sexta-feira, novembro 02, 2007

A língua portuguesa na Guiné-Bissau

Andei a ver os comentários que foram feitos a alguns textos que escrevi sobre o português em Timor. Fiquei curioso por encontrar quem argumentasse contra a utilização do tétum como apoio para o ensino do português invocando a experiência dos PALOP. É que são contextos bem diferentes. Os países independentes que surgiram nas antigas colónias portuguesas em África continuaram a usar o português como língua oficial, da administração, da escola, e não passaram por um interregno de 24 anos de ocupação estrangeira e utilização de uma outra língua oficial. No caso de Angola, por exemplo, a independência veio até a favorecer o uso do português, devido à guerra civil e ao problema dos deslocados e migração para meio urbano, e consequente destruição das redes sociais tradicionais onde se usavam exclusivamente as línguas bantas. Há agora uma maior percentagem de angolanos a ter o português como língua materna do que alguma vez houve durante a época colonial. Por outro lado, neste país, como em Moçambique, ainda que haja muita gente que fala um português rudimentar, é normal que esse seja o idioma utilizado quando pessoas de etnias diferentes se querem entender umas com as outras; em Timor é o tétum que cumpre este papel.
Os indonésios promoveram a massificação do ensino, num país de crianças e jovens. Em indonésio.
E para além de tudo isto o tétum é também língua oficial ao lado do português. Não parece evidente que a metodologia do ensino da língua portuguesa em Timor tem que ser diferente?

Mas para perceber melhor o que se passa nos PALOP será bom também olhar para a Guiné-Bissau. Este texto de Fanca Sani é elucidativo:





quarta-feira, outubro 17, 2007

Praxe






Sérgio Godinho canta uma canção que me parece ilustrar bem o espírito da praxe:



Maçã com Bicho (acho eu da praxe)




O tempo passa
e lembras com saudade
o saudoso tempo da universidade
foste caloiro
e quintanista
já comes caviar
esquece o alpista






P'ra entrar na universidade
é preciso
prender o humor
na gaiola do riso
ter médias altas
hi-hon, ão-ão
zurrar ladrar
lamber de quatro o chão



Mas há quem ache
graça à praxe
É divertida (Hi-hon)
Lição de vida (Ão-ão)
Maçã com bicho
acho eu da praxe




Chamar-se a si mesmo
besta anormal
dá sempre atenuante ao tribunal
é formativo
p'ró estudante
que não quer ser propriamente
um ignorante


Empurrar fósforos com o nariz
tirar à estupidez a bissectriz
eis causas nobres
estruturantes
eis tradição
sem ser o que era dantes



Mas há quem ache
graça à praxe
É divertida (Hi-hon)
Lição de vida (Ão-ão)
Maçã com bicho
acho eu da praxe
É divertida (Mé-mé)
Lição de vida (Piu-piu)
Maçã com bicho
acho eu da praxe


Não vou usar
mais exemplos concretos
é rastejando
que se ascende aos tectos?
Então vejamos
preto no branco
as cores da razão
porque a praxe eu desanco


Mas há quem ache
graça à praxe
É divertida (Hi-hon)
Lição de vida (Ão-ão)
Maçã com bicho
acho eu da praxe
É divertida (Mé-mé)
Lição de vida (Piu-piu)
Mação com bicho
acho eu da praxe


[ as fotos aqui incluídas têm duas proveniências:

http://abnoxio.weblog.com.pt/arquivo/2006/10/o_verdadeiro_espirito_universi
e
http://adsl.tvtel.pt/antipodas/imagens.htm ]

domingo, outubro 14, 2007

É tempo de praxe

Todos os anos por esta época as universidades portuguesas enchem-se de estudantes que fazem coisas ridículas sob orientação dos seus colegas mais velhos. Esta semana cruzei-me em Aveiro com um longa bicha de caloiros que vinham da ria acartando nas mãos, debaixo do sol, sacos plásticos cheios de lodo. Presumo que a intenção fosse levar aquela porcaria para a Universidade. Em Coimbra, ao pé da escadaria monumental, passei por um estudante com o traje académico que era escoltado ao caminhar por quatro colegas recém-chegados à capital da cultura universitária que o rodeavam de braços estendidos no ar agarrando a capa dele sobre a sua insigne cabeça para que esta não apanhasse sol de mais. Suponho que teria medo que o pequeno cérebro derretesse.
Chamam a isto a praxe, e a justificação dada para que os colegas mais novos se tenham de lhe submeter é a necessidade de “integração”. Só há integração para quem não fizer ondas e aceitar com humildade os tratos de polé. Os caloiros são mandados fazer figura de urso para se poderem integrar, com a promessa de que um dia também poderão ser superiores prepotentes e terão enfim o direito de mandar uma nova geração de inferiores (caloiros/lamas/lodos) fazer por sua vez figuras tristes. É a apologia da humilhação como estratégia pedagógica.
Dizem os praxistas que é bom como aprendizagem para a vida, como preparação para o mundo. Aprende-se assim a respeitar a hierarquia, preparam-se os jovens para um modelo de relações profissionais baseado não no respeito mútuo, mas nas pequeninas e mesquinhas maneiras quotidianas de lembrar quem é o superior. Um modelo onde pouco conta o mérito, onde as ideias novas ou diferentes são malvistas, no qual importante é saber lamber as botas de algum cacique. Aprende-se a obedecer sem questionar. Para que se perpetue uma cultura que promove o medo de ser o destravado da língua que comete a heresia de dizer que o rei vai nu. E que é saneado pela ousadia. A praxe é um reflexo do triste país que temos, portugalzinho no seu pior.

sábado, outubro 06, 2007

Ai a Birmânia...



Em Agosto de 1998 trabalhei como membro do staff de voluntários no Festival Mundial da Juventude que se realizou na Costa da Caparica e que reuniu em Portugal cerca de sete mil jovens de todos os cantos do mundo. Muitos desses jovens estavam mais interessados na praia, concertos, e quecas internacionalistas do que propriamente nas actividades de pendor mais sério, como debates sobre o estado do mundo. Mas ainda assim houve discussões muito participadas. Numa sessão sobre a Birmânia, na qual participámos meia dúzia de gatos-pingados, um jovem birmanês exilado, do movimento pró-democracia, tentava sensibilizar a escassa audiência para a necessidade de apoio à sua causa. Um sujeito do público – creio que era líbio, se bem me recordo – questionava o moço sobre o que era isso da democracia que eles queriam implantar e tentava convencê-lo de que a democracia burguesa de parlamento e multipartidarismo era inimiga do povo. O rapaz explicava-lhe pacientemente que o povo dele só queria a oportunidade de pôr em prática o tipo de democracia que já tinha escolhido nas urnas em 1990, ao votar esmagadoramente na NLD (Liga Nacional para a Democracia). Este partido, cuja Secretária-Geral, Daw Aung San Suu Kyi, viria a ser Prémio Nobel da Paz em 1991, ganhou as eleições livres (as primeiras em três décadas) que então se realizaram com mais de 80% dos lugares no Parlamento (392 lugares em 485). Uma outra coligação pró-democracia, composta por partidos formados com base nas diversas etnias minoritárias, ganhou mais 49 lugares no Parlamento (10% dos votos), e o partido que representava a junta militar no poder só conseguiu 10 lugares. A resposta da junta foi perseguir, prender, torturar e matar muitos dos eleitos, e reforçar a mão-de-ferro com que controla o país. A Frente Democrática dos Estudantes de Toda a Birmânia publicou em 98 um livro onde apresenta os detalhes sobre o que aconteceu a cada um destes deputados. Aung San Suu Kyi continua actualmente em prisão domiciliária (onde de resto tinha sido colocada pelo regime durante a campanha eleitoral para as eleições de 1990).
As recentes manifestações lideradas pelos monges budistas abriram uma nova janela de esperança para os povos da Birmânia. Se esta esperança se concretizará ou não depende em grande medida das pressões que a comunidade internacional (incluindo a China) decida fazer.

Contacto

Caros amigos, para aqueles que protestam porque eu não respondo aos vossos e-mails, trago boas novas. É que agora passo a ter acesso à internet sem ter que depender das idas à Biblioteca Municipal de Ílhavo (que tem excelentes instalações - tomara eu que os meus alunos em Timor pudessem frequentar uma biblioteca assim) ou de visitas à família (do tipo "vim cá visitar-vos e ver se estão todos bem e, a propósito, posso usar a internet para mandar um mail só por um bocadinho?").
Portanto, contactem, digam coisas...

segunda-feira, setembro 17, 2007

Sobre a língua inglesa

Em Timor fala-se muito sobre a língua inglesa. Mas o que é afinal o inglês? No sítio Essentialist Explanations encontramos uma longa lista de definições sobre este e outros idiomas.
Eis algumas:
English is essentially Low German plus even lower French minus any sense of culture.
--Danny Weir
English is essentially bad Dutch with outrageously pronounced French and Latin vocabulary.
--Eugene Holman

English is essentially Norse as spoken by a gang of French thugs.
--Benct Philip Jonsson

English is essentially the devil's attempt to reverse the curse of Babel by making a world language from the most difficult language in the world.
--qaya
English is essentially the language of people who think that everybody else speaks their language. French is essentially the language of people who think that everybody else should speak theirs.
--Peter Bleackley
English is essentially a language that uses vowels no other language would accept.
--Luís Henrique

English is essentially degenerate Welsh steeped in Latin, Dutch and Franco-Scandinavian Norman.
--Mike Taylor

English is essentially German spoken in the mouth rather than the throat.
--jmallett
English is what you get from Normans trying to pick up Saxon girls.
--Bryan Maloney

Written English is essentially a variety of Old French invented by somebody who spoke only Saxon and read only Latin.
--Basilius
English is essentially French converted to 7-bit ASCII.
--Christophe Pierret [for Alain LaBonté]
English is essentially a whore.
--Lars Hendrik Mathiesen

English is essentially a French menu stuttered by a fish-and-chips dealer.
--Kala Tunu
English is essentially a West Germanic language that's trying very hard to look like a Romance one.
--Andreas Johansson

English is essentially language's equivalent to a transvestite.
--Andreas Johansson

Modern English read phonetically is essentially Middle English as no Middle Englishman would have spoken it.
--Jake X
According to generative linguists, all languages are essentially English.
--Arnt Richard Johansen

Inglish iz issenshali a langwidje dhat, wen rittun fonetkli, iz ilejibul tu netiv spikerz.
--Peter Bleackley
English is essentially all exceptions and no rules.
--Jonathan Bettencourt
English is essentially a language in which up has forty-seven dictionary definitions, but antidisestablishmentarianism is considered a "hard word."
--John M. Ford
English is essentially a tale told by an extremely clever and inventive idiot.
--John M. Ford
Australian English is essentially an Irishman bitten by a Tasmanian Devil while chasing a kangaroo.
--Fumiko Amaya
Australian English is essentially Cockney without the refinement.
--Öjevind Lång
King James English is essentially the language that many Americans think Jesus spoke. "If English was good enough for Jesus, it's good enough for me!"
--Dan Seriff
Broken English is the language of international trade.
--John Naisbitt (via Daniel E. Huston)
Sobre outras línguas:
Conversely, Indonesian is essentially Malay as spoken by Dutchmen.
--Amber Adams
Chinese is essentially just like any other language, except that there's no tense, gender, conjugation, grammar, or logic, and all the words sound the same.
--Jonathan Walton
A lista é muito mais longa, e pode ser consultada aqui.

sexta-feira, setembro 07, 2007

Novo contador

Acabei de colocar aqui um contador, para ver de onde são os visitantes...

segunda-feira, agosto 13, 2007

Cenas do meu casamento

Em Liquiçá (Timor-Leste), em 10 de Junho de 2006

quinta-feira, agosto 09, 2007

Língua hakka

A short introduction to the Hakka language as spoken by the Chinese minority in East Timor

Uma lista de frases em hakka, língua materna dos chineses de Timor-Leste

segunda-feira, julho 30, 2007

Saudades


Em Díli as crianças brincam nas ruas enquanto cai a chuva quente da monção. Aqui em Portugal a chuva é fria e mais triste...




















quarta-feira, maio 09, 2007

Ou às vezes a tradição ainda é o que era...



(Bali - Foto de autor desconhecido)

Fotos abaixo: Recentemente (2003) num templo da religião hindu (maioritária em Báli) num lugar simpático chamado Ubud. Os balineses levam a cabo as suas cerimónias religiosas em templos onde por vezes há estátuas como estas. Parece haver alguma diferença em relação ao omnipresente discurso sobre o pecado na tradição judaico-cristã...

sexta-feira, maio 04, 2007

Quando for grande quero ser professor de inglês

Anúncio publicado hoje (4 de Maio 07) no jornal diário mais lido em Timor (o STL).


Ganham bem estes professores australianos (US$50000-60000 por um contrato de um ano). Alguns portugueses que costumam espernear muito com os ataques à língua portuguesa em Timor irão seguramente começar agora a criticar o comandante das FDTL, Taur Matan Ruak, por permitir esta concorrência desleal contra o idioma de Camões.
E talvez até façam “uma vaquinha”, ou subscrição pública, para aumentar o salário dos professores portugueses...

A tradição já não é o que era...



Este post é motivado por um comentário de um leitor no post anterior.


Como era a tradição balinesa...



















Como era a tradição timorense....






A vergonha do corpo é uma tradição ocidental trazida para Timor e para Báli pelas estruturas dos poderes coloniais.
Mesmo entre os javaneses, maioritariamente muçulmanos, a disseminação do uso do jilbab é um fenómeno muito recente (pós queda do regime de Suharto), e um desvio em relação ao islamismo sincrético e moderado tradicionalmente aí praticado.

segunda-feira, abril 23, 2007

Isto é tudo uma questão de imagem

Báli vende uma imagem de paz e amor, harmonia e graciosidade que seduz milhares de turistas do mundo inteiro. Há na ilha uma cultura de bem receber que se manifesta por exemplo na limpeza e elegância simples que existe habitualmente mesmo nos warung mais modestos, e na forma como as pessoas são tolerantes com hábitos diferentes dos seus, o que permite que australianas aos montes circulem pelas ruas de Kuta em biquíni sem que ninguém lhes atire pedras.




Em Timor há ainda muito trabalho a fazer, quer na educação para a tolerância dentro das comunidades, quer ao nível do funcionamento das estruturas do Estado. O turista que se afoite a comprar um bilhete da Merpati para vir visitar “a mais jovem nação do mundo” será recebido no interior do Aeroporto Internacional Nicolau Lobato por este quarto de banho deprimente, entupido e com o autoclismo avariado. Será muito difícil manter um quarto de banho decente a funcionar?

quarta-feira, abril 18, 2007

Funcao publica

Se entrarmos num Ministerio em Timor e formos espreitar o que estao a fazer os funcionarios nos seus computadores ha fortes probabilidades de haver varios a jogar "solitaire".


Se for em Portugal ou no Brasil... a mesma coisa!



Ainda bem que em Portugal o primeiro-ministro Jose Socrates anda a por alguns destes "servidores do publico" finalmente na linha...