domingo, dezembro 01, 2013

Algumas questões de semântica em torno do jogo do pau




Nos últimos tempos um pequeno grupo de pessoas tem-se distinguido pelo seu trabalho notável de divulgação do jogo do pau. Por isso devem ser elogiados. Mas há algumas premissas nas suas campanhas que para mim devem ser debatidas, e não tomadas como verdade absoluta.


1.
Uma é a embirração que têm com o nome da modalidade que praticam. Gostam do jogo do pau, mas não gostam do nome por que tem sido designado de geração em geração. Por isso chamam-lhe “esgrima lusitana”. Parece que o problema deles é com a palavra “jogo”, talvez tenham receio de serem confundidos com jogadores de micado ou de ai-manulin (1). O Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa, publicado em 2001, tem entre as acepções da palavra “jogo”:  «manejo de uma arma. + de espada, de florete, de pau». E de resto “jogar”, ou os seus equivalentes, tem uma longa tradição em diversas artes marciais, quer do Ocidente quer do Oriente. A capoeira, antes de tornar nesta modalidade de alegria e harmonia, de paz e amor, que se espalhou por todos os cantos do mundo, foi um sistema de combate urbano usado em lutas que frequentemente acabavam em mortes, no qual se usavam também paus, catanas e navalhas (2), mas já nessa época os praticantes diziam que jogavam capoeira (3). Uma das regiões historicamente mais importantes no desenvolvimento de muitos estilos de pencak silat (4) foi a parte ocidental da ilha de Java, de cultura e língua sundanesa. Pois na região de Cianjur eles chamam, em sundanês, “maenpo” ao pencak silat, em que “maen” significa “jogar” (5). E, já agora, na Roma antiga as escolas de gladiadores, onde eram treinados alguns dos lutadores com mais destreza técnica para o combate até à morte do mundo antigo, eram chamados “ludus” (“ludi”, no plural) (6), palavra que também está na origem da palavra portuguesa “lúdico”…

2.
Li também que alguns consideram “enviesada” e “arrepiada” como palavras arcaicas. Isso faz-me lembrar as conversas que tinha com alguns lisboetas, quando estava na Faculdade, sobre os livros do Aquilino Ribeiro. A maioria só tinha lido, ou tentado ler, “O Malhadinhas”, e dizia que o escritor usava muitas palavras arcaicas. Eu por outro lado, moço de origens rurais, compreendia sem precisar de ir ao dicionário uma percentagem muito maior do léxico do autor. Voltando novamente ao Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia: “ao arrepio em direcção oposta à normal;enviesado/aque se deslocou obliquamente, na diagonal; que se moveu de esguelha, de viés”. No lugar de onde venho estes são vocábulos normais do português actual.

3.
Dizem alguns que o jogo do pau vem directamente da técnica medieval de esgrima do montante. Que essa possa ser a sua origem remota é plausível. Quem habitualmente desenvolvia sistemas tecnicamente complexos de combate eram as classes guerreiras, o que no caso português seria a nobreza dos cavaleiros. Noutros contextos culturais e históricos algo similar terá ocorrido com o arnis ou eskrima (uma arte marcial filipina, rebaptizada “kali” por alguns estadunidenses de origem filipina nos EUA), desenvolvido a partir do treino militar dado pelos padres guerreiros jesuítas espanhóis às milícias do povo nas Visaias para se defenderem das incursões dos piratas muçulmanos vindos de Mindanao (7). Mas em Portugal o povo não tinha montantes. O povo alimentava a família com o que cultivava nas terras em que vivia, mas que pertenciam aos senhores feudais ou ao clero, e os homens do povo tinham que aceitar ser incorporados na infantaria dos exércitos dos seus senhores em alturas de guerra. Na guerra medieval os peões constituíam a maior parte dos efectivos dos exércitos, mas eram pobremente armados. Usavam armas rudimentares, como chuços e alabardas de diversos tipos, que em muitos casos não diferiam provavelmente muito de um pau com choupa ou com uma foicinha na ponta. Portanto, se houver uma ligação antiga entre o jogo do pau e a técnica de armas das guerras medievais, o mais provável é que o seu antepassado não fosse a esgrima de montante propriamente dita, mas sim uma adaptação feita pelos instrutores para as armas da peonagem, uma espécie de “artes marciais para os pobres”. Eu nunca empunhei um montante real, mas suponho que tenha um peso bastante diferente do de um chuço ou um pau, o que imediatamente exige soluções técnicas distintas. No caso do pau, a adaptação da técnica teria que ir muito mais longe, já que a vara (sem choupa) é uma arma de impacto e o montante é uma arma de corte (apesar de o jogo do pau preservar como característica importante o facto de não se agarrar o pau do adversário ou o seu corpo – coisa perigosa com lâminas – ao contrário do que acontece actualmente com muitos estilos de eskrima/arnis, ou com o sistema reconstruído do “garrote” canário, e ter o cuidado de manter as mãos bem longe do alcance da arma do adversário, ao contrário de muitas das artes marciais com pau deste mundo).

Não chega dizer que há documentos antigos que provam que o jogo do pau tem a mesma técnica da esgrima do montante. Há que explicar de que forma é que o provam. E não será porque os cavaleiros também chamavam às técnicas “arrepiadas” e “enviesadas”… Em bojutsu também deve haver técnicas arrepiadas e enviesadas (com estas denominações em japonês, claro), mas evidentemente não se pode invocar nem a designação, nem a mera existência destes ângulos de ataque, para dizer que é essa a origem do jogo do pau. E a referência ao bojutsu faz-me recordar um vídeo a que assisti há muitos anos, mostrado pelo Mestre Nuno Russo no Ginásio Clube Português, em que ele trocava umas pauladas amigáveis com um nãoseiquantagésimo Dan de bojutsu, que se fartava de apanhar, coitado…

4.
E “lusitana” porquê? A região dos lusitanos era uma zona entre os rios Douro e o Tejo, e um pedaço da Espanha actual na mesma latitude, o que deixa de fora as regiões do Minho e Trás-os-Montes, tradicionalmente consideradas os mais importantes centros de irradiação do jogo do pau. Para além disso, ainda que provavelmente andassem também à paulada de vez em quando, não poderiam fazer jogo do pau se este vier da técnica da esgrima do montante medieval… A verdadeira “esgrima lusitana” seria provavelmente o manejo da falcata!

5.
Não sei o suficiente sobre o “jeux de baton” francês para poder ter uma opinião sobre se é igual, ou semelhante, tecnicamente ao jogo do pau português. Os estilos de juego del palo tradicionais das Canárias parecem-me ter diferenças técnicas importantes, pelo menos na forma que chegou aos nossos dias como resultado de uma prática contínua de geração em geração (não estou a incluir o “garrote”, que várias fontes dizem ser o que se chama uma prática reconstituída, como a esgrima histórica que se faz actualmente em vários países). Parecer-me-ia difícil argumentar que as técnicas do juego del palo canário sejam semelhantes às do manejo do montante de guerra.
Conheço referências ao jogo do pau nas zonas da raia galega, o que faz todo o sentido dada a porosidade da fronteira para os membros das comunidades rurais da zona e a continuidade linguística e cultural entre galegos e portugueses do Norte. Seria interessante saber se há descrições de sistemas tecnicamente semelhantes ao jogo do pau que tenham existido noutras regiões de Espanha. E, já agora, se tiverem existido, porque é que se extinguiram, ao contrário dos sistemas português continental, açoriano, e canário… Suponho que noutras zonas de Espanha há também populações rurais, conservadoras, que andavam de cajado na mão… e que tinham antepassados incorporados nos exércitos dos seus senhores na Idade Média.

6.
Nalguns textos invoca-se uma origem histórica para a modalidade de “bastão português” praticada nas escolas ligadas ao Mestre Nuno Russo. Diz-se que os varredores de feiras iam lutar de bengala para as feiras após a proibição das varas nos recintos das mesmas (?), ou que as populações urbanas andavam de bengala e teria havido uma adaptação do jogo do pau tradicional para o uso da bengala. Mais uma vez, uma destas ideias – a segunda – é plausível, mas ainda não a vi provada. A canne francesa está bem documentada historicamente (8), mas ainda não tive conhecimento de documentação, ou de uma tradição, que mostre que tenha havido um desenvolvimento semelhante em Portugal, ou uma continuidade de evolução técnica no passado entre o jogo do pau e a “bengala ou bastão português”. A História não se escreve com base em argumentação do tipo “não temos provas, mas achamos que devia ter existido e devia ter sido assim”. Dito isto, parece-me um desenvolvimento interessante esta técnica de “bastão português” que temos visto aparecer nas últimas duas décadas, que pode inclusivamente atrair pessoas pela sua mais fácil aplicação na autodefesa (hoje em dia já pouca gente anda de cajado…). Mas se é um desenvolvimento recente porque não assumi-lo e dar o devido crédito ao(s) Mestre(s) que o desenvolveu(veram)? Claro que os praticantes ficam sempre com a opção de procurar uma escola onde se faça apenas jogo do pau tradicional, com vara longa, mas quem gostar pode ir aprender este novo “bastão português” sabendo ao que vai…

Enfim, alguns pensarão que nada disto é importante, mas eu pessoalmente gostaria de ver aparecer mais investigação séria sobre o desenvolvimento do jogo do pau. Para quem se interessa por este assunto, termino recomendando a leitura regular do excelente blog de pesquisa sobre referências à arte marcial portuguesa ao longo dos tempos que se pode encontrar neste link http://jogodopau.tumblr.com/ .


(1)    Ai-manulin - jogo infantil timorense em que envolve o lançamento de um pauzinho.
(2)    A introdução da navalha como uma arma que se tornaria tradicional na capoeira deve-se aos fadistas e outros imigrantes portugueses no Brasil.
(3)    Ver, entre outros, Capoeira – The History of an Afro-Brazilian Martial Art, de Mathias Röhrig Assunção, um excelente livro sobre a história da capoeira, que deveria servir de inspiração a qualquer historiador de uma arte marcial.
(4)    Pencak silat (lê-se [pêntchak sílat]) – um nome genérico para artes marciais oriundas da Indonésia, Malásia, Brunei, Timor-Leste e partes do Sul das Filipinas.
(5)    Ver “Pencak Silat merentang waktu”, de O’ong Maryono, na pág. 196.
(6)    Ver p.ex. “The Gladiators”, de Fix Meijer, pág. 39.
(7)    Ver o interessante ensaio de Ned R. Nepangue e Celestino C. Macachor intitulado “Cebuano Eskrima – Beyond the Myth”.
(8)    Consultar, por exemplo, “Histoire de la savate, du chausson et de la boxe française (1797-1978)", de Jean-Grançois Loudcher, um livro sobre a história das artes marciais francesas metodologicamente sério na sua investigação.

15 comentários:

Unknown disse...

Olá João,

Não sou um erudito do jogo do pau nem da cultura portuguesa. Tenho feito um esforço de investigação, dentro dos limites do meu conhecimento, e partilho do desejo de ver o jogo do pau a ser estudado mais profundamente por alguém mais capaz. Darei as minhas opiniões como o meu ponto de vista, que não pretende ser uma verdade absoluta, mas sim a minha interpretação actual, que face à escassez de fontes, nunca posso afirmar com grandes certezas.

Não vejas isto como uma oposição aos teus argumentos, pois concordo pelo menos com a grande parte destes, e até apresento mais alguns pontos a favor, no entanto esta é a forma como vejo estas questões do ponto de vista de um praticante de Esgrima Lusitana e amante do Jogo do Pau.

1- “Jogo” e “pau” //Acho o problema não só na palavra jogo mas também na palavra “pau” não desgosto da expressão, de forma alguma, mas vejo na população em geral o torcer do nariz à apresentação da mesma. E foi nesse sentido que se tentou aplicar o nome de Esgrima Lusitana.

Para suportar o nome de jogo do pau, poderia acrescentar que já vi em alguns textos antigos portugueses a expressão “mestre no jogo das armas” ou “jogar às armas” o que indica que na cultura portuguesa o “jogo” significava também treino militar.

Vários outros tratados de armas Italianos pelo menos também se referem a treino militar como “jogo”, como Achille Marozzo (1484-1553), Antonio Manciolino Séc. XVI, entre outros. Por exemplo, fazendo distinção entre “gioco stretto” e “gioco largo” referindo-se a diferentes distâncias. Estes tratados falam geralmente de vários tipos de armas e não de uma espada especifica.

Nessa altura não creio que fizesse confusão a ninguém. No entanto a esgrima olímpica não se chama jogo de espada, mas sim esgrima, e hoje em dia, na população em geral, jogo já não tem nenhuma conotação marcial e como já referi anteriormente, é mal interpretado por quem não conhece, por isso o mestre Nuno Russo está a tentar aplicar o nome de Esgrima Lusitana.

Este nome, não é no entanto uma invenção totalmente moderna. Já Zacharias d’Aça em 1883 se referia ao jogo do pau como a Esgrima Nacional, assim como António Caçador (1963) sub-titula o seu livro sobre jogo do pau. Creio que já dai advêm a necessidade de demonstrar que se trata de uma esgrima ou de uma actividade marcial(de combate) e não de um jogo, como tem sido vista a expressão mais recentemente.

Eu sinceramente preferia ver o nome Jogo do pau a ser utilizado, mas percebo e suporto a utilização de Esgrima Lusitana, que faz sentido no mundo em que vivemos e é mais rapidamente compreendido pelo publico em geral. Também podes ver o nome Esgrima Lusitana, como sendo a escola do mestre Nuno Russo, que inclui o varapau e o bastão e segue um programa técnico especifico.

2- Nunca vi preconceito em relação aos nomes das pancadas. A única pessoa que vi utilizar nomes diferentes foi o Luis Preto quanto ensina estrangeiros. Mas isso advêm da ideia dele de que ao ensinar-se qualquer actividade, se deve utilizar palavras que as pessoas compreendam. Assim, em inglês faz sentido utilizar nomes ingleses para as pancadas, apesar das outras artes marciais todas fazerem o contrário. Não discordo que isso seja mais eficaz na aprendizagem, no entanto gosto bastante da ideia de utilizar os nomes em Português por uma questão de manter uma ligação cultural à arte praticada. Quanto à utilização desses nomes “arcaicos” em português, em em vez de nomes mais compreensíveis, como “Obliqua” ou “ascendente”, não creio que seja necessário, pois não custa assim tanto a um português aprender um termo da própria língua, e em todas as aulas que tive sempre foram os termos utilizados.

(P1)

Unknown disse...

Olá João,

Não sou um erudito do jogo do pau nem da cultura portuguesa. Tenho feito um esforço de investigação, dentro dos limites do meu conhecimento, e partilho do desejo de ver o jogo do pau a ser estudado mais profundamente por alguém mais capaz. Darei as minhas opiniões como o meu ponto de vista, que não pretende ser uma verdade absoluta, mas sim a minha interpretação actual, que face à escassez de fontes, nunca posso afirmar com grandes certezas.

Não vejas isto como uma oposição aos teus argumentos, pois concordo pelo menos com a grande parte destes, e até apresento mais alguns pontos a favor, no entanto esta é a forma como vejo estas questões do ponto de vista de um praticante de Esgrima Lusitana e amante do Jogo do Pau.

1- “Jogo” e “pau” //Acho o problema não só na palavra jogo mas também na palavra “pau” não desgosto da expressão, de forma alguma, mas vejo na população em geral o torcer do nariz à apresentação da mesma. E foi nesse sentido que se tentou aplicar o nome de Esgrima Lusitana.

Para suportar o nome de jogo do pau, poderia acrescentar que já vi em alguns textos antigos portugueses a expressão “mestre no jogo das armas” ou “jogar às armas” o que indica que na cultura portuguesa o “jogo” significava também treino militar.

Vários outros tratados de armas Italianos pelo menos também se referem a treino militar como “jogo”, como Achille Marozzo (1484-1553), Antonio Manciolino Séc. XVI, entre outros. Por exemplo, fazendo distinção entre “gioco stretto” e “gioco largo” referindo-se a diferentes distâncias. Estes tratados falam geralmente de vários tipos de armas e não de uma espada especifica.

Nessa altura não creio que fizesse confusão a ninguém. No entanto a esgrima olímpica não se chama jogo de espada, mas sim esgrima, e hoje em dia, na população em geral, jogo já não tem nenhuma conotação marcial e como já referi anteriormente, é mal interpretado por quem não conhece, por isso o mestre Nuno Russo está a tentar aplicar o nome de Esgrima Lusitana.

Este nome, não é no entanto uma invenção totalmente moderna. Já Zacharias d’Aça em 1883 se referia ao jogo do pau como a Esgrima Nacional, assim como António Caçador (1963) sub-titula o seu livro sobre jogo do pau. Creio que já dai advêm a necessidade de demonstrar que se trata de uma esgrima ou de uma actividade marcial(de combate) e não de um jogo, como tem sido vista a expressão mais recentemente.

Eu sinceramente preferia ver o nome Jogo do pau a ser utilizado, mas percebo e suporto a utilização de Esgrima Lusitana, que faz sentido no mundo em que vivemos e é mais rapidamente compreendido pelo publico em geral. Também podes ver o nome Esgrima Lusitana, como sendo a escola do mestre Nuno Russo, que inclui o varapau e o bastão e segue um programa técnico especifico.

2- Nunca vi preconceito em relação aos nomes das pancadas. A única pessoa que vi utilizar nomes diferentes foi o Luis Preto quanto ensina estrangeiros. Mas isso advêm da ideia dele de que ao ensinar-se qualquer actividade, se deve utilizar palavras que as pessoas compreendam. Assim, em inglês faz sentido utilizar nomes ingleses para as pancadas, apesar das outras artes marciais todas fazerem o contrário. Não discordo que isso seja mais eficaz na aprendizagem, no entanto gosto bastante da ideia de utilizar os nomes em Português por uma questão de manter uma ligação cultural à arte praticada. Quanto à utilização desses nomes “arcaicos” em português, em em vez de nomes mais compreensíveis, como “Obliqua” ou “ascendente”, não creio que seja necessário, pois não custa assim tanto a um português aprender um termo da própria língua, e em todas as aulas que tive sempre foram os termos utilizados.

(P1)

Unknown disse...

3- Se o caso a favor da ligação do jogo do pau com a esgrima de armas antigas fosse apenas os nomes dos ataques, como referidos no livro do rei D. Duarte I (1391-1438), eu veria isso como uma mera curiosidade, e não como um argumento histórico de referência. Quase como um mito.

E foi assim que vi essa ligação durante muito tempo. No entanto, para uma análise mais séria da ligação creio que é essencial a análise de dois documentos “descobertos” mais recentemente. Falo do “Memorial Da Prattica do Montante” de D. Diogo Gomes de Figueiredo (1651) e “Do Arte de Esgrima” de Domingos Luis Godinho (1599). Quem é conhecedor de jogo do pau, sabe que no norte sempre se praticou o combate contra vários adversários, ainda hoje há grupos muito tradicionais a praticarem o jogo contra dois e o jogo do meio. Está prática bem documentada em vídeo e presente também no programa técnico do mestre Nuno Russo, está também descrita no mais antigo manual de jogo do pau que conheço, “A arte do Jogo do Pau” Joaquim António Ferreira (1886).

Estes textos podem ser analisados mais profundamente para uma melhor compreensão dos mesmos, no entanto deixo aqui a primeira linha de algumas das chamadas “regras” ou situações que estes 3 autores descrevem.

"Memorial Da Prattica do Montante" Mestre de Campo Diogo Gomes de Figueyredo (1651):

-“Regra para brigar com gente por detraz e por diante”

-"Serve esta regra para brigar em hũa rua larga com gente por detras o por diante”

"Do Arte de Esgrima" - Domingo Luis Godinho (1599)
Autor portugues mas o texto está em espanhol, traduzi aqui para simplificar.

- "sercado em plasa campo o calhe”

- ”sercado en calhe mea angosta de atras e adelante”

“A arte do Jogo do Pau” Joaquim António Ferreira (1886)

-“Quando eu seguir por uma estrada e me apareça um inimigo pela frente e outro pela retaguarda”

-"Quando me encontrar cercado de inimigos devo (…)"

São apenas dois exemplos de cada autor, mas cada um tem muitos mais exemplos, sendo que a grande parte das regras que ensinam são mesmo contra vários adversários em várias situações.

Cada manual, de diferentes mestres e de séculos diferente, apresenta soluções ligeiramente diferentes, o que creio ser natural. Pode-se até dizer que isto é o comum em todas as artes marciais e que não evidencia nenhuma ligação especial ao jogo do pau. No entanto, há que reparar, dos vários autores europeus de tratados de esgrima antiga com as mais variadas armas, e de várias nacionalidades, Alemães, Italianos, Ingleses, e de vários séculos, apesar de um ou outro mencionarem ocasionalmente o combate contra vários adversários, nenhum deles trata tão profundamente do assunto, como o Figueiredo, Godinho ou Ferreira tratam nos seus manuais. E isto é quase único na tradição portuguesa. Autores como George Silver (ca. 1560s–1620s) e Giacomo di Grassi(Séc. XVI) dedicam um ou outro paragrafo a combate contra vários adversários, enquanto que dos 3 autores portugueses, cada um tem pelo menos 10 regras especificas contra vários adversários. Dos autores antigos não só com o montante mas Godinho refere o mesmo com qualquer tipo de espada. Isto, sendo que não há muitos mais manuais de esgrima de autores portugueses deste tempo, é grande parto do que conhecemos da nossa esgrima.

Para quem conhecer o jogo do pau, deixo aqui uma regra de Godinho: http://jogodopau.tumblr.com/post/43481457974/cercado-numa-praca-campo-ou-rua

Esta descrição quase que se podia pôr lado a lado, e adaptar passo a passo ao jogo do pau, ainda hoje praticado por muitos grupos de jogo do pau e presente no programa técnico de Esgrima Lusitana. como diria o Carlos do Carmo, se isto não é jogo do pau, eu sou chinês(com a devida ressalva de que com certeza, gostava que existisse um estudo mais profundo do tema, do que aquele que eu consigo fazer).
(P2)

Unknown disse...

4- Lusitana refere-se neste caso de uma forma geral ao povo português, tal como “Os Lusiadas”, não se tenta limitar a um grupo de portugueses de um local especifico, mas de forma generalizada. Tal como Luso-Americano, refere-se a um Portugal e América e não a Entre Douro e Tejo e América.

5- Quase todas a técnicas de varapau europeias, Sejam italianas, francesas etc, utilizam o varapau de forma semelhante, isto é, em rotação completa, segurando numa das pontas. No entanto, práticamente só em Portugal se vê ainda a pratica de jogo do pau contra vários adversários. Não digo que seja tudo a mesma coisa, e creio que em Portugal, por alguma razão esta prática se preservou em excelente forma, mas não me surpreende existirem formas bastante similares por toda a Europa. O Garrote canário que vi e já experimentei com um mestre que nos visitou é substancialmente diferente do jogo do pau português.

6- O bastão português é de facto uma adaptação recente, e como é praticado hoje, é um aperfeiçoamento tomado a cabo pelo mestre Nuno Russo, o qual tem todo e quase exclusivo mérito por isso. As menções de utilização de bengala tradicionalmente são realmente muito esporádicas e não creio que nunca tenha sido uma pratica corrente. No entanto creio que a adaptação da técnica do varapau a bastões de um certo peso, é excelente e extremamente eficaz, refletindo todos os conceitos e princípios do varapau, inclusive o tal combate contra vários adversários, que é para mim, a melhor aplicação de armas para defesa pessoal que alguma vez vi.

Alonguei-me tanto que tive que dividir isto. São questões que requerem de facto discussão e agradeço o teu post por isso. Abraço.

(P3)

Unknown disse...

Boas.

Não querendo alongar-me mais sobre o assunto , parece que o Frederico já explanou bastante bem os restantes pontos, queria apenas acrescentar que na escola do Mestre Nuno Russo, nunca ouvi ou li, qualquer relação ou comparação entre a esgrima lusitana (tcp: jogo do pau português, esgrima Portuguesa, esgrima nacional) com o treino no montante.
Pelo contrario, refere-se sempre ao treino da espada e mão e meia, uma espada mais curta que o montante e que poderia ser usada a uma ou duas mãos.

João Paulo Esperança disse...

Olá.
Talvez estas pessoas tenham ouvido outras coisas, ou não tenham ligação com o Mestre Nuno Russo, ou sejam dissidentes...

http://www.jogodopauportimao.com/armas-medievais.html

1 de Dezembro - A restauração e a esgrima em Portugal

Ver no meio da revista o artigo de Luís Preto

João Paulo Esperança disse...

O Frederico Martins também

AAJPP - Associação Algarvia do Jogo do Pau Português disse...

ARMAS MEDIEVAIS E JOGO DO PAU PORTUGUÊS

O propósito deste vídeo ( http://youtu.be/G8mKSSGCe5s ) é demonstrar que a técnica básica do Jogo do pau Português, está subjacente em todas as armas antigas de haste, embora, como é evidente, a sua aplicação tivesse que ser adaptada em função do tipo de armas, bem como do oponente e equipamento por ele utilizado.

Cumpre aqui aclarar, uma interessante controvérsia, que surgiu neste blog, acerca de assuntos referentes ao J.P.P. e contribuir para quebrar alguns mitos que se instalaram nesta área.

A técnica do J.P.P. tem muito pouco a ver, com espadas de qualquer tipo: (Montantes; Espadas longas para duas mãos; ou de mão e meia).

Embora sejam geralmente designadas de “Montantes”, todas as espadas longas para duas mãos, (como a que aparece no vídeo) o verdadeiro montante, era uma espada maior e mais pesada e foi essencialmente uma arma de apoio à cavalaria, usada por peões de brega, (briga) tinha por principal função, quebrar, ou baixar as formações de picos ou lanças, para a cavalaria poder entrar. Deveriam ser manuseados por homens fortes e rápidos, usando movimentos amplos, bem apoiados, em varrimentas cruzadas de cima para baixo, de modo a quebrar os picos ou a baixa-los em direcção ao solo.

Sabe-se que soldados mercenários alemães, durante sec. XVI, serviam em vários exércitos na Europa e que carregavam os “Zweihander”, eram designados por “Doppelsolders”, porque recebiam pagamento a dobrar devido ao seu trabalho ser muito arriscado.

As Espadas grandes para duas mãos, ou para mão e meia, que por essa altura eram usadas em duelos, funcionavam principalmente de ponta, como se pode constatar pelas gravuras que ilustram os tratados medievais, e pelas reconstituições históricas, feitas pelas escolas Europeias que estudam e descodificam os velhos tratados de armas antigas, como os nossos amigos Galegos da A.G.E.A., http://www.ageaesgrima.com essas técnicas, devido ao peso e comprimento da arma, teriam de ser “económicas”, assentavam essencialmente num jogo de pontas altas, com movimentos pouco amplos, quase lineares, de jogo breve e preciso, em que se procurava o contacto quase permanente das lâminas coladas, que os Alemães designam por “Binden” (jogo da lâmina ligada) e os Galegos por “Morder de folhas”, é um jogo fundamentalmente com folhas conectadas, de modo a que após ligeiro desvio da arma adversária, a ponta da nossa arma fique o mais perto possível do alvo.

Portanto isto tem muito pouco a ver com a riqueza e amplitude de movimentos do nosso Jogo do Pau. Claro que usavam também movimentos de grande amplitude, (corte) como no J.P.P. mas essa não era a Técnica Básica das Espadas Antigas, num duelo de morte.

O Jogo do Pau e as Armas Metálicas, tiveram evoluções distintas.

AAJPP - Associação Algarvia do Jogo do Pau Português disse...

ARMAS MEDIEVAIS E JOGO DO PAU PORTUGUÊS

O propósito deste vídeo ( http://youtu.be/G8mKSSGCe5s ) é demonstrar que a técnica básica do Jogo do pau Português, está subjacente em todas as armas antigas de haste, embora, como é evidente, a sua aplicação tivesse que ser adaptada em função do tipo de armas, bem como do oponente e equipamento por ele utilizado.

Cumpre aqui aclarar, uma interessante controvérsia, que surgiu neste blog, acerca de assuntos referentes ao J.P.P. e contribuir para quebrar alguns mitos que se instalaram nesta área.

A técnica do J.P.P. tem muito pouco a ver, com espadas de qualquer tipo: (Montantes; Espadas longas para duas mãos; ou de mão e meia).

Embora sejam geralmente designadas de “Montantes”, todas as espadas longas para duas mãos, (como a que aparece no vídeo) o verdadeiro montante, era uma espada maior e mais pesada e foi essencialmente uma arma de apoio à cavalaria, usada por peões de brega, (briga) tinha por principal função, quebrar, ou baixar as formações de picos ou lanças, para a cavalaria poder entrar. Deveriam ser manuseados por homens fortes e rápidos, usando movimentos amplos, bem apoiados, em varrimentas cruzadas de cima para baixo, de modo a quebrar os picos ou a baixa-los em direcção ao solo.

Sabe-se que soldados mercenários alemães, durante sec. XVI, serviam em vários exércitos na Europa e que carregavam os “Zweihander”, eram designados por “Doppelsolders”, porque recebiam pagamento a dobrar devido ao seu trabalho ser muito arriscado.

As Espadas grandes para duas mãos, ou para mão e meia, que por essa altura eram usadas em duelos, funcionavam principalmente de ponta, como se pode constatar pelas gravuras que ilustram os tratados medievais, e pelas reconstituições históricas, feitas pelas escolas Europeias que estudam e descodificam os velhos tratados de armas antigas, como os nossos amigos Galegos da A.G.E.A., http://www.ageaesgrima.com essas técnicas, devido ao peso e comprimento da arma, teriam de ser “económicas”, assentavam essencialmente num jogo de pontas altas, com movimentos pouco amplos, quase lineares, de jogo breve e preciso, em que se procurava o contacto quase permanente das lâminas coladas, que os Alemães designam por “Binden” (jogo da lâmina ligada) e os Galegos por “Morder de folhas”, é um jogo fundamentalmente com folhas conectadas, de modo a que após ligeiro desvio da arma adversária, a ponta da nossa arma fique o mais perto possível do alvo.

Portanto isto tem muito pouco a ver com a riqueza e amplitude de movimentos do nosso Jogo do Pau. Claro que usavam também movimentos de grande amplitude, (corte) como no J.P.P. mas essa não era a Técnica Básica das Espadas Antigas, num duelo de morte.

O Jogo do Pau e as Armas Metálicas, tiveram evoluções distintas.

AAJPP - Associação Algarvia do Jogo do Pau Português disse...

Outro mito repetido, é a alusão ao livro do Rei D.Duarte; “Livro da Ensinança de Bem Cavalgar toda Sela”, No Capítulo XIII, intitulado : Da maneira de ferir de Spada, o Rei escreve: (“-a mym parece que razoadamente a cavalo se pode ferir de quatro maneiras: Primeira, de talho travesso. Segunda, de revez. Terceira, fendente de cima pera fundo. Quarta, de ponta… Mais adiante o Rei refere mais um golpe: envyees, pera fundo.”) esta é a única alusão que o Rei faz aos nomes dos golpes.

Embora seja fácil perceber quais as tragetórias dos ataques; os nomes empregues pelo Rei, nada têm a ver com a terminologia que nos foi passada pelos nossos Mestres Antigos, a qual não deverá ser alterada e muito menos traduzida, porque os Nomes Antigos, encerram uma “Carga ancestral”, um “Espírito próprio”.

Se os Mestres das Artes Orientais e outras, corretamente, não abdicam da sua terminologia própria, quando ensinam a estrangeiros, porque haveríamos nós de abdicar?! - Daqui a um par de gerações, adotam as nossa técnicas e já não se lembrarão mais das suas origens.

Não há necessidade de inventar ascendentes ilustres para valorizar ou dignificar a nossa Arte; Quem faz estudos comparados de jogos de pau, não tem qualquer dúvida que o J.P.P. que nos chegou até hoje, é o mais rico e eficaz de todos, apesar das diferenças de estilo existentes no País, têm todos uma base comum: (Pau de comprimento e peso optimizado para luta rápida e de alcance, guardas de lado, pega numa só ponta, ataques em rotação, a uma e duas mãos).

O Jogo do Pau é do Povo, sempre foi do Povo e d`alguma burguesia, criado, aperfeiçoado e adaptado por diferentes Mestres ao longo de gerações, criando diferentes estilos mas sempre dentro duma base comum, trazido do Norte e aperfeiçoado no Sul, nas suas diferentes vertentes por toda uma linha de Mestres até aos nossos dias.

Quando se domina a Técnica básica do J.P.P. nas suas diferentes componentes de geometria dinâmica, timing e bio-mecânica, domina-se instintivamente qualquer arma antiga, de haste longa ou curta, ocidental ou oriental.
O transfer é automático, intuitivo. A adaptação à arma em função das características desta; comprimento, peso e capacidade contundente (tendo sempre em conta o tipo de oponente e seu equipamento) torna-se natural e lógico.

Não há aqui nada de científico.

Quem pratica ao ponto de compreender e automatizar o J.P.P., o transfer para as outras armas de haste é natural e instintivo.

Para terminar deixaria uma mensagem para os “amantes” do Jogo do Pau Português:
“Procurai primeiro estudar e praticar o J.P.P. até á incorporação do seu espírito e a melhor técnica de todas as outras armas, vos será dada por acréscimo”.

Saudações e Bons treinos!

H.V.

Unknown disse...

Embora não tenha grande vontade de entrar em polémicas, decidi aceitar o repto de G.P.E., e participar no debate, no entanto, estes assuntos requerem muita escrita, para a qual tenho pouca pachorra;
tentando sintetizar:
Ponto 1- PAUS VS ESPADAS. Quem influenciou quem?... Quando o objectivo é vender aos estrangeiros espadas por paus, ou paus por espadas, compreende-se que quem o faça, adopte a “teoria dos cavaleiros medievais” coloca-os mais próximo do público alvo, à falta de provas concretas, cada um acredita naquilo que decide acreditar, Claro que quem domina o J.P.P. domina também as espadas, visto que afinal ambos são segmentos de recta, similarmente manuseáveis e aparte o material e peso específico próprio, tem muita técnica em comum.
As técnicas de luta com paus, são anteriores às técnicas de luta com metais e é mais lógico que tenham sido os paus a influenciar as espadas.
Como é evidente, os paus apareceram nas mãos dos homens muito antes das espadas, e em todos os tempos e continentes os guerreiros procuraram maximizar as suas competências no manejo das armas, a esperteza não era um monopólio dos cavaleiros medievais europeus, eles não inventaram nada; “Nada é novo debaixo do sol”. O h. sapiens antigo, cedo descobriu que com um pau poderia resolver mais facilmente os seus problemas com outros, “Evoluímos” muito, agora já temos misseis intercontinentais com ogivas nucleares, mas felizmente ainda há muitos como nós, que continuam a devotar verdadeiro amor ao velho Pau.
Os antigos, tinham a mesma capacidade cerebral que nós, tendo dedicado tempo e esforço para descobrir qual a melhor maneira de eliminar um adversário com um pau, a arma mais vulgar e prática, logo, as técnicas eficazes apareceram em todos os tempos e latitudes, degeneram, perdem-se e voltam a ser recuperadas, porque os princípios da física e da biomecânica, continuam os mesmos em todos os tempos e lugares, por isso ainda se podem encontrar técnicas parecidas com as portuguesas em várias partes do mundo, todos os estudiosos sérios, acabam por chegar ás mesmas conclusões, com ligeiras variantes, deste ponto de vista, a técnica do J.P.P. pode ser considerada não somente Europeia mas Universal .
Ponto 2-O QUE É O J.P.P.?-O jogo do pau Português é o jogo do pau praticado em Portugal por portugueses, que tem características próprias e diferenciadas doutras técnicas estrangeiras e actualmente comporta pelo menos 7 estilos diferentes, com algumas características em comum. Porque é considerado genuinamente português? Porque em Portugal se manteve viva toda uma tradição de jogos com pau, tanto na vertente combativa como na recreativa, extremamente rica tanto em técnica e terminologia, como em eficácia, por várias linhas de mestres conhecidos e desconhecidos, que o preservaram e desenvolveram desde antigamente até aos nossos dias, ao contrario de outras técnicas europeias, que se foram perdendo ou abastardando, e somente nos enclaves isolados do noroeste da Ibéria foram perservadas.

Unknown disse...

Embora não tenha grande vontade de entrar em polémicas, decidi aceitar o repto de G.P.E., e participar no debate, no entanto, estes assuntos requerem muita escrita, para a qual tenho pouca pachorra;
tentando sintetizar:
Ponto 1- PAUS VS ESPADAS. Quem influenciou quem?... Quando o objectivo é vender aos estrangeiros espadas por paus, ou paus por espadas, compreende-se que quem o faça, adopte a “teoria dos cavaleiros medievais” coloca-os mais próximo do público alvo, à falta de provas concretas, cada um acredita naquilo que decide acreditar, Claro que quem domina o J.P.P. domina também as espadas, visto que afinal ambos são segmentos de recta, similarmente manuseáveis e aparte o material e peso específico próprio, tem muita técnica em comum.
As técnicas de luta com paus, são anteriores às técnicas de luta com metais e é mais lógico que tenham sido os paus a influenciar as espadas.
Como é evidente, os paus apareceram nas mãos dos homens muito antes das espadas, e em todos os tempos e continentes os guerreiros procuraram maximizar as suas competências no manejo das armas, a esperteza não era um monopólio dos cavaleiros medievais europeus, eles não inventaram nada; “Nada é novo debaixo do sol”. O h. sapiens antigo, cedo descobriu que com um pau poderia resolver mais facilmente os seus problemas com outros, “Evoluímos” muito, agora já temos misseis intercontinentais com ogivas nucleares, mas felizmente ainda há muitos como nós, que continuam a devotar verdadeiro amor ao velho Pau.
Os antigos, tinham a mesma capacidade cerebral que nós, tendo dedicado tempo e esforço para descobrir qual a melhor maneira de eliminar um adversário com um pau, a arma mais vulgar e prática, logo, as técnicas eficazes apareceram em todos os tempos e latitudes, degeneram, perdem-se e voltam a ser recuperadas, porque os princípios da física e da biomecânica, continuam os mesmos em todos os tempos e lugares, por isso ainda se podem encontrar técnicas parecidas com as portuguesas em várias partes do mundo, todos os estudiosos sérios, acabam por chegar ás mesmas conclusões, com ligeiras variantes, deste ponto de vista, a técnica do J.P.P. pode ser considerada não somente Europeia mas Universal .
Ponto 2-O QUE É O J.P.P.?-O jogo do pau Português é o jogo do pau praticado em Portugal por portugueses, que tem características próprias e diferenciadas doutras técnicas estrangeiras e actualmente comporta pelo menos 7 estilos diferentes, com algumas características em comum. Porque é considerado genuinamente português? Porque em Portugal se manteve viva toda uma tradição de jogos com pau, tanto na vertente combativa como na recreativa, extremamente rica tanto em técnica e terminologia, como em eficácia, por várias linhas de mestres conhecidos e desconhecidos, que o preservaram e desenvolveram desde antigamente até aos nossos dias, ao contrario de outras técnicas europeias, que se foram perdendo ou abastardando, e somente nos enclaves isolados do noroeste da Ibéria foram preservadas.

Unknown disse...

Ponto 3-A FANTASIA DOS COMBATES CONTRA MULTIPLOS OPONENTES.
As técnicas contra vários adversários que aparecem descritas em textos antigos (Figueiredo, Godinho, Joaquim Ferreira etc.) ao contrário do que muitos pensam, não passam de formas de treino ou “drill” e não respostas definitivas para vencer vários oponentes, são formulas para uma situação muito específica e todas as situações são diferentes, requerendo diferentes ou até múltiplas respostas. Esses textos também não devem ser considerados como autoridade absoluta só porque foram escritas por alguém do “antigamente”, que teve oportunidade de passar as suas ideias ao papel, sobre o que considerou a melhor forma de resolver uma ou outra situação de confronto, mas que também poderia ter descrito, dezenas de outras para a mesma situação, como outros mestres, para essa mesma situação advogariam outras formas, cujas variantes são praticamente ao infinito, como são diferentes as situações em que eventualmente alguém se poderia ver cercado por vários inimigos, (se fosse inteligente, entregar-se-ia ou fugiria, não é cobardia fugir de vários adversários, é sensatez) caso decidisse entrar numa de herói, com dois ou mais oponentes minimamente competentes decerto acabaria mal, porque uma coisa é a situação confortável de treino entre amigos, em que todos estão ali para facilitar, outra é ver-se rodeado de inimigos decididos que atacam simultaneamente.
Alguns mestres, por ingenuidade ou interesse (isto passa-se em quase todas todas as artes marciais), tentam convencer alunos e público em geral, que é viável lutar-se contra vários adversários e sair-se vitorioso; se por vezes, uma luta mano a mano torna-se extremamente complicada, como as lutas a sério o demonstram, essa dificuldade é multiplicada pelo nº de oponentes. Super heróis só os há no cinema ou contra adversários completamente incompetentes, porque em situação real o lutador isolado, seria imediatamente “abafado”. “Combatente cercado é combatente acabado”. Pés na terra companheiros. H.V.



Unknown disse...

O mestre L.P. deve ter-se sentido incomodado com o meu comentário, referente ao seu post “iffs”, no qual defendia a polémica tese, que a técnica do jogo do pau português, teria tido origem nos cavaleiros medievais europeus, no seguimento do meu post, a sua página no facebook desapareceu. De qualquer modo aqui fica o meu comentário a essas teorias peregrinas. H.V.

Unknown disse...

Dúvidas e curiosidades!
Vocês sabem que existe um jogo do pau no Brasil?
https://www.youtube.com/watch?v=_fUpHcyb_dU
Esta presente em quilombos, não se sabe se veio do português, da mistura dele com a capoeira, de outras tradições africanas ou de tudo isso.
https://www.youtube.com/watch?v=N5c7NYeE3-M&t=181s
Quanto ao jeux de baton, encontrei essa informação, que indica influencia afro-caribenha.
https://translate.googleusercontent.com/translate_c?depth=2&hl=pt-BR&prev=search&rurl=translate.google.com&sl=fr&sp=nmt4&u=https://fr.wikipedia.org/wiki/Pierre_Vigny&usg=ALkJrhj98UurehhK2PI-Iz2owjPrNNB7pg
Agora as dúvidas:
Mesmo sendo diferentes hoje, não há a possibilidade do palo canario ter influenciado o jogo do pau através de escravos guanches?
Da mesma forma, culturas africanas poderiam estar envolvidas?
ensina.rtp.pt/artigo/escravos-escravatura-portugal/