Os acontecimentos recentes no Tibete vieram chamar a atenção da comunidade internacional para esta nação invadida pela China há mais de cinquenta anos. Alguns dos movimentos de solidariedade com o povo tibetano espalhados pelo mundo têm também apelado ao boicote aos Jogos Olímpicos, a União Europeia veio dizer que não vai boicotar, o Dalai Lama também diz que apoia a realização das Olimpíadas em Pequim e que espera que as ONGs aproveitem este período para lembrar o mundo da repressão na sua terra. Algum apoiante da autodeterminação do Tibete fez este desenho, que encontrei no blogue d”O Jumento”.
Em 1992 participei com timorenses e portugueses numa manifestação de apoio a Timor na Expo 92, em Sevilha. Andávamos com camisolas de manga curta pretas com um pequeno texto em que se perguntava se a Indonésia também mostrava na Expo os massacres que fazia em Timor-Leste. Depois de uma concentração nossa em frente ao pavilhão indonésio, a polícia espanhola levou-nos todos para as traseiras do edifício. Após algum debate foi negociado que não faríamos mais manifestações no recinto, mas que não seríamos expulsos de lá e poderíamos circular à vontade, mantendo as camisolas vestidas, claro. Acabei por ser interpelado por vários turistas e membros de delegações estrangeiras que queriam saber o que era isso de Timor.
Uns três anos depois participei num encontro de uma semana em Amesterdão de dirigentes de ONGs, associações e outras estruturas ligadas ao trabalho com jovens e com minorias étnicas. Falei bastante de Timor, evidentemente, e um dia uma moça da organização veio explicar-me que fazia parte do programa um jantar de todos os participantes num restaurante indonésio e ela queria saber se eu teria alguma objecção. Disse-lhe que em tempos Portugal tinha sido uma potência colonial que mantinha uma guerra para não permitir a autodeterminação das suas colónias e que se nesse tempo uma família de portugueses abrisse um restaurante em França, ou na Holanda, seria muito triste que o público boicotasse o seu estabelecimento por causa das opções políticas do regime de Salazar. Nunca fiz boicotes aos produtos indonésios, sempre me pareceram um bocado histéricas as reacções como as que houve por cá quando descobriram que a selecção (de futebol, se bem me lembro) usava camisolas feitas na Indonésia. Se fossemos coerentes nesse tipo de boicote teríamos que ir ler o relatório anual da Amnistia Internacional e boicotar os produtos de meio mundo.
Um boicote aos Jogos Olímpicos (como muitos países fizeram em diversas ocasiões, nomeadamente nos de Moscovo em 80 e nos de Los Angeles em 84) é uma coisa muito triste, é os políticos a quererem levar as suas querelas (que tantas vezes provocam guerras) para onde não devem. O desporto é uma área em que os indivíduos dos mais diversos povos, religiões, países, se podem encontrar e competir em igualdade de oportunidades, e mostrar o seu valor. As condições de treino podem ser díspares, os percursos de vida também, mas no tatami, na pista, no ringue, no campo, cada mulher e cada homem vale por si, e a determinação e empenho podem dar a todos a esperança de uma medalha. Um boicote às Olimpíadas seria uma colossal falta de respeito para com o esforço espartano dos atletas que se preparam há anos para esse momento. Dito isto, parece-me que nada obsta a que os apoiantes dos tibetanos invistam numa estratégia do tipo das camisolas de que eu falava acima, algo do género de convencer turistas, jornalistas, membros de delegações, técnicos, etc, a andar pela aldeia olímpica e por Pequim com camisolas evocando a situação no Tibete. Iniciativas dessas seriam mais um teste à tão propalada vontade das autoridades chinesas de mostrarem uma nova imagem, mais tolerante e democrática. Os apelos pelo Tibete da cantora Bjork num concerto recente em Xangai são um bom precedente.
Em 1992 participei com timorenses e portugueses numa manifestação de apoio a Timor na Expo 92, em Sevilha. Andávamos com camisolas de manga curta pretas com um pequeno texto em que se perguntava se a Indonésia também mostrava na Expo os massacres que fazia em Timor-Leste. Depois de uma concentração nossa em frente ao pavilhão indonésio, a polícia espanhola levou-nos todos para as traseiras do edifício. Após algum debate foi negociado que não faríamos mais manifestações no recinto, mas que não seríamos expulsos de lá e poderíamos circular à vontade, mantendo as camisolas vestidas, claro. Acabei por ser interpelado por vários turistas e membros de delegações estrangeiras que queriam saber o que era isso de Timor.
Uns três anos depois participei num encontro de uma semana em Amesterdão de dirigentes de ONGs, associações e outras estruturas ligadas ao trabalho com jovens e com minorias étnicas. Falei bastante de Timor, evidentemente, e um dia uma moça da organização veio explicar-me que fazia parte do programa um jantar de todos os participantes num restaurante indonésio e ela queria saber se eu teria alguma objecção. Disse-lhe que em tempos Portugal tinha sido uma potência colonial que mantinha uma guerra para não permitir a autodeterminação das suas colónias e que se nesse tempo uma família de portugueses abrisse um restaurante em França, ou na Holanda, seria muito triste que o público boicotasse o seu estabelecimento por causa das opções políticas do regime de Salazar. Nunca fiz boicotes aos produtos indonésios, sempre me pareceram um bocado histéricas as reacções como as que houve por cá quando descobriram que a selecção (de futebol, se bem me lembro) usava camisolas feitas na Indonésia. Se fossemos coerentes nesse tipo de boicote teríamos que ir ler o relatório anual da Amnistia Internacional e boicotar os produtos de meio mundo.
Um boicote aos Jogos Olímpicos (como muitos países fizeram em diversas ocasiões, nomeadamente nos de Moscovo em 80 e nos de Los Angeles em 84) é uma coisa muito triste, é os políticos a quererem levar as suas querelas (que tantas vezes provocam guerras) para onde não devem. O desporto é uma área em que os indivíduos dos mais diversos povos, religiões, países, se podem encontrar e competir em igualdade de oportunidades, e mostrar o seu valor. As condições de treino podem ser díspares, os percursos de vida também, mas no tatami, na pista, no ringue, no campo, cada mulher e cada homem vale por si, e a determinação e empenho podem dar a todos a esperança de uma medalha. Um boicote às Olimpíadas seria uma colossal falta de respeito para com o esforço espartano dos atletas que se preparam há anos para esse momento. Dito isto, parece-me que nada obsta a que os apoiantes dos tibetanos invistam numa estratégia do tipo das camisolas de que eu falava acima, algo do género de convencer turistas, jornalistas, membros de delegações, técnicos, etc, a andar pela aldeia olímpica e por Pequim com camisolas evocando a situação no Tibete. Iniciativas dessas seriam mais um teste à tão propalada vontade das autoridades chinesas de mostrarem uma nova imagem, mais tolerante e democrática. Os apelos pelo Tibete da cantora Bjork num concerto recente em Xangai são um bom precedente.
2 comentários:
Foi muito bom ter passado pelo meu Zoo.
Fiquei assim a conhecê-lo, a si e ao seu blog.
Para quem se dedica à "agricultura", você faz um blog que está muito para lá das batatas e alfaces :)))
Vou colocá-lo nos meus links para poder cá voltar.
Um abraço
Caro João Paulo
Estou apenas interessado no episódio Sevilha92. Pode fornecer-me a data (exacta ou aproximada) em que aquilo aconteceu?
Um abraço
FCM
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