quarta-feira, dezembro 24, 2008

Resposta ao JPG

Ó homem, não se amofine, nem leia no meu texto coisas que eu não escrevi. Vamos a alguns factos para esclarecer o seu confuso e angustiado cérebro (que certamente terá um QI de 500 ou até para cima, não estou a pôr isso em causa).

1. O meu texto não é sobre o artigo de Pedro Rosa Mendes (um tipo porreiro, por sinal, além de escritor e jornalista que admiro). Certamente um malai inteligente como você poderia ter compreendido isso. Apenas citei uma frase do texto dele porque vinha a propósito para ilustrar um ponto. Reparou certamente que o exemplo que dei a seguir continua o raciocínio de Pedro Rosa Mendes expresso nessa frase, tal como o seu exemplo sobre os relógios de sol. A verdade é que não se fazem omeletes sem ovos, e o sistema de ensino timorense tem carências muito graves. Isto para além de outros factores, como por exemplo as deficiências ao nível da nutrição nas cruciais fases do desenvolvimento precoce que frequentemente deixam as crianças marcadas para toda a vida.

2. Você diz que:

Nem acho, como "malai", que espetar um ferro no coração de um animal seja um distinto sinal de civilização, de elevação cultural ou sequer de extraordinário "Q.I."

Pessoalmente não sou grande apreciador destas actividades que provocam sofrimento nos animais, embora tenha tido oportunidade ao longo da vida de participar na matança do porco em casa do meu avô aí em Portugal, segurando o animal enquanto lhe espetavam a faca. Os malais também matam animais, como certamente já terá tido ocasião de verificar. Suponho que você também não considera “um distinto sinal de civilização, de elevação cultural ou sequer de extraordinário Q.I.” espetar muitos ferros nas costas de um animal, como se faz na cultura do seu (nosso) país nas touradas, com presença e aplausos das elites culturais da nação, transmissão televisiva e muitos discursos sobre a celebração de uma tradição de séculos.

Sou eu que estou enganado ou haverá um certo tom de sobranceria nesse seu comentário? A civilização ocidental já terá ultrapassado essa fase primitiva de espetar ferros no coração dos búfalos, parece poder ler-se nas entrelinhas. Não se esqueça, por favor, em futuros comentários de comparar também o grau de civilização e de elevação cultural de um povo que alimenta o gado bovino (herbívoro) com carcaças industrialmente transformadas de animais mortos

[http://www.defra.gov.uk/animalh/bse/controls-eradication/causes.html].


3. E continua:

E quem diz matança do búfalo, diz sentido de orientação, diz destreza para a luta corpo-a-corpo ou diz memória genealógica.

Sendo professor terá certamente estudado diferentes teorias da pedagogia e da psicologia, e saberá portanto que há muito boa gente que considera os testes de QI obsoletos. Não me parece que seja preciso eu vir aqui “ensinar o Pai Nosso ao vigário”. Da mesma forma, também deveria saber que as competências da mente humana são plurais, e que é redutor querer pôr tudo no mesmo saco. Howard Gardner tem uma teoria famosa sobre isso. Se você der uma volta aí pelas feiras em Portugal vai certamente ter oportunidade de encontrar ciganos a vender roupa que são muito melhores no cálculo aritmético do que você com todo o seu QI, mesmo que possam não perceber os relógios de sol. Isso não lhes permitirá construir reactores nucleares ou descobrir a cura do cancro, mas permite-lhes fazer outras coisas necessárias ao seu trabalho.
Procurando um bocadinho só na Internet encontrei este excerto que poderá ser útil para o seu esclarecimento:

As pessoas com altas capacidades ou com talentos excepcionais diferem dos outros indivíduos pelas potencialidades que apresentam e pelo elevado nível de execução e concretização de que são capazes nas suas áreas de interesse. Pode ser uma forma de inteligência que se apresenta bastante desenvolvida e estruturada (por exemplo: a lógica-matemática), uma alta habilidade (por exemplo: para a liderança) ou um talento artístico (por exemplo: a criação musical). Tradicionalmente chamam-se sobredotadas a estas pessoas mas o termo tende a ser substituído por "Indivíduo Portador de Alta Capacidade".” [http://www.academiadesobredotados.com/]

É-lhe assim tão difícil aceitar que grande parte dos timorenses possa ter capacidades mentais superiores às suas em certas áreas, como as da “inteligência visuo-espacial” e da “inteligência socio-interpessoal”?

5 comentários:

Anónimo disse...

JPG,

Toma la para aprenderes!!

Se voce da tanta importancia a QI, digo-lhe que eu sou timorense e se fosse possivel encontrar-me consigo nao me importaria de po-lo a teste para ver ate onde chega essa sua inteligencia.

Eu garanto-lhe tambem que se eu explicasse a esses seu alunos o relogio de sol numa lingua que eles percebessem bem eles nao reagiriam da mesma forma como reagiram a si.

Faca um esforcozinho e tal qual o JPE, aprenda uma lingua timorense em vez de armar-se em snob.

Anónimo disse...

Impressionam-me algumas tradicoes timorenses (odeio a luta de galos), continuo a nao aceitar intelectualmente a hierarquizacao patriarcal (talvez por ser mulher), confunde-me o facto de ver alguns timorenses gastar dinheiro em parabolicas, telemoveis topo de gama e armas de brinquedo chinesas (perigosas) dando menos importancia a coisas que para mim sao essenciais ou mais importantes como agua corrente numa casa condigna ou brinquedos ludicos e educativos.
Mas isso nao me faz pensar que sou culturalmente superior, ate porque me impressiona imenso o facto de muitos timorenses conseguirem memorizar as caras e os nomes de tanta gente (a comecar pela propria familia) e saberem muito bem como gerir as suas relacoes interpessoais, apesar das tricas da elite politica. Brincam com facilidade procurando nao ofender os interlocutores, o que e dificil de ver em Portugal. E com eles estou a aprender a ensina-los, sempre na brincadeira, que um sistema home cinema com karaoke numa casa sem agua corrente parece nao fazer muito sentido... Intercambio salutar.
Se ha portugueses que se riem dos timorenses (e conheci, infelizmente, uma senhora portuguesa, muito catolica, que considera os tais tradicionais como algo de carnavalesco, e disse-o repetidas vezes a varios timorenses a ponto de os ofender profundamente), tambem tenho a dizer que os timorenses se riem e muito dos portugueses: dizem que andam sempre atarefados mas, no fim da vida, continuam a pagar as dividas que contrairam para comprar um misero apartamento, esfalfando-se e suando para obter um quinhao misero.Tambem criticam a falta de originalidade dos nomes que os portugueses colocam aos filhos (a teoria da moda dos nomes, sendo que agora todos os rapazes sao Afonso e as raparigas Constanca) e o modo como se gabarolam em publico ("fui aqui, fui ali, fiz isto, tenho aquilo") quando muitas vezes sao tao ou mais miseraveis de espirito quanto alguns timorenses.
Odeio sobrancerias culturais porque nunca levam a lado nenhum.
E se ha algum portugues que acha que e muito superior aos timorenses, entao desca do seu palanque, abandone a sua vivenda amuralhada no centro de Dili, e desca as ruas lamacentas, ao quiosques de esquina, a casa do timorense comum para com ele beber um cafe (sem ter medo da chavena estar suja), conversar, aprender e, se acha que e tao superior, ensinar algo de util em vez de esbracejar e criticar.
Susana Reis

Anónimo disse...

João, abraço

http://bonecasdeatauro.blogspot.com/

Anónimo disse...

http://www.celsooliveiratimor.blogspot.com/

Anónimo disse...

Uma vez mais, sem ter a ver com o post, desculpem.

As Bonecas de Ataúro...
https://www1.esec.pt/pagina/projecto/esectv/video2.php?id=287&kb=_109