sábado, março 21, 2015

Ainda a polémica das línguas maternas no sistema educativo timorense:



(1) - Deve haver poucos educadores de infância ou professores primários em Timor que não falem tétum (e suponho que seja procedimento padrão no Ministério da Educação não contratar professores que não saibam tétum).


(2) – As crianças, mesmo aquelas que não têm o tétum como uma das suas línguas maternas, tornam-se na maior parte das comunidades rapidamente bilingues assim que entram na escola, de forma natural, ao brincar e conviver no recreio com crianças provenientes de famílias com línguas maternas diversas. O tétum tornou-se língua franca de Timor de forma natural, como uma maneira prática de as comunidades se entenderem, mesmo antes de o tétum ser língua oficial e uma das línguas da escola. Qualquer fataluco ou baiqueno que venha morar para Díli vê os seus filhos (antes monolingues na língua regional) a falar tétum com os vizinhos poucos meses depois de chegarem, de forma natural, sem ser sequer preciso ensiná-los.


(3) – O tétum é em Timor-Leste a língua de unidade nacional, a língua em que toda a gente se pode entender, em que o povo (mesmo as crianças da escola primária) pode ver as notícias na televisão nacional. O português é a língua oficial que dá acesso à alta cultura, ciência, etc (não porque o tétum não pudesse ser língua de ciência, mas porque as condições sócio-económicas e demográficas não o permitem: o mercado leitor timorense é reduzido, os produtores de conhecimento e bens culturais de alta cultura em tétum são muito poucos).


(4) – Uma criança leitora é um professor de si mesmo. Desde que tenha aprendido a ler numa língua em que há livros.


(5) – Uma criança aprende mais facilmente línguas quando é pequenina.


(6) – As pré-escolas e escolas primárias timorenses podem ser facilmente lugares de imersão em tétum, já que todos os professores, e muitos dos alunos, falam esta língua. A questão depois seria planificar o ensino do português, logo desde a chegada à pré-escola, e dar aos professores que ainda não dominam este idioma as aulas planificadas que os ajudem no seu trabalho. Será que se justifica trazer as línguas regionais para a equação?

2 comentários:

Luis Pinto disse...

Bem observado, JP. Mas não achas que se justifica acrescentar ao teu raciocínio o ensino formal do tétum nas escolas? Que os educadores de infância e professores primários falam tétum, não tenho dúvidas. E que as crianças aprendem a falar tétum naturalmente, no recreio ou na rua, também não. Mas para estruturar um raciocínio, formular uma ideia com clareza, transmitir uma mensagem sem ruído, exprimir um sentimento com propriedade, etc. não te parece que o ensino da ortografia e gramática do tétum são importantes? Ou estará o tétum condenado a nunca ser fonte de bens culturais de alta cultura?
abraço, L.

Anónimo disse...

O autor diz que:
"As pré-escolas e escolas primárias timorenses podem ser facilmente lugares de imersão em tétum, já que todos os professores, e muitos dos alunos, falam esta língua. A questão depois seria planificar o ensino do português, logo desde a chegada à pré-escola, e dar aos professores que ainda não dominam este idioma as aulas planificadas que os ajudem no seu trabalho. Será que se justifica trazer as línguas regionais para a equação?"

Creio que o que está a dizer é que as línguas de ensino devem ser o tétum e o português, e que o tétum pode funcionar desde o início como língua de imersão, mas acompanhado pela introdução planeada e logo desde a pré-escola da língua portuguesa. Portanto ele defende ensino simultâneo do tétum e português nas escolas em geral.