feira, dezembro 13, 2007

Irá a tradução passar a ser um negócio da China?

Num fórum de debate de tradutores na Internet encontrei há dias as inquietações de alguns profissionais que temem que haja empresas a começar a fazer outsourcing de traduções português-inglês-português para a China, onde o preço por palavra é muito mais baixo do que no Ocidente. É verdade que há muitos chineses a aprender a língua portuguesa, nomeadamente para irem investir e obter matérias-primas nos PALOP, mas vendo um exemplo de uma tradução made in China – ler abaixo – eu diria que não há por enquanto razão para preocupação. Nenhuma empresa minimamente consciente da importância da sua imagem no mercado vai entregar trabalho a tradutores que produzam preciosidades como esta.
(clicar na imagem para ler)


segunda-feira, dezembro 03, 2007

Lembrar os sonhos da adolescência

Quando era adolescente achava que a Kumiko (interpretada por Tamlyn Naomi Tomita, actriz de ascendência nipo-filipina, nascida em Okinawa) era a moça mais bonita do mundo.





Tinha adorado o filme Karate Kid (de John G. Avildsen, 1984, com Ralph Macchio e Pat Morita), e tinha gostado ainda mais do segundo, Karate Kid II (John G. Avildsen, 1986). Só havia um pormenor que me irritava, o facto de o argumento ser inconsistente. No primeiro filme o Mr. Miyagi embebedava-se uma vez, ao recordar a morte de sua esposa e filho no parto, por falta de assistência médica, enquanto esta estava internada no infame campo de concentração de Manzanar, um dos dez nos quais o governo americano aprisionou mais de 100.000 cidadãos de origem japonesa durante a II Guerra Mundial, pelo "crime" de terem nascido no Japão ou terem pais japoneses. Isto enquanto o Mr. Miyagi combatia na Europa, como americano, contra os alemães e ganhava uma medalha como herói de guerra. No segundo filme, Daniel acompanhava Mr. Miyagi a Okinawa, onde este, parecendo solteiríssimo, reencontrava a sua paixão da juventude, e todos os traços da existência da esposa falecida tinham sido apagados. Agora Miyagi afinal parecia que nunca tinha sido casado e ficara sempre à espera da namorada da adolescência... Mas apesar deste pormenor o filme encantava-me.
E entretanto, eu, adolescente ilhavense, aprendiz de judo, sonhava ir estudar artes marciais para o Japão e encontrar por lá uma Kumiko meiga e bonita para mim. Acabei por não ter ido ainda ao Japão, até agora, mas olhando para o que tenho feito na vida, parece-me que os meus sonhos de miúdo se têm vindo a concretizar, com as necessárias actualizações e adaptações que o rio da vida vai sugerindo...

O jogo do pau não veio da Índia, é autóctone

"There is strong evidence that its technique has most probably derived from a dance in India, which would have been imported and adapted after the Discoveries, a plausible reasoning since it was never practised in Galiza (the neighbouring region of North-West Spain, with close linguistic and cultural ties with Minho and Trás-os-Montes); "
A "dança" a que se refere o texto é uma arte marcial chamada Kalarippayat praticada em Kerala. Seguindo a ligação proposta pelo autor encontramos esta informação: "The 15th century travelogue of Duarte Barabosa, the Portuguese traveler shows that Kalarippayat was the integral part of the Kerala society between 13th and 16th centuries. It was a part of the education of the children, where daily training in a Kalari was considered as important as learning to read and write, thus forming an important element of the culture of the land Kerala and erstwhile southern parts of Karnataka then known as Tulunadu. During this period, it was a compulsary social custom to send all youngsters above the age of 7 to a kalari for training.
Kalarippayat is believed by many historians as one of the oldest traditions of martial training in the world. In Malayalam, the mother language of Kerala, India, Kalarippayat means repetitive training (payat) inside an arena (kalari).
"
Podemos ver o uso que este sistema tradicional de combate faz do pau num vídeo do youtube clicando aqui (a partir do minuto 6, mais ou menos). Ora, as opções técnicas no manuseamento do pau parecem ser bastante diferentes das do jogo do pau português. Em que se baseia a hipótese de o jogo do pau ter vindo da Índia? No facto de um viajante português do séc XVI ter descrito a prática aí de uma luta que usava paus? Se tivesse vindo da Índia teria sido difundido em Portugal a partir das regiões portuárias mais importantes do litoral, mas na realidade os seus centros principais foram durante muito tempo regiões rurais montanhosas do interior (Minho, Trás-os-Montes, Beira Interior...). Creio que só a partir do século XIX é que passou a ser habitual o seu ensino em Lisboa. E, ao contrário do que diz o autor do excerto acima transcrito, há registos da sua prática na Galiza. Conta-nos Ernesto Veiga de Oliveira em "Festividades Cíclicas em Portugal" (D. Quixote, 1984,p.320): "Na Galiza (onde o pau e o jogo do pau se conhecem em termos semelhantes aos que aqui vemos, parecendo mesmo terem ali sido levados por portugueses), o varapau, nas palavras de Lorenzo Fernandez, era «o companheiro dos moços rondadores, dos viandantes ao longo dos caminhos, dos pastores no alto dos montes; o seu ofício era múltiplo: no caminho era uma ajuda, ora a subir as encostas ora a descê-las, descansando-se nele o peso do corpo; quando um regato cortava a vereda, saltava-se por cima dele apoiando-se no varapau. o pastor no monte e o feirante na feira carregavam nele o seu peso, aliviando assim deste as pernas; também o pastor tangia com ele o gado, e, quando era preciso, afugentava o lobo, tanto em defesa própria como na do gado que lhe estava confiado»; e «só se largava de mão enquanto o moço conversava com a sua moça na lareira da casa desta; então o pau ficava à porta, para indicar aos outros que nada tinham que fazer ali».
O pau era de uso exclusivamente masculino; e na Galiza «o rapaz tinha-se por moço quando arranjava o seu varapau, e ia de ronda com os outros; era assim como ser armado cavaleiro»." Veiga de Oliveira cita um galego, Xaquín Lorenzo Fernandez, que escreveu um artigo sobre o assunto n"O Comércio do Porto", em 1959 - não tenho de momento esse artigo.
Estas referências ao jogo do pau entre os galegos remetem para o mesmo universo rural do Norte de Portugal. Não há nada que sustente a tese de uma origem indiana, de uma arte marcial trazida da Ásia por marinheiros. Parece-me que o problema é que há, às vezes, entre algumas pessoas do universo das artes tradicionais de combate uma mitificação exagerada, e uma procura de "legitimidade marcial" recorrendo ao oriente (como entre muitos praticantes de artes marciais chinesas se procura obcessivamente uma ligação com Shaolin). Problemas do que Hobsbawm e Ranger chamam a "invenção da tradição"...
A realidade é que o pau é uma arma muito simples, fácil de obter, e diferentes povos pelo mundo inteiro desenvolveram por isso sistemas de luta com varas de diversos tipos. Porque não inventar que o jogo do pau português veio do sul da Etiópia, onde os homens do povo Surma se dedicam ao sagine (ver filme clicando aqui), uma luta com paus bastante interessante. Ou da Sicília, na Itália, onde há o bastone siciliano.

sábado, dezembro 01, 2007

Abril 74 - O nosso... e de todos os que amam a liberdade




A letra da canção - no original catalão e traduzida - está no youtube. Cliquem várias vezes com o botão esquerdo do rato, tendo o cursor posicionado em cima desta caixinha, para ter acesso.

sexta-feira, novembro 30, 2007

Non ho l'età

Luís CARDOSO, – Crónica de uma travessia – A época do ai-dik-funam. Lisboa, Publicações Dom Quixote, 1997, pág. 57





"Semanalmente, interrompia o estudo, vinha com um gramofone e muitos discos de música clássica e de poesia de Fernando Pessoa dita por João Villaret, entusiasmando-me a declamar poemas, imitando a sua voz grossa e quente: «O Menino da Sua Mãe». E como não podia deixar de ser, alguns fados, viras e corridinhos terminando naturalmente com algumas canções da Eurovisão. Mas era a belíssima canção Non ho l'età, cantada por uma italiana, que eu imaginava ser também bela como a Nossa Senhora, que nos partia os corações com aquela voz melodiosa. E o padre Júlio confirmava que sim: Non ho l'età!"










Luís CARDOSOUne île au loin. Paris, Éditions Métailiè, 2000, p. 54-55 (Tradução de Jacques Parsi)






"Chaque semaine, il interrompait l'étude, venait avec un gramophone et beaucoup de disques de musique classique et de poésies de Fernando Pessoa dites par João Villaret, ce qui provoquait mon enthousiasme au point de déclamer des poèmes en imitant sa grosse voix chaude: «L'Enfant de sa mère». Et, comme il fallait s'y attendre, des fados, des viras et des corridinhos, avec naturellement pour finir quelques chansons de l'Eurovision. Mais c'était la très belle chanson Non ho l'étà, chantée par une Italienne, que j'imaginais belle comme la Vierge Marie, qui nous brisait le coeur avec sa voix mélodieuse. Et le père Júlio nous confirmait que oui: Non ho l'età!



Luís CARDOSOThe Crossing - A Story of East Timor. London, Granta Books, 2000, p. 49-50 (Tradução de Margaret Jull Costa)




«Every week, he would bring his gramophone along and interrupt our studies with records of classical music and the poetry of Fernando Pessoa read by João Villaret, inspiring me to declaim poems too, imitating his warm, full voice: O menino da sua mãe, 'His mother's little boy'. And there were the inevitable fados and traditional dance tunes, followed, naturally enough, by songs from the Eurovision song contest. But most wonderful of all was Non ho l'età sung by a young Italian woman, whom I imagined to be as beautiful as Our Lady, and who broke our hearts with her sweet voice. And Father Júlio agreed: Non ho l'età - 'I'm too young for love!'»



Luís CARDOSOUn’isola, lontano. In viaggio a Timor Est. Milano, Feltrinelli, 2002, p. 40 (Tradução de Pietro Scòzzari)


"Una volta alla settimana interrompeva lo studio e arrivava in classe con un grammofono e molti dischi di musica classica, oltre a quelli che recavano incise le poesie di Fernando Pessoa recitate da João Villaret. Tutto ciò mi entusiasmava tanto da arrivare a declamare, io stesso, imitando la sua voce profonda e calda: “O Menino da Sua Mãe. E poi non potevano mancare alcuni fados, viras e corridinho, per terminare, naturalmente, con qualche canzone dell’Eurovision. Ma era la bellissima canzone Non ho l'étà, cantata da un’italiena che immaginavo bella come la Madonna, che ci trafiggeva il cuore con quella voce melodiosa. E padre Giulio confermava: Non ho l'età!

domingo, novembro 11, 2007

Uma arte marcial portuguesa

O jogo do pau é um antigo sistema tradicional de combate português. Neste vídeo pode ver algumas das suas técnicas básicas, executadas primeiro lentamente em direcção ao alvo e depois com velocidade e defendidas pelo oponente.




Se estiver interessado/a em praticar ou apenas experimentar pode dirigir-se ao Ateneu Comercial Português, na Rua das Portas de Santo Antão, em Lisboa, ao lado do Coliseu (Metro: Restauradores ou Rossio). No Ateneu o jogo do pau é praticado há mais de um século, e esta foi também a escola do grande Mestre Ferreira, hoje sob orientação do seu sucessor Mestre Monteiro.

Pode ir praticar lá que será benvindo/a. E ainda por cima é barato!

quinta-feira, novembro 08, 2007

música para a alma

De Timor para o mundo

Há um mês e pouco houve em Timor um concerto da cantora Sandra Pires. Nascida em Díli em 1969, morou em Portugal com os avós, e aos treze anos foi viver para a Austrália, para onde os pais tinham fugido devido à guerra civil em Timor-Leste. Começou aí a sua carreira artística, e veio a consolidá-la na Áustria. Neste pequeno filme do youtube podemos vê-la numa actuação no estádio de Díli e apreciar a sua bonita voz, cantando em tétum. Os risos do público são devidos a alguns erros no tétum dela (ha'u hakura em vez de ha'u haruka, e outros do tipo...).


t

terça-feira, novembro 06, 2007

China Timor

Novidades no blog

Acrescentei um sitemeter, um tradutor automático Babel Fish, e uma coisa que permite ver as caras dos leitores que estejam registados no Mybloglog...
As traduções para inglês do Babel Fish são divertidas...

sábado, novembro 03, 2007

Humor filipino

Tenho andado a dar uma olhada por vários blogues das Filipinas para ver que línguas usam (ou de que forma inserem frases em tagalog no meio de texto em inglês - code-switching). Neste blogue encontrei uma série de anedotas sobre estudantes universitários filipinos. Parece que há uma grande rivalidade entre as várias universidades por lá...

sexta-feira, novembro 02, 2007

A língua portuguesa na Guiné-Bissau

Andei a ver os comentários que foram feitos a alguns textos que escrevi sobre o português em Timor. Fiquei curioso por encontrar quem argumentasse contra a utilização do tétum como apoio para o ensino do português invocando a experiência dos PALOP. É que são contextos bem diferentes. Os países independentes que surgiram nas antigas colónias portuguesas em África continuaram a usar o português como língua oficial, da administração, da escola, e não passaram por um interregno de 24 anos de ocupação estrangeira e utilização de uma outra língua oficial. No caso de Angola, por exemplo, a independência veio até a favorecer o uso do português, devido à guerra civil e ao problema dos deslocados e migração para meio urbano, e consequente destruição das redes sociais tradicionais onde se usavam exclusivamente as línguas bantas. Há agora uma maior percentagem de angolanos a ter o português como língua materna do que alguma vez houve durante a época colonial. Por outro lado, neste país, como em Moçambique, ainda que haja muita gente que fala um português rudimentar, é normal que esse seja o idioma utilizado quando pessoas de etnias diferentes se querem entender umas com as outras; em Timor é o tétum que cumpre este papel.
Os indonésios promoveram a massificação do ensino, num país de crianças e jovens. Em indonésio.
E para além de tudo isto o tétum é também língua oficial ao lado do português. Não parece evidente que a metodologia do ensino da língua portuguesa em Timor tem que ser diferente?

Mas para perceber melhor o que se passa nos PALOP será bom também olhar para a Guiné-Bissau. Este texto de Fanca Sani é elucidativo:





quarta-feira, outubro 17, 2007

Praxe






Sérgio Godinho canta uma canção que me parece ilustrar bem o espírito da praxe:



Maçã com Bicho (acho eu da praxe)




O tempo passa
e lembras com saudade
o saudoso tempo da universidade
foste caloiro
e quintanista
já comes caviar
esquece o alpista






P'ra entrar na universidade
é preciso
prender o humor
na gaiola do riso
ter médias altas
hi-hon, ão-ão
zurrar ladrar
lamber de quatro o chão



Mas há quem ache
graça à praxe
É divertida (Hi-hon)
Lição de vida (Ão-ão)
Maçã com bicho
acho eu da praxe




Chamar-se a si mesmo
besta anormal
dá sempre atenuante ao tribunal
é formativo
p'ró estudante
que não quer ser propriamente
um ignorante


Empurrar fósforos com o nariz
tirar à estupidez a bissectriz
eis causas nobres
estruturantes
eis tradição
sem ser o que era dantes



Mas há quem ache
graça à praxe
É divertida (Hi-hon)
Lição de vida (Ão-ão)
Maçã com bicho
acho eu da praxe
É divertida (Mé-mé)
Lição de vida (Piu-piu)
Maçã com bicho
acho eu da praxe


Não vou usar
mais exemplos concretos
é rastejando
que se ascende aos tectos?
Então vejamos
preto no branco
as cores da razão
porque a praxe eu desanco


Mas há quem ache
graça à praxe
É divertida (Hi-hon)
Lição de vida (Ão-ão)
Maçã com bicho
acho eu da praxe
É divertida (Mé-mé)
Lição de vida (Piu-piu)
Mação com bicho
acho eu da praxe


[ as fotos aqui incluídas têm duas proveniências:

http://abnoxio.weblog.com.pt/arquivo/2006/10/o_verdadeiro_espirito_universi
e
http://adsl.tvtel.pt/antipodas/imagens.htm ]

domingo, outubro 14, 2007

É tempo de praxe

Todos os anos por esta época as universidades portuguesas enchem-se de estudantes que fazem coisas ridículas sob orientação dos seus colegas mais velhos. Esta semana cruzei-me em Aveiro com um longa bicha de caloiros que vinham da ria acartando nas mãos, debaixo do sol, sacos plásticos cheios de lodo. Presumo que a intenção fosse levar aquela porcaria para a Universidade. Em Coimbra, ao pé da escadaria monumental, passei por um estudante com o traje académico que era escoltado ao caminhar por quatro colegas recém-chegados à capital da cultura universitária que o rodeavam de braços estendidos no ar agarrando a capa dele sobre a sua insigne cabeça para que esta não apanhasse sol de mais. Suponho que teria medo que o pequeno cérebro derretesse.
Chamam a isto a praxe, e a justificação dada para que os colegas mais novos se tenham de lhe submeter é a necessidade de “integração”. Só há integração para quem não fizer ondas e aceitar com humildade os tratos de polé. Os caloiros são mandados fazer figura de urso para se poderem integrar, com a promessa de que um dia também poderão ser superiores prepotentes e terão enfim o direito de mandar uma nova geração de inferiores (caloiros/lamas/lodos) fazer por sua vez figuras tristes. É a apologia da humilhação como estratégia pedagógica.
Dizem os praxistas que é bom como aprendizagem para a vida, como preparação para o mundo. Aprende-se assim a respeitar a hierarquia, preparam-se os jovens para um modelo de relações profissionais baseado não no respeito mútuo, mas nas pequeninas e mesquinhas maneiras quotidianas de lembrar quem é o superior. Um modelo onde pouco conta o mérito, onde as ideias novas ou diferentes são malvistas, no qual importante é saber lamber as botas de algum cacique. Aprende-se a obedecer sem questionar. Para que se perpetue uma cultura que promove o medo de ser o destravado da língua que comete a heresia de dizer que o rei vai nu. E que é saneado pela ousadia. A praxe é um reflexo do triste país que temos, portugalzinho no seu pior.

sábado, outubro 06, 2007

Ai a Birmânia...



Em Agosto de 1998 trabalhei como membro do staff de voluntários no Festival Mundial da Juventude que se realizou na Costa da Caparica e que reuniu em Portugal cerca de sete mil jovens de todos os cantos do mundo. Muitos desses jovens estavam mais interessados na praia, concertos, e quecas internacionalistas do que propriamente nas actividades de pendor mais sério, como debates sobre o estado do mundo. Mas ainda assim houve discussões muito participadas. Numa sessão sobre a Birmânia, na qual participámos meia dúzia de gatos-pingados, um jovem birmanês exilado, do movimento pró-democracia, tentava sensibilizar a escassa audiência para a necessidade de apoio à sua causa. Um sujeito do público – creio que era líbio, se bem me recordo – questionava o moço sobre o que era isso da democracia que eles queriam implantar e tentava convencê-lo de que a democracia burguesa de parlamento e multipartidarismo era inimiga do povo. O rapaz explicava-lhe pacientemente que o povo dele só queria a oportunidade de pôr em prática o tipo de democracia que já tinha escolhido nas urnas em 1990, ao votar esmagadoramente na NLD (Liga Nacional para a Democracia). Este partido, cuja Secretária-Geral, Daw Aung San Suu Kyi, viria a ser Prémio Nobel da Paz em 1991, ganhou as eleições livres (as primeiras em três décadas) que então se realizaram com mais de 80% dos lugares no Parlamento (392 lugares em 485). Uma outra coligação pró-democracia, composta por partidos formados com base nas diversas etnias minoritárias, ganhou mais 49 lugares no Parlamento (10% dos votos), e o partido que representava a junta militar no poder só conseguiu 10 lugares. A resposta da junta foi perseguir, prender, torturar e matar muitos dos eleitos, e reforçar a mão-de-ferro com que controla o país. A Frente Democrática dos Estudantes de Toda a Birmânia publicou em 98 um livro onde apresenta os detalhes sobre o que aconteceu a cada um destes deputados. Aung San Suu Kyi continua actualmente em prisão domiciliária (onde de resto tinha sido colocada pelo regime durante a campanha eleitoral para as eleições de 1990).
As recentes manifestações lideradas pelos monges budistas abriram uma nova janela de esperança para os povos da Birmânia. Se esta esperança se concretizará ou não depende em grande medida das pressões que a comunidade internacional (incluindo a China) decida fazer.

Contacto

Caros amigos, para aqueles que protestam porque eu não respondo aos vossos e-mails, trago boas novas. É que agora passo a ter acesso à internet sem ter que depender das idas à Biblioteca Municipal de Ílhavo (que tem excelentes instalações - tomara eu que os meus alunos em Timor pudessem frequentar uma biblioteca assim) ou de visitas à família (do tipo "vim cá visitar-vos e ver se estão todos bem e, a propósito, posso usar a internet para mandar um mail só por um bocadinho?").
Portanto, contactem, digam coisas...