Quando estava em Timor havia colegas malais que de vez em quando iam de férias para a Tailândia. Reapareciam magrinhos, cheios de olheiras, com um ar exausto e um sorriso de orelha a orelha. Inquiridos, abriam ainda mais o sorriso e diziam qualquer coisa sobre terem passado o tempo a ver monumentos.
Em Timor também há quem veja monumentos. Quando cheguei a Díli, em 28 de Abril de 2001, o Instituto Camões pôs-me com a colega que me acompanhava, e os que chegaram depois, a morar no Hotel Starlight, acabadinho de inaugurar. Mais tarde mudaram-nos para outro hotel, o que foi acertado porque uns tempos depois o Starlight mudou de ramo e passou a ser um bordel de prostitutas tailandesas. Uma noite estava a beber um copo num bar e acabei na conversa com o tipo que estava sentado no banco ao lado do meu, um malasiano de origem indiana que se riu quando declarei a minha nacionalidade e me perguntou porque não estava no Starlight com os meus compatriotas todos. Circulavam então por Díli entre a comunidade de expatriados anedotas sobre os magalas lusos que arranjavam namoradas entre as trabalhadoras do estabelecimento e armavam zaragata quando calhava terem licença das suas unidades no mesmo dia dois namorados da mesma moça.
Uma tarde, vinha eu de dar o meu passeiozinho de motorizada ao longo da praia até ao Cristo-Rei, deparei-me com um amigo meu, que tinha sido militar em Portugal antes de ter emigrado para a Austrália. Parei e ficámos na conversa. Ele também tinha encontrado ali na Areia Branca alguns camaradas da mesma tropa que estavam a fazer uma comissão nas Forças de Manutenção da Paz lá em Timor e juntei-me ao grupo. Cada um dos colegas dele estava acompanhado de uma rapariga tailandesa. Elas só tinham expediente à noite e portanto estavam de folga. Eram simpáticas as cachopas, e falavam pelos cotovelos num inglês meio estropiado que no início custava a perceber. Quando expliquei que era professor de português uma delas resolveu impressionar-me com os conhecimentos que tinha da língua, e desatou a dizer, numa sucessão muito rápida, uma enorme lista de termos e expressões que davam conta, no calão mais vernáculo que se possa imaginar, de todas as variantes possíveis de actos sexuais. Suponho que Camões, que tinha fama de entendido em lupanares e era um experimentado viajante dessas ásias por onde os portugueses ergueram o padrão pátrio, teria ficado orgulhoso das acções daqueles militares em prol da difusão da língua portuguesa. E ao ler as referências no Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas a cursos para desenvolvimento da competência parcial num dado idioma no que se refere a um domínio determinado e a tarefas específicas, não posso deixar de pensar que era exactamente disso que se tratava também ali.
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