sábado, maio 24, 2008

Ana, uma moça de coragem

Ana Francisco Santos, uma moça que foi submetida a brincadeiras de mau gosto conhecidas habitualmente por praxe, teve a coragem de denunciar os agressores e estes acabam de ser condenados em tribunal. Há muitas Anas por este país que passam por experiências semelhantes e tentam relativizar e desculpabilizar esses actos porque têm medo de "levantar ondas"... Ou talvez tenham receio de encontrar um juiz que tenha sido praxista e que nunca tenha chegado a crescer como ser humano. Neste país de gente "que se fica", de amedrontados perante os poderosos e os prepotentes, a atitude da Ana devia ser um exemplo para todos nós.

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Alunos da Escola Superior Agrária de Santarém condenados por praxe violenta a caloira


Os sete alunos foram acusados pelo Ministério Público dos crimes de coacção e ofensa à integridade física de uma caloira que foi barrada com excrementos. Um arguido foi considerado culpado do crime de coacção e seis foram considerados culpados do crime de ofensa à integridade física qualificada. A pena reflectiu o sofrimento da caloira, que se constituiu como assistente no processo, refere o Tribunal de Santarém. A sentença é “inédita” em Portugal e “pedadógica”, tal como havia sido pedido ao tribunal, comenta a advogada da antiga caloira. A representante legal dos acusados admite apresentar recurso, mas para já vai analisar a sentença do Tribunal de Santarém.

RTP 2008-05-23




Ainda a praxe…

Cara leitora, imagina que vais na rua e um desconhecido te exige que lhe entregues o Bilhete de Identidade, que removas uma ou mais peças de roupa, que o deixes pintar-te toda a cara e pôr-te pasta de dentes no cabelo. Imagina que ele te diz que tu és pior que um verme, que te manda cantar canções com letras obscenas e que te faz deitar no chão enquanto um gajo que não conheces de lado nenhum faz flexões em cima de ti. Isso é… Bem, isso é agressão, assédio sexual, atentado contra o pudor, ou outras coisas inventariadas no código penal. Imagina agora que o tal desconhecido está vestido com capa e batina pretas. Isso é praxe!
A praxe não é coisa nova, os rituais de iniciação são velhos como a humanidade. Nas sociedades tradicionais a entrada na vida adulta é normalmente precedida de provas que podem assumir a forma de mutilações como a circuncisão e a excisão. Por cá as práticas foram mudando, mas quem nunca ouviu a geração dos nossos pais a dizer coisas como «não é homem quem nunca foi à tropa»? E o mundo militar é pródigo nestas coisas. As provas são tanto mais duras e os rituais mais elaborados e penosos quanto é restrito o acesso ao estado, grau ou instituição de que se quer fazer parte. Um instrutor de uma tropa de elite pergunta ao jovem recruta exausto e ofegante: «Você está cansado? Ai sim? Então faça lá mais trinta flexões… E agora, está cansado? Não? Ainda bem, nós queremos aqui homens de barba rija e com tomates. Venha de lá uma completa de cinquenta!...» Se o infeliz não faz o que lhe pedem é colocado fora do grupo, indigno de pertencer aos “eleitos”: «Então berre aí bem alto para os seus camaradas ouvirem que você é um paneleiro de merda que só presta para o “arre-macho”». Quem não se submete não pode ser um “iniciado”, um “veterano”, e é ameaçado com a ostracização. «Se não fores praxado, não vais fazer amigos na Faculdade».
Antigamente a praxe coimbrã era altamente ritualizada, quando ser estudante universitário era inacessível à maioria da população. O caloiro não podia andar na rua depois das sete, sob o risco de ser apanhado pelas trupes e ser mimoseado com penas como o cabelo rapado. Tinha também “protecções”, como o facto de estar acompanhado pelo pai ou pela mãe na ocasião, por exemplo, poupando assim ao vexame os familiares. A praxe tinha regras que os veteranos tinham também de seguir. A massificação do acesso à universidade, em vez de tornar obsoletos estes rituais, “apimbalhou-os”, pô-los ao nível da sociedade “Big Show Sic”. Entre a praxe desses tempos (a tal “tradição académica” de que eles falam) e a palhaçada actual há a mesma relação que existe entre o confessionário da aldeia dos avós (onde o pároco ameaçava com o fogo do Inferno quem não cumprisse as penitências todas) e o “Perdoa-me”, aquele programa de televisão execrável que era líder de audiências.
Também já defendi a praxe, mas depois pus-me a pensar, um hábito que se vai tornando cada vez mais raro nas nossas universidades. Que “integração” traz a “praxe”? Não há maneiras melhores de fazer amigos do que ser humilhado, ridicularizado, usado como um boneco masoquista nas mãos de sádicos ou de pessoas com problemas não-resolvidos ao nível da socialização ou da sexualidade? A preocupação com a dignidade do ser humano não pode começar aqui mesmo com os nossos colegas inexperientes, caloiros recém-chegados a este mundo que deveria ser do humanismo, da busca do conhecimento?
P.S. – Não tenho brincos no nariz, nas orelhas, nas sobrancelhas ou em qualquer outro lugar mais íntimo, nem tenho o cabelo verde, nem sou filiado ou simpatizante do Bloco de Esquerda. Evidentemente que não tenho nada – a não ser divergências ideológicas – contra quem é enquadrável nestas características, mas achei pertinente este esclarecimento porque tenho visto algumas mentalidades pequeninas a combater as ideias contra esta praxe com argumentos do género «eles dizem isso porque são radicais com o cabelo roxo».

João Paulo Tavares Esperança

Publicado no jornal “Fazedores de Letras” (da Associação de Estudantes da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa), nº30, Dez 99, p.5

sexta-feira, maio 23, 2008

Abrandamento

Tenho andado com outras preocupações nos últimos tempos, e por isso não tenho escrito aqui grande coisa. Tenho posto cá uns vídeos para edificação dos meus caríssimos leitores, mas pouco mais...
Dentro de dias o blogue retomará a sua actividade normal...

terça-feira, maio 20, 2008

Raízes

"«Continuaj a armar-te em carapau de corrida e lebas uma trancada qui até andas de querena, qui é p’ra escarmentares!»
Mas
opois chegou o catano do belhote gafanhão e mandou-oj apertarem o bacalhau e fazerem as pazes que senão qui oj atiraba à iágua. "

Uma das poucas coisas boas neste exílio temporário na terra natal é a re-imersão nas minhas raízes dialectais…

quinta-feira, maio 08, 2008

Movimentos básicos de Setia Hati Terate

Um vídeo do YouTube com os movimentos mais básicos do pencak silat da PSHT (Persaudaraan Setia Hati Terate - Irmandade do Coração Leal da Flor-de-Lótus).


quarta-feira, maio 07, 2008

Música de Cabo Verde

Há algo de místico na morna caboverdiana, que me toca a alma, como o fado também. E o funaná é hipnotizante e faz com que até um tipo com dois pés esquerdos como eu queira saber dançar...


Fundamentalistas?

Ao longo dos anos em que fui activista da causa timorense e durante o tempo em que morei em Timor era comum ouvir portugueses falarem da Indonésia como se fosse um bicho papão muçulmano monolítico e fundamentalista. Na verdade, a Indonésia é um país extraordinariamente complexo, cheio de diversidade, onde forças modernizadoras e conservadoras coexistem às vezes em harmonia e outras vezes em choque. E falar em conservadores na maior parte das regiões do país não é de maneira nenhuma sinónimo de falar em fundamentalistas muçulmanos – o islamismo indonésio é tradicionalmente tolerante e moldou-se à cultura pré-islâmica local (talvez na senda de Sunan Kalijaga, apontado como o mais sincrético dos Wali Songo). Muitos indonésios ficam ofendidos em serem comparados com certas sociedades do Médio Oriente que não deixam as mulheres conduzirem carros e coisas do género, e pedem que não confundamos a religião muçulmana com as tradições dos povos de língua árabe.
Um assunto que une, no entanto, os conservadores de diversas correntes é a condenação das novas tendências da música dangdut. A maior parte dos indonésios parece não ligar a essas opiniões. Extremamente popular como entretenimento de massas, com concertos a que assistem às vezes milhares de pessoas (a maior parte homens, mas não apenas), o dangdut tem vindo a tornar-se cada vez mais sexualizado, com as intérpretes a executarem movimentos cada vez mais explícitos. Que eu saiba a pioneira desta abordagem mais radical foi Inul Daratista, há uns anos atrás, quando eu estava em Timor ainda há pouco tempo (e lá vendem-se muitos VCDs da Inul...), mas agora há uma verdadeira legião de seguidoras. Assisti uma vez a um concerto de rua na Jalan Malioboro, em Yogyakarta, em que algumas adolescentes tentavam também fazer uma aproximação a este estilo. A jovem Mela Anjani é a bonita cantora do vídeo abaixo:




Bakti Negara, um estilo balinês de pencak silat

Demonstrado pela jovem pesilat (praticante de silat) Ni Luh Putu Spyanawati