segunda-feira, agosto 09, 2010

Que horror!!? Uma estátua de uma mulher nua?

A imprensa local deu a notícia de que uma deputada timorense anunciou que está muito preocupada com o trabalho da comissão organizadora da participação nacional na Exposição Mundial de Xangai. Isto - conta um jornal - por o pavilhão timorense ter exibido uma estátua de uma mulher timorense nua, o que a deputada considera como algo que estraga a dignidade das mulheres timorenses internacionalmente.
Curioso, fiz uma busca nas imagens do Google, pelas palavras: Shanghai World Expo Timor Leste. A única imagem que encontrei com mulheres (e homens) timorenses em pelote foi esta:
Muitas casas tradicionais timorenses continuam a ter portas esculpidas com homens e mulheres nus. O que também acontece em estátuas sagradas na religião tradicional.
Fiz depois uma busca no Flickr, e encontrei esta fotografia:
東帝汶館 Timor-Leste Pavilion

Talvez a tal estátua polémica seja outra, mas porque é que a nudez faria as pessoas indignas? Seriam desprovidas de dignidade as mulheres timorenses que usavam os seios nus de acordo com a tradição, até há algumas décadas?

sábado, agosto 07, 2010

Livros à vontade do freguês


A primeira vez que entrei no Blurb foi para comprar um livro do Celso Oliveira. Gostei do conceito. Há várias empresas semelhantes na Internet, mas a Blurb é das que fornece um serviço mais simples, prático e barato. Eles disponibilizam software, a pessoa prepara o livro que quer, como quer, no seu próprio computador, e depois carrega o produto final no sítio deles. O livro ficará disponível para quem o quiser comprar, e cada vez que há uma encomenda eles imprimem um exemplar (ou mais, dependendo do que o comprador quer). Cada cópia sai mais cara do que o preço por unidade de um livro impresso numa gráfica, mas é muito útil para quem pretende publicar por exemplo uma monografia sobre marcadores incoativos no macu’a ou macuva (lovaia epulo), ou uma tradução d”Os Maias” para esta língua timorense. Como o número de falantes que resta não chega a meia dúzia, será muito mais adequado imprimir algumas cópias no Blurb do que procurar uma editora que publique uma edição com grande tiragem. A Blurb exige apenas que seja comprada pelo menos uma cópia de cada livro publicado através deles. A pessoa que publica o livro pode escolher deixar o livro à venda pelo preço cobrado pela Blurb ou acrescentar uma margem de lucro para si. Eis a minha primeira experiência, para testar a qualidade do serviço, com dois textos que tinha publicado na Internet há algum tempo sobre o ensino de português em Timor:

quinta-feira, julho 22, 2010

A tradução d”O Principezinho” para tétum – andando devagarinho em direcção a uma fonte?

«Moi, (…), si j’avais cinquante-trois minutes à dépenser, je marcherais tout doucement vers une fontaine…» - diz-nos O Principezinho. Todos temos de vez em quando a sorte de fazer viagens em que a caminhada é tão interessante como o destino. Para mim, a tradução de “Le Petit Prince” para tétum foi uma dessas viagens. Tive a ideia de traduzir este livro logo à chegada a Timor, em 2001. Parecia-me uma tragédia mais na vida dos timorenses que não houvesse livros para ler nas suas línguas, e que melhor maneira de começar a resolver esse problema do que com a bela história de Saint-Exupéry? Comecei então a tradução com a Triana Corte-Real de Oliveira, uma jovem timorense que tinha interrompido os estudos de medicina na Indonésia devido aos acontecimentos de 1999. Entretanto falei com o Rui Correia, Presidente de uma ONGD de que eu era membro há anos, a SUL-Associação de Cooperação para o Desenvolvimento, sobre a possibilidade desta ONGD publicar a tradução em tétum. A reacção dele foi de entusiasmo imediato, “O Principezinho” também tinha tocado a sua vida, como a de tantos nós, e começou imediatamente a procurar apoios. Conseguiu resposta positiva de algumas câmaras municipais em Portugal e da Fundação Mário Soares. Entretanto eu lembrei-me da possibilidade de a SUL procurar estabelecer uma parceria para uma edição conjunta com a Timor Aid, uma ONG timorense que era pioneira na publicação de livros em tétum e que já tinha sua própria rede de distribuição, e, feitos os contactos, a Timor Aid concordou. O Rui Correia contactou a Gallimard, que detém os direitos de autor, e conseguiu obter a autorização para a publicação. O processo sofreu um contratempo com a partida para Yogyakarta, para continuar os estudos para médica, da minha co-tradutora. Os trabalhos ficaram parados durante um tempo, e foram depois retomados com uma nova colega de trabalho, a Emília Almeida de Araújo, que está actualmente a terminar um bacharelato em Informática na Universidade Nacional de Timor Lorosa’e. Foi com ela que consegui terminar a tradução. Durante o labor de tradutores, quer na primeira fase quer na segunda, usámos constantemente o texto original em francês, mas sempre comparando com as soluções de tradução de três versões diferentes publicadas por editoras portuguesas, e às vezes com uma tradução em inglês também. No entanto, mesmo após concluída a tradução, contratempos diversos levaram a que o processo tenha demorado ainda algum tempo a chegar ao seu termo. Devo agradecer também os esforços e perseverança durante anos da Rosália Madeira Soares da Timor Aid. Foi uma caminhada longa, mas valeu a pena. O Liurai-Oan Ki’ik chegou finalmente a Timor-Leste e agora anda por aí. Pode ser que um dia destes o seu caminho se cruze com o do amável leitor…

quarta-feira, junho 30, 2010

O Principezinho, agora em tétum

A minha sobrinha a ler "Liurai-Oan Ki'ik", a edição em tétum d"O Principezinho" recém publicada pela SUL e Timor Aid.

quinta-feira, maio 27, 2010

Praticar Jogo do Pau em Lisboa

Quem se interessa pela arte marcial portuguesa conhecida por Jogo do Pau pode encontrar aqui informação sobre os treinos - à borla - no Ateneu. Os treinos são dados pelo Mestre Monteiro, que é um grande Mestre, um bom pedagogo, e uma excelente pessoa. Fiz lá no Ateneu as minhas primeiras aulas, no tempo em que o saudoso Mestre Pedro Ferreira ainda aí treinava regularmente aos Domingos de manhã, apesar de ter então oitenta e tal anos. Tive o privilégio de ser orientado algumas vezes por ele nos meus esforços desajeitados de principiante. Antes de falecer ele entregou a direcção da escola ao Mestre Monteiro, que ensina um jogo do pau da melhor qualidade, e sem qualquer violência gratuita, permitindo aos alunos uma progressão gradual a partir das bases do sistema. Recomendo.

sexta-feira, maio 21, 2010

A língua das borboletas em tétum

Parece que já foi publicada a edição bilingue em tétum e português do conto do escritor galego Manuel Rivas "A língua das borboletas", com ilustrações de Miguelanxo Prado. A iniciativa foi da Asociación Luso-Galega de Antropoloxía Aplicada (ALGA).

Ainda não vi o livro cá em Timor, mas aguardo com expectativa a sua distribuição, porque este belíssimo conto faz parte das minhas recordações mais gratas como professor neste país. Durante anos usei a tradução portuguesa nas aulas que leccionava na Universidade Nacional de Timor Lorosa'e, e tive a oportunidade de ver como muitos alunos, cuja infância tinha decorrido durante a ocupação indonésia, se reviam nas angústias, medos e dilemas do pequeno Pardal.

Parabéns à ALGA e ao Ministério da Educação timorense, que pelos vistos vai usar o conto no sistema de ensino nacional.