Hardcover
“Le Petit Prince”
A new translation, now in the Tetum dialect spoken in:
Uma nova tradução, agora na variedade de tétum falada em:
Tradução foun, agora iha variedade tetun be ema ko’alia iha:
WELALUHU (FATUBERLIU, TIMOR-LESTE)
Um blog em português - e de vez em quando em tétum e em tocodede - sobre os devaneios de um professor e tradutor ilhavense a morar em Timor. Sobre temas timorenses e do Oriente em geral, e sobre outras coisas de vez em quando...
Hardcover
“Le Petit Prince”
A new translation, now in the Tetum dialect spoken in:
Uma nova tradução, agora na variedade de tétum falada em:
Tradução foun, agora iha variedade tetun be ema ko’alia iha:
WELALUHU (FATUBERLIU, TIMOR-LESTE)
https://publishnl.bookmundo.com/books/412206
Uma tradução em tétum de Welaluhu do mundialmente famoso conto de Jean Giono “L'Homme qui plantait des arbres / O homem que plantava árvores”, que fala sobre a necessidade da reflorestação e sobre o poder de cada ser humano para o Bem.
A Welaluhu Tetum translation of the world-famous story by Jean Giono “L’Homme qui plantait des arbres / The man who planted trees”, which talks about the need for reforestation and the power of every human being for Good.
Conhece alguém de Suai? Neste Natal ofereça-lhe este livro:
Olá João,
Não sou um erudito do jogo do pau nem da cultura portuguesa. Tenho feito um esforço de investigação, dentro dos limites do meu conhecimento, e partilho do desejo de ver o jogo do pau a ser estudado mais profundamente por alguém mais capaz. Darei as minhas opiniões como o meu ponto de vista, que não pretende ser uma verdade absoluta, mas sim a minha interpretação actual, que face à escassez de fontes, nunca posso afirmar com grandes certezas.
Não vejas isto como uma oposição aos teus argumentos, pois concordo pelo menos com a grande parte destes, e até apresento mais alguns pontos a favor, no entanto esta é a forma como vejo estas questões do ponto de vista de um praticante de Esgrima Lusitana e amante do Jogo do Pau.
1- “Jogo” e “pau” //Acho o problema não só na palavra jogo mas também na palavra “pau” não desgosto da expressão, de forma alguma, mas vejo na população em geral o torcer do nariz à apresentação da mesma. E foi nesse sentido que se tentou aplicar o nome de Esgrima Lusitana.
Para suportar o nome de jogo do pau, poderia acrescentar que já vi em alguns textos antigos portugueses a expressão “mestre no jogo das armas” ou “jogar às armas” o que indica que na cultura portuguesa o “jogo” significava também treino militar.
Vários outros tratados de armas Italianos pelo menos também se referem a treino militar como “jogo”, como Achille Marozzo (1484-1553), Antonio Manciolino Séc. XVI, entre outros. Por exemplo, fazendo distinção entre “gioco stretto” e “gioco largo” referindo-se a diferentes distâncias. Estes tratados falam geralmente de vários tipos de armas e não de uma espada especifica.
Nessa altura não creio que fizesse confusão a ninguém. No entanto a esgrima olímpica não se chama jogo de espada, mas sim esgrima, e hoje em dia, na população em geral, jogo já não tem nenhuma conotação marcial e como já referi anteriormente, é mal interpretado por quem não conhece, por isso o mestre Nuno Russo está a tentar aplicar o nome de Esgrima Lusitana.
Este nome, não é no entanto uma invenção totalmente moderna. Já Zacharias d’Aça em 1883 se referia ao jogo do pau como a Esgrima Nacional, assim como António Caçador (1963) sub-titula o seu livro sobre jogo do pau. Creio que já dai advêm a necessidade de demonstrar que se trata de uma esgrima ou de uma actividade marcial(de combate) e não de um jogo, como tem sido vista a expressão mais recentemente.
Eu sinceramente preferia ver o nome Jogo do pau a ser utilizado, mas percebo e suporto a utilização de Esgrima Lusitana, que faz sentido no mundo em que vivemos e é mais rapidamente compreendido pelo publico em geral. Também podes ver o nome Esgrima Lusitana, como sendo a escola do mestre Nuno Russo, que inclui o varapau e o bastão e segue um programa técnico especifico.
2- Nunca vi preconceito em relação aos nomes das pancadas. A única pessoa que vi utilizar nomes diferentes foi o Luis Preto quanto ensina estrangeiros. Mas isso advêm da ideia dele de que ao ensinar-se qualquer actividade, se deve utilizar palavras que as pessoas compreendam. Assim, em inglês faz sentido utilizar nomes ingleses para as pancadas, apesar das outras artes marciais todas fazerem o contrário. Não discordo que isso seja mais eficaz na aprendizagem, no entanto gosto bastante da ideia de utilizar os nomes em Português por uma questão de manter uma ligação cultural à arte praticada. Quanto à utilização desses nomes “arcaicos” em português, em em vez de nomes mais compreensíveis, como “Obliqua” ou “ascendente”, não creio que seja necessário, pois não custa assim tanto a um português aprender um termo da própria língua, e em todas as aulas que tive sempre foram os termos utilizados.
3- Se o caso a favor da ligação do jogo do pau com a esgrima de armas antigas fosse apenas os nomes dos ataques, como referidos no livro do rei D. Duarte I (1391-1438), eu veria isso como uma mera curiosidade, e não como um argumento histórico de referência. Quase como um mito.
E foi assim que vi essa ligação durante muito tempo. No entanto, para uma análise mais séria da ligação creio que é essencial a análise de dois documentos “descobertos” mais recentemente. Falo do “Memorial Da Prattica do Montante” de D. Diogo Gomes de Figueiredo (1651) e “Do Arte de Esgrima” de Domingos Luis Godinho (1599). Quem é conhecedor de jogo do pau, sabe que no norte sempre se praticou o combate contra vários adversários, ainda hoje há grupos muito tradicionais a praticarem o jogo contra dois e o jogo do meio. Está prática bem documentada em vídeo e presente também no programa técnico do mestre Nuno Russo, está também descrita no mais antigo manual de jogo do pau que conheço, “A arte do Jogo do Pau” Joaquim António Ferreira (1886).
Estes textos podem ser analisados mais profundamente para uma melhor compreensão dos mesmos, no entanto deixo aqui a primeira linha de algumas das chamadas “regras” ou situações que estes 3 autores descrevem.
"Memorial Da Prattica do Montante" Mestre de Campo Diogo Gomes de Figueyredo (1651):
-“Regra para brigar com gente por detraz e por diante”
-"Serve esta regra para brigar em hũa rua larga com gente por detras o por diante”
"Do Arte de Esgrima" - Domingo Luis Godinho (1599)
Autor portugues mas o texto está em espanhol, traduzi aqui para simplificar.
- "sercado em plasa campo o calhe”
- ”sercado en calhe mea angosta de atras e adelante”
“A arte do Jogo do Pau” Joaquim António Ferreira (1886)
-“Quando eu seguir por uma estrada e me apareça um inimigo pela frente e outro pela retaguarda”
-"Quando me encontrar cercado de inimigos devo (…)"
São apenas dois exemplos de cada autor, mas cada um tem muitos mais exemplos, sendo que a grande parte das regras que ensinam são mesmo contra vários adversários em várias situações.
Cada manual, de diferentes mestres e de séculos diferente, apresenta soluções ligeiramente diferentes, o que creio ser natural. Pode-se até dizer que isto é o comum em todas as artes marciais e que não evidencia nenhuma ligação especial ao jogo do pau. No entanto, há que reparar, dos vários autores europeus de tratados de esgrima antiga com as mais variadas armas, e de várias nacionalidades, Alemães, Italianos, Ingleses, e de vários séculos, apesar de um ou outro mencionarem ocasionalmente o combate contra vários adversários, nenhum deles trata tão profundamente do assunto, como o Figueiredo, Godinho ou Ferreira tratam nos seus manuais. E isto é quase único na tradição portuguesa. Autores como George Silver (ca. 1560s–1620s) e Giacomo di Grassi(Séc. XVI) dedicam um ou outro paragrafo a combate contra vários adversários, enquanto que dos 3 autores portugueses, cada um tem pelo menos 10 regras especificas contra vários adversários. Dos autores antigos não só com o montante mas Godinho refere o mesmo com qualquer tipo de espada. Isto, sendo que não há muitos mais manuais de esgrima de autores portugueses deste tempo, é grande parto do que conhecemos da nossa esgrima.
Para quem conhecer o jogo do pau, deixo aqui uma regra de Godinho: http://jogodopau.tumblr.com/post/43481457974/cercado-numa-praca-campo-ou-rua
Esta descrição quase que se podia pôr lado a lado, e adaptar passo a passo ao jogo do pau, ainda hoje praticado por muitos grupos de jogo do pau e presente no programa técnico de Esgrima Lusitana. como diria o Carlos do Carmo, se isto não é jogo do pau, eu sou chinês(com a devida ressalva de que com certeza, gostava que existisse um estudo mais profundo do tema, do que aquele que eu consigo fazer).
4- Lusitana refere-se neste caso de uma forma geral ao povo português, tal como “Os Lusiadas”, não se tenta limitar a um grupo de portugueses de um local especifico, mas de forma generalizada. Tal como Luso-Americano, refere-se a um Portugal e América e não a Entre Douro e Tejo e América.
5- Quase todas a técnicas de varapau europeias, Sejam italianas, francesas etc, utilizam o varapau de forma semelhante, isto é, em rotação completa, segurando numa das pontas. No entanto, práticamente só em Portugal se vê ainda a pratica de jogo do pau contra vários adversários. Não digo que seja tudo a mesma coisa, e creio que em Portugal, por alguma razão esta prática se preservou em excelente forma, mas não me surpreende existirem formas bastante similares por toda a Europa. O Garrote canário que vi e já experimentei com um mestre que nos visitou é substancialmente diferente do jogo do pau português.
6- O bastão português é de facto uma adaptação recente, e como é praticado hoje, é um aperfeiçoamento tomado a cabo pelo mestre Nuno Russo, o qual tem todo e quase exclusivo mérito por isso. As menções de utilização de bengala tradicionalmente são realmente muito esporádicas e não creio que nunca tenha sido uma pratica corrente. No entanto creio que a adaptação da técnica do varapau a bastões de um certo peso, é excelente e extremamente eficaz, refletindo todos os conceitos e princípios do varapau, inclusive o tal combate contra vários adversários, que é para mim, a melhor aplicação de armas para defesa pessoal que alguma vez vi.
Alonguei-me tanto que tive que dividir isto. São questões que requerem de facto discussão e agradeço o teu post por isso. Abraço.